A arte da dúvida: não matarás

Por Danilo Amaral | 02/03/2012 | Arte

No Pentateuco, durante a subida e descida de Moisés ao monte Sinai, o povo judeu se depara com as Tábuas dos Dez Mandamentos. Entre eles, o artigo “Não Matarás”. Apesar de ser um acontecimento isolado, ou seja, oriundo de um povo – judeus – e numa determinada região – Oriente Próximo – tal mandamento permeia todas as culturas humanas que aspiram a civilidade. Tirar a vida de alguém, sujar as mãos de sangue não passa pela cabeça da imensa maioria dos mortais. Que bom que assim seja. Porém, o “matar” vai além, segundo as Escrituras do Novo Testamento.

 Quem, dentre nós, nunca desejou eliminar alguém da face da Terra? Digo isso tomando por base nossas fraquezas e limites emocionais e racionais. Quando encontramos um adversário que encaramos como perigoso, de alguma forma, a nossa manutenção física, de sobrevivência – nossa e de nossa família – ou de idéias, quantas vezes não desejamos, por uma fração de segundo a penas, que ele ou ela não existissem? Acredito que isso é mais comum em nossa vida do que imaginamos. Simplesmente não identificamos o fato por estarmos envolvido, de alguma forma, emocionalmente na situação e não enxergamos nosso instinto de destruição do adversário. A eliminação do outro não significa apenas física. É certo que quase ninguém imagina sujar suas mãos de sangue para se ver livre de alguém, mas a própria vontade disto, de forma sutil, também faz parte da proibição do “não matarás” bíblico. Assim, nos ensina Jesus em inúmeras passagens, como por exemplo, em Mateus 5, 20-26. Lá, está claro que também é levado em conta, conforme a filosofia cristã, os pensamentos ações (ira, destruição de patrimônio, violência física e psicológica, falso testemunho, fofocas etc.) que antecedem um possível desejo de eliminação material do próximo.

 No gerenciamento de nossas emoções e de nossas razões é importante não negar este fato na dualidade homem-animal. Mais importante é abrir janelas que iluminem nossa percepção através de questionamentos de nós para nós mesmos, colocando nossa mente em xeque: por que não perdoar, não amar em vez de eliminar, destruir, matar? Pois assim, através da arte da dúvida poderemos concluir que a convivência com o outro é de fundamental necessidade para nosso próprio crescimento espiritual e emocional.