A APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Por Simone Geralda dos Santos | 29/09/2016 | Educação

RESUMO

A inclusão é uma realidade nas escolas brasileiras, mas nem sempre nos damos conta de como ela é feita. Muitas vezes os alunos portadores de necessidades especiais frequentam a escola regular, mas não estão incluídos realmente nela. Esse artigo procura mostrar um pouco da realidade da inclusão de crianças com síndrome de Down na escola regular, e como é possível fazer essa inclusão ser rica e proveitosa para todos os envolvidos. Desenvolvi o presente trabalho pesquisando artigos sobre o tema, ouvindo professores e outros profissionais que trabalham com essas crianças e relacionando ao meu próprio trabalho com uma aluna com síndrome de Down. O processo de aprendizagem da criança com síndrome de Down é único, como o de toda criança. Na educação inclusiva não pode haver espaço para preconceitos e estereótipos, sob pena de não cumprir o seu principal objetivo. 

Introdução 

Muito se fala em inclusão. Até que ponto a criança com Síndrome de Down está realmente incluída na escola? Na classe? Ate que ponto as atividades desenvolvidas fazem algum sentido? E possível incluir realmente a criança com Síndrome de Down em todas as atividades? E quando se trata de alfabetização? O que pode ser feito? O que esta sendo feito? Como o professor deve desenvolver seu trabalho? O que é possível e o que é real na sala de aula?

Pensando nessas e em outras questões relacionadas à aprendizagem das crianças com Síndrome de Down, decidi escrever esse artigo. Analisei obras sobre o assunto e descobri que muito do que os pesquisadores afirmam eu já havia observado na prática em sala de aula.  Trabalhei com uma criança portadora da Síndrome de Down durante dois anos na educação infantil. Eu era professora de apoio e acompanhava todas as atividades. 

Desenvolvimento

A criança com síndrome de Down desenvolve- se num ritmo mais lento que as outras da sua faixa etária. Apresenta dificuldade de coordenação motora tanto fina quanto grossa. Isso causa certa dificuldade ao realizar determinadas tarefas na escola e fora dela. Por esse motivo muitos pais e cuidadores exageram na proteção e cuidado dessa criança, não a estimulando a fazer as coisas por si mesma. Muitas vezes as crianças são capazes de realizar as tarefas, mas os adultos responsáveis as realizam por elas. Levar essa criança para a escola regular é uma excelente oportunidade dela se socializar, se descobrir enquanto pessoa e desenvolver uma autonomia maior do que no lar. A convivência com outras crianças é muito rica e estimulante para toda e qualquer criança. A troca entre pares é fundamental para o desenvolvimento infantil.

Na escola a criança com síndrome de Down é capaz de aprender. Muitos alunos com Síndrome de Down, assim como outros alunos com necessidades educacionais especiais, não se adaptam a algumas práticas de sala de aula. Apresentam uma problemática própria que tornam necessárias algumas adaptações também no currículo (objetivos métodos e formas de avaliação). Os professores precisam analisar suas práticas de sala de aula e todo o ambiente de aprendizado na classe de forma que as atividades, os materiais e os grupos de alunos sejam levados em consideração. Para alcançar certos objetivos, o estilo de aprendizagem de cada aluno será mais importante que as habilidades. Vale lembrar que cada criança é única e apresenta uma particularidade. O trabalho em grupo é uma estratégia que beneficia a troca de experiências e proporciona muito crescimento para os alunos. É importante utilizar a motivação e a oportunidade para aprender com os bons modelos que surgem quando o aluno com Síndrome de Down está trabalhando em grupo com os colegas.

Trabalhando com uma dessas crianças pude observar bem seu desenvolvimento. Ela não é portadora de uma síndrome muito severa. É uma criança bastante inteligente. Muito afetiva, determinada, alegre, comunicativa. Quando a conheci, aos quatro anos de idade, ainda usava fraldas e pronunciava poucas palavras, com alguma dificuldade. Hoje, aos seis, já sabe usar o banheiro (claro que precisa de acompanhante) e pronuncia inúmeras palavras. Durante a educação infantil, com atividades mais lúdicas, em contato com os colegas e alguns estímulos extras, ela estava sempre incluída na turma. Hora da história, contos, brincadeiras de roda e faz de conta, jogos... Participava de tudo. Nas atividades de escrita era um pouco mais difícil. Mas nem por isso ficava de fora. Se as outras crianças escreviam as palavras, recortávamos as letras digitadas para que ela ordenasse e colasse. Ao final da educação infantil, ela já era capaz de reconhecer muitas letras, ordenar letras para formar uma palavra que estivesse escrita. Ou mesmo frases de uma parlenda, por exemplo, que estivesse exposta na sala. Aprendeu a contar e a quantificar pequenas quantidades. Aprendeu a se relacionar e se comunicar com os colegas e funcionários da escola. Era uma criança tão autônoma e independente quanto qualquer outra da sua classe.

Agora, no ensino fundamental, a professora continua com o trabalho em grupo, e com as atividades diferenciadas para atender as suas necessidades mais especificas de leitura e escrita. Com um bom planejamento e empenho tem dado certo o processo de inclusão e a aprendizagem vem acontecendo de maneira progressiva e contínua.

A aprendizagem da leitura e escrita em portadores da Síndrome de Down é tema de estudos frequentes e apresenta visões diversas. A criança com Síndrome de Down apresenta deficiências e atraso na aquisição da linguagem. Esse fato traz dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita. Somado ao fato de que elas têm um tempo de concentração menor que outras crianças da mesma idade. O ensino para crianças com Síndrome de Down deve usar o máximo de estratégias e recursos possíveis. Assim, buscando atender as particularidades do aluno com síndrome de Down o professor torna sua aula mais dinâmica e rica para toda a classe.

Existem inúmeras sugestões de como tornar as aulas mais proveitosa para os alunos com Síndrome de Down, por exemplo:

-usar o maior número possível de vias sensoriais, ou seja, dar a mesma ordem verbalmente e apoiado em matérias visuais, como palavras ou desenhos

- Simplificar o ambiente de trabalho e os materiais, evitando estímulos que distraem.

-Dar instruções claras, precisas e pouco numerosas, e sempre acompanhadas de um modelo.

- Começar com tarefas que requeiram menor tempo de execução, para que o tempo de atenção necessário seja curto no princípio e vá aumentando pouco a pouco.

- Trocar de atividade com frequência maior para que a atenção se mantenha ativada para a novidade.

- Felicitar cada sucesso, para motivar o aluno, e também para que ele tenha consciência de que conseguiu realizar a tarefa graças ao seu próprio esforço.

- Trabalhar estratégias de reconhecimento e a memória imediata

- Incentivar o uso do computador para trabalhar a escrita

- Trabalhar o controle motor, a coordenação dos movimentos, a lateralidade, o equilíbrio, a imagem corporal, as relações espaço–temporais e a expressão corporal.

-Partir das aprendizagens funcionais e úteis para eles, trabalhar conceitos diversos como forma, cor, quantidade, tamanho, primeiro relacionado a eles mesmos e depois aos objetos.

A avaliação também deve ser diferenciada para os alunos com Síndrome de Down. Devemos avaliar de acordo com os objetivos estabelecidos para elas, e não da mesma forma que toda a turma. Até porque não faz sentido fazer adaptações e não avaliar de acordo com elas.

Se formos esperar quando estivermos preparados para iniciar o processo de inclusão, ela não vai acontecer nunca. Não podemos esperar estar preparados para receber a criança na escola. Temos que recebê-la primeiro e nos preparar depois. O governo não vai capacitar os professores. Os professores têm que se capacitar por si mesmos. A escola tem que se preparar por si mesma. Incluir não é fácil. Envolve disposição para aceitar o diferente. Coragem para assumir que não sabemos lidar com essa dificuldade e buscar solução para ela. A escola inclusiva não pode estar pronta e acabada. Aliás, a escola nunca pode estar preparada para tudo. Todas as crianças são diferentes entre si. Cada uma tem suas particularidades, tendo ou não necessidades educativas especiais.

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