A Ameaça das Alianças Espúrias

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 24/06/2024 | Política

Alianças militares podem ser bons ou maus sinais. Quando se trata de um campo que, embora não democrático, o "establishment" mundial faz crer em suas supostas virtudes não ofensivas, podemos dormir mais tranquilos, eis que, por pior que seja, não irá querer explodir o planeta de forma indiscriminada.

Mas, quando tais demonstrações de confiança mútua surgem entre dois ou mais sistemas manifestamente totalitários, é normal que a mais brutal insegurança nos tome de sobressalto. E é isso o que os ditadores da Rússia, Vladimir Putin, e da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, acabaram de celebrar: um tratado de assistência mútua no caso de agressão por parte do Ocidente.

A Rússia tem uma estratégia de anos em sua virulenta política externa, que chamo de “blefe factual”, no qual escolhe-se um suposto inimigo, acusando-o de fazer o que, na verdade, as forças militares russas estão planejando ou já operacionalizando. Por exemplo, o alvo do momento é a Ucrânia, ainda que seu Parlamento, em intervalos temporais anteriores à guerra, não estivesse disposto a entrar na OTAN. Mas Vladimir Putin negou até o fim o que era inegável, ou seja, o fato de suas Forças Armadas estarem cercando a Ucrânia, até que, finalmente, cruzaram as fronteiras, livres, leves e soltas, dando-nos um terrível espetáculo de sangue que se espalhou pelo país.

Lançar a culpa de suas próprias atitudes. Culpabilizar a vítima por fazer você estar sendo “obrigado” a agir de determinada maneira. Como é inteligente, saberia que o Ocidente iria intervir militarmente, como ocorreu na década de 1980, quando os EUA armaram os guerrilheiros afegãos na guerra contra os soviéticos, especialmente com o fornecimento de mísseis para o abate de helicópteros.

Está, portanto, claro o motivo de o “acuado” Putin desafiar, em todos os instantes, com o eventual uso de armas nucleares. Tais declarações não indicam outro blefe, já que sua pessoa, assessores e famílias têm instalações à prova de explosões termonucleares, seguríssimas e que lhes dariam sobrevida. Mas, como prefere os ares frescos de Moscou, se aliou ao tirano norte-coreano em face das “ofensivas”, que, na verdade, são “contraofensivas” do Ocidente.

Putin e Jong-Un devem ter feito algo semelhante a Hitler e Stálin pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Aquele foi o Pacto de Não-Agressão, assinado pelos chefes das diplomacias da Alemanha Nazista, Joachin von Ribentrop, e da URSS, Vyasheslav Molotov, quando, numa invasão pelo Oeste por parte da Alemanha e outra da URSS pelo Leste, a Polônia sucumbiria. Só que Stálin era péssimo estrategista, e, em 22 de junho de 1941, o Exército alemão invadiu a URSS, naquela que ficou conhecida como Operação Barbarrossa (em homenagem ao Sacro Imperador Romano-Germânico Friederich Barbarossa). Não se podia confiar em Hitler. O Primeiro-Ministro britânico Neville Chamberlain havia tido como verídica a palavra de Hitler, ostentando uma declaração do ditador alemão, por ele própria assinada, em que expressava sua intenção de não atacar o Reino Unido.

Desta forma, Putin, Jong-Un e a própria China, representada pelo ditador Xi-Jinping (que também dá ares de que irá sitiar Taiwan) mantém segredos de Estado de quando seus “contra-ataques” (ou, melhor dizendo, "ataques”) começariam: assim como a Alemanha Nazista e a URSS acordaram uma data para iniciar a invasão da Polônia, Putin, Jong-Un e a Xi Jinping já pactuaram, ou pactuarão, um interregno de ataque russo com armas nucleares sobre a Ucrânia, que ainda não integra a OTAN, de ofensiva sobre o Japão e a Coréia do Sul por Jong-Un e de invasão chinesa a Taiwan.

A Coreia do Sul tem armas nucleares dos EUA em seu território, que poderia usar contra o Norte, com o aval estadunidense. Mas há o dito pacto militar da Coreia do Norte com a Rússia, o que inibiria o uso dessas armas por parte dos EUA e do Sul, tementes do desencadeio de uma guerra nuclear total. O Sul lutaria convencionalmente, com apoio militar dos EUA. Com os mesmos temores, os EUA apenas venderiam armas convencionais aos seus aliados europeus na Ucrânia, autorizando-os ao uso de suas armas nucleares somente no caso de um novo ataque atômico, desta feita contra um membro efetivo da OTAN, algo que Putin não precisará fazer por já ter provado que usaria seus meios de dissuasão, verificando-se, portanto, infindável guerra convencional entre a Rússia e o restante da Europa.

Com as guerras "por procuração" na Coreia do Sul e na Ucrânia, aos EUA só restaria lutar convencional e diretamente em face da China, já que seu poder de dissuasão contra a mesma é bem maior, possuindo cerca de cinco mil ogivas atômicas, contra o máximo de poucas centenas da China, que não tem pacto de defesa com a Rússia (esta, sim, detentora do maior arsenal nuclear do mundo, com mais de sete mil ogivas nucleares plenamente operacionais).

Mas tudo pode acontecer. Meu medo é de que quaisquer produtos foram feitos com dois destinos principais, o uso ou o descarte. Mísseis nucleares deveriam ter só o descarte, como uma prova viva de que aqueles que comandam a Humanidade ainda tem um bom senso. Mas não são, infelizmente, os líderes que temos.