A amazonia e o poder da Igreja Catolica no seculo XII

Por andre da silva martins | 22/02/2016 | História

Resumo

Os primeiros momentos da historia da Amazônia colonial dá se com a chegada das missões católicas, período marcado pela crise econômica que Portugal estava passando em relação ao comércio lucrativo das especiarias da Índia. Assim, ao chegar à região Amazônica Portugal explorou as especiarias aromáticas, chamadas também de drogas do sertão. Porém, diante de tanta riqueza natural havia uma grande dificuldade: os índios, os quais teriam de ser conquistados. Então, a catequização foi a única forma de contatar e civilizar os índios, sendo a Igreja Católica responsável por essa empreitada. A evangelização justificou a dominação europeia e o abuso do poder pela Igreja sobre a população indígena. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivos identificar quais foram as principais ações adotadas pela Igreja para impor sua Idologia, seus dogmas e visão de mundo aos indígenas, mostrando que tais ações levaram muitos povos a abandonarem suas práticas religiosas tradicionais, costumes e comportamentos antes pautados sob o prisma de sua própria religiosidade.

 

Palavras-Chave: Amazônia, Igreja Católica, Ideologia.

Abstract

The first moments of the history of colonial Amazon gives with the arrival of the Catholic missions, a period marked by the economic crisis that Portugal was experiencing in relation to the lucrative spice trade from India. Thus, to arrive at Amazon region Portugal explored the aromatic spices, also called hinterland drugs. However, faced with so much natural wealth had great difficulty: the Indians, which would have to be conquered. So the catechism was the only form of contact and civilize the Indians, and the Catholic Church responsible for this task. Evangelization justified European domination and the abuse of power by the Church on the indigenous population. Given the above, this study aims to identify which were the main actions taken by the Church to impose its doctrine, its dogmas and the indigenous worldview, showing that such actions have led many people to abandon their traditional religious practices, customs and behaviors before guided through the prism of their own religiosity.

 

Keywords: Amazon, Catholic Church, ideology.

 

 

 

Introdução

 

Os primeiros momentos da história da Amazônia Colonial dão-se, com a chegada das missões católicas. A evangelização justificou a dominação europeia e o abuso do poder pela Igreja sobre a população indígena, pela lei de 1655, dando a Igreja o poder de autorizar e dirigir as expedições de descimentos, com o objetivo de persuadir as comunidades indígenas, para os aldeamentos das missões, pelos seguintes fatores: mão de obra escrava Indígena e matéria prima abundante.

Este estudo reflete acerca de um período histórico que marcou a Amazônia. O século XVII, época selecionada para essa pesquisa, torna-se relevante para entendermos como a Igreja atuou junto à população amazônica através de um ideal missionário cristão. Dessa forma, este trabalho torna-se importante porque analisa como a Igreja fez uso de seu poder para catequizar, “civilizar” o nativo.

A compreensão dessa temática será alcançada mediante o objetivo geral que versa em analisar o poder Igreja no Período Colonial e seu papel no processo de desenvolvimento social na região da Amazônia. Os objetivos específicos consistem em compreender o poder religioso no período Colonial; descrever a chegada da Igreja Católica na Amazônia; identificar os aspectos que evidenciam o abuso do poder pela Igreja na Amazônia.

Para dar conta da compreensão do problema como a Igreja Católica fez uso de seu poder religioso para catequizar a Amazônia, se estabeleceu o método histórico que tem como premisa a crença na História como ciência e disciplina capaz de explicar estruturas e acontecimentos (LAKATOS; MARCONI, 1991).

Portanto, é sobre a ação missionária estabelecida a partir do século XVII que este trabalho discutirá, apontando como a Igreja Católica contribuiu para a formação de uma nova organização social local. É importante ressaltar que este trabalho está ainda em fase de construção, o qual será concluído em forma de artigo como requisito para conclusão do Curso de Ciências Teológicas da Faculdade Boas Novas (Manaus/Amazonas)

 

 

2. O INICIO DAS INTERAÇÕES DA IGREJA CATOLICA E OS NATIVOS NO PERIODO COLONIAL

A religião dos descobridores foi trazida em suas caravelas para que as novas terras descobertas pudessem receber a benção de Deus e sua infinita proteção. Ao mesmo tempo, que esta proteção era invocada a Coroa Portuguesa utilizava a religião como um instrumento de suma importância para o projeto colonizador que veio a se desenvolver nas terras do novo mundo português.

A ação dos primeiros padres católicos teve efeitos positivos e negativos, e se configurou num momento de grande importância para a história nacional. A chegada do Evangelho nas terras do novo mundo marcou o inicio de um novo tempo, ou melhor, marcou de fato o inicio do projeto de colonização. Sob as palavras santas do Evangelho os portugueses iniciaram uma relação de intensa exploração nas novas terras, e para confirmar a veracidade desta ação a Igreja se torna neste instante objeto de suma importância para que os interesses fossem bem sucedidos.

Mas como se deu essa evangelização? Quem foram os primeiros a difundir o cristianismo no ultramar? Os historiadores Priore e Venâncio explicam:

Os primeiros religiosos a desembarcar entre nós foram oito franciscanos, membros de importante ordem estabelecida, há tempos, em Portugal. Sua presença como capelães de bordo na navegação portuguesa era comum, mas sua participação na evangelização do gentio ou nas praticas religiosas de colonos só ganha envergadura a partir de 1580, quando acontece a conquista da Paraíba. Papel bem mais relevante, contudo, teriam os jesuítas (VENÂNCIO, 2001, p.41).

Contudo grandes exploradores Europeus, Portugueses e Espanhóis deram a Igreja a força motriz para as missões, através de um projeto missionário chamado “além-mar”. Entretanto nos primeiros momentos, as missões encontraram desafios em transplantar na região Amazónica a cultura cristã no nativo. Sua principal responsabilidade era preservar e salvar a alma, porém a prática que eles pensavam foi bem diferente.

3. Catequizar, Civilizar e Pacificar, foi às maneiras que Igreja utilizou.

Uma das primeiras ordens religiosas que chegaram à região Amazônica foi as dos Jesuítas ou a companhia de Jesus em 1607, sob a liderança do Padre Luís Figueira. Vale lembrar que em 1653 teve a primeira obra missionária com a chegada do Padre Antônio Vieira.

É com a Igreja Católica que o cristianismo se estabelece no período do século XVII, com a chegada dos luso-brasileiros a foz do rio Amazonas.

Em 12 de janeiro de 1616, na criação do forte do Presépio em Belém, uma expedição comandada pelo português Francisco Caldeira de Castelo Branco deu-se o inicio a ocupação da Amazónia brasileira, sendo um ato politico, sob a regência de Portugal. Os luso-brasileiros desejavam que Portugal efetivamente ocupasse a área cobiçada, o que foi feito inicialmente, através de guerras aos invasores e de construções de fortes nos pontos estratégicos da Amazônia (OLIVEIRA, 1983).

A catequese foi o principal instrumento de evangelização utilizado pelos missionários. O estudioso Heraldo Maués (2000) chama esse sistema religioso de “pedagogia catequética”. Sendo uns dos aspectos de violência contra o indígenas, principalmente contra suas praticas tradicionais, sendo uma delas relacionadas a o andar sem roupas e dentre outros costumes.

Conforme, José Ribamar (1994), os missionários começaram a ter o controle das aldeias através do padre Jesuíta Luís Figueira que redigiu a documentação contendo as reivindicações para tentar obter o controle da força de trabalho indígena que em 9 de abril de 1655, a coroa portuguesa deu aos religiosos a administração dos aldeamentos indígenas, e principalmente as dos jesuítas. O poder de autorizar e dirigir as expedições.

Essa conduta da Igreja já deixou, ainda deixa, marcas profundas na cultura dos povos  indígenas. Ao inicio, detentor de valores e crenças baseadas em ensinamentos centenários, ou ate milenares, passados de geração de geração, foi imposto uma fé num Deus hebreu totalmente desconhecido e sem ligação aos seus valores culturais, alem de impor-lhes novos costumes rotineiros tirando-lhes sua natural conduta social. (SANCHES. 2009, p.35).

Percebesse, em suma uma distribuição progressiva e sistemática da estrutura socioeconômica, dos povos indígenas da Amazônia, através da força de trabalho, pela mão de obra escrava  barata, com forme FREIRE, os índios foram considerados pelo padre Vieira como “os pés e as mão” da colônia, na medida em que eles constituíam a única força de trabalho, não apenas para os produtos de exportação com destino á Europa, mas também para produção ao consumo local.(FREIRE. 1994. p30)

Em media, o nativo trabalhava 3 horas por dia, para se mantiver em suas comunidades e vilas, temos agora, uma jornada de trabalho por dia, sem pausas, nos domingos e nos dias Santos, sem tempo para descanso. Vale aqui então trazer a legislação sobre o trabalho indígena.

A legislação sobre o trabalho indígena.

Lei de 10.09.1611- Cria o sistema de capitães de aldeias vigente na Amazônia a partir de 1616.

Decisão de 29.09.1626- Junta de Dignitários e Eclesiásticos do Maranhão  decide que os escravos indígenas poderiam ser escravizados por toda a vida e não por 10 anos  como determinava a lei anterior.

Alvará de 10.11.1647- Regula “salário” dos índios de repartição e estabelece, legalmente, um mercado “livre” de trabalho.

Lei de 17.10. 1653- Amplia excessivamente os critérios legais para a realização de resgates e guerras juntas.

Lei de 09.04.1655- Entrega aos jesuítas o controle sobre os índios.

Lei de 12.09.1663- Devolve aos colonos, através do Senado, o controle sobre os índios.

Lei de 01.04.1680- Acaba com escravidão indígena e volta a entregar os índios aos jesuítas. Sua vigência foi de 4 anos.

Lei de 21.12.1686-Regimento das Missões.

Outro aspecto, esta relacionado na conversão, na qual implicava a desestruturação do povo nativo, em seus seguintes processo: social, cultural e religioso, por metodologia marcada pela violência, justificado pela crença Europeia. Através da catequização.

A catequização,  foi um plano pedagógico, onde os missionários atuavam como educadores civilizastes dos índios. Porem, ao mesmo tempo em que ensinavam religião, estava acabando com a cultura pelo processo de inculturação, que se propagavam na região com ideias (Ideológicas) do colonialismo mercantilista português. É o que nos diz PONTES, Filho.

 Dessa forma, os Missionários colaboraram consideravelmente junto com os colonos e os militares portugueses, para a desestruturação do sistema de organização do modo de vida e das culturas indígenas, forçando os índios a se destribalizarem, o que provoco a extinção de inúmeras culturas aborígines, a partir do processo de perda dos padrões indígenas, e pela incorporação, imitação de traços e de hábitos típicos do padrão Europeu. (PONTES. 2000. p 65)

E os Aldeamentos Indígenas. Foram, as formas em que  os colonizadores conseguiram índios para trabalhar como escravos , BAÊTAS,Neves nos da mais detalhes, para ele

As aldeias são uma utopia concreta e necessária para evitar uma contaminação originada no comportamento pecaminoso dos colonos. Comportamento que esta minando e, às vezes comprometendo certamente, um projeto que o espírito determinado de obediência e hierarquia dos missionários não permitiria que fosse abandonados ou derrotados. Se um das linhas de força do pensamento pedagógico jesuítico foi e é o “EXEMPLO”, como suportar que o olhar dos índios só visse aquilo que realmente o aproximasse da verdade e não fosse o seu processo de socialização. (BAÊTA, Neves. p 61)

4. Os Fatores que Contribuíram para a Exploração Ideológica pela Igreja no Século XVII.

 

Ao todo foram 140 anos de exploração de mão-de-obra escrava indígena na região Amazônica, 70 anos comanda pelos leigos colonos através do sistema vigente da época chamado Capitães de aldeias (1616-1686), e mais 70 anos dos missionários através do Regimento das missões, é o que nos diz Pontes Filho. Conforme a lei de 21 de dezembro de 1686, instalava-se na Amazônia  o novo sistema de organização do trabalho chamado regimento das missões(PONTES, p 72. 2000)

Este novo sistema deu continuidade a escravidão dos índios que foi ate 1757. A única verdadeira novidade desse dito novo sistema, consistia no fato de que, a partir da  aquele momento, o controle de mão- de- obra indígena passava dos colonos para as mãos dos missionários, em que especifico sobretudo dos jesuítas, que para VAINFAS, nos da a seguintes informações.

[...], Antes de tudo, porém, a escravidão de índios solapava a ética missionaria em nome da qual se fazia a colonização. De terem sido os jesuítas os que mais se importavam, [...] e incumbidos de evangelizar o que chamariam de gentios. Mas, além de intelectuais e sacerdotes, os jesuítas eram senhores de escravos, inclusive de nativo, numa confusão de papéis que se transpor ao seu discurso, ora contrario a escravidão, ora admitindo-a  em guerra justa, e as vezes cumplices pela omissão das praticas escravista então vigentes.( VAINFAS. 1986. p 84-86)

Mais vale ressaltar aqui, que não foi só a ordem jesuíta que adentrou e civilizou a região do vale amazônico, também temos outras ordens religiosas, dentre eles temos a ordem religiosas os mercedários e os carmelitas, mais a que se destacou dentre as de mais foi a ordem jesuíta, pela sua ocupação geográfica na ocupação de posse de terras.

Voltando a ordem jesuíta, que é o nosso principal foco, o plano econômico, uma das funções básicas dos missionários foi de criar e suscitar comunidades agrícolas estáveis, ou seja, um processo de acumulação  de riqueza que se estendeu durante todo a segunda metade do século XVII ate  o ano de 1757, quando perderam o poder temporal das missões e o controle dos índios, ate serem expulso por Pombal, é o que nos da mais detalhes SILVA.

É indubitável que a companhia de Jesus foi entre as demais ordens, as quais conseguiram unir mais força diante do Estado, [...], mas ate a sua expulsão da Amazônia, foi a ordem que conferiu maior aproximação ou seu projeto de independência [...], ao modos da colonização. (SILVA. 2004. P 121)

Pode-se dizer então, que sua maior força diante do Estado, estava relacionada, a sua habilidade ao poder de influencia, sobre os métodos da dominação colonial, que foram então: o controle absoluto da mão de obra indígena, a posição estratégica das missões, a alfandegaria que possibilitou aos missionários o acumulo de uma grande riqueza.

Portando, como diz Sanches, não há como negar a profunda influencia exercido pelos padres, especialmente os jesuítas, na construção da cultura brasileira e especialmente na Amazônia com as demais ordens religiosas, ao verem uma imensa fartura de almas a serem salvas e catequizadas.

De modo consciente e eficaz os jesuítas influenciaram de tal forma na cultura brasileira, ao ponto de enraizar um profundo sentimento religioso em nosso povo, que ate hoje se faz sentir em todos os segmentos de nossa sociedade, principalmente pelos nomes dados as nossas comunidades, vilas, ruas e cidades.

Bibliografia

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VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e Escravidão: Os Letrados e a Sociedade Escravista NO Brasil Colonial. Rio de Janeiro. Campos. 1980