A Afirmação da Identidade dos Jovens Através de Blogs e Programas de Comunicação Instantânea na Internet
Por WINIE MARTINS DE REZENDE | 26/07/2009 | EducaçãoPara tornar a comunicação na internet mais ágil e divertida, os jovens estão investindo em abreviações e neologismos. Essa linguagem é conhecida como internetês ou bloguês-que é uma simplificação informal da escrita. Consiste numa codificação que utiliza caracteres alfanuméricos (emoticons) e a redução de letras das palavras. Por exemplo: também = tb, você = vc, aqui = ak, hoje = hj. Essa linguagem é um dos sinais mais evidentes que os jovens realmente estão afirmando sua identidade na rede. Entre os vários enfoques com que a Internet tem sido analisada, a Rede tem sido especialmente focalizada no que diz respeito às identidades. Ela converteu-se num "laboratório" para a realização de experiências com as construções e reconstruções do "eu" na vida pós-moderna, uma vez que, na realidade virtual, de certa forma moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos. Segundo o publicitário da agência Click Pedro Cabral "Os jovens fazem da rede um lugar de convivência e socialização".As ferramentas básicas desse meio de convivência são os diários eletrônicos, blogs e comunicaçao instantânea como o MSN e ICQ. Estima-se que até o fim do ano 10 milhões de blogs estarão no ar no mundo. Dos existentes hoje, 51,5% são de pessoas entre 13 e 19 anos. O adolescente gosta não só de produzir o próprio blog, mas também de espiar a página dos outros. No Brasil, em uma pesquisa realizada em março, 42% da turma de 12 a 24 anos que acessa a internet visitou algum blog. Na mesma faixa de idade, os usuários de comunicadores instantâneos – programas que permitem a troca de mensagens em tempo real, como em uma conversa ao vivo – são 60%.Na opinião de muitas pessoas esse modismo dos jovens diante das tecnologias não afeta á escrita culta da Língua Portuguesa.A especialista em Língua Portuguesa Professora Sylvia Bittencourt compara o internetês com a estenografia utilizada ainda hoje em situações especiais e nos afirma que "só o tempo irá dizer quais são os riscos que o internetês pode provocar na Língua Portuguesa padrão". Mas uma coisa é certa: do ponto de vista lingüístico, "essa linguagem não oferece nenhum perigo" (http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20050530.htm). Enquanto os especialistas dizem não haver preocupações com esta nova maneira de comunicação, há os adolescentes que estão recebendo diagnósticos preocupantes: suspeita-se de 'dislexia discursiva'. O educando que até então não apresentava problemas de aprendizagem começa a ter uma avaliação não muito favorável na escola, pois passa a não entender o que lê fora do ambiente da rede. O que passa a prejudicar a sua aprendizagem.
O mundo virtual dos adolescentes e sua linguagem inovadora.
De acordo com a revista Veja Jovem - edição especial de 2004- O conteúdo típico de um blog adolescente é uma fascinante miscelânea: poemas, letras de música, desenhos de bichinhos, registros das atividades do dia, pensamentos e fotos de ídolos e etc. "Enquanto o adulto só exibe a arte-final, o adolescente mostra seus rascunhos no blog, que assim se torna um modo divertido de esse jovem estabelecer sua identidade", diz o estudioso da vida digital Luli Radfahrer, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Diferentemente do velho diário em papel, o blog é público e pode ser inspecionado até pelos pais do blogueiro. Mas isso não significa uma perda de "intimidade". Pelo contrário, os adolescentes descobriram um certo poder liberador na rede. Pela internet, perguntam e falam coisas que teria vergonha de dizer pessoalmente.A linguagem utilizada pelos adolescentes na internet é o internetês que é caracterizado pela agilidade e facilidade na escrita, por ser basicamente códigos e abreviações, o que dificulta o entendimento de quem não está acostumado a participar de bate-papos ou chats on line. Esta é uma linguagem igual a qualquer outro gênero de escrita, portanto deve ser utilizada em seu ambiente próprio. No texto informal não há problemas em usar, o importante é conseguir se comunicar, já nos textos formais, nas redações e trabalhos escolares ou científicos deve ser usada a linguagem culta.
Mas não são todos os jovens que gostam do internetês, há muita gente que preocupa-se em escrever corretamente. Um exemplo é o de um grupo de jovens que criaram o blog Eu Sei Escrever, onde todos podem contribuir e escreverem como quiserem. Neste espaço o autor do blog criou um filtro que corrige automaticamente as palavras abreviadas pelas corretas e ainda destaca o texto corrigido. Nos chats se "fala", se "escreve", se "grita", se "chora", se "canta", enfim, há toda uma manifestação discursiva que se transforma em marcadores escritos. Sem dúvida, trata-se de uma "conversa teclada", que resume uma nova articulação entre as linguagens orais e escritas, resultando das interações desenroladas entre os jovens freqüentadores dos espaços virtuais. Como vemos temos duas realidades distintas cabem a nós educadores sermos os mediadores desta aprendizagem e em vez de combater o internetês podemos utilizá-lo como aliado em sala de aula e vê-lo como mais uma oportunidade de trabalhar a língua portuguesa. A cultura das mídias está sendo considerada de grande influência na construção das identidades sociais e culturais, cabe ao educador preparar o educando para usar criticamente e de maneira adequada, as diversas formas de linguagens. A Internet traz novos desafios pedagógicos para as escolas e é fundamental que os professores estejam bem preparados para enfrentarem esses desafios. Precisamos repensar todo o processo, reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o que vale a pena aprender. O internetês pode ser transformado num aliado em sala de aula, sendo mais uma oportunidade para o professor trabalhar a linguagem formal e informal.