A Afetividade e o Desenvolvimento Cognitivo na Educação Pós Moderna
Por Adriane Masiero | 20/01/2009 | EducaçãoÉ na psicologia que descobrimos algumas teorias que nos orientam em busca de soluções para a crise educacional brasileira. O artigo tem por objetivo discutir a importância da afetividade no desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente, que vivem em um mundo globalizado. As dificuldades de aprendizagem, falta de motivação pela busca do conhecimento, repetências, abandono escolar, violência, indisciplina, e muitos outros, são reflexos de uma sociedade mal estruturada, com valores distorcidos. A escola tem como meta amenizar esses sintomas através de uma educação mais humana, em que valoriza também a subjetividade individual de cada educando.
INTRODUÇÃO
Pretende-se através destas pesquisas, estudos e reflexões buscar novos rumos para alguns problemas educacionais da atualidade como violência escolar, indisciplina, falta de estímulo para aprendizagem, qualificação profissional, evasão e fracasso escolar.
O tema escolhido para ser examinado, traz inúmeros questionamentosque estão além das fronteiras da sala de aula, invade os lares e tem sua essência em cada indivíduo.
Nas relações humanas existem trocas de experiências e sentimentos. Assim é a escola, uma troca de experiências e de sentimentos entre aluno e família.
Num primeiro momento, para compreensões posteriores, analisaremos alguns fatores de uma sociedade com princípios pós-modernos, ainda enraizada na modernidade, observa-se um novo comportamento e uma nova tendência para a humanidade e para o planeta. Esta surgindo uma transformação social que não deixa para trás o passado, mas sim o modifica em outra realidade. A sociedade deve estar aberta às novas mudanças e a escola é o referencial que introduzirá os paradigmas dessa nova era social. Por isso, a educação na atualidade está em pauta de discursos de educadores e sujeitos preocupados com o futuro da humanidade.
O mundo está cada vez mais interligado e graças às novas tecnologias a distância não impede as relações humanas com as mais distintas culturas. Para interagir nessa sociedade, não é necessário apenas saberes práticos, como línguas, informática, ou capacidades de se readaptar, reciclar e aprender, mas é preciso, acima de tudo, perceber que não estamos sós, que o mundo é formado de pessoas e cada pessoa tem suas particularidades num mundo de todos. É preciso respeitar cada ser na sua individualidade, na sua diversidade, na sua cultura, na sua opção sexual e religiosa. O sujeito não é mais uma parte de si mesmo, mas um conjunto do todo, pode ser ao mesmo tempo racional e irracional, subjetivo e objetivo, amar e odiar. É complexo e simples, ambíguo, mas essa é a verdadeira face do ser humano. (MORIN, 2002)
Em um breve histórico das possíveis visões porvindouras segue-se ousando em acreditar que a escola é a introdutora de outras visões, confiado na busca incessante por um mundo melhor. Esse é o verdadeiro sentido da educação, transformar a sociedade, adaptar o sujeito a esta, buscar soluções para as crises tanto existenciais quanto não existenciais.
Estamos diante do grande dilema da educação: como atingir os ideais da sociedade, da família e do sujeito, através da escola, se quem faz a escola são os próprios sujeitos? Como saber se o que desejamos para o planeta é o que realmente este planeta precisa?
Estamos fartos de notícias catastróficas sobre as barbáries humanas, falta de respeito mútuo, insensibilidade, corrupção, ganância, onde moral e valores não fazem parte da linguagem e não tem significado algum. Esse tipo de comportamento é resultado de uma sociedade mal estruturada, com algumas lacunas. São essas falhas que motivam a pesquisa, a reflexão e a busca por um mundo melhor. São elas que desafiam os limites do nosso corpo e da nossa mente em busca do melhor. É com elas que vamos ficar daqui por diante.
A fragilização da estrutura humana vem se agravando de geração em geração, deixando para trás uma época em que o ser humano era reconhecido e valorizado pelas suas atitudes e não pelas suas aquisições. O sentimento de frustração é diante da impossibilidade de adquirir algo para representar e incluir-se em um ideal desejado. Esse sentimento transforma valores morais e éticos, desestrutura famílias e indivíduos.
As grandes preocupações planetárias precisam de ações governamentais, mas teriam pouca eficiência se cada habitante do planeta não fizesse o que ele pode fazer. Para tanto, é preciso que a educação hoje seja um projeto racional cujo objetivo ultrapassa a felicidade e a realização pessoal porque precisamos de toda uma geração para recuperar a saúde da Terra – que foi tirada principalmente nas gerações dos nossos pais e avós. (TIBA, 2007, p. 29 a 30)
A escola tem papel fundamental na recuperação da saúde da Terra e de seus habitantes, é ela que acolhe uma geração de crianças órfãs, no seu sentido mais literal. As famílias têm delegado a educação e o afeto de seus filhos à escola, que conseqüentemente não está preparada para assumir tantos compromissos.
Em outro momento pensaremos a criança como indivíduo, quais seus sentimentos, quais seus desejos, medos, anseios. Citaremos alguns famosos teóricos do desenvolvimento da cognição e da afetividade infantil: Piaget, Wallon e Vygotsky. Passaremos por todas as fases, tanto cognitivas, quanto afetivas para encontrarmos explicações e talvez soluções que possam auxiliar na aprendizagem e na estrutura humana através do afeto e conseqüentemente na auto-estima que compreende a felicidade. "A auto-estima é o que rege a qualidade de vida, resultado de escolhas comportamentais mais satisfatórias, competentes e cidadãs." (TIBA, 2007, p. 199).
1 HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Para melhor compreender as relações humanas e o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança, buscou-se informações sobre a evolução histórico, social e cultural da infância, sendo assim uma possível analise e compreensão de algumas problemáticas da atualidade.
A criança, ao longo dos séculos tem sido observada com mais atenção, por parte de estudiosos, sociedade, família e escola. Traçando sua história de evolução percebem-se grandes mudanças na sociedade, voltadas para a infância. Até o século XIX as crianças não tinham tanta importância para a família e a sociedade. Eram vistas por estas, como adultos em miniatura.
Em 1741 Lord Chesterfield escrevia a seu filho: "Esta é a ultima carta que escreverei a você como um menino pequeno, pois amanha será o dia de seu nono aniversário, de forma que a partir de então eu o tratarei como um jovem. Você precisa começar uma forma diferente de vida, uma forma diferente de estudos. Precisa abandonar a frivolidade. Os brinquedos e jogos infantis devem ser abandonados, e sua mente deve voltar-se para assuntos sérios". (LEITE, 1972, p. 33 a 34)
A criança não era percebida como um ser em desenvolvimento e com características próprias de uma fase peculiar, mas sim como propriedade dos adultos, sem vontades próprias, sonhos, desejos, medos e qualquer outro tipo de sentimentos. Não havia um interesse por essa fase do desenvolvimento humano, tendo esta pouca importância.
Para fortalecer ainda mais a idéia de que a criança era um adulto em miniatura:
As crianças foram tratadas como adultos em miniatura: na sua maneira de vestir-se, na participação ativa em reuniões, festa e danças. Os adultos se relacionavam com as crianças sem discriminação, falavam vulgaridades, realizavam brincadeiras grosseiras, todos os tipos de assuntos eram discutidos na sua frente, inclusive a participação em jogos sexuais. Isto ocorria porque não acreditavam na possibilidade da existência de uma inocência pueril, ou na diferença de características entre adultos e crianças. (ROCHA, 2008, p. 55)
As famílias eram numerosas, conviviam em uma mesma casa pais, filhos, primos, tios, avós. As crianças não recebiam carinho e atenção individual, não tinham mimos ou privilégios diante dos adultos.
A situação da criança até o século XIX, demonstra uma fase difícil do desenvolvimento infantil. A história relata dramáticas situações de descuido nesta primeira fase da vida. Mortes, trabalho forçado e escravo, abandono, descuido, violência e outras como relata LEITE, 1972, p. 21: "[...] o trabalho infantil chegava a durar de doze a dezesseis horas por dia". Outro exemplo de falta de interesse, tanto político, quanto social pela infância, é o abandono de crianças pelos próprios pais por falta de condições mínimas para educá-los ou fornecer condições básicas de sobrevivência. Sendo que muitas crianças morriam em virtude das precárias condições sociais, como falta de higiene, excesso de trabalho e alimentação insuficiente ou sem valor nutritivo. Muitas trabalhavam em fábricas, com carga horária superior a 12 horas, apenas em troca de pão.
A contínua projeção de esperanças e temores do mundo adulto no da criança não se limitava a questões de roupa ou educação formal, mas se exprimia também de muitas outras formas, - e uma delas era a ausência de livros escritos para divertir e distrair crianças [...]. Até o fim do século XVIII, a leitura de lazer para crianças limitava-se à Bíblia e a tratados religiosos. (LEITE, 1972, p. 34)
A infância, por muito tempo foi esquecida, desvalorizada como parte integrante da formação do ser humano. Esta era considerada apenas como passagem para a vida adulta. Essa fase não era vista como uma etapa com características próprias do desenvolvimento. Os avanços na forma de olhar a infância surgem com a modernidade, após o século XVIII, e no Brasil mais tarde ainda, em torno do século XIX.
A modernidade traz progressos na medicina, na tecnologia, ciência, que transformam a estrutura familiar e social e conseqüentemente um novo olhar diante da infância e adolescência.
Em todas as sociedades e em todos os tempos a infância aparece como fase de preparação para a vida adulta. Apesar desta apresentar características bem diferentes em cada sociedade, todas buscam a superação da fragilização humana.
Assim, a história da infância aponta muitos questionamentos sobre como nos relacionamos atualmente com as crianças. Relacionamentos que demonstram sentimentos de amor e afeto entre pais e filhos. Sentimentos que não existiam em séculos passados em nossa sociedade Ocidental, explicitados através de infanticídios, abandonos e alto índice de mortalidade infantil, aceitos com naturalidade.
Após alguns séculos de descaso com a infância, aos poucos vai surgindo um novo olhar sobre esta fase da vida, que alicerça a estrutura humana. As autoridades governamentais, teóricos e pensadores, trazem esperança para uma infância feliz, saudável e agradável, onde ser criança é sinônimo de alegria e despreocupação. Não é por nada que a infância, hoje, dura mais tempo. Antigamente, aos 7 ou 8 anos, a criança assumia responsabilidades de adulto. Atualmente, a infância estende-se até os 12 anos.
A infância esta protegida por leis que asseguram uma melhor qualidade de vida e que impedem que este período deixe marcas desastrosas na estrutura humana. Os vários segmentos sociais, tanto públicos, quanto privados, destinam interesse na garantia da qualidade, validade e eficiência dos serviços prestados aos pequeninos. Conclui-se, portanto, que as crianças estão amparadas pela sociedade, mas resta saber se cada membro desta sociedade, na sua individualidade, apresenta uma consciência da preservação do bem estar das crianças. Se cada família, cada escola, demonstrar através de seus atos, a dedicação, o respeito e a admiração pelo princípio da estruturação humana, que seguirá carregando todas as experiências adquiridas e transformando-as em ações que emitem a sua personalidade. A sociedade saudável depende de sujeitos com idéias e ações saudáveis.
A grande preocupação hoje está na falta de cidadania e de ética. Na cidadania já deveria estar embutida a ética, mas tamanha é a ausência da ética que é preciso reafirmar sua importância. Existem falhas na formação do cidadão que é egoísta, "metido a espertinho" que quer sempre tirar vantagens sobre os outros, é corrupto delinqüente, usuário de drogas, sente-se superior a outros menos desenvolvidos ou de outra classe social. (TIBA, 2007, p. 268)
Tais falhas serão evitadas se a escola formar um elo com a família. É claro que família e escola não assumem sozinhas todas as brechas sociais. Mas estas são as principais fontes de inspiração e indução para a mente humana.
AFETIVIDADE
A psicologia vem influenciando a educação através de algumas teorias, especialmente as relacionadas ao desenvolvimento cognitivo e afetivo. É com base na psicologia que buscamos algumas compreensões e soluções para as problemáticas educativas.
Quando há uma relação entre indivíduos, surgem vários sentimentos: amor, medo da perda, ciúmes, saudade, raiva, inveja; essa mistura de sentimentos gera a afetividade. Um indivíduo saudável mentalmente, sabe organizar e lidar com todos esses sentimentos de forma tranqüila e equilibrada. A qualidade de vida inclui a saúde mental, cuidar-se e cuidar do próximo é como fonte de prazer, por isso que a afetividade tem grande importância no desenvolvimento humano, pois é diretamente através dela que nos comunicamos com as nossas emoções.
É na família que a criança aprende a lidar com os sentimentos, pois o grupo familiar está unido pelo amor e nele também acontecem discussões, momentos de raiva, de tristeza, de perdão de entendimento. A criança vivencia o ódio e o amor e aprende a perdoar e amar, preparando-se para conviver adequadamente em uma sociedade, de forma sociável. Os adolescentes também necessitam de pessoas que lhes ensinem a conviver com esses sentimentos.
A afetividade já se inicia nos primeiros anos de vida, e os quatro primeiros anos da criança são particularmente fundamentais para a estruturação das funções cerebrais. Um bebê que passa deitado, sem estimulação física e mental, certamente apresentará sérias anomalias em sua evolução. As aptidões emocionais devem ser aprendidas e aprimoradas desde cedo, basta ensiná-las.
Num certo sentido, temos dois cérebros, duas mentes e dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nosso desempenho na vida é determinado pelas duas, não é apenas o quociente de inteligência, mas a inteligência emocional também conta. Na verdade o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência emocional. (GOLEMAN, 1995, p. 42)
Os pais são os primeiros e mais importantes professores do cérebro. A carência emocional nos primeiros anos de vida da criança, trás conseqüências desastrosas para o desenvolvimento cognitivo, apresentando déficits na aprendizagem, transtornos de comportamento, atitudes de violência, falta de atenção, desinteresse e fracassos escolares.
O índice de violência e indisciplina nas escolas tem aumentado constantemente nos últimos anos, fator que preocupa tanto autoridades educacionais, quanto professores, diretores e familiares. Observa-se certa insensibilidade, falta de humanidade e desrespeito nas atitudes e ações que muitas crianças e adolescentes apresentam, tanto na escola, quanto fora desta. A impressão que temos é que a humanidade está doente, que o ser humano não consegue controlar mais suas emoções.
Os céticos se perguntam por que é necessário ensinar as crianças a lidar com as suas emoções. Perguntam: "As emoções não ocorrem naturalmente às crianças?" A resposta e "não", não mais.
Muitos cientistas acreditam que as emoções humanas evoluíram principalmente como um mecanismo de sobrevivência. O medo nos protege do mal e nos diz para evitarmos o perigo. A raiva nos ajudar a superar barreiras para conseguirmos o que queremos. Ficamos felizes na companhia dos outros. Ao buscarmos contato com seres humanos encontramos proteção dentro de um grupo, bem como oportunidade de nos associar com companheiros é assegurar a sobrevivência da espécie. (SHAPIRO, 1998, p. 19)
Educar as emoções é tão importante quanto ir para a escola, aprender a ler, escrever, calcular e conviver com outras pessoas de forma sociável. Mas como devemos educar nossos sentimentos? Pergunta que explode em nossa mente toda vez que nos deparamos com situações que exigem muito mais do que teorias. Quantas vezes já nos encontramos em posições que determinam atitudes rápidas, sem nos deixar consultar nossos conceitos e ideais. Apenas uma palavra ou uma atitude mudam um cenário. É nessa fração de segundos que demonstramos nosso grau de inteligência emocional.
Alem da família, a escola também é responsável pela formação integral do aluno:
Na área educacional o trajeto também não foi e não e muito diferente. É comum, ainda hoje, no âmbito escolar, o uso de uma concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse dualismo é um dos maiores mitos presentes na maioria das propostas educacionais da atualidade. A crença nessa oposição faz com se considere o pensamento calculista, frio e desprovido de sentimentos, apropriado para a instrução de matérias escolares clássicas. Acredita-se que apenas o pensamento leve o sujeito a atitudes racionais e inteligentes, cujo expoente máximo é o pensamento cientifico e lógico-matemático. Já os sentimentos, vistos como "coisas do coração", não levam ao conhecimento e podem provocar atitudes irracionais. Produzem fragilidade de segundo plano, próprias da privacidade "inata" de cada um. Seguindo essa crença, as instituições educacionais caminharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se relaciona ao mérito intelectual. (VASCONCELOS, 2004, p. 617)
A aprendizagem está intimamente ligada à afetividade, pois, sem afetividade, não há motivação e sem motivação, não há conhecimento.
"A afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, mas engloba também as tendências e a vontade." (PIAGET apud ARANTES, 2003, p.57)
Alguns pressupostos teóricos sobre a afetividade, segundo Piaget:
- inteligência e afetividade são diferentes em natureza, mas indissociáveis na conduta concreta da criança, o que significa que não há conduta unicamente afetiva, bem como não existe conduta unicamente cognitiva;
- a afetividade interfere constantemente no funcionamento da inteligência, estimulando-o perturbando-o, acelerando-o ou retardando-o;
- a afetividade não modifica as estruturas da inteligência, sendo somente o elemento energético das condutas. (ARANTES, 2003, P. 57)
A afetividade, do ponto de vista popular, é uma explosão de sentimentos que dão força, vontade, interesse, ou que trazem o desprazer, a apatia, a falta de interesse em buscar uma nova adaptação ou aceitação de nova mudança. Nesse sentido os sentimentos interferem diretamente na construção da inteligência e no desenvolvimento da aprendizagem.
A concretização da afetividade na sala de aula acontece quando o professor olha o aluno como indivíduo único, com suas características próprias, reconhecendo suas capacidades e limitações. O professor deve considerar a história de vida de cada aluno, dando oportunidade para interagir e conviver conforme seus conceitos de vida. Sendo assim, estará melhorando a vivência e as relações sociais.
3 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
"A afetividade e o desenvolvimento da inteligência estão indissociadas e integradas, no desenvolvimento psicológico, não sendo possível ter duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteligência para explicar o comportamento." (PIAGET, apud ARANTES, 2003, p.56).
O desenvolvimento cognitivo é interno e contínuo, acontece desde os primeiros dias até o fim de nossas vidas. O pensamento do bebê vai se desenvolvendo de acordo com suas estruturas, partindo do motor para o lógico e abstrato. Para que este desenvolvimento aconteça de forma natural e saudável é preciso que a criança seja estimulada constantemente através de percepções táteis, auditivas, visuais, motoras e afetivas. "A qualidade do pensamento ou das emoções, vai sendo elaborado à medida que o homem tem controle sobre si mesmo, sendo capaz de controlar os impulsos e as emoções." (VYGOTSKY apud ARANTES, 2003, p. 21).
As fases de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget:
Sensório motor ou prático (0 – 2 anos): a criança conhece o mundo através das ações que ela exerce sobre determinados objetos e observa a reação destes. As ações são reflexos ou manipulações.
Pré-operatório ou intuitivo (2 – 6 anos): aparecimento da linguagem que representa imagens e objetos. O pensamento é intuitivo e egocêntrico.
Operatório-concreto (7 – 11 anos): ainda necessita do concreto para fazer a abstração de seu pensamento.
Operacional-formal ou abstrato (11 anos): A operação se realiza através da linguagem. O raciocínio acontece com o levantamento de hipóteses e possíveis soluções.
Piaget defende que o desenvolvimento cognitivo acontece através de estruturas pré-definidas e tem seu ponto máximo por volta dos 15 anos, sendo que, até então a criança ou adolescente já definiu o seu grau de erudição.
Segundo Piaget, o conhecimento está na interação do sujeito com o objeto. É na medida em que o sujeito interage que vai produzindo sua capacidade de conhecer e vai produzindo também o próprio conhecimento. Mesmo que haja diferenças nas vivencias das pessoas, ele sustentou o fato de que o caminho do desenvolvimento é sempre o mesmo, é uma seqüência necessária. O meio pode acelerar, retardar, ou impedir a seqüência do desenvolvimento e a aquisição do conhecimento. (apud FRANCO, 1993)
Segundo Vygotsky (1991), a aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o nascimento. O indivíduo se apropria das formas culturais que já existem e, a partir de então, internaliza e elabora novos conceitos que haverão de dar-lhe possibilidades de um desenvolvimento cada vez mais complexo. É na problematização que se estabelece uma facilitação a internalização, isto sempre na interação com outros sujeitos e o meio.
Para que esta interação se efetive, criou o que ele chamou de ZDP - (Zona de Desenvolvimento Proximal), ou seja: distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro. Quer dizer, é através das informações adquiridas, que a pessoa tem a potencialidade de aprender, mas ainda não completou o processo, conhecimentos fora de seu alcance atual, mas potencialmente atingíveis.
Vygotsky acredita que a possibilidade de desenvolvimento cognitivo perdura para o resto da vida. Tanto um adulto, quanto uma criança tem as mesmas condições e possibilidades de aprendizagem, e esta acontece através do meio social e cultural, na interação com outros sujeitos.
Tanto Piaget como Vygotsky, acreditam que a inteligência é a capacidade de aprender sempre e renovar o conhecimento com base em novos conceitos, superando as novas situações.
A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social.O desenvolvimento da criança é descontínuo, contraditório e conflituoso, demarcado pela contextualização ambiental, social e familiar que a criança está inserida.
Fases do desenvolvimento humano:
Impulsivo-emocional: ocorre no primeiro ano de vida, a afetividade orienta o bebê quanto as suas ações frente às pessoas. Sensório-motor e projetivo: vai até os três anos de idade, é a fase onde a criança aprende a manipular os objetos e a expressar usando a linguagem e gestos. Personalismo: dos três anos aos 6 anos, nesta fase a criança desenvolve a consciência de si perante as mediações sociais. Categorial: o progresso intelectual dirige a criança para a aprendizagem do mundo que o cerca. Predominância funcional: nesta fase ocorre uma reorganização da personalidade devido às alterações hormonais e transformações físicas, onde são trazidas á tona questões morais e existenciais.
Deve-se ter cuidado para que as etapas de desenvolvimento cognitivo não rotulem as individualidades de cada criança, pois cada ser tem suas próprias características e individualidades que apresentam um ritmo único para o desenvolvimento. Cada fase de desenvolvimento depende de múltiplos fatores, tanto sociais, emocionais, físicos, quantos outros que interferem na passagem de uma fase para outra.
Existe um grande debate sobre até que ponto a inteligência é herdada. Parece claro que não nascemos com um nível pré-definido de inteligência e que muitos fatores ambientais podem afetar o nível da inteligência de uma criança durante o seu desenvolvimento. Hoje, alguns psicólogos cognitivos acreditam que embora os limites externos da inteligência possam ser fixados no nascimento, o ambiente em que uma criança vive pode fazer uma diferença de até 40 pontos no seu QI (quociente de inteligência, o número que indica o nível da inteligência de uma pessoa e é avaliado em testes especiais). Este valor é espantoso se considerarmos que é a mesma distância entre o limite de retardamento mental (80 pontos de QI) e o valor médio de um formando da faculdade (120 pontos). Outros psicólogos que conduziram estudos clássicos de gêmeos idênticos separados no nascimento foram mais conservadores, dizendo que o ambiente pode causar uma diferença de até 20 pontos. (MEYERHOFF, MICHAEL)
A entrada da criança na escola traz muitas mudanças emocionais, pois esta necessita se separar da família e fazer novas amizades, adaptando-se a outros ambientes. Neste momento, tanto a família quanto a escola devem ter consciência da situação e estarem preparadas para auxiliar a criança, amenizando os sintomas do afastamento familiar.
4 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A AFETIVIDADE
Existe uma visão cultural dualista, onde separa as emoções da razão, tendo como base a separação do corpo de da mente. Mas, estudos mais recentes mostram que razão e emoção estão intimamente ligadas e dependentes.
O comportamento é o reflexo dos pensamentos, e este tem relação íntima com o afeto. Um depende do outro e suas qualidades dependem da aprendizagem adquirida no decorrer da vida.
Quem separa desde o começo o pensamento do afeto fecha para sempre a possibilidade de explicar as causas do pensamento, porque uma análise determinista pressupõe descobrir seus motivos, as necessidades e interesses, os impulsos e tendências que regem o movimento do pensamento em um ou outro sentido. De igual modo, quem separa o pensamento do afeto, nega de antemão a possibilidade de estudar a influencia inversa do pensamento no plano afetivo, volitivo da vida psíquica, porque uma análise determinista desta última inclui tanto atribuir ao pensamento um poder mágico capaz de fazer depender o comportamento humano único e exclusivamente de um sistema interno do indivíduo, como transformar o pensamento em um apêndice inútil do comportamento, em uma sombra sua desnecessária e impotente. (VYGOTSKY apud ARANTES, 2003, P. 18)
Em nossas escolas ainda é comum à divisão de afeto e aprendizagem cognitiva. Uma criança pode não aprender porque está com problemas cognitivos ou afetivos. Separar as emoções da razão é um mito. Acreditar que só o pensamento racional tem valor torna este pensamento frio e calculista. Apenas o pensamento lógico-matemático torna o sujeito aprendente e inteligente. O pensamento emotivo torna a pessoa frágil, seguindo as próprias emoções.
Para que o aluno possa aprender de forma qualitativa e significativa é necessário que as estruturas e organizações internas possam absorver novos conhecimentos a partir de outros já assimilados, relacionando-os de forma substancial, além disso, é necessário que o aluno queira aprender novos conhecimentos. A aprendizagem e o interesse por novos conhecimentos dependem do contexto interno, relativo à individualidade de cada aluno e as condições externas no meio que este está inserido. É neste contexto que o professor aparece como facilitador e mediador, transmitindo e proporcionando ao aluno condições de aprendizagem que será influenciado pela afetividade nas relações entre professor e aluno. A falta de afetividade não irá determinar o grau de inteligência cognitiva do indivíduo, mas pode sim, retardar seu desenvolvimento.
Para alcançar esse objetivo, não podemos recorrer a métodos antigos, mas desenvolver uma metodologia imaginativa que não limite o novo a mesma coisa de sempre. E necessário partir da idéia de que toda a aprendizagem é um processo dinâmico e, como tal, requer uma construção, e essa, por sua vez, requer algum tempo. Nesse processo devem ser tecidas as relações entre aspectos cognitivos e afetivos, entre fenômenos científicos e cotidianos, entre os aspectos considerados pertencentes à vida pública e os considerados exclusivos da vida privada, para reunir o que já havia sido arbitrariamente separado e que provoca cisões, também arbitrárias, no psiquismo dos estudantes. (ARANTES, 2003, p.143)
Desejamos preparar os nossos alunos para uma vida em sociedade e esquecemos de prepará-los para uma vida privada, onde conviverão consigo mesmos. Essa separação entre a mente e a razão, deixou uma herança que ainda é tida como verdadeira e que precisa ser desmistificada para que possamos abrir novos caminhos rumo à formação integral de nossos alunos.
Toda aprendizagem está envolvida de inúmeros significados e sentimentos. O objeto da aprendizagem tem significado relativo para cada individuo, sendo que cada ser emprega em sua aprendizagem toda história de vida e todas as emoções e sentimentos que o objeto desperta em seu interior. Portanto, tanto o aspecto cognitivo quanto o afetivo fazem parte da aprendizagem.
4.1 A AFETIVIDADE NA ESCOLA
Na atualidade a escola ainda apresenta o pensamento dualista, valorizando o pensamento lógico e desprezando as emoções e sentimentos. Em vista disto, muitas crianças e adolescentes sentem-se deixados de lado ou tratados com preconceito por exporem suas emoções ou pensarem de forma emotiva.
Passamos em média 20 anos de nossas vidas sendo educados pela escola e saímos dela sem nos conhecermos. A escola deveria ter como objetivo central, formar cidadãos mais felizes e mentalmente saudáveis. A educação deveria ser centrada no individuo e na sua formação, não nas informações repassadas a este.
Definitivamente, os alunos e as alunas aprendem tudo aquilo que acreditamos prepará-los para a vida pública, mas não compete ao sistema educativo prepará-los para que tenham uma boa formação cognitiva, mas não fazemos nada para que também tenham uma boa formação emocional; desenvolvemos o seu pensamento para que possam entender o científico, mas não tentamos fazê-los compreender o cotidiano. Preparamos os estudantes para o público, o cognitivo e o científico, mantendo-os na ignorância quanto ao privado, ao emocional e ao cotidiano, isto é, eles são mantidos na ignorância em relação aos conhecimentos tradicionalmente considerados pertencentes ao universo feminino. (ARANTES, 2003, P. 134)
Um problema preocupante que as instituições escolares enfrentam hoje é a dificuldade na aprendizagem. Esse problema não está sozinho, traz consigo inúmeros outros que se entrelaçam e formam uma teia de dependências produzindo o fracasso escolar. Muitas vezes o fracasso escolar é oriundo da forma como as crianças e adolescentes são tratadas na escola, em casa e no meio social.
Sabe-se que a educação regular é, atualmente, uma máquina de excluir os diferentes. Mais do que isso, as práticas educativas adotadas em nossas escolas são em realidade fabricantes dessa nova categoria de crianças, as excluídas do sistema regular de ensino. (...) Tais crianças se tornam fracassadas escolares pelo modo como a escola aborda, ataca, nega e desqualifica o degrau, a diferença social, o desencontro de linguagens entre as crianças de extração pobre, de um lado, e a escola comprometida com outras extrações sociais, de outro. (ARANTES, 2003, P.49)
As relações interpessoais exigem trocas de afetos. Nas relações, professor e aluno, por mais profissionais que sejam, também existem trocas de afetos. O professor é avaliado pelo aluno, com adjetivos que demonstram afetividade (o professor é bonzinho, não grita, nos ajuda, querido, bem humorado). Isso demonstra que a metodologia de ensino e os conteúdos não têm tanta importância para as crianças, mas sim, a atitude do professor em sala de aula. As intervenções feitas pelo professor, em sala de aula, como forma de reforçar a aprendizagem, são avaliadas pelos alunos, onde estes figuram como o professor inferiu o momento e o motivo da intervenção. Essas intervenções são absorvidas pelos alunos de forma afetiva e pessoal, onde podem ajudar no seu desenvolvimento ou atrasá-lo, podem interferir na relação entre professor e aluno, influenciando diretamente o processo de aprendizagem.
A afetividade não se restringe apenas ao carinho, toque físico, e palavras de incentivo. O respeito, a oportunidade de crescimento, a valorização individual, a imposição de limites, e a aceitação pessoal são demonstrações de afeto com a criança. Mas não é só a relação verbal e sinestésica que demonstram importância ao sujeito escolar, valorizando seus interesses e ideais. A escola, como um todo, deve estar preparada para receber o aluno, com condições mínimas de estrutura física e organização curricular. Sabe-se, que o insucesso escolar, acontece quando o aluno não tem motivação para a aprendizagem. Duas questões são sugeridas como forma de amenizar o fato em questão: o professor deve ser mediador e o currículo escolar deve estar adequado aos interesses gerais do público atendido na instituição escolar. O professor mediador, deve investigar o interesse do aluno, buscando alternativas para motivá-lo diante dos conteúdos a serem oferecidos. Deve estar atento a todos os alunos, para conhecer cada um nas suas limitações e capacidades, e assim oferecer atividades adequadas, a fim de não frustrar suas expectativas de aprendizagem. O currículo adequado à instituição escolar, deve ser construído observando os interesses do local onde a escola esta inserida, proporcionando assim, a aproximação da escola com a sociedade, criando afinidade e interesses comuns.
4.2 A AFETIVIDADE NA FAMÍLIA
As sensações obtidas pelo bebê, desde o nascimento, são transmitidas principalmente pela mãe, onde o recém nascido recebe e interpreta essas emoções construindo o seu caráter psicológico. O afeto adquirido na família, na primeira infância, serve de aparato para as relações humanas posteriores. O ser humano aprende da convivência com outras pessoas e através da transmissão de valores culturais a agir, pensar, falar e sentir. Sendo assim, o aprendizado das emoções inicia-se ainda nas primeiras horas de vida da criança e se prolonga por toda sua existência.
As famílias da atualidade estão cada vez mais distantesdos princípios de formação éticos, morais e afetivos, importando-se muito mais com valores econômicos, em vista de um modelo de sociedade baseado na teoria do consumo. Essas famílias trabalham para conseguir acompanhar as rápidas e constantes mudanças econômicas. Não é mais possível um único membro da família prover com sustento básico para seus integrantes, é necessária a colaboração de outros membros familiares para garantir uma vida familiar digna. Em vista disto, as crianças, são as maiores prejudicadas, pois são afastadas do seio familiar desde cedo, aprendendo a convier com outras pessoas e outros conceitos de mundo. Esse afastamento traz um distanciamento entre o grupo familiar, criando-se algumas divergências quanto aos direitos e deveres familiares. A família muitas vezes, encaminha a criança para uma instituição escolar cuidar (creches, escolinhas, escola regular), pois não dispõe de tempo para ficar com a criança, sendo que necessita trabalhar. Nesta situação, muitas famílias acreditam que a escola compromete-se com todos os aspectos educacionais e afetivos para o desenvolvimento da criança. Mas a escola ainda não apresenta condições para assumir tais compromissos de forma integral, assim sendo, nem a escola e nem a família apresentam condições ideais para a formação de sujeitos que saibam relacionar-se adequadamente no meio social.
A família é a base mais importante para o desenvolvimento integral e saudável da criança. É nela, que o indivíduo vai adquirir o princípio de toda a sua formação. Uma família não precisa ser necessariamente tradicional (mãe, pai e filhos), para que os seus integrantes sejam felizes e empreguem uma educação saudável, preparando as crianças para uma vida social harmoniosa. A mãe, tem papel importante na educação das emoções, é através dela que o bebê tem os primeiros contatos de troca de afeto. A ausência da mãe e a sua não substituição pode acarretar problemas diversos na criança, como: trauma, choque, angustia, neuroses, obsessão, que reduzem a capacidade de adaptação ao meio social. Se a ausência da mãe for substituída brevemente, os sintomas podem desaparecer ou diminuírem. As conseqüências das carências afetivas pela falta da figura materna, tornam-se mais graves à medida que a criança for mais jovem, pois o traumatismo afetivo atinge várias outras áreas (psicomotor, intelectual e físico). Pesquisas mostram que crianças que tiveram uma ausência materna muito cedo, não conseguem relacionar-se afetivamente, mesmo quando submetidas a cuidados afetuosos individuais, tornando-se indiferentes, agressivas, destruidoras, hostis, deprimidas e tristes. A carência afetiva materna não só produz choque imediato, mas deterioração progressiva. Independente de outras condições de ordem física e mental, a problemática emocional deve ser considerada fator decisivo na adaptação e rendimento do escolar, podendo trazer sérias conseqüências ao desenvolvimento e progresso educacional, devendo a escola oferecer condições de estabilidade emocional e, através do diagnostico precoce, dos encaminhamentos adequados, da programação adequada das atividades escolares e da preparação dos professores, atender a esses casos prontamente, trabalhando conjuntamente com os pais. (NOVAES, 1986)
A escola, juntamente com o grupo familiar, deve buscar os mesmos objetivos, visando sempre à formação integral do sujeito escolar. É necessário que a família responsabilize-se também, pela educação das crianças, pois a escola sozinha não apresenta condições estruturais e pedagógicas necessárias para cumprir com tantas responsabilidades, (currículo, saúde física e mental, ética, moral, valores, cultura, assistência social etc).
Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 1990, P. 12)
Entende-se que todos somos responsáveis pela formação integral e global da criança e do adolescente, mas a família é a primeira que deve responsabilizar-se pelos indivíduos menores, sendo que na sua ausência, a comunidade, a sociedade e o Poder Público assumem as responsabilidades que deveriam ser da família.
Muitas famílias, às vezes, por falta de informação ou por descuido, não cumprem com seu papel, no que é assegurado como direito da criança e do adolescente e prejudicam a formação holística do individuo. Sendo assim, a escola, deve estar atenta e preparada para intervir nesta família a fim de auxiliá-la na superação de suas dificuldades.
4.3 A SOCIEDADE EM COLABORAÇÃO COM A FAMILIA
Antes da sociedade industrial, como já vimos anteriormente, a criança aprendia através da convivência com adultos, ajudando no trabalho. Nesta forma coletiva de aprendizagem, a família não determinava a socialização da criança, esta se dava através das observações e do próprio fazer. Com o fortalecimento do capitalismo, a organização familiar foi se modificando, a educação e a socialização das crianças passam a ser responsabilidades da escola e da família.
O capitalismo transformou as relações sociais da família com as crianças. Hoje, a família é a primeira e principal responsável pela educação das crianças. Na sua ausência, o Poder Público, ou seja, a sociedade direciona a formação da criança ou adolescente.
A adolescência e a infância têm grande relevância em nossa sociedade, são amparadas por leis especificas e políticas públicas que auxiliam na melhor qualidade de vida e na formação integral do sujeito. A grande importância para esta fase da vida tem fator decisivo em termos sociais, já que é na infância e adolescência que construímos a personalidade humana dos sujeitos que, futuramente farão parte de uma sociedade, como agentes transformadores e atuantes.
Tudo se relaciona determinando as características da sociedade. O sujeito que está inserido nela, pode transformá-la, e esta pode transformar o sujeito. A escola e a família devem funcionar como filtros desta troca, deixando passar somente o que é considerado saudável, para a formação das crianças e adolescentes.
É fácil imaginar como uma criança aprende a sentir e a reagir diante de tantas incertezas e variações que vivencia. Ao mesmo tempo em que instiga para o crescimento intelectual, cria insegurança e assusta. Essa ambigüidade comportamental gera anseios e expectativas, que muitas vezes atrapalha o desenvolvimento cognitivo da criança ou do adolescente. Repetência, desatenção, falta de concentração, desinteresse pela aquisição do novo, abandono escolar, violência, são comuns em nossas escolas. Suas raízes, muitas vezes, estão na própria estrutura social.
Ainda que tenham sido por muito tempo portadores dos mais representativos valores de sua sociedade, os professores duvidam hoje de seu direito. Valorizar o trabalho em uma sociedade em que se habitua a conviver com 10% de desempregados é uma boa ação? Em uma caricatura recente, jovens perguntavam-se se a escola, mais do que prepará-los para os exames, não deveria formá-los para o "inquérito", a fórmula que se usa no direito francês para designar a abertura de uma instrução judicial...[...]. (PERRENOUD, 2000, p.153)
Na escola, o aluno aprende o respeito, a aceitação, a cidadania e, na medida do possível, vivência essas experiências, convivendo com colegas de diferentes, culturas. Aceitando as diferenças físicas e mentais, através da inclusão social. Mas, além dos muros escolares, encontra preconceito racial, social e cultural. Falta de ética, moral, cidadania, humanismo. Se o individuo está preparado para enfrentar essa ambigüidade social, saberá viver plenamente.
5 GESTÃO ESCOLAR EM BUSCA DE SOLUÇÕES
Algumas escolas preocupam-se somente com a qualidade das informações que irão passar aos alunos. Não estão dando atenção aos interesses, sonhos, frustrações, desejos, anseios dos educandos. Isso transforma a instituição escolar em um espaço sem sentido, onde a aprendizagem dos conteúdos oferecidos se modifica em algo sem significado, sem proveito.
A escola deve fazer o papel de mediadora entre o sujeito, a família e a sociedade, aproximando as realidades e quebrando paradigmas de uma educação conceitual e de informações, para transformar-se em uma educação integral, onde valoriza o ser humano como um todo: mente, corpo e alma.
Muitas escolas confundem a parceria com a família, em um relacionamento de cobranças, onde a escola transfere algumas responsabilidades para a família e com isso a família transfere outras responsabilidades para a escola. Esta relação transforma-se em um jogo de empurra-empurra, e ninguém assume suas reais funções. A escola não deve ser só um local de aprendizagem, mas deve ser uma extensão da família, onde deve haver continuidade da vida afetiva e a busca pela formação de indivíduos sadios.Segundo Delors, a educação deve preparar os indivíduos para conhecerem-se a si e aos outros, através de uma noção de mundo.
Para podermos compreender a crescente complexidade dos fenômenos mundiais, e dominar o sentimento de incerteza que suscita, precisamos, antes, adquirir um conjunto de conhecimentos e, em seguida, aprender a relativizar os fatos e a revelar sentido critico perante o fluxo de informações. A educação manifesta aqui, mais do que nunca, o seu caráter insubstituível na formação da capacidade de julgar. Facilita uma compreensão verdadeira dos acontecimentos, para lá da visão simplificadora ou deformada transmitida, muitas vezes, pelos meios de comunicação social e o ideal seria que ajudasse cada um a tornar-se cidadão deste mundo turbulento e em mudança, que nasce cada dia perante nossos olhos. (DELORS, 1998, P.47)
A escola deve repensar seu currículo para que seja capaz de caminhar junto com as mudanças tecnológicas, sociais, políticas, ambientais, financeiras. Sendo assim, poderá transformar a educação oferecida em conhecimento.
Devemos cultivar, como utopia orientadora, o propósito de encaminhar o mundo para uma maior compreensão mútua, mais sentido de responsabilidade e mais solidariedade, na aceitação das nossas diferenças espirituais e culturais. A educação, permitindo o acesso de todos ao conhecimento, tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta tarefa universal: ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo. (DELORS, 1998, P.50)
A afetividade aparece como forma de compreensão humana em busca de um mundo mais justo e solidário, concretizado através da educação. A gestão escolar deve estar preparada para assumir os desafios de uma educação humanitária.
A proposta apresentada busca reorganizar a escola no tempo, e no espaço por meio de um currículo com conteúdos não fragmentados e que sejam contextualizados com as vivencias morais, culturais e étnicas, valorizando as emoções e os sentimentos de cada indivíduo.
CONCLUSÃO
Acredito na educação, na escola, na família, na sociedade como fontes inspiradoras de mudanças. Mudanças nas concepções humanas, na estrutura do sujeito, na consciência dos indivíduos.
No Informe Mundial sobre Violência Y Salud da Organização Mundial de Saúde (OSM) relativo ao ano de 2000 – a primeira causa de morte violenta no mundo é o suicídio, superando inclusive as mortes causadas pela guerra. Ao ler esta informação, cabe a pergunta: alguma dessas pessoas se suicidou por ignorar o teorema de Pitágoras, os sistemas cristalinos ou os afluentes do rio Amazonas? Parece difícil de imaginar. Sem dúvida, talvez isso tenha muito que ver com a ausência de recursos para administrar as próprias emoções e para solucionar os conflitos inter- ou intrapessoais que, com muita freqüência, surgem em nossa vida cotidiana. (ARANTES, 2003, P. 134)
Quais são as falhas da instituição escolar, da família e da sociedade diante de catástrofes humanas? Não existe uma única e verdadeira resposta para tão grande dúvida. Mas há um caminho com princípios mais humanos, que valorize os indivíduos.
Ninguém vive só, de nada adianta um mundo altamente tecnológico, com indivíduos adaptados às mudanças voláteis e aos padrões culturais líquidos. Uma escola com infra-estrutura moderna, com professores qualificados e currículo com conhecimentos adequados a realidade do educando e aos seus interesses. O mundo continuará frio e doentio, pois não existe a valorização da pessoa em si. O que realmente importa e que faz as pessoas mais felizes é a troca que se encontra nas relações interpessoais.
A afetividade esta presente em todas as relações pessoais e profissionais, por isso, sua importância na realização subjetiva de cada individuo. A afetividade, nos primeiros anos de vida, é ainda mais importante, pois é quando a criança ou o adolescente está aprendendo a organizar suas estruturas mentais e cognitivas.
Uma criança ou adolescente que apresenta problemas afetivos familiares, ausência de um membro da família, falta de atenção e carinho, maus tratos, violência, ou outras formas de desrespeito à integridade física, moral e espiritual, apresenta sintomas bem claros, que se refletem principalmente na escola e mais especificamente na sala de aula, através de dificuldades na aprendizagem, bloqueios cognitivos, falta de interesse, violência, repetência, evasão, indisciplina, ou até mesmo problemas físicos e emocionais. Os professores, devem estar plenamente conscientes destes sintomas para poder ajudar a criança e a família através da escola.
O fracasso escolar esta diretamente relacionado com questões familiares e sociais. Perdeu-se o referencial do que é educar e de quem é esta responsabilidade. Acredita-se que educar é apenas aprende a ler, escrever e memorizar conteúdos básicos de um currículo ultrapassado e com informações e conhecimentos sem contextualização. Qual o espaço que a escola usa para discutir princípios morais, sociais, culturais, tecnológico? Qual família dedica tempo suficiente para ensinar seus filhos a viver as complexidades e as ambigüidades da vida?
Tais pressupostos nos levam a defender propostas de uma educação em valores em que a dimensão afetiva, e também cognitiva, a biológica e a sociocultural, assim como o universo físico, interpessoal e sociocultural das relações humanas, são considerados no planejamento curricular e nos projetos político-pedagógicos das escolas. Com isso pretende-se atingir os objetivos de uma formação para a cidadania, visando a que alunos e alunas desenvolvam competências para a diversidade e o conflito de idéias, com as influências da cultura e com os sentimentos e as emoções presentes nas relações que estabelecem consigo mesmos e com o mundo. (ARANTES, 2003, p. 167)
Acreditarmos que o futuro da educação deva ser mais humano, onde o afeto entre as relações pessoais seja construído na família e na escola em colaboração com a sociedade.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANTES, Valéria Amorim (Org.). Afetividade na Escola: Alternativas Teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003.
CAPELATTO, Ivan Roberto. Educação com afetividade. Ed. Fundação Educar. Disponível em http://www.facaparte.org.br/new/download/capelato.pdf acessado em 28/10/08
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Nº 8.069 de 13 de julho de 1990.
FRANCO, Sérgio R. Kieling. O Construtivismo e a Educação. 3ª ed. GAP, Porto Velho, 1993.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Artes Médicas. Porto Alegre, 1995
DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortezo 1998.
LEITE, Dante Moreira. O Desenvolvimento da Criança. São Paulo: Nacional, 1972.
MEYERHOFF, Michael. O Desenvolvimento Cognitivo e Social de um Recém-nascido. Disponível em: http://saude.hsw.uol.com.br/compreendendo-o-desenvolvimento-cognitivo-e-social-de-um-recem-nascido1.htm acessado em 09/11/2008
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
NOVAES, M. Helena. Psicologia Escolar. 9ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artes Medicas do Sul, 2000.
TIBA, Içami. Quem Ama Educa: formando cidadãos éticos. São Paulo: Integrare, 2007.
ROCHA, Rita de Cássia Luiz. A historia de infância: reflexões sobre algumas concepções correntes. Paraná: Unicentro. Disponível em http://www.unicentro.br/editora/revistas/analecta/v3n2/artigo4ahistoriadainfância Acessado em 08/10/08
SHAPIRO, Lawrence E. Inteligência Emocional: uma nova vida para seu filho. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus,1998.
VASCONCELOS, Mário Sérgio. A Afetividade na Escola: Alternativas Teóricas e Práticas, Campinas, 2004. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v25n87/21472.pdf acessado em 29/10/2008
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Martins Fontes, São Paulo, 1991.