A acumulação primitiva do capital e a ''pré-história'' da ''questão social''
Por FABIOLA SOUZA LEITE | 31/10/2015 | EconomiaTratar do pauperismo e das lutas sociais do século XIX requer uma compreensão mínima do período chamado por Marx de ''acumulação primitiva do capital'', responsável por criar o ''trabalhador livre''. Esse processo que configura a pré-história do capitalismo se inicia na Inglaterra, consistindo na pura e simples expropriação dos camponeses de suas terras, objetivando transformá-las em pastagens para ovelhas, devido ao alto preço da lã. Os conhecidos cercamentos de terras foram feitos com o intuito de gerar uma oferta de trabalho adequada às necessidades do capital que tem o seu lucro na exploração da força de trabalho.
Do ponto de vista produtivo, enquanto se realizava o movimento de libertação dos trabalhadores em relação aos meios de produção, o capitalismo se desenvolvia através da atuação simultânea de um grande número de trabalhadores no mesmo campo de atividade para produzir a mesma espécie de mercadoria sob o comando de mesmo capitalista. Outro fator que contribuiu para o seu desenvolvimento nessa época foi a manufatura, que consistia numa forma de cooperação que decompõe as diversas operações de origem artesanal.
No século XV foram sendo promulgadas leis que impeliam os desempregados ao trabalho assalariado com a utilização de instrumentos de tortura como punições àqueles que resistissem às necessidades do capital. Para dar início à intensa exploração do trabalho, foram feitas leis que mantinham baixos os salários e estendiam a jornada de trabalho, originando a mais-valia absoluta como importante condição para a acumulação primitiva e também para a fase manufatureira do capital. Embora tenham sido aparentemente naturalizados no curso dos acontecimentos, todos os fenômenos que deram origem a questão social têm causalidades sociais.
A acumulação primitiva efetuou-se pela força, chefes de grêmios e até mesmo operários assalariados logo de início se tornaram pequenos capitalistas. Utilizando de uma exploração sempre constante de trabalho assalariado e de uma acumulação primitiva, acabaram tornando-se capitalistas. Entretanto, essa transformação lenta do capital não cobria as necessidades do mundo, ainda mais por causa dos grandes descobrimentos do século XV.