A ação investigativa como instrumento para o exercício profissional do Serviço Social
Por AMÁLIA RAQUEL | 18/11/2009 | SociedadeDissertar sobre ação investigativa como instrumento para o exercício profissional do Serviço Social torna-se um tanto complexo quando a temática se apresenta como uma inédita proposta. Neste sentido, subsidiada por uma bibliografia restrita e pela lacuna de uma abordagem acadêmica mais enfática, permito-me uma construção solta e investigativa que possibilite demarcar a relevância desse instrumental para a formação acadêmica e profissional do Assistente Social, bem como apontar a dicotomia surgida a partir da idéia de que a pesquisa e a investigação se restringem a academia (gente que pensa!), configurando-se teoria dogmatizada, e a ação do profissional como prática (gente que faz!). Assim,
a necessária unidade entre a teoria e a prática como determinantes complementares que incidem na ação particular dos profissionais, o que lhes vai possibilitar a garantia do movimento dialético pensamento/ação (SUGUIHIRO, 1999).
A formação em nível de graduação deve ser pautada nas dimensões investigativa e interpretativa, e os conteúdos de todas as disciplinas devem ter a preocupação de mostrar a vinculação entre teoria, realidade e as possibilidades de intervenção profissional em diferentes contextos históricos, tendo na figura do professor, um agente capaz de fomentar condições para que os alunos produzam e socializem conhecimento. Neste sentido, contribui Taveira ( ? ):
São esses sujeitos do processo de ensino e aprendizagem que são responsáveis por um momento que não é simplesmente repasse e assimilação de conteúdos prontos e acabados, é o desafio de construir interpretações coerentes e críticas sobre o mundo em que vivem, é o desafio de encarar situações concretas e analisá-las, é o enfrentamento de diferenças que enriquecem a totalidade dando-lhe um sentido histórico.
Tal formação acadêmica deverá primar pela constituição integral do aluno, futuro profissional, através da capacitação teórico-metodológica crítica e ético-política, como condição fundamental para o exercício profissional, subsidiada pela adoção da teoria social crítica (marxismo) que possibilita o deciframento da realidade social e as contradições estruturais geradas pelo capitalismo, o conhecimento do ser social enquanto sujeito histórico e a compreensão da profissão como produto da divisão social e técnica do trabalho. Neste sentido, gostaria de acrescentar que apesar de fundamentos marxistas e análises dialéticas, faz-se necessário agregar o pensar filosófico, a fim de refletir e questionar sobre verdades e valores postos, sobre a realidade, qualquer que seja ela; pois geralmente esta possível aproximação fica restrita ao ensino acadêmico da história da Filosofia e de suas correntes. Desse modo, acredita-se que tal “pensar ontológico” deve permeia a formação profissional do Assistente Social e contribuir para gerar inquietudes frente à realidade posta.
A transição da formação acadêmica à profissional requer a desconstrução da concepção dicotômica onde de um lado o profissional produz conhecimento na academia, e de outro o profissional aplica na “prática”.Visto que o objeto de investigação e intervenção é o mesmo, a velha-nova e fragmentada questão social, que mobiliza saberes (aparatos teóricos, instrumentais, legais, éticos e pedagógicos) para o seu enfrentamento considerando as demandas institucionais e dos usuários dos serviços sociais.
Assim, as dimensões investigativas e interventivas, definidas nas Diretrizes Curriculares, são condições para a formação e o exercício profissional do Assistente Social, e como aponta Cardoso (1998):
“exigência para a sistematização teórico-prática do exercício profissional e para a definição de estratégias e de instrumental técnico-operativo que potencializam as formas de enfrentamento das diferentes manifestações da questão social.”
Ao considerar a formação profissional do Assistente Social e o exercício de sua “prática”, diga-se trabalho especializado fruto da divisão social e técnica do trabalho, deve-se também compreender que a vida cotidiana se apresenta como um rico objeto para a ação investigativa e interventiva do profissional. Pois como afirma Guerra (2007):
Aqui se localiza o desafio central para o assistente social, que é o de fazer a crítica dos fundamentos da cotidianidade tanto daquela em que ele se encontra inserido quanto a do cotidiano dos sujeitos sociais a quem presta serviços, o que significa examinar os fundamentos, analisá-los, reconhecê-los, pra transcendê-los.
Neste sentido, se propõe que tal exercício possibilite repensar criticamente e reconstruir criativamente as práticas cotidianas muitas vezes rotineiras, instituídas hierarquicamente, burocratizadas e pragmáticas, bem como refletir sobre as novas demandas profissionais postas pelo capital, a partir da fragmentação da questão social e de respostas focalizadas e superficiais, os limites e possibilidades embutidas na ação cotidiana do Assistente Social, considerando as verdadeiras necessidades sociais a partir de uma postura crítica e investigativa sobre a realidade social, subsidiada por um saber também crítico, cultivado tanto na acadêmica quanto na formação continuada, visto a dinamicidade da sociedade.
BIBLIOGRAFIA
CARDOSO, Franci Gomes. A pesquisa na formação profissional do Assistente Social: algumas exigências e desafios, in Cadernos ABESS – Diretrizes Curriculares e pesquisa em Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1998.
GUERRA,Yolanda. O Projeto Profissional Crítico: estratégia de enfrentamento das condições contemporâneas da prática profissional. Serviço Social e Sociedade,Ano XXVIII, nº91, Especial, 2007, p.5-31.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos. 3. ed. São Paulo, Cortez, 1995.
______. O Serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
SUGUIHIRO, Vera Lucia Tieko. Ação investigativa na prática cotidiana do Assistente Social. Disponível em:< http:// www. ssrevista.uel.br/c-v2n1.htm. Acesso 20.04.09.