8 de Março: Dia das mulheres trabalhadoras

Por Karla Tolentino | 07/03/2016 | Sociedade

De quem é o dia 8 de março?

 

O dia 8 de março foi o dia de luta das mulheres trabalhadoras que foram queimadas pelos empresários. Depois virou o “dia da mulher”. Esse “dia da mulher”, é generalista. É o dia de todas as mulheres. No caso, é o dia das mulheres dos empresários que mandaram queimar as operárias, da Presidente Dilma, das mulheres que adentraram para o mundo empresarial, das “madames” que humilham suas empregadas mulheres.

Isso nos deve fazer refletir. Como coloca o Coletivo 8 de Março:

“O dia 08 de março é considerado o dia da mulher. Instituições decidem as datas e a população aceita e reproduz. O dia 8 de março, para nós, não é o dia da "mulher" em geral e sim das mulheres trabalhadoras. A escolha da data foi em homenagem às operárias que morrerão lutando contra o capital (e não contra os homens, como um certo feminismo faz)” (http://coletivooitodemarco.blogspot.com.br/2016/03/8-de-marco-dia-das-mulheres.html).

 

A origem do 8 de março precisa ser recordada:

Foi no bojo das manifestações pela redução da jornada de trabalho que 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos pelo direito a uma jornada de 10 horas, na primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Asfixiadas, dentro de um local em chamas, as tecelãs morreram carbonizadas. (trecho extraído de: http://www.redemulher.org.br/8demarco.htm).

 

Por isso, a conclusão do Coletivo 8 de Março, afirma:

 A "mulher" em geral não existe. Existem mulheres de carne e osso. Os interesses das mulheres burguesas é muito diferente das mulheres proletárias, e os interesses das mulheres burocratas é distinto das mulheres submetidas à burocracia, os interesses da Dilma são antagônicos aos interesses das mulheres trabalhadoras.

O Coletivo 8 de março retoma a homenagem às operárias assassinadas pelo capital (e defendido por muitas mulheres e feministas) e o considera o dia das mulheres trabalhadoras, uma parte do movimento operário, na luta pela superação do capitalismo e da situação das mulheres nessa sociedade.

8 de março: dia de luta das mulheres trabalhadoras!!

(http://coletivooitodemarco.blogspot.com.br/2016/03/8-de-marco-dia-das-mulheres.html).

Essas reflexões nos ajudam a pensar a situação da mulher hoje e a comemoração do dia 8 de março. A situação da mulher hoje é, nas suas relações conjugais e familiares, bem melhor do que há décadas e mais ainda do que a séculos. Esse avanço foi devido às mudança sociais, luta das mulheres e das trabalhadoras, novas necessidades de consumo criadas e diversas outras causas. A relativa melhoria não resolveu todas as questões, mesmo porque ela não atingiu toda a população. A sociedade é dividida em classes, existe diferença no tratamento dos indivíduos em casos de abundância e de carência, em casos de processos de estudos e acesso aos bens culturais e falta de acesso, aos interesses de cada classe ou grupo. São apenas alguns exemplos. Então a relativa melhoria da vida das mulheres não resolveu todos os nossos problemas. Melhorou e resolveu os problemas de muitas mulheres. Mas as mulheres, como bem coloca o Coletivo 8 de Março, não são iguais, não possuem os mesmos interesses, não pertencem a uma mesma classe social. Assim, a violência doméstica continua existindo, mesmo que tenha diminuído, para ficar apenas num exemplo. Por isso a luta feminina tem que continuar. O feminismo, no entanto, não é a luta feminina. Este é uma ideologia, ou melhor, é um conjunto de ideologias. Como tal, não é preciso ser “feminista” para lutar pela causa das mulheres ou, mais especificamente, pela causa das mulheres trabalhadoras.

Os objetivos das mulheres em geral são uma ilusão. Não somos iguais, não somos da mesma classe social, não temos os mesmos interesses, não temos as mesmas ideias. O feminismo autoritário atual fica querendo impor seu pensamento e suas ideologias ao conjunto das mulheres. Suas preocupações, em grande parte dos casos, são fúteis (campanha do “fiu fiu”, por exemplo), muitas vezes revanchista (campanha “meu amigo secreto”), em parte são interesses pessoais travestidos de interesses das “mulheres” (espaços institucionais, cargos, por exemplo).

Quem tem essas preocupações? A mulher trabalhadora, que quer emprego, comida, bens básicos, sair do trabalho alienado? Ou as mulheres das universidades, com sua vida estabelecida e seus salários (próprios ou da família) altos? A quem serviu a presidência da república ser de uma mulher? Não serviu para milhões de trabalhadoras desempregadas, subempregadas, superexploradas no emprego. Essas mulheres trabalhadoras terão os cargos nos partidos, nos governos, nas universidades? Absolutamente não. Então, 8 de março não é o dia das “mulheres em geral” e sim das “mulheres trabalhadoras”. Está na hora das mulheres trabalhadoras se levantarem e esclarecerem que a luta deve ser por igualdade, mas não a igualdade oportunista que sobrevive graças a desigualdade. A luta pela igualdade não é apenas a luta pela igualdade entre homens e mulheres mantendo a desigualdade entre as mulheres. As mulheres burguesas querem ter igualdade com os homens burgueses, mas não querem ter igualdade com as mulheres trabalhadoras, o que é bem conveniente. As mulheres das universidades querem igualdade com os homens das universidades, mas não com as mulheres trabalhadoras. O discurso remete aos problemas domésticos, da relação com os homens, onde se pode tentar disfarçar uma unidade inexistente, e deixar de lado a relação das mulheres com as mulheres e a desigualdade social, de classe, na base dessa e de todas as outras desigualdades.

Por isso afirmo: o dia 08 de março é o dia das mulheres trabalhadoras. Prefiro lutar ao lado de homens que buscam uma verdadeira transformação do que concordar e apoiar mulheres que querem privilégios para elas e migalhas consoladoras para as mulheres trabalhadoras.

Karla Tolentino