7. Paz e Guerra entre as Nações - Raymond Aron

Por Jacot Werner Stein | 20/07/2017 | Política

          Quando tomamos em mãos a volumosa obra Paz e Guerra entre as Nações, por Raymond Aron, lemos já na orelha desta obra o seu contexto, indicado de modo claro. Pois, ideologia é inversão de ideias.

Em Paz e Guerra entre as Nações (1.962), Raymond Aron (1.905-1.983) reflete sobre a conjuntura internacional partindo da premissa básica de que os Estados Unidos e a União Soviética, desfeita somente a partir 1.989, são solidários contra a guerra total, apesar da incompatibilidade de suas ideologias. Tendo em comum o interesse supremo de evitar a auto-destruição recíproca, soviéticos e norte-americanos desenvolvveram uma doutrina político-estratégica que leva a rivalidade entre ambos a palcos distantes, quer no Oriente Médio, na África, ou mesmo na Europa.

          O contexto ainda é apresentado em seu aspecto político, então atual, o que tem sido, neste momento, realinhado com a proximidade entre os governos de Trump (EUA) x Putin (Rússia). O que também exemplifica, embora simplifique mais que o necessário.

O sociológo francês analisa as alianças que foram surgindo a partir desta doutrina, os blocos oficializados pelo Tratado do Atlântico Norte de um lado, e pelo Pacto de Varsóvia do outro, além dos subsistemas que se criaram em várias regiões. Aron afirma que o sinal típico para identificar uma região atingida pela guerra fria é observar se está ocorrendo uma inversão de relacionamento entre fortes e fracos. É o caso do governante que pede ajuda aos Estados Unidos sob o argumento: "Ajude-me ou o comunismo me dominará". E mantendo uma neutralidade assaz conveniente, o mesmo governante poderá usar o argumento inverso se estiver sob a zona de influência soviética. A partir desta inversão, se intensificam os acordos de cooperação técnica, militar, cultural ou científica e mesmo a ajuda financeira direta. Neste quadro geral, Aron exorta os liberais a agirem com o firme propósito de fazer com que a ausência de guerra se prolongue até o momento em que a paz seja possível.

          Lemos também um breve relato biográfico e profissional deste grande pensador francês. A atividade intelectual deste pensador fora primordial para caracterizar sua atividade política. Suas intervenções foram acadêmicas e sistemáticas. Isto é, seu pensamento tornado obra, esboça sua atividade no mundo, sua ação, sua ação política.

Raymond Aron (1.905-1.983)  foi professor da Universidade de Paris e do Collège de France além de dedicar-se ao jornalismo onde colaborou, desde a década de 1940, nos jornais "La France Libre" e "Le Figaro" e, também, no hebdomadário "L'Express". Aron, um dos filósofos políticos mais respeitados no século XX, é autor de numerosa obra intelectual da qual, no Brasil, já foram publicados: 1. O Ópio dos Intelectuais; 2. Dezoito Lições sobre a Sociedade Industrial; 3. As Etapas do Pensamento Sociológico; 4. Raymond Aron na UnB; 5. Pensar a Guerra, Clausewitz; e, 6. Estudos Políticos.

          O sumário da obra é composto, inicialmente por uma apresentação, "Aron, um weberiano cartesiano" por Vamireh Chacon; além de dois prefácios, a quarta edição e a edição brasileira. A obra inicia-se na página 47, com uma introdução, "Os níveis conceituais da compreensão". Em seguida, a obra é disposta em quatro partes: 1. Teoria: conceitos e sistemas; 2. Sociologia: determinantes e regularidades; 3. História: o sistema universal da Idade Termonuclear; e, 4. Praxiologia: as antinomias da ação diplomático-estratégica. Todas essas partes são precedidas por um introdução e sucedidas por seis capítulos. A obra encerra-se com um apêndice, "Estratégia racional e política razoável".

          A introdução à obra leva o mote de Montesquieu, Do Espírito das Leis, I, 3, "O direito das gentes se baseia naturalmente neste princípio: as várias nações devem fazer-se mutuamente o maior bem possível, em tempo de paz, e o menor mal possível, durante a guerra, sem prejudicar seus genuínos interesses". O genuíno interesse tem sido interpretado como paz, mas também como livre-mercado. No primeiro sentido temos ainda uma interpretação quase contractualista da obra montesquiana, mas no segundo sentido, temos uma interpretação liberal ou neoliberal. Mas em ambas, fica claro que a paz é o elemento primordial, pois, atualmente vemos que todas as ações norte americanas no mundo, onde há querra, é para instaurar uma situação democrática, não direito ou política, mas de governo e de mercado.