50 tons de sacanagens
Por ivan Ferreira Sampaio | 02/03/2015 | CrônicasCrônica
50 tons de sacanagens...
Ivan Sampaio
A estreia do tão esperado filme, causou furor e grande expectativa, por outro lado, serviu para as famílias assistindo ao Fantástico, discutir democraticamente sua abordagem...
- Não quero ver o filme. Se for para ver coisa do tipo, prefiro ver antigos filmes de pornografia dos anos 70 do Brasil. Disse Genival a sua esposa. E esta compreendeu a proibição família em que a familia foi inserida.
-É filme de sacanagem! – repetiu. Esse camarada é um sádico, amarra a pobrezinha, lhe venda os olhos pra abusar... É pedofilia!
-Não é nada disso, respondeu a esposa. Isso que você diz não ocorre. É um romance de um homem experiente com uma jovem mulher que se inicia sexualmente.
-Isso é pior que os filmes do David Cardoso. Pelo menos ele era descarado e não se envolvia com jovens e virgens mulheres. Tá proibido. É cafona ver essa desgraça.
- Cafona por quê? Se fosse proibido não aparecia no fantástico, disse-lhe ela.
- Eles estão divulgando porque quer chamar atenção, criar interesse. Eles estão ganhando o deles nesse filme. Não percebeu?
Ofélia que já havia se programado com a filha mais velha e sua madrinha ficaram estarrecidas com a proibição. No momento nada falaram, deixaram o assunto para mais tarde, quando na ausência do marido pudessem conversar novamente sobre o tema. No outro dia, na segunda, ficou mais fácil resolver o embaraço. Programaram-se para ir ao cinema naquele tarde, antes da igreja. Mas deram azar. Naquela mesma noite, quando chegaram do culto, Genival estava esperando-as extremamente aborrecido. Alguém as tinha visto na fila do cinema.
- Eu não disse que estava proibido ver esse filme?
-Ge, aproveitamos uma folguinha no passeio do Shopping, não havia quase fila. Vimos o filme e não tem nada demais. Bobagem sua... Irmã Dora também foi... Nada demais...
- E você! Passa por quarto. Apontando pra filha.
Não se sabe por que tantas mulheres leram este livro e agora correm para os cinemas. É um fenômeno. Mas tem explicação. Nos anos 80 Mickey Rourque estrelou outro do mesmo gênero em “Nove semanas e meia de amor”, o próprio nome sugere as cenas libidinosas que tanto encantavam as mulheres que viam a personagem submetida a cretinices de seu amante. As bilheterias explodiram com lotação esgotada por casais apaixonados e com nossas atuais tias e mães. Atualmente,tal abordagem deu permissão para que a autora continuasse enchendo linguiça através de uma serie de tonalidades diferentes que parece não ter fim, e continua vendendo como peixe em feira. Talvez Genival não entenda direito, mas as mulheres procuram nesses filmes algo além de um sonho encantado, de um príncipe lindo e maravilhoso, isso elas já provaram até cansar e não mais gostaram, então, buscam informações para bolinar fantasias num mundo só delas. E às vezes, algumas delas, esmorecidas por não realiza-las em casa, partem em buscam do parceiro perfeito para libertar suas emoções. Reprimidas no lar, nas paróquias por seus líderes espirituais e pelo próprio ambiente social que não permite que suas necessidades sejam atendidas, então, escondem-se num outro personagem que criam e vivem em dupla personalidade sempre dispostas para novas alternativas.
Genival como não foi o príncipe ou mesmo o amante perfeito procura através de sua autoridade, externar sua posição de galo do terreiro. Mas com sua autoridade sempre posta a prova, talvez se renda aos novos tempos em que as pessoas de sua casa mereçam participar com opiniões e ter liberdade para suas ações. Se tudo permitir será considerado um banana por todos seus amigos que também sempre gozam dos outros por serem "canoas", manobrados por mulheres. Enquanto não se decide por uma coisa ou por outra, tenta buscar o meio termo, afinal, já tem filha crescida, com idade de casar e lhe dar netos e pelo que se viu o autoritarismo não tem cabimento, pois sua aprovação ou proibição é colocada à prova e, à sua revelia, as ações sempre serão realizadas. Genival reconhece que sua pujança de outrora é inexistente para impor controle e supervisão sobre seu rebanho. Como quase nada mais pode fazer, grita e canta alto para que a vizinhança o reconheça em sua liderança. Enquanto a vida transcorre nesse cabo de medo, mais tons de cinza são acrescentados a tantos sonhos e contidas fantasias.