'Terapia Comunitária no Processo de Ressocialização dos Beneficiários de Medidas e Penas da Vara de Execuções de Medidas e Penas Alternativas de Manaus'

Por Francisca Elizabeth Nascimento de Souza | 05/12/2008 | Sociedade

O Conselho Estadual de Entorpecentes – CONEN e o Pólo Formador em Terapia Comunitária do Amazonas visam o aprimoramento dos indicadores sociais previstos neste Projeto, contribuindo com a redução do absenteísmo, de evasões, conflitos familiares e a reincidência de atos infracionais, levando soluções transformadoras para os beneficiários de Medidas e Penas Alternativas, podendo assim cumprir sua missão institucional. Pretende-se que este projeto não se restrinja somente à TC, mas, que outras medidas propostas nos objetivos específicos possam ser adotadas para que outros investimentos sejam feitos, abrindo novos espaços para reflexões, imprescindíveis para quem trabalha abordagens tão complexas, que é a reinserção social dos que, de alguma forma cometem uma infração dentro de uma sociedade tão cheia de preconceitos.

A era da globalização e da tecnologia avançada é uma grande conquista do homem na busca de melhores condições na qualidade de vida para a sociedade, os meios de comunicação estão mais amplos e mais velozes, os acontecimentos são difundidos em tempo real para o mundo todo. No entanto, em um mundo de transformações tão rápidas, imprevistas e radicais, deparamos-nos com sua complexidade, sua crise e seu susto diante dos novos problemas emergentes: as relações familiares, relações comunitárias e a ausência de um projeto de vida para viver o cotidiano dos nossos jovens e adultos.

A era da Internet está desvinculando as pessoas de seu principal meio de comunicação, que é a forma verbal. Não existe mais o compartilhamento de idéias, alegrias ou tristezas entre familiares, amigos ou colegas de escola e de trabalho; a comunicação está restrita aos e-mails, orkuts, menssenger, facebox, fotolog e outros tantos meios virtuais.

A família está perdendo seus valores básicos, dando espaço para as desestruturações familiares, sociais e econômicas, onde as pessoas são afetadas emocionalmente, abrindo as portas para a depressão, as violências, ao estresse, à fragilidade, ao acometimento de diversos tipos de doenças, e também, ao mundo do álcool, das drogas e da criminalidade.

É dentro deste contexto que a Terapia comunitária constitui-se num importante instrumento para o resgate cultural e da auto-estima das populações menos favorecidas, nas mais variadas comunidades, exercitando a inclusão e a valorização das diferenças e dos referenciais positivos de cada indivíduo, torna-se um importante instrumento de resgate da valorização da vida.

Dentro deste contexto estão os beneficiários de Medidas e Penas Alternativas da VEMEPA/Am, quanto a reinserção social, abrangendo família, trabalho, educação, cultura e lazer, onde são vários os fatores de impedimento, entre os quais destacamos

a " aceitação familiar", o preconceito, a baixa auto-estima, o desemprego e a falta de especialização laboral.Essas circunstâncias causam conflitos familiares que levam a uma taxa muito grande de absenteísmo, evasões e reincidência do ato infracional, prejudicando o cumprimento de sua pena. Faz-se então necessário o desenvolvimento de um trabalho que minimize este impacto através do desabafo de seus sofrimentos e angústias.

Diante deste quadro, atendendo solicitação da Drª. Telma de Verçosa Roessing, Juíza de Direito da VEMEPA/Am, para que o Conselho Estadual de Entorpecentes do Amazonas – CONEN e o Departamento Estadual sobre Drogas, órgãos vinculados à Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos – SEJUS, parceiros do Pólo Formador em Terapia Comunitária do Amazonas, que é o órgão credenciado pelo Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária – MISMEC/Ce, em parceria implantem a Terapia Comunitária junto aos beneficiários de Medidas e Penas Alternativas em Manaus. Visa proporcionar um espaço onde possam compreender e superar o sentimento de exclusão e marginalização, fortalecendo a resiliência individual e comunitária, que é a capacidade de reconstrução do indivíduo pelo sofrimento a que foi submetido através da troca de experiências de grupo, por meio da vivência grupal aa fim de criar uma resposta adaptativa ao meio social onde estão inseridos, conforme texto do autor, Prof. Adalberto Barreto: "Essa teoria nos aponta para o fato de que a comunicação entre as pessoas é o elemento que une os indivíduos, a família e a sociedade", o qual criou e sistematizou a Terapia Comunitária, em 1987, na favela do Pirambu, Fortaleza-CE., em resposta a duas necessidades:

- Psíquica: atender milhares de pessoas com problemas emocionais e psíquicos;

- Adequar as propostas acadêmicas de promoção da saúde às carências reais apresentadas por aquela comunidade.

Para um melhor entendimento, a Terapia Comunitária NASCEU NO Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina no Ceará, há 18 anos, para atender a demanda de comunidades pobres que não têm apoio para tratamento psiquiátrico nem psicológico. Foi desenvolvida pelo Prof. Adalberto Barreto da UFC, é um instrumento terapêutico em grupo, objetivando a promoção da saúde e da atenção primária em saúde mental, um espaço de palavra, escuta e construção de vínculos com o intuito de oferecer apoio a indivíduos e familiares que vivem em situação de estresse e sofrimento psíquico.

Funciona como fomentadora de cidadania, de redes sociais solidárias e de identidade cultural das comunidades carentes, exercitando a inclusão e a valorização das diferenças e dos referenciais positivos de cada indivíduo. A Terapia Comunitária destina-se às pessoas sofridas com problemas familiares, psico-emocionais, psicossomáticos, depressão, hipertensão, diabetes, gestação, dependência química, HIV positivos, envolvendo adultos, idosos, crianças e adolescentes, não importando raça, cor ou etnia, apenas valorizando o ser humano como o ator principal dentro da sociedade.

Por ser um modelo aberto que envolve música, poesia, dramatização, juntamente com a expressão verbal, essa terapia favorece o resgate cultural, promove a auto-estima, o exercício da inclusão e o apoio fraterno na própria comunidade.