''O GRANADEIRO EMPAREDADO''
Por Félix Maier | 05/08/2009 | PolíticaGeneral Marco Antonio Felicio da Silva (*)
Em 15 de janeiro de
2001, o Embaixador M. Pio Correa, exemplo de uma classe de diplomatas
que rareia na atualidade, publicou artigo intitulado “O Granadeiro
Emparedado”. É a história de um soldado de Napoleão, encontrado no meio
de grossa parede de um solar português, século e meio após a ocorrência
do fato. Narra que o soldado, durante a invasão de Portugal pelos
franceses, em 1807, introduzira-se no solar para roubar, prática comum
nos exércitos napoleônicos. Descoberto, foi morto pelos moradores, em
face do ódio que devotavam aos invasores estrangeiros. ‘Para evitar
represálias, esconderam o corpo em grossa parede. E, com profunda
sabedoria, arremata: “É esse precisamente o destino que certos círculos
políticos, e não dos menos influentes, parecem esforçar-se por dar às
Forças Armadas (FA) do Brasil: emparedá-las, encapsulá-las, reduzi-las
à imobilidade e ao silêncio, separá-las do corpo da cidadania nacional,
privá-las do respeito e da consideração de que, através da História,
sempre gozaram da parte dos governos e do povo.
“O propósito
óbvio é o de negar às FA qualquer presença, muito menos influência, na
vida institucional da Nação.” Tal propósito, planejado, obedecendo
interesses internacionalistas, foi incrementado durante os últimos 20
anos, principalmente no governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso(FHC)
e, para os desavisados, tem tido continuidade no governo Lula, embora,
de quando em vez, promessas jamais cumpridas, antagonizadas pela
realidade vivida pelas FA: parcos recursos e deficiências de toda
ordem. Como exemplo, a falta de investimentos em novos sistemas de
armas e a drástica redução de efetivos militares, neste ano de 2009.
Desde 1967, parcela da obra literária de FHC, extensa e confusa, sugere
o desenvolvimento do Brasil e de outros países latino-americanos sob a
dependência da macroeconomia norte-americana (Teoria da Dependência).
Embora
considerado por seus pares socialista-marxista, FHC, no seu auto-exílio
no Chile, foi admitido na CEPAL (Comissão Econômica para a América
Latina), órgão da ONU, recebendo alto salário em cargo de nível
diplomático. Tinha direito a privilégios: isenção de impostos, vida
abastada, bela casa em bairro nobre e carro Mercedes Benz com
motorista. No retorno do seu auto-exílio, em 1978, desembarcou no
Brasil com verba de 180 mil dólares, destinada ao CEBRAP, doada pela
Fundação FORD.
O Diálogo Interamericano (DI), seminário a que
FHC compareceu, e cuja ata de fundação subscreveu no início da década
de 80 (1982), juntamente com LUIZ IGNÁCIO LULA da SILVA (pasmem!), é
ONG ligada a órgão do Congresso dos EUA, o Centro Acadêmico Woodrow
Wilson (CAWW), sendo suas verdadeiras finalidades estatutárias
desconhecidas. FHC ocupa, hoje, alta posição na direção do DI.
O
governo FHC conduziu o Brasil a uma “dependência subalterna”, de forma
deliberada, isto é, fez a inserção subordinada da economia brasileira
ao capital internacional, obstando por muitos anos vindouros qualquer
possibilidade de um desenvolvimento independente do País. Os principais
colaboradores nomeados para o seu primeiro período de governo
integravam o grupo partícipe de reunião em Washington, em novembro de
1989, organizada pelo "Institute for International Economics",
patrocinada pelo FMI, Banco Mundial, BID e pelo Governo
norte-americano. Nesta, realizou-se estudo de diagnóstico enfocando o
Brasil, elaborado por Eliana Cardoso e Daniel Dantas. No mesmo
instituto foram estabelecidas as bases teóricas do Consenso de
Washington.
Dois anos depois de sua posse na Presidência, FHC
teve a sua campanha à reeleição lançada numa reunião do FMI, em
Washington, por dois de seus colaboradores: Pedro Malan, ministro da
Fazenda e Antônio Kandir, ministro do Planejamento. Desde a sua
criação, o DI atuou, difundindo teses como as da globalização, da
soberania limitada (ou relativa), do direito de ingerência e da
interdependência entre as Nações.
O DI também se dedicou a
conscientização de líderes e a outras ações político/ diplomáticas,
visando a redução drástica dos efetivos e orçamentos das FA
latino-americanas, objetivando enfraquecê-las, porém justificando com a
obtenção de maiores recursos para assistência social e para o
desenvolvimento. Exerceu pressões para a modificação da destinação
constitucional dessas FA, afastando-as das funções de Defesa e
tornando-as atuantes contra o terrorismo, narcotráfico, defesa
ambiental e nas ações de defesa civil.
Pressionou a criação de
ministérios da Defesa e de quadros civis para colocar tais órgãos sob o
poder civil, enquadrando os comandos militares. Buscou como meta o
rebaixamento do “status” social e político dos militares, afastando os
ministros militares, considerados nacionalistas, da cúpula das decisões
nacionais, retirando a influência dos mesmos sobre os presidentes dos
países respectivos.
Defendeu o Direito de Ingerência para o
restabelecimento da democracia, nas graves violações dos direitos
humanos, crimes ambientais, desastres ecológicos e para o combate do
terrorismo e do narcotráfico. Essas nefastas ações, apoiadas, e algumas
delas aqui concretizadas nas últimas duas décadas, por brasileiros com
poder de mando, como FHC e Lula, estão “justificadas” no livro,
referendado pelo governo norte-americano e publicado, em 1990, pela
editora Lexington Books, intitulado "The Military and Democracy: The
Future of Civil-Military Relations in Latin), editado por Louis W.
Goodman, Johanna S..R. Mendelson, e Juan Rial, todos eles membros do
DI.
O DI e FHC não podem esconder que seguiram as ordens do
governo dos EUA, pois, em 1995, durante sua visita ao Brasil, o
Secretário de Defesa William Perry declarou ao "O Globo" (06-05-95)
“que o seu governo quer que as Forças Armadas de cada país passem a ser
lideradas por um Ministro de Defesa que seja civil. A liderança civil
do sistema de defesa fortalece tanto a democracia quanto as próprias
Forças Armadas. Nós vamos incentivar isso, assim como a idéia de que
haja uma transparência cada vez maior no intercâmbio de informações
militares entre as três Américas".
Em junho de 1999, FHC
mostrou claramente a sua subordinação, criando, por inconstitucional
Medida Provisória, o Ministério da Defesa, sob direção civil. Os
ministros militares, de então, aceitaram a extinção, embora ilegal, de
seus ministérios. FHC, nos seus governos, ainda, diminuiu fortemente os
orçamentos militares, restringiu aumentos de vencimentos, sucateou as
FA, cortou verbas para alimentação, diminuiu efetivos, escasseou
recursos para pesquisas militares, paralisou o Programa Calha Norte,
assinou o tratado de não-proliferação Nuclear, paralisou o
desenvolvimento do submarino nuclear, assinou o vergonhoso acordo 505 e
o acordo para o não desenvolvimento de mísseis, afastou as FA do centro
das decisões nacionais e privatizou áreas estratégicas para a Defesa. O
conjunto da sua obra, sem dúvida, é crime de lesa-Pátria por servir a
interesses estrangeiros, prejudicando a Nação.
Ouvimos
notícias de que China domina a tecnologia da bomba de nêutrons, que
lançou seu satélite tripulado, que seus submarinos atômicos com
lançadores de artefatos nucleares singram os mares do planeta ou que a
Índia tem FA nuclearizadas e vai lançar ao mar, dentro de 10 dias, seu
primeiro submarino atômico, incluso com lançadores de artefatos
nucleares. Esses fatos não representam apenas poder militar e
capacidade de dissuasão. Significam muito mais do que isso: o domínio
de tecnologias de ponta que geram múltiplos benefícios e riquezas para
os povos desses países.
Então, nos perguntamos: por qual razão
estamos tão atrasados em relação a países com graves problemas
internos, quando não os temos com a mesma complexidade e intensidade? A
resposta, configurando triste diferença para o que aqui ocorre,
encontramos nas palavras de um Ministro das Relações Exteriores da
Índia: “Temos uma grave responsabilidade para com o nosso País e para
com o nosso Povo. Num mundo pleno de conflitos, desejamos a paz e,
sobretudo, a independência para atingirmos os objetivos, em função da
Nação, a que o Estado se propõe. Ademais, a capacitação nuclear, civil
e militar, confere ao nosso País um outro status perante o mundo e as
grandes potências."
Que grande lição para os nossos desavergonhados governantes!!!
(*) O general Marco Antonio Felicio da Silva é articulista do jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG.
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