Toda a convivência de ciclistas, veículos automotores e pedestres no trânsito de cidades grandes do Brasil, infelizmente, hoje em dia não tem sido das mais pacíficas. É bem comum o quem está no carro gritar para o ciclista: "vai pra calçada!". Muitos não sabem, por exemplo, que no Código de Trânsito Brasileiro diz que o tráfego de ciclistas é permitido nas pistas, mais pedalar na contramão não recomendado.

Recentemente uma reportagem questionou a Associação dos Ciclistas de Porto Alegre (ACPA), a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), e a Associação Pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mobicidade) para ver o que realmente é mito e o que é verdade quando se trata de andar de bicicleta nas ruas, confira:

Não é Assim Tão Rápido

Do contrário do que muitos pensam, ciclistas que entram no fluxo de veículos chegam bem mais rápido ao destino. Quando você pedalar na contramão, terá que que ficar parando ou mesmo diminuir seu ritmo a todo tempo (por vários motivos), e quando está junto ao fluxo de veículos você chega velocidades maiores, especialmente levando em consideração a sua velocidade média, que é o que vai determinar toda a duração do seu trajeto.

Não é Muito Seguro

A forma mais segura de se ir pedalando no trânsito é fazendo parte do mesmo. Com base em estudos científicos baseados em colisões, ciclistas que vão na mão certa têm cerca de 5 vezes a menos possibilidade de colisão, se em comparação aos que fazem as suas próprias regras no transito ao invés de se integrar às vias que já servem para os demais.

Segundo Bruce Mackey, que é o diretor de segurança de Bicicletas na província de Nevada, 25% dos acidentes que ocorrem com ciclistas nos Estados Unidos são ocasionados por ciclistas que optam por pedalar na contramão.

Não Existe um Tempo Para Reação

Cerca de 50% dos atropelamentos geralmente poderiam ser evitados com todo um comportamento mais defensivo do ciclista (fontes chegam até mesmo a citar 90%) e em cerca de 1% desses fatos o ciclista acaba sofrendo uma colisão traseira.

Bom, por pedalar na contramão, você meio que tem a sensação mais psicológica de que você está mantendo toda a situação sob controle, quando na realidade não está. Se você notar um carro todo desgovernado vindo na tua direção, não vai dar tempo de você desviar, especialmente porque as velocidades dos dois estarão bem potencializadas: a velocidade na qual o veículo se vem até você é toda a sua junto com a dele.

Um veículo a 60 km/h e você indo a 20 km/h ele vai estar vindo até a você em uma velocidade referente a 80 km/h, e se vocês estivessem indo na mesma direção, ele viria até a você com menos da metade de toda essa velocidade, 40 km/h. Com uma boa utilização de um espelho retrovisor e também de seus ouvidos, você vai ter o dobro a mais de tempo para reação.

O motorista terá também esse período e é sem dúvidas mais importante ele conseguir desviar de você do que você desviar dele, porque quem está conduzindo o veículo é quem verdadeiramente pode conseguir evitar o atropelamento. Você não vai conseguir jogar a sua bicicleta a 5 metros para seu lado em menos de um segundo, mas o motorista vai poder fazer isso com seu automóvel se tiver o tempo suficiente.

É Difícil Evitar o Atropelamento

Pedalar na contramão é você chegar nos veículos bem mais depressa. Indo em direções diferentes, tanto você ciclista como o motorista devem parar completamente para precaver toda uma possível colisão frontal. Já indo em sentido igual, o motorista precisa somente de diminuir sua velocidade para menos que a sua para evitar um atropelamento, tendo com isso bem mais tempo para uma reação e um tempo bem maior.

Em Atropelamentos os Danos a Você Serão Maiores

Pela mesma razão do item de cima (toda a soma de velocidades), se você se colidir de frente com um veículo vai sofrer bem mais danos. E ainda tem um grande agravante: a inércia. Se você está seguindo na mesma direção do carro, ele vai atingir primeiro sua roda de trás e você pode sair voando por cima do seu guidão, por causa da inércia (com a sua roda de trás presa pelo carro, você vai continuar o movimento em que estava);

Ou mesmo por causa da transmissão da energia cinética, o veículo bate em sua bicicleta e passa parte de todo seu movimento para ela e com isso também para seu corpo, jogando os dois para frente, ou seja pedalar na contramão não tão bom, e com tua bicicleta que começa a parar muito rapidamente depois, devido a roda de trás que não gira mais o seu corpo sairá para a frente com todo o movimento que é transferido.

É bem melhor você voar por cima da sua bicicleta na direção do asfalto livre do que acabar se chocando contra um para-brisa ou mesmo um capô, que além de sempre estarem a um metro de você na hora da colisão ainda virão em sua direção com uma força de impacto forte e velocidade.

Você Surpreende os Veículos

Como você vai chegar bem mais rápido nos veículos, você vai os pegar muito de surpresa. Especialmente nas curvas à direita, o motorista vai estar fazendo a sua curva quando de surpresa você aparece vindo bem na direção dele, não vai haver tempo para reação.

Ele não vai conseguir frear tão rápido, não poderá virar para a esquerda porque terá outros veículos, na direita pode ter um outro veículo parado ou mesmo na calçada. Você claramente também não vai conseguir se jogar na direção da calçada se tiver carros parados lá e, mesmo que não tenha, não vai dar tempo nem para se pensar nisso.

Mais se vocês dois estivessem indo na mesma direção, o motorista iria ter bem mais tempo para uma reação, até mesmo o dobro, e poderia somente diminuir sua velocidade para poder evitar o acidente. Um veículo não para imediatamente, e isso mesmo que o motorista esteja querendo, faça um esforço e tenha um bom freio ABS com os melhores pneus.

Os Motoristas Não Veem Você nos Cruzamentos

Em média 95% de todos acidentes envolvendo bicicletas ocorrem nos cruzamentos. E falando mais especificamente de se pedalar na contramão, é bem fácil de se entender o motivo: quando um veículo vira em um cruzamento, o motorista olha somente para onde os carros estão vindo.

Pense em um veículo entrando em uma avenida: o motorista olha para a esquerda; se não tiver carro, ele vai entrar, e nisso você vem chegando com a sua bicicleta bem na contramão e ele te atinge de frente. Não vai ter buzininha, agilidade, grito, ou terço pendurado no seu guidão para quem quis pedalar na contramão que possa resolver isso.

Motoristas Não Veem Você Quando Saem de Garagens

Quando saem de uma vaga onde estão estacionados, o motorista vai olhar para trás, seja pela janela ou pelos espelhos, para ver saber se tem veículos vindo. O mesmo acontece quando ele está saindo de um estacionamento de prédio ou mesmo de uma garagem.

Ele não vai olhar para a frente, isso por que não vêm veículos daquela direção. Você, vindo nessa direção do veículo, nem sempre vai ver que o motorista está saindo da vaga e, quando conseguir ver, talvez já não vai mais adiantar frear. Saindo, ele pode te pegar de frente, isso mesmo que você até consiga parar por completo com a bicicleta.

Motoristas Não Veem Você ao Abrir as Portas dos Carros

Se vários deles já não olham no espelho para abrirem a porta do veículo e ainda colocam a culpa no ciclista quando há um acidente por isso, imagine então se vão olhar para a frente pra ver se tem uma bicicleta vindo. A chance se de tomar uma portada é bem maior.

Os Pedestres Não Veem Você

Quando o pedestre está atravessando a rua, ele olha somente para o lado onde os carros vêm. Note o seu próprio comportamento quando for atravessar uma rua a pé e verá como isso é bem verdade. Por isso, pode ocorrer de alguém atravessar a rua de repente na frente da tua bicicleta, atravessando por entre os carros, e podendo estar de costas para você, pode não dar tempo para se fazer nada.

Se Quer Ser Notado Como um Veículo Seja Como Um

Bom, se você sempre se comporta como um veículo, sinaliza todas as suas intenções, respeita todas as mãos de direção, todos os sinais de tráfego, todas as faixas de pedestre, nunca escolhe pedalar na contramão e etc., os motoristas vão te respeitar bem mais. O motorista vai pensar “Se aquela pessoa se preocupa com todas essas coisas, então ela não é uma pessoa qualquer que só está aqui para atrapalhar”.

Passar em diversos sinais sem parar e outras várias pequenas infrações também pode os irritar muito, na maioria das vezes pela sensação de uma certa injustiça, ele pensa “poxa, mais aquilo não pode fazer mas só porque ele tá com a bicicleta ele vai poder fazer tudo isso e eu não?”. Seja um bom exemplo a ser compartilhado e não o alvo da frustração e raiva alheias.

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