Tríade Parnasiana: A análise poética em Alberto de Oliveira- VASO CHINÊS e O MURO -, Raimundo Correia- AS POMBAS e MAL SECRETO -, e Olavo Bilac- VILA RICA e PROFISSÃO DE FÉ.
Publicado em 21 de maio de 2011 por Rebeca Luíza Abreu Pereira
Este trabalho consiste em uma análise de dois de cada autor da Tríade Parnasiana. Os poemas analisados são Vaso chinês e O muro, de Alberto de Oliveira; Plenilúnio e Mal secreto, de Raimundo Correia, e Vila Rica e Profissão de fé (considerei, neste caso, apenas um trecho do poema inteiro, visto à sua extensão), de Olavo Bilac. A análise será feita a partir da composição poética de cada texto selecionado, considerando-se seus aspectos formais e seu conteúdo.
INTRODUÇÃO
O parnasianismo vinha sendo difundido no Brasil desde 1870, e em 1878 surgiu a "Batalha do Parnaso", um polêmico movimento literário que consistia em uma reação contra o Romantismo, tendo seus adeptos de um lado, e de outro, os adeptos do Parnasianismo e também do Realismo.
Os poetas parnasianos eram contra certos princípios românticos; em lugar da simplicidade da linguagem, do emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiro, do sentimentalismo e da valorização da paisagem nacional, defendiam uma poesia de elevado nível vocabular, uma poesia objetiva e racionalista, priorizando o aspecto formal, através do verso bem ritmado, dos efeitos plásticos e sonoros, e temas universais. Diferentemente também do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crítica da realidade, o Parnasianismo trouxe a busca do equilíbrio e da perfeição formal, o princípio do belo na arte, a "arte pela arte", onde o objetivo principal da arte não é tratar dos problemas sociais e humanos, e sim alcançar a perfeição em sua construção. O Parnasianismo representava, então, um retorno ao clássico.
Ainda no Brasil, tínhamos a "Tríade Parnasiana", composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, poetas que mais fielmente seguiram os princípios parnasianos, enchendo suas poesias de preocupações com aspectos formais, vocabulário raro e preciso, impassibilidade, com descrições objetivas de objetos, cenas e coisas, sem preocupar-se em descrever o homem, as pessoas, sem transcendências e sentimentalismo, de forma neutra. Suas descrições eram, assim, consideradas por muitos, artificiais, imprimindo suas obras de um tom desagradável.
A ANÁLISE DOS POEMAS
Vaso Chinês
Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura -
Quem o sabe? - de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Alberto de Oliveira
Nesse poema, Alberto de Oliveira opta pela forma fixa de Soneto - bem como os outros dois poetas da tríade parnasiana na maioria de suas obras -, constituído de duas quadras (estrofe com quatro versos) e de dois tercetos (estrofe com três versos). O soneto não é somente um tipo de poema a mais, senão o único tipo que tem número de versos absolutos (14 versos) e quase absoluta unanimidade quanto à divisão estrófica (dois quartetos e dois tercetos,
para o italiano, criação de Petrarca, daí o nome soneto petrarquiano; e três quartetos e um dístico, no caso do soneto inglês), demonstrando o rigor formal de Alberto de Oliveira, mestre do parnasianismo, e uma de suas maiores preocupações enquanto parnasiano: a precisão das palavras, resultado de um intenso trabalho de adequação à forma e ao conteúdo de estruturas como o soneto. Em relação à métrica, este soneto é decassílabo, ou seja, é constituído de dez sílabas poéticas, representando uma das principais características do Parnasianismo; a preferência por metros como o alexandrino de tipo francês e o decassílabo (caso de Vaso chinês).
No poema em questão, há a predominância de elementos descritivos em vez de narrativos; a descrição rigorosamente objetiva do vaso. O assunto são as pinturas que decoram um vaso chinês e a interpretação que o poeta lhes dá, sendo um poema exemplar da poesia parnasiana, com todas as características do Parnasianismo: o exotismo ("estranho mimo", 1º verso; "coração doentio", 6º verso; "calor sombrio", 8º verso; "singular figura", 11º verso; "olhos cortados", 14º verso); a plasticidade, com seus efeitos poesia-pintura, presente em todo poema; as rimas ricas ("vi-o", 1º verso / luzidio", 3º verso ; "vendo-a", 12º verso / "amêndoa", 14º verso), impassibilidade (não há sentimentalismo excessivo); precisão vocabular e sua correção gramatical; ênfase no sensorial e suas sinestesias ("tinta ardente", 8º verso; "calor sombrio", 8º verso), e mesmo a necessidade e, ao mesmo tempo, certa impossibilidade de expressar algo ("sentia um não sei quê com aquele chim", 13º verso). As inversões sintáticas (hipérbato), como em "de um perfumado / contador sobre o mármor luzidio", devem-se ao cultivo do português do século XVIII. Note-se também que em Vaso chinês não há juízos de valor a respeito do cotidiano ou da realidade; Alberto de Oliveira, bem como os demais parnasianos, aliena-se propositadamente para fazer a poesia da arte pela arte, primor da forma.
O Muro
É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado
E num pouco de musgo em cada fenda.
Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.
Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão se estrela
Toda de um vago cintilar de prata;
E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
Alberto de Oliveira
Neste poema, Alberto de Oliveira também opta pela construção em forma de soneto, mais uma vez mostrando seus ideais parnasianos e sua intensa preocupação com o aspecto formal da poesia e seu caráter objetivo. E também, igualmente como faz em Vaso Chinês, opta pela métrica do decassílabo, tão utilizado pelos outros poetas parnasianos da tríade. Podemos perceber, assim, que o poeta permanece fiel às leis métricas do movimento literário ao qual pertencia, sempre contrário à "frouxidão" e à "incorreção" dos românticos. Fica claro neste poema, bem como no poema anterior, que Alberto de Oliveira preocupava-se bem mais com a mecânica do metro do que com a melodia no poema.
Aqui, o poeta, ao descrever um "Muro", faz uma seleção de elementos predominantemente descritivos, porém, diferentemente de em Vaso chinês, o poeta produz versos mais expressivos, com certa sombriedade, como podemos perceber em "Roto e negro" (2º verso), "(...) em flor ensangüentado" (3º verso), "Horas mortas, a lua o véu desata" (9º verso), "Entre os beijos e lágrimas da lua" (14º verso), produzindo certo exotismo, uma de suas marcas enquanto parnasiano. Em O muro, Alberto de Oliveira constrói uma poesia objetivista em seu conteúdo, fiel ao Parnasianismo, imprimindo a obra de um racionalismo que lhe é característico, porém, o faz a partir da transferência de
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