Este trabalho consiste em uma análise de dois de cada autor da Tríade Parnasiana. Os poemas analisados são Vaso chinês e O muro, de Alberto de Oliveira; Plenilúnio e Mal secreto, de Raimundo Correia, e Vila Rica e Profissão de fé (considerei, neste caso, apenas um trecho do poema inteiro, visto à sua extensão), de Olavo Bilac. A análise será feita a partir da composição poética de cada texto selecionado, considerando-se seus aspectos formais e seu conteúdo.  

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INTRODUÇÃO

O parnasianismo vinha sendo difundido no Brasil desde 1870, e em 1878 surgiu a "Batalha do Parnaso", um polêmico movimento literário que consistia em uma reação contra o Romantismo, tendo seus adeptos de um lado, e de outro, os adeptos do Parnasianismo e também do Realismo.
Os poetas parnasianos eram contra certos princípios românticos; em lugar da simplicidade da linguagem, do emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiro, do sentimentalismo e da valorização da paisagem nacional, defendiam uma poesia de elevado nível vocabular, uma poesia objetiva e racionalista, priorizando o aspecto formal, através do verso bem ritmado, dos efeitos plásticos e sonoros, e temas universais. Diferentemente também do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crítica da realidade, o Parnasianismo trouxe a busca do equilíbrio e da perfeição formal, o princípio do belo na arte, a "arte pela arte", onde o objetivo principal da arte não é tratar dos problemas sociais e humanos, e sim alcançar a perfeição em sua construção. O Parnasianismo representava, então, um retorno ao clássico.

Ainda no Brasil, tínhamos a "Tríade Parnasiana", composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, poetas que mais fielmente seguiram os princípios parnasianos, enchendo suas poesias de preocupações com aspectos formais, vocabulário raro e preciso, impassibilidade, com descrições objetivas de objetos, cenas e coisas, sem preocupar-se em descrever o homem, as pessoas, sem transcendências e sentimentalismo, de forma neutra. Suas descrições eram, assim, consideradas por muitos, artificiais, imprimindo suas obras de um tom desagradável.

A ANÁLISE DOS POEMAS

Vaso Chinês

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura -
Quem o sabe? - de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

Alberto de Oliveira

Nesse poema, Alberto de Oliveira opta pela forma fixa de Soneto - bem como os outros dois poetas da tríade parnasiana na maioria de suas obras -, constituído de duas quadras (estrofe com quatro versos) e de dois tercetos (estrofe com três versos). O soneto não é somente um tipo de poema a mais, senão o único tipo que tem número de versos absolutos (14 versos) e quase absoluta unanimidade quanto à divisão estrófica (dois quartetos e dois tercetos,

para o italiano, criação de Petrarca, daí o nome soneto petrarquiano; e três quartetos e um dístico, no caso do soneto inglês), demonstrando o rigor formal de Alberto de Oliveira, mestre do parnasianismo, e uma de suas maiores preocupações enquanto parnasiano: a precisão das palavras, resultado de um intenso trabalho de adequação à forma e ao conteúdo de estruturas como o soneto. Em relação à métrica, este soneto é decassílabo, ou seja, é constituído de dez sílabas poéticas, representando uma das principais características do Parnasianismo; a preferência por metros como o alexandrino de tipo francês e o decassílabo (caso de Vaso chinês).
No poema em questão, há a predominância de elementos descritivos em vez de narrativos; a descrição rigorosamente objetiva do vaso. O assunto são as pinturas que decoram um vaso chinês e a interpretação que o poeta lhes dá, sendo um poema exemplar da poesia parnasiana, com todas as características do Parnasianismo: o exotismo ("estranho mimo", 1º verso; "coração doentio", 6º verso; "calor sombrio", 8º verso; "singular figura", 11º verso; "olhos cortados", 14º verso); a plasticidade, com seus efeitos poesia-pintura, presente em todo poema; as rimas ricas ("vi-o", 1º verso / luzidio", 3º verso ; "vendo-a", 12º verso / "amêndoa", 14º verso), impassibilidade (não há sentimentalismo excessivo); precisão vocabular e sua correção gramatical; ênfase no sensorial e suas sinestesias ("tinta ardente", 8º verso; "calor sombrio", 8º verso), e mesmo a necessidade e, ao mesmo tempo, certa impossibilidade de expressar algo ("sentia um não sei quê com aquele chim", 13º verso). As inversões sintáticas (hipérbato), como em "de um perfumado / contador sobre o mármor luzidio", devem-se ao cultivo do português do século XVIII. Note-se também que em Vaso chinês não há juízos de valor a respeito do cotidiano ou da realidade; Alberto de Oliveira, bem como os demais parnasianos, aliena-se propositadamente para fazer a poesia da arte pela arte, primor da forma.

O Muro

É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado


E num pouco de musgo em cada fenda.

Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,

Sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão se estrela
Toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.

Alberto de Oliveira

Neste poema, Alberto de Oliveira também opta pela construção em forma de soneto, mais uma vez mostrando seus ideais parnasianos e sua intensa preocupação com o aspecto formal da poesia e seu caráter objetivo. E também, igualmente como faz em Vaso Chinês, opta pela métrica do decassílabo, tão utilizado pelos outros poetas parnasianos da tríade. Podemos perceber, assim, que o poeta permanece fiel às leis métricas do movimento literário ao qual pertencia, sempre contrário à "frouxidão" e à "incorreção" dos românticos. Fica claro neste poema, bem como no poema anterior, que Alberto de Oliveira preocupava-se bem mais com a mecânica do metro do que com a melodia no poema.
Aqui, o poeta, ao descrever um "Muro", faz uma seleção de elementos predominantemente descritivos, porém, diferentemente de em Vaso chinês, o poeta produz versos mais expressivos, com certa sombriedade, como podemos perceber em "Roto e negro" (2º verso), "(...) em flor ensangüentado" (3º verso), "Horas mortas, a lua o véu desata" (9º verso), "Entre os beijos e lágrimas da lua" (14º verso), produzindo certo exotismo, uma de suas marcas enquanto parnasiano. Em O muro, Alberto de Oliveira constrói uma poesia objetivista em seu conteúdo, fiel ao Parnasianismo, imprimindo a obra de um racionalismo que lhe é característico, porém, o faz a partir da transferência de 

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