Robson dos Santos Souza ¹

Do início da década de 80, observar-se uma crescente tendência de questionamento ao ensino tradicional de produção e recepção textuais, é visto também  inúmeras discussões sobre o papel da escola no desenvolvimento de competências e habilidades de linguagem dos alunos. Aqui apresento minha opinião em relação ao trabalho dos gêneros na sala de aula, baseado no que os documentos oficiais falam a seu respeito e de como ele deve ser feito priorizando a realidade do aluno. Textos com a voz do Filosofo Bakhtin contribuíram com a produção deste artigo.

            À luz do conceito bakhtiniano de gêneros discursivos, pesquisadores europeus do chamado “Grupo de Genebra” propuseram a utilização dos gêneros textuais como instrumento, como ponto de partida para o ensino. Dentre eles, Dolz, Scheneuwly e Bronckart (1997) se posicionaram contrários à utilização da tipologia clássica (narração, descrição e dissertação) para o desenvolvimento de habilidades de escrita e leitura, considerando-a inadequada para uma ação pedagógica voltada ao desenvolvimento de competências comunicativas amplas, baseando-se apenas na sua organização textual. Sendo assim, adotam a expressão “gêneros textuais”. A tipologia clássica não dá conta das inúmeras práticas sócio-discursivas de nossa sociedade. Isso tudo porque no dia a dia não se pede para que se faça uma narrativa, uma descrição ou uma dissertação, mas que se tenha domínio dessas modalidades; aplicando-as na produção das mesmas para se defender a ideia que elas trazem: um ponto de vista (dissertação); ou um boletim de ocorrência (narração); ou para se escrever um anúncio de classificados (descrição). Aqui cabe frisar também a relação dos PCNs com o estudo dos gêneros na sala da aula. No ensino da Língua Portuguesa, o professor deve

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¹ Graduando em Letras – Português pela Universidade Estadual da Paraíba

 

selecionar e oferecer aos alunos uma diversidade de gêneros textuais, com temáticas expressivas para a realidade dos alunos e que, além disso, estejam de acordo com a escolaridade e a faixa etária dos mesmos. Desse modo, será possível desenvolver momentos significativos e prazerosos. Portanto, ao adotar o trabalho com os diversos gêneros, a Instituição Escolar estará contribuindo para uma mudança na perspectiva da leitura e da produção textual, fugindo ao tradicionalismo.

O tradicionalismo é algo que às vezes acarreta sérios problemas à sala de aula. A dependência do professor em relação ao livro didático, seja por deficiência de formação, seja pela falta de infraestrutura no ensino do país, uma vez que grande parte dos livros didáticos mantém a tipologia textual clássica da narração, descrição e dissertação como eixo organizador do ensino. Essa dependência atrapalha e são visíveis seus resultados como: há falta de autenticidade nos textos produzidos em sala de aula,  o aluno fica descaracterizado como sujeito, visto que apenas reproduz o que o professor transmite em sala de aula, tornando-se desmotivado no momento de elaborar suas produções textuais; as produções de textos não são veiculadas para fora da sala de aula (falta de um real leitor) e por fim o professor apenas executa o papel de corretor. Entretanto, essa realidade pode ser transformada, basta o professor querer. Atividades em sala de aula, em que o aluno é inserido a contextos e práticas de linguagem significativas, podem colaborar para que uma grande transformação ocorra. Transformação essa que ultrapassará os muros das escolas, influenciando também as práticas sociais. Os PCN e os PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e  Médio, respectivamente, partem da proposta que um trabalho pedagógico desta ordem  explicita as vantagens de se abandonar o tradicional esquema das estruturas textuais (narração, descrição e dissertação) para adotar a perspectiva de que a escola deve incorporar em sua prática os gêneros ficcionais ou não-ficcionais que circulam socialmente. De acordo com Bakhtin (1992, p. 274):

“os gêneros constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. As intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, geram usos sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos”.

 Pergunto-me agora: quais serão os gêneros textuais que devo escolher quando for planejar minhas atividades pedagógicas? Será que posso trabalhar um mesmo gênero no ensino fundamental (séries iniciais e  5ª a 8ª) e no ensino médio? Dúvidas como estas não são só minhas, mas de todos aqueles que já estão efetivamente na sala de aula e também é sentida por quem, assim como eu,  também ainda está em formação. Primeiro, em relação à escolha dos gêneros, pode-se dizer que todos os gêneros são bons para se trabalhar em sala de aula, mas de preferência aqueles de maior circulação social ou aqueles que detêm maior complexidade, os gêneros secundários. Bakhtin (1992, p. 281) divide os gêneros em primários – aqueles que ocorrem em situações cotidianas - e secundários – que ocorrem em contextos comunicativos mais complexos. Quanto ao trabalho pedagógico com  alguns gêneros  em detrimento a outros de acordo com a série a ser  aplicada encontro a resposta na  proposta de Bronckart, Dolz e Schneuwly. Para estes autores, devo organizar as transposições dos gêneros textuais para o ensino tendo em vista um ensino em que um mesmo gênero pode ser trabalhado em qualquer série, variando apenas a forma de abordagem, isto é, o aprofundamento e enfoque dado. Ao contrário de um ensino em que se trabalha com um “tipo de texto” e depois vai passando a outro e outro “subindo degraus” em dificuldades. A diferença de um nível escolar para outro está nas dimensões ensináveis desse gênero, que  vão progredindo de acordo com o avanço do aluno. A partir do que é preconizado pelos documentos oficiais (PCN e PCNEM), "nas funções sociodiscursivas da escrita e nas condições de produção das diferentes interações verbais”, é constatado que o trabalho com gêneros textuais de circulação na sociedade pode tornar as aulas muito mais produtivas e interessantes para os alunos.

Conclui-se que o trabalho pedagógico com gêneros textuais pode ser o caminho para um ensino e aprendizagem efetuados de forma eficaz, contribuindo de maneira significativa para que os estudantes sejam mais competentes não só em suas atividades escolares, mas, principalmente, em suas práticas sociais. Restringir os textos, nas práticas pedagógicas, apenas pelo modo como se organizam é um risco de limitá-los a fórmulas ou esquemas que os descaracterizem de seus propósitos comunicativos. Devemos, então, pensar o quanto uma mudança de concepção de ensino e aprendizagem se faz necessária. Ainda mais, em um momento histórico como o que vivemos agora, em que mudanças  econômicas e políticas trazidas a reboque do fenômeno da “globalização” trazem a todo instante profundas consequências culturais e diretamente, novas práticas sociais.

Referências

DIAS, Eliana et alli. Gêneros textuais e(ou) gêneros discursivos: uma questão de nomenclatura? In.: Revista Interacções. Vol 7, n. 19, 2011, p. 142-155.

MACHADO, Tânia Cristina Lemes. Os gêneros e a formação do professor de língua portuguesa: muitas pedras no caminho. In.: 16º COLE. Congresso de Leitura do Brasil, 2007.

SIGNOR, Rita. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso (Resenha). In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.261-306.