Terceirização da educação: problemas nas escolas atuais

Adriana Pacheco do Amaral

 

Muitas são as discussões que envolvem os problemas das escolas atuais. Vivenciamos a violência, a indisciplina, a gravidez, as drogas e etc. Mas qual é a principal causa de tantos problemas?

 

 Ao adentrar em uma sala de aula do sexto ao nono ano, por exemplo, nos deparamos com comportamentos adversos: alunos se xinguando, agredindo-se, ouvindo músicas, mandando mensagem pelo celular, enfim, presenciamos situações de dispersão, onde o a atenção dos alunos está voltada para outros meios, menos para o professor.

 

Consequentemente estamos presenciando a formação parcial dos indivíduos, ou como diz Magda Soares (1998), sujeitos que não sabem utilizar as práticas de leitura e escrita em seu cotidiano, não conseguem realizar a comunicação eficaz tão necessária em nossa sociedade.

 

Com a informatização, o professor ganhou um aliado para o ensino, mas ganhou também um grande concorrente, ou seja, ao mesmo tempo em que essa possibilita o acesso a informações em alta velocidade e em tempo real, a mesma permite a realização de cópias de trabalhos (sem necessário realizar a leitura), bem como dificuldades ortográficas (utilizam-se muitas abreviações e cometem vários erros devido ao apoio na fala e a falta de preocupação e/ou conhecimento das regras da escrita).

 

Diante disso, muitos alunos têm apresentado dificuldades de aprendizagem; chegam às escolas, necessitando de atenção, carinho e muitas vezes sem conhecimentos básicos para se viver em sociedade. Não conseguem lidar com regras e nem tampouco sabem o que é um ‘NÃO’, consequentemente ‘não foram apresentadas ao LIMITE’.

 

Há quem diga que este fenômeno é consequência da contemporaneidade que devido às muitas tarefas diárias, acabamos dando pouca importância para as coisas familiares, deixando para serem resolvidas depois ou até mesmo por outra pessoa. Dessa forma, em nossas escolas, está difícil de desenvolver um trabalho que priorize a transmissão de conhecimentos científicos, pois grande parte da aula é abonada para chamar a atenção dos alunos.

 

O que presenciamos é uma transferência de papéis, a família, em grande maioria, tem transferido para a escola, a responsabilidade de educar seus filhos, impor limites, ditar regras, dar atenção, obrigações que a priori são dos pais. A terceirização também tem acontecido no ambiente familiar. Pais ausentes, devido às correrias diárias, presenteiam seus filhos, comprando-os, tentando compensá-los com presentes, a sua omissão como pais.  

 

O alongamento da jornada de trabalho, devido tanto à necessidade de trabalhar mais para aumentar o rendimento familiar quanto ao crescimento das cidades, diminuiu consideravelmente o tempo que os pais dispunham para compartilhar com os filhos. Mas a criança carece de muito afeto e de uma troca com os adultos que vá além da satisfação das suas necessidades fisiológicas. A diminuição desse afeto, dessa troca, empobrece consideravelmente a criança e limita suas possibilidades de amadurecimento. Paradoxalmente, para poder satisfazer as necessidades fisiológicas e materiais dos filhos, os pais precisaram trabalhar cada vez mais, reduzindo com isto o tempo de contato direto com eles (SUKIENNIK, 1996, p. 50).

 

Isso traz diversos problemas para as escolas. É comum hoje, por exemplo, alunos apresentarem dificuldades nas escolas. Muitos encaminhamentos são realizados, pelos educadores, para tratamento especializado. Crianças com dificuldades de comunicação, atenção, etc., tem sido a realidade de nossas escolas.

 

De acordo com Eizirik (2001), os cuidados dos filhos em idade escolar exigem da família grande coesão e organização. A escola funciona como verdadeira vitrina da família, mostrando o que está indo bem e o que está indo mal. Por isso, é natural que seja a escola que tome freqüentemente a iniciativa de encaminhar a criança para atendimento (EIZIRIK, 2001, apud CASARIN, 2007, p. 16).

 

No entanto, a escola não pode se responsabilizar sozinha por essa tarefa, pois a família é essencial para o desenvolvimento do indivíduo, independentemente de sua formação. É no meio familiar que o indivíduo tem seus primeiros contatos com o mundo externo, com a linguagem, com a aprendizagem e aprender os primeiros valores e hábitos. Tal convivência é fundamental para que a criança se insira no meio escolar sem problemas de relacionamento disciplinar, entre ele e os outros.

 

Assim, como agentes educadores devemos nos preparar para estes desafios, pois nosso aluno já vem para a escola com conhecimentos remotos, e não podemos desperdiçá-los em nosso trabalho. Dessa forma, cabe a nos educadores envolvermos a família no processo de aprendizagem da criança, atribuindo à responsabilidade que também é deles. Pois como instituição escolar, devemos proporcionar o conhecimento científico aos nossos alunos, e os pais precisam estar presentes e atuantes nesse processo, pois está comprovado que as crianças que apresentam problemas familiares têm um rendimento inadequado, não apresentam o retorno esperado no processo educacional ao qual estão sendo submetidas.

 

Gokhale (1980) diz que a família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem sucedida da criança vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo escolar. A família tem sido, e será, a matriz mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas (GOKHALE, 1980, apud CASARIN, 2007, p. 22).

 

Dessa forma, não podemos aceitar a terceirização da educação pela família. A escola é responsável pela transmissão dos conhecimentos historicamente acumulados e não pode dissipar tempo educando e ensinando às crianças valores básicos, que devem obrigatoriamente ser ensinados pela família. A educação é um processo sério, que exige comprometimento e disponibilidade tanto dos pais quanto dos professores. Assim, é preciso que se valorize o trinômio família-aprendizagem-escola de cuja harmonia depende o desenvolvimento satisfatório do indivíduo.

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

CASARIN, Nelson Elinton Fonseca. Família e aprendizagem escolar, Porto Alegre: Mercado Aberto, 2007.

 

SOARES, Magda. Letramento: Um Tema em Três Gêneros. Belo

Horizonte: Autêntica, 1998.

 

SUKIENNIK, Paulo B. O aluno problema: transtornos emocionais de crianças e adolescentes. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996.