SUPLEMENTAÇÃO DE BIOTINA COMO TRATAMENTO DE ALOPECIA PÓS GASTROPLASTIA REDUTORA

Por Andrea Bruginski | 07/12/2009 | Saúde

INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS HOMEOPÁTICOS IBEHE

SUPLEMENTAÇÃO DE BIOTINA COMO TRATAMENTO DE ALOPECIA PÓS GASTROPLASTIA REDUTORA

ANDRÉA BRUGINSKI

SÃO PAULO

2001

INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS HOMEOPÁTICOS IBEHE

SUPLEMENTAÇÃO DE BIOTINA COMO TRATAMENTO DE ALOPECIA PÓS GASTROPLASTIA REDUTORA

ANDRÉA BRUGINSKI

Monografia apresentada

para obtenção do título de

Especialista em Nutrição

Ortomolecular e

Longevidade

SÃO PAULO

2001

AGRADECIMENTOS

Ao Núcleo de Cirurgia e Tratamento de Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho

À Maria Izabel Bruginski

ABSTRACT

Patients, who were submitted to the gastroplasty with intestine bypass surgery, generally have alopecia in the 4th month after surgery. From the 114 patients, 12,22% in which were women and 9,65% of the total patients were diagnosed with the symptom. The biotin deficiency, a water-soluble vitamin B complex, results in alopecia, and other symptoms. With the biotin supplement, folic acid, B complex, inositol, ginko biloba and ascorbic acid, 100% of the cases improved their symptoms. The dietary chemistry of patients with alopecia demonstrated that the median intake of biotin was 6,7 mcg/day and of RDA was 100 mcg/day. In conclusion it is recommended for patients who were submitted to gastroplasty with intestine bypass surgery to supplement their diet with biotina, thus preventing alopecia.

RESUMO

Pacientes submetidos a cirurgia de gastroplastia com bypass intestinal têm apresentado alopecia em torno do 4º mês de pós operatório. Dos 114 pacientes, 12,22% das mulheres e 9,65% do total de pacientes apresentaram o sintoma. A deficiência de biotina, uma vitamina hidrossolúvel do complexo B, resulta em alopecia, entre outros sintomas. Com a suplementação de biotina, ácido fólico, complexo B, inositol, ginko biloba e ácido ascórbico 100% dos casos tiveram melhora dos sintomas. A análise química da dieta dos pacientes com alopecia demonstrou que a ingesta média de biotina era de 6,7mcg (a RDA é de 100 mcg/dia). Concluiu-se que pacientes submetidos a cirurgia de gastroplastia com bypass intestinal têm indicação para suplementação de biotina, podendo ser um fator de prevenção de queda de cabelo pós cirúrgico.

SUMÁRIO

1.0. Introdução

01

2.0. Metodologia

03

3.0. Tratamento Cirúrgico da Obesidade Mórbida

06

3.1. Introdução

06

3.2. Tratamento Cirúrgico

07

3.3. Gastroplastia

07

4.0. Biotina

10

4.1. História

10

4.2. Química e estabilidade

10

4.3. Função

13

4.4. Absorção, transporte e excreção

14

4.5. Ingesta dietética recomendada

16

4.6. Fontes

18

4.7. Suplementação medicamentosa

20

4.8. Testes diagnósticos

21

4.9. Deficiência

21

4.10. Toxidade

23

4.11. Efeitos benéficos

23

5.0. Resultados

24

6.0. Conclusão

33

7.0. Bibliografia

37

Anexos

38

1. INTRODUÇÃO

A biotina é uma vitamina hidrossolúvel do complexo B produzida no intestino pelas bactérias e obtida através da alimentação. Funciona como cofator nas reações da carboxilase que fazem parte da síntese de ácidos graxos, nucleotídeos purina (envolvidos na síntese de ácido nucléico e na formação da molécula de energia biológica ATP) e no metabolismo das cadeias de aminoácidos. (HENDLER, 1997)

A deficiência de biotina, que não é comum, afeta principalmente a pele e os cabelos. Dentre os sintomas estão a calvície, pele seca e escamosa e vermelhidão em volta do nariz e da boca. Os grandes consumidores de clara de ovo crua correm risco de deficiência de biotina. A clara de ovo crua contém a anti vitamina avidina, que se liga na biotina e impede sua absorção pelo organismo. Os que consomem dietas mal-balanceadas e, ao mesmo tempo, fazem uso prolongado de antibióticos, também correm esse risco. (HENDLER, 1997)

Pacientes submetidos a dietas de emagrecimento com um número extremamente reduzido de calorias, além da redução de peso perdem também os cabelos. Normalmente, quando a dieta é interrompida, eles voltam junto com os quilos perdidos. Em geral, a calvície resultante de grave deficiência de biotina, qualquer que seja a causa, é reversível com a suplementação de biotina. (MINDEL, 1996).

A deficiência de biotina em animais de experimentação produz queda de cabelo, e esta hipótese é verdadeira também em humanos que têm severa deficiência de biotina, e a suplementação nestes casos pode promover o crescimento de cabelo (Olszwwer, 1995).

Com base nesse conhecimento, durante o último ano iniciou-se a suplementação de biotina nos pacientes em tratamento da obesidade mórbida, que estavam apresentando queda de cabelo após cirurgia de gastroplastia redutora.

O presente estudo visa mensurar e identificar as relações biotina e alopecia mais citadas em literatura, onde são consideradas a deficiência na ingesta , na síntese e na absorção da biotina.

2. METODOLOGIA

Foi feito estudo prospectivo com 114 pacientes submetidos a gastroplastia redutora, no período de dezembro de 1999 a dezembro de 2000. Desses 114 pacientes, 90 são do sexo feminino e 24 do sexo masculino, com idades entre 18 e 60 anos.

O estudo identificou quais pacientes referiram queda de cabelo após a cirurgia, e qual foi o resultado da suplementação de biotina.

Foi feita análise química da dieta de todos os pacientes com alopecia, através de recordatório alimentar de três dias, com os alimentos ingeridos na semana precedente ao início da suplementação. Para a análise química utilizou-se o software dietpro, cuja base de dados de nutrientes foi elaborado pela USP. Os itens considerados na análise química foram: valor calórico, carboidrato, lipídeos, proteínas, fibras, retinol, vitamina C, ácido fólico e biotina. Os valores de biotina nos alimentos foram lançados no sistema com base na tabela 03.

A fórmula da suplementação utilizada em todos os pacientes foi a mesma. Para se conseguir valores aproximados prescritos na fórmula sob a forma de cápsulas de lecitina de soja seriam necessárias 12 cápsulas, o que inviabilizaria o uso pelos pacientes da gastroplastia, cujo espaço estomacal não comportaria tal volume de medicação.

Fórmula prescrita para tratamento da alopecia pós gastroplastia, dose diária, durante 30 dias

itens

Quantidades

Biotina

100 mcg

Colina

500 mg

Inositol

500 mg

Complexo B

200 mg

Vitamina C

3 gr

Ácido fólico

400 mcg

Ginko Biloba

80 mg

O complexo B utilizado foi com a seguinte formulação (para cada 100 mg):

Vitamina B1 (tiamina)

5 mg

Vitamina B6 (piridoxina HCL)

5 mg

Vitamina B12 (cianocobalamina)

5 mcg

Vitamina B5 (pantotenato de cálcio)

12,5 mg

Vitamina B2 (riboflavina)

2 mg

O objetivo de utilizar complexo B associado, ácido fólico, colina e inositol foi pela característica em comum com a biotina no sentido de serem hidrossolúveis, serem componentes do complexo B, e dessa forma, agirem melhor sinergicamente, conforme referenciado: a biotina tem sinergia e age melhor na presença de B1, B6 e complexo B como um todo (MINDELL, 1996), bem como a biotina está muito relacionada metabolicamente ao ácido fólico, ácido pantotênico e vitamina B12.(KRAUSE, 1996)

O ácido fólico também tem a característica de prevenir embranquecimento dos cabelos, efeito semelhante ao da biotina (MINDELL, 1996)

O inositol também é referenciado como sendo mais um componente que proporciona cabelos saudáveis e previne a queda (MINDELL, 1996), bem como necessário ao crescimento do cabelo (OLSZEWER, 2000)

A vitamina C e o ginko biloba foram utilizados como antioxidantes, considerando que a Vitamina C é um dos mais poderosos antioxidantes conhecidos da atualidade. A sua grande potencialidade para varrer radicais livres faz dela uma das vitaminas mais utilizadas. O ginko biloba é um bioflavonóide, que apesar de não ser uma vitamina verdadeira, age no organismo como potencializador vitamínico, principalmente do ácido ascórbico e alfa tocoferol. Os bioflavonóides aumentam a absorção da vitamina C e os dois devem ser tomados concomitantemente. (OLSZEWER, 2000)

3. TRATAMENTO CIRÚRGICO DA OBESIDADE MÓRBIDA

3.1. Introdução

A obesidade mórbida é definida de várias maneiras, mas a mais aceita é a aquela identificada como 45 kg acima do peso corporal ideal ou o dobro do peso ideal ou ainda quando o índice de massa corporal for superior a 40kg/m2 (MASON, 1982).

A obesidade mórbida é uma doença grave associada a elevada taxa de morbidade e mortalidade. Essa afecção aumenta a mortalidade em 12 vezes em homens de 24 a 34 anos de idade e em 6 vezes em pacientes de 35 a 44 anos. A incidência de diabetes melito é aumentada em cinco vezes, a de hipertensão arterial em três vezes e a de colelitíase em 2,6 vezes. Há também um aumento significativo de outras condições como hiperlipemia, artrite, coronariopatia, insuficiência respiratória, paniculite necrosaste, esofagite de refluxo, incontinência urinária, alterações de hormônios sexuais com dismenorréia, hirsutismo e infertilidade, hérnias (incisonal e umbilical), tromboflebite e dermatite (National Institutes of Health Consensus Development Conference Statement. Health Implications of Obesity, 1985).

A obesidade mórbida também está associada a um aumento no risco de carcinoma uterino, de mama e de cólon. Essa afecção possivelmente afeta todos os órgãos e, além de ser um problema médico grave, é um problema social, psicológico e econômico. (COELHO, 1996)

Vários estudos sugerem uma etiologia genética para essa condição. Todas as formas de tratamento não cirúrgico da obesidade mórbida falharam em reduzir permanentemente o peso, incluindo vários tipos de dietas; medicações anorexígenas e hipermetabólicas; psicoterapia; hipnoterapia; acupuntura; internamentos em clínicas especializadas. Apesar dos pacientes poderem perder bastante peso com o tratamento clínico, a recidiva é de 95%. Uma conferência de consenso do Instituto Nacional da Saúde nos Estados Unidos (NIH), realizada em 1992, concluiu que a recidiva da obesidade após os vários tipos de tratamento é inaceitavelmente elevada. (COELHO, 1996).

3.2 Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico é o único que oferece esperança de cura para os pacientes com obesidade mórbida. São disponíveis inúmeros procedimentos e variações técnicas, mas os mais utilizados atualmente são as operações de derivação gástrica e gastroplastia. (MASON, 1992).

3.3. Gastroplastia (partição gástrica)

Consiste na criação de um pequeno reservatório no estômago superior que se comunica através de uma pequena abertura (estoma) com o resto do estômago e não com o jejuno, como nas derivações gástricas (JONES, 1984).

A primeira gastroplastia foi proposta por Printen e Mason, em 1973, e consistia da transecção horizontal parcial do estômago, deixando uma abertura próxima à grande curvatura (PRINTEN E MASON, 1973)

Esse procedimento denominado gastroplastia horizontal foi logo abandonado porque a abertura (estoma) dilatava com o tempo na maioria dos pacientes. Várias modificações foram posteriormente propostas.

Em 1982 Mason descreveu a gastroplastia vertical com bandagem, que posteriormente foi modificada pelo próprio Mason e atualmente consiste na abertura completa das paredes anterior e posterior do estômago, próximo à pequena curvatura e 8 cm abaixo da cárdia, com um grampeador (stapler) tipo EEA. Posteriormente o estômago é completamente fechado com uma linha vertical dupla de grampos que vai da abertura anterior ao ângulo de His, criando assim um reservatório ao longo da parte superior da pequena curvatura com uma capacidade de 13 ml. O estoma (1-1,2 cm) entre o reservatório e a parte inferior do estômago é reforçado com uma banda de tela de polipropileno, que não é suturado ao estômago e tem a finalidade de impedir a dilatação do estoma.

Os resultados dessa operação têm sido muito bons, com baixas taxas de complicações. Quando realizada por cirurgiões experientes, as taxas de fístulas e de mortalidade são inferiores a 1% (MASON, 1992).

A disseminação do uso de grampeadores cirúrgicos proporcionou que diversos moldes de gastroplastia pudessem ser desenvolvidos. É consenso atual que a combinação de uma gastroplastia redutora com derivação gastrojejunal associada a restrição a passagem alimentar por anel de silastic ou anastomose de 11 a 13mm é o procedimento de escolha para o tratamento da obesidade severa (American Society of Bariatric Surgery, 1998).

Os benefícios dos pacientes são inúmeros, com redução na incidência das complicações e/ou doenças associadas com a obesidade (COELHO, 1995).

Figura 1.0 – Gastroplastia Com Bandagem e Desvio de Trânsito Intestinal (Bypass)

1. Esôfago

2. Novo Estômago

3. Grampos

4. Alça intestinal

5. Anel de Silicone

6. Estômago excluído

7. Anastomose estômago/ intestino delgado

8. Duodeno

9. Anastomose das alças do intestino

4.0 BIOTINA

4.1. História

Kogl and Tonnis isolaram a biotina pela primeira vez em 1936 e Du Vigneaud determinou sua estrutura química em 1942. A síntese química foi descoberta por Harris em 1943. (SHILS,1994)

Tinha sido observado previamente que pintinhos e ratos alimentados com grandes quantidades de claras de ovos crus desenvolveram eczema seguido de alopecia em torno dos olhos. A síndrome foi curada adicionando-se gemas de ovo à dieta dos animais afetados e o fator corretor na gema de ovo foi chamado vitamina H. Esta provou ser tão potente quanto o fator de crescimento do levedo chamado coenzima R, e o fator foi chamado biotina. (ARLIN,1994)

4.2. Química e estabilidade

Biotina é um ácido monocarboxílico, estável ao calor, solúvel em água e álcool e susceptível à oxidação. (ARLIN,1994)

Vários derivados da biotina, análogos e antagonistas são conhecidos. O detilbiotina, um análogo sulfúrico da biotina é o precursor direto da biotina nos microorganismos. A biocitina (biotinil lisina) está relacionada com a digestão proteolítica. O peso molecular da biotina é de 244,31 g/mol. (SHILS,1994)

No estado livre, a biotina tem a estrutura mostrada na figura 2.


Figura 2 - Estrutura da Biotina e da Biocitina

Nos sistemas biológicos, a biotina funciona como coenzima das carboxilases, enzimas que catalisam a "fixação" do dióxido de carbono ou carboxilação. A biotina coenzima está firmemente ligada à proteína enzimática (apoenzima), provavelmente por um laço amida entre o grupo carboxila da biotina e o nitrogênio terminal (épsilon) de um resíduo da proteína enzimática, conforme indicado na figura 3. Isso é sugerido pela descoberta, em substâncias naturais, de uma forma de biotina combinada, a biocitina, identificada como um conjugado lisina-biotina (?-N-biotinil-lisina). Evidentemente, no isolamento da biotina do complexo biotina-enzima natural, a vitamina pode separar-se da proteína enzimática junto com a lisina, à qual se encontra ligada na proteína. (HARPER, 1982)

Figura 3 – Ligação da coenzima biotina à apoenzima através do nitrogênio épsilon da lisina

A função bioquímica melhor demonstrada da biotina está relacionada com as reações de carboxilação ("fixação" de CO2). Para isso, o complexo biotina coenzima-apoenzima liga o CO2 que, posteriormente, pode ser transferido para outras substâncias, conforme descrito adiante. O mecanismo da formação do complexo enzimático CO2-biotina está esquematizado na figura 4. (HARPER, 1982)

Figura 4 – Formação do complexo CO2-biotina enzima

O CO2 do complexo biotina-enzima pode ser transferido numa reação catalisada pela acetil-CoA-carboxilase aao acetil CoA para formar malonil-CoA, etapa importante na via biossintética extramitocondrial dos ácidos graxos. (HARPER, 1982)

Outro exemplo de uma reação de carboxilação biotina-dependente é a conversão do piruvato a oxalacetato. A confirmação de que a enzima piruvato-carboxilase, que catalisa essa reação de fixação do CO2, é biotina-dependente, resulta da observação de que a avidina, que se liga especificamente à biotina, inibe efetivamente a piruvato-carboxilase. Além disso, os hidrolisados de preparações purificadas de piruvato-carboxilase contêm biotina demonstrável por ensaio direto. Nas leveduras com carência de biotina, a fixação do CO2 na formação do carbono 6 na síntese de purina é prejudicada, indicando que a vitamina desempenha um papel na síntese da purina em relação com aquela fase de formação da estrutura da purina. (HARPER, 1982)

4.3. Funções

A biotina funciona como coenzima para as reações envolvidas na adição ou remoção de dióxido de carbono ou para compostos ativos. A síntese e oxidação de ácidos graxos requer biotina como coenzima. Ela funciona em desaminação na remoção de NH2 de certos aminoácidos, principalmente o ácido aspártico, treonina e serina. A biotina está muito relacionada metabolicamente ao ácido fólico, ácido pantotênico e vitamina B12. (ARLIN,1994)

Segundo Waitzeberg, 1995, a biotina faz parte das coenzimas transportadora de CO2 de 4 enzimas envolvidas em reações de gliconeogênese, lipogênese, síntese de ácidos graxos, metabolismo do propianato e catabolismo da leucina, conforme citado abaixo:

¨piruvato carboxilase: converte o piruvato em ácido oxalacético

¨propionil-coA carboxilase: converte o propionil-CoA em metilmalonil-CoA

¨3 metilcrotonil-Coa carboxilase: transforma o 3-metilcrotonil Côa em 3-metilglutaconil-CoA

¨acetil-CoA carboxilase: converte o acetil-Coa em malonil-CoA.

A reação global catalisada pelas carboxilases biotina-dependentes pode ser dividida em duas etapas discretas. O termo geral, carboxilase, inclui as duas atividades: a carboxilação de uam proteína transportadora de biotinil, e a transferência subseqüente para um aceptor por uma transcarboxilase. (COON, 1980)

O mecanismo de conversão da acetil CoA a malonil-CoA, na E. Coli, foi estudado intensamente; os resultados mostram claramente a seguinte seqüência, em que três proteínas participam: (a) biotina-carboxilase, (b) proteína transportadora de biotinil-carboxil (BCCP) e (c) acetil-CoA: malonil-CoA-transcarboxilase. (COON, 1980)

Mn2(+)

(1)ATP + HCO3 + BCCP CO2(-) - BCCP + ADP + Pi

biotina carboxilase

transcarboxilase

(2) CO2(-) – BCCP + Acetil-CoABCCP + Malonil-CoA

4.4. Absorção, transporte e excreção

Biotina e biocitina (um grande fragmento natural liberado pela degradação de enzimas biotinil) são rapidamente absorvidas (figura 5). Biocitina é hidrolisada no plasma para liberar biotina, que é encaminhada ao fígado, músculos e rim. A biotina sintetizada pela microflora contribui substancialmente para as necessidades teciduais. Excreção fecal e urinária consideravelmente mais elevada que a ingesta pela dieta reflete a magnitude da síntese pela microflora. Uma dieta vegetariana pode alterar a flora entérica e acentuar a síntese de biotina, ou promover a absorção, ou ambos. (Lombard e Mock 1989, by (ARLIN,1994)

A absorção de biotina é maior no jejuno do que no íleo, sendo mínima no cólon. É melhor absorvida quando ingerida via oral do que administrada diretamente no cólon (SHILS,1994)

Foi demonstrado que a absorção de biotina no intestino do rato ocorria por difusão passiva. Mais tarde outros trabalhos identificaram que existia o envolvimento de um carreador de biotina, e que a absorção no intestino delgado do rato era bifásica, o que explica a rara deficiência de biotina no ser humano . (SHILS,1994)

A absorção ocorre no intestino delgado, através de um processo ativo sódio-independente, com o transporte plasmático ligado a proteínas. A excreção é 50% fecal, e a urinária varia de acordo com a quantidade de biotina ingerida, com valores entre 6 e 50 mcg à cada 24 horas. (SHILS,1994)

Biocytin or biotinyl peptideBiotinLysine or

peptide

Figura 5 – Hidrólise de biocitin ou biotinil peptídeo pela biotinidase

4.5. Ingesta dietética recomendada

É difícil determinar as necessidades quantitativas para a biotina. Uma grande parte das necessidades de biotina, provavelmente, é fornecida por ação de bactérias intestinais, visto que a deficiência de biotina poder ser produzida mais facilmente em animais que receberam sulfoamidas, as quais reduzem a flora intestinal ao mínimo. No homem, estudos cuidadosos de equilíbrio mostraram que a excreção urinária de biotina excedia de muitas vezes, a ingestão dietética, e que, em todos os casos, a excreção fecal era de três a seis vezes maior que a ingestão dietética.(HARPER, 1982)

Estudos definitivos sobre as necessidades de biotina não têm sido feitos devido à falta de conhecimento da biodisponibilidade da mesma nos alimentos e a contribuição incerta da síntese microbiana. Estudos anteriores preconizam valores acima daqueles que são mais recentes (tabela 01). (GASTINEAU, 1988)

Tabela 01. – Necessidade de Biotina Recomendada – (USRDA)

Lactentes e crianças < 4 anosCrianças > 4 anos e adultos

Biotina0,15 mg0,3 mg

Segundo White, P.L.: Vitamin preparations: Proper use medical practise. Postgrad. Méd., 60: 204-209, Oct. 1976.

As RDA de 1989 são baseadas na provável ingesta diária dos americanos, as quais parecem satisfazer as necessidades da maioria dos adultos saudáveis. As RDA consideradas seguras e adequadas constam na tabela a seguir.(ARLIN,1994) (WAITZEBERG, 1995)

Tabela 02. – Ingestas dietéticas diárias recomendadas consideradas seguras e adequadas para biotina

Idade (anos)

Recomendação (mcg/dia)

Lactentes

Via oral/enteral

Via parenteral

0,0 – 0,5

10

20

0,5 – 1,0

15

Crianças

1 – 3

20

20

4 - 6

25

7 – 10

30

11+

30 – 100

60

Adultos

30 - 100

60

De Food and Nutrition Board, National Research Council, NAS: Recommended Dietary Allowances, 10ª Ed. Washington, DC, National Academy Press, 1989.

A RDA de 100 a 300 microgramas diários permanece nos casos de grandes consumidores de clara de ovo crua (o grande consumo de ovos crus inteiros também é arriscado nesse sentido), para os que seguem dietas inadequadas e fazem uso prolongado de antibióticos por via oral e que seguem dietas de emagrecimento com um número extremamente reduzido de calorias.(MINDELL, 1986).

4.6. Fontes

Biotina é encontrada em grande número de alimentos e uma quantidade considerável é sintetizada pelas bactérias intestinais e absorvidas pelo organismo. A tabela 03 apresenta o conteúdo em biotina em alguns alimentos. (ARLIN,1994)

Biotina é freqüentemente adicionada a múltiplos preparados vitamínicos, mesmo que suas necessidades não tenham sido definitivamente estabelecidas. Em função de algumas prévias observações sugerindo que a biotina pode estar presente me algumas preparações vitaminicas cujo rótulo não informa que contém biotina, foram estudados dois grupos de preparações, com e sem identificação que continham biotina. Concluiu-se que a biotina pode estar presente em algumas vitaminas e suplementos nutricionais em cujo rótulo não consta que contém biotina e que a ingesta de biotina pode ser subestimada (TOLAYMAT; MOCK , 1989).

4.7. Suplementação medicamentosa

A biotina está disponível na forma de suplementos tanto isoladamente quanto em combinação com outras vitaminas e minerais. A melhor forma de administração é uma fórmula bem balanceada de vitaminas e minerais. (HENDLER, 1997)

Na formulação farmacológica utiliza-se a d-biotina. Preparações multivitamícas com biotina podem interagir com a tiamina e vit. K causando choque anafilático. (MINDELL, 1996)

Tabela 03– Biotina contida em alimentos selecionados

Alimentos

Variações (mcg/100g)

Cereais

Germe de trigo

22-38

Farinha de aveia

22-31

Farelo de trigo

22,4-25,5

Farinha de aveia beneficiada

15,3-24,6

Cereal de trigo

22,4-33,4

Leite e laticínios

Fresco, integral, seco

2-16

Integral

1,6-2,4

Instantâneo

16-24

Ovos

Completo, cozido

20-25

Gema, crua

60

Gema, crua

51,5-58

Carnes e derivados

Fígado de boi

96

Bife, outros

2,6-3,4

Fígado de galinha

170-210

Aves

10-11,3

Peixes e mariscos

3-24

Vegetais

0,2-4,1

Frutas

0,2-2

Castanhas

Amêndoas cruas

18

Amendoim torrado

34

Noz pecan

27

Nozes, pasta de amendoim

37-39

Miscelânea

Chocolate

32

Melados

9

Levedura, fermento

200

Levedura, cogumelos

100

Leite materno

18-22

De Marshall MW: the nutritional importance of biotin – An update, Nutrition Today 22:26, 1987.

Um estudo Germânico identificou a necessidade de suplementação de biotina, onde se concluiu que a prevalência do uso de suplementos vitamínicos pela população Germânica é significativamente maior pelas mulheres: 27% em relação a 18% dos homens. É maior também nas mulheres a freqüência da reposição de minerais. No grupo dos 35-44 anos os nutrientes que mais constam nos suplementos são: Vitamina C (mulher 12.8%, homem 9.4%), magnésio (mulher 12.4%, homem 8.7%), vitamina E (mulher 9.8%, homem 7.8%), e cálcio (mulher 10.7%, homem 4.9%). A média diária de ingesta de vitaminas (com exceção da biotina e niacina pelos homens e ácido fólico e biotina pelas mulheres) está abaixo do 100% recomendado pela Sociedade Germânica de Nutrição. A média de ingesta dos valores de minerais está abaixo ou muito próxima dos 100% recomendados.(SCHELLHORN; DORING; STIEBER, 1998).

4.8. Testes diagnósticos

Os níveis de biotina considerados adequados são mostrados na tabela a seguir. (WAITZEBERG, 1995)

Tabela. 04. – Níveis de Biotina em Testes Diagnósticos

TestesValores Normais

Biotina plasmática pg/ml215 - 750

Biotina eritrocitária pg/ml55 - 170

Biotina sanguínea pg/ml200 -500

4.9. Deficiência

4.9.1. Relacionada com ingesta

A deficiência de biotina em humanos foi demonstrada primeiramente num estudo com voluntários que seguiram uma dieta deficiente em biotina. Após 5 semanas todos os pacientes apresentaram sintomas de deficiência: mialgia, hiperestesia, parestesias localizadas, anorexia, náusea, mudanças de comportamento. Após 7 semanas apresentaram dermatite nas extremidades como sintoma mais proeminente. Com a administração de 150 mcg de biotina injetável diariamente, entre 3 e 5 dias todos os sintomas desapareceram. (SHILS, 1994)

A deficiência de biotina também foi descrita em pacientes recebendo TPN por vários anos. Os sintomas de deficiência em adultos incluem dermatite seca descamativa, palidez, náuseas, vômitos e anorexia. Nos lactentes abaixo de 6 meses de idade, os sintomas são dermatite seborréica e alopecia. Dietas pobres em gordura e colesterol são também pobres em biotina. (ARLIN,1994)

4.9.2. Relacionada com a absorção

Avidina, uma substância da clara de ovo crua, combina com a biotina no intestino e evita sua absorção. Sintomas de deficiência, induzidos pela alimentação com claras de ovo cruas (o equivalente a 24/dia), são aliviados por um concentrado da vitamina. Uma clara de ovo crua ocasional não precipita a eficiência de biotina. A avidina é desnaturada pela cocção. (ARLIN, 1994)

Alguns erros inatos de metabolismo respondem a terapia com reposição de vitaminas. A biotina é relacionada com deficiência da carboxilase sintetase que pode ocorrer por deficiência na holocarboxilase sintetase ou biotinase. Ambas são tratadas com suplementação de biotina. Os sintomas da deficiência múltipla de carboxilase podem ocorrer tanto após ressecção intestinal quanto por ingesta excessiva de ovos crus. (LEVY, 1989)

4.9.3. Relacionada com uso de medicamentos

Carbamazepina e primididona (drogas anticonvulsivantes) inibem o transporte de biotina no intestino humano (Said e cols., 1989). Isto pode ser uma das causas de diminuição da reserva de biotina, observada em pacientes com longo tempo de terapia anticonvulsivante. (ARLIN, 1994)

4.10. Toxicidade

Não há efeitos conhecidos da biotina. (ARLIN,1994)

4.11. .Efeitos benéficos

Favorece o crescimento de cabelo e previne que o indíviduo fique careca ou com o cabelo branco. Muitos produtos de tratamento contêm biotina, geralmente associada a ácido pantotênico, que se supõe promover o crescimento e a saúde dos cabelos, mas não se sabe bem até onde esta eficácia pode atingir (OLSZEWER, 1996)

Ao mesmo tempo, concluiu-se que a biotina também pode incrementar a atividade atlética dos indivíduos, e que sua suplementação estaria relacionada com o metabolismo dos aminoácidos, principalmente valina, isoleucina e leucina, cuja adequada suplementação pode melhorar a atividade atlética. (OLSZEWER, 1996)

5. RESULTADOS

Dos 118 pacientes avaliados, identificou-se que somente os do sexo feminino apresentaram queda de cabelo. Dos 94 pacientes mulheres, 16 referiram alopecia por cirurgia, como pode ser observado na tabela 05, figura 06.

Esses resultados demonstram que 12,22% dos pacientes femininos apresentaram os sintomas, o que significa 9,64% do total de pacientes operados.

Tabela 05 – Pacientes com alopecia pós gastroplastia vertical com bypass

operados

%

com alopecia

%

Homens

24

21,05

0

0

Mulheres

90

78,95

11

12,22

Total

114

100

11

9,64

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 06. – Pacientes com sintoma de alopecia em relação aos operados

Em relação ao período em que tiveram início os sintomas, identificou-se que o pico de aparecimento ocorreu entre o quarto e o quinto mês de pós-cirúrgico, num total de 6 pacientes nesse período (54,5% dos casos). Tabela 06, figura 07.

Esse tempo tem uma relação muito estreita com um estudo onde crianças alimentadas através de nutrição parenteral começam apresentar, depois de quatro meses, sintomas de deficiência de zinco e biotina. As duas deficiências têm manifestações clínicas semelhantes: dermatite, alopecia e suscetibilidade a infecções.(LAGIER; BIMAR; SERIAT-GAUTIER; DEJODE; BRUN; BIMAR, 1987).

Tabela 06 – Período de Início de Sintomas de Alopecia Pós Gastroplastia

paciente

idade

peso

mês início alopecia

AAPO

27

91.8

5

AFF

29

106

4

CAB

53

83.8

11

CSB

26

77.5

1

ELA

20

121.5

2

ICC

30

88.1

4

IMG

41

119.5

5

LDA

30

99.8

8

MCC

57

112

4

MLL

45

72.5

6

NB

26

80,8

5

Média

34,91

95,75

4,62

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 07. – Tempo de Aparecimento de Sintomas de Alopecia pós Gastroplastia

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Identificou-se que a média de ingesta de biotina pelos pacientes foi sempre abaixo de 10% se considerarmos a recomendação de ingesta de 300 mcg para pacientes com dieta restrita caloricamente, e considerando valores de 30 mcg como mínimo nas dietas caloricamente normais, ainda assim a ingesta de biotina pelos pacientes não atingiu 40% das recomendações (tabela 07, figura 07)

Os valores de adequação dos nutrientes ingeridos em relação aos recomendados foram pra o ácido fólico 2,5%, biotina 6,7%, retinol 37,3%, fibras 41,5% e vitamina C 84,3% (tabela 07, figura 09)

Tabela 07 – Análise Química da Dieta dos Pacientes com Alopecia

Vit. C mg

RDA 60

Ac. Fólico mcg RDA 400

Fibras gr

RDA 15

Retinol mg

RDA 800

Biotina mcg

RDA 30, 100 e 300

mg

% 60

mcg

% 400

gr

% 15

mg

% 800

mcg

%30

%100

%300

AAPO

83,6

139,3

35,3

8,8

2,3

15,3

337

42,1

24,6

82

24,6

8,2

AFF

7,4

12,3

14,6

3,7

2,6

17,3

136,7

17,1

4,1

13,7

4,1

1,4

CAB

54,7

91,2

13,2

3,3

7,3

48,7

566,7

70,8

5,1

17

5,1

1,7

CSB

104

173,3

1,5

0,4

1

6,7

660,3

82,5

1,3

4,3

1,3

0,4

ELA

39,1

65,2

1,4

0,4

4,9

32,7

80,9

10,1

9

30

9

3

ICC

71,8

119,7

4,2

1,1

9,1

60,7

327,5

40,9

5,9

19,7

5,9

2

IMG

49,4

82,3

9,5

2,4

7

46,7

364,9

45,6

8,6

28,7

8,6

2,9

LDA

10,1

16,8

5,5

1,4

3

20

82,3

10,3

2,1

7

2,1

0,7

MCC

27,9

46,5

6,7

1,7

18,3

122

206,2

25,8

4,5

15

4,5

1,5

MLL

49

81,7

8,7

2,2

12

80

201,9

25,2

5,5

18,3

5,5

1,8

NB

59,2

98,7

9,3

2,3

1

6,7

316

39,5

2,5

8,3

2,5

0,8

Média

84,3

2,5

41,5

37,3

22,2

6,7

2,2

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 08 – Ingesta Média de Biotina em Relação às Recomendações de 30, 100 e 300 mcg

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 09 – Adequação da Ingesta de Nutrientes Pós Gastroplastia em Relação às Recomendações Diárias

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

A distribuição média de macronutrientes das dietas avaliadas demonstrou equilíbrio, onde a ingesta protéica em 19% não significa excesso, considerando que a avaliação de proteína ingerida por quilo de peso foi de 0,4 em média, não ultrapassando 0,6, quando a recomendação é de 0,8 (tabela 08, figura 10 e 11).

A relação de adequação da biotina com calorias se manteve em todos os pacientes avaliados. Quanto maior ingesta de uma, proporcionalmente a ingesta da outra foi maior. A relação biotina e fibras demonstraram uma tendência de proporção, com algumas exceções onde a ingesta de fibra foi muito superior à de biotina e caloria total. Não podemos avaliar se essa ingesta maior de fibras teve impacto sobre níveis séricos de biotina já que não avaliamos esse parâmetro (figura 12).

Tabela 08 – Análise Química de Macronutrientes da Dieta dos Pacientes com Alopecia Pós Gastroplastia

pcte

Calorias

carboidratos

lipídeos

Proteínas

Inger.

basal

total

inger

%

inger

%

Inger.

%

Gr/kg

AAPO

1150,8

1430

2231

157,9

54

36,5

28

54,1

18

0,6

AFF

591,7

1377

2149

90,2

31

15,1

12

25,2

9

0,2

CAB

719,8

1234

1926

100,9

34

21,3

16

30,9

11

0,4

CSB

521,3

1316

2053

77,8

26

13,4

10

23,2

8

0,3

ELA

564,6

1367

2132

82,2

28

16,7

13

22,6

8

0,2

ICC

573,5

1316

2053

64,2

22

17,1

13

41

14

0,5

IMG

715,5

1326

2069

93,5

32

21,5

16

39,4

13

0,3

LDA

484

1136

1772

58,8

20

16,4

13

25,9

9

0,3

MCC

649,1

1267

1978

96,3

33

15,1

12

34,2

12

0,3

MLL

947,3

1267

2079

128,4

44

31,3

24

40,5

14

0,6

NB

484,4

1316

2053

43,7

15

24,8

19

21,8

7

0,3

Média

672

1305

2045

90,355

53

21

28

33

19

0,4

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

A suplementação de biotina promoveu o crescimento de cabelo em 100% dos pacientes, num período de 30 dias (figura 13).

Figura 10 – Distribuição Média Percentual de Macronutrientes Ingeridos Pós Gastroplastia

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 11 – Ingesta Protéica Média (gr/kg de peso) de Pacientes Pós Gastroplastia

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 12 – Relação da Ingesta de Biotina com Fibras e Valor Calórico

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

Figura 13 – Efeito da Suplementação com Biotina

Fonte: NUCTRON – Núcleo de Cirurgia e Tratamento da Obesidade Mórbida Dr. Alcides José Branco Filho – Curitiba – 2000

6. CONCLUSÃO

Segundo estudo de Melendez, 2000, a deficiência de biotina em humanos é extremamente rara e está geralmente associada com nutrição parenteral prolongada, com o consumo excessivo de avidina, comumente encontrada na clara do ovo cru, desnutrição severa e desordens metabólicas autossômicas recessivas, com a disfunção da biotinase.

Algumas características específicas da deficiência nutricional são manifestações observadas na pele, ocorrendo em múltiplos estados de deficiência. O eritema vitrificado periorificial e queda de cabelo podem ser tanto por deficiência de zinco como também em pacientes com deficiência de ácidos graxos essenciais e biotina (PRENDIVILLE E MANFREDI, 1992)

Considerando que os pacientes submetidos a gastroplastia reduzem sua ingesta calórica a valores inferiores aos basais, estes pacientes têm toda possibilidade de desenvolver sintomas característicos de desnutrição, mais especificamente alopecia, pela deficiência de biotina.

Essa deficiência pode ocorrer pela baixa ingesta de biotina, o que foi confirmado nos resultados do trabalho, onde a média não atingiu 10% das recomendações diárias. Essa ingesta deficiente não ocorre somente com pacientes submetidos a gastroplastia, e sim é uma deficiência comumente referida em uma série de trabalhos, como por exemplo, o estudo onde todos os nutrientes foram avaliados a partir de hábitos alimentares de crianças do Sul da África, e onde somente a biotina e vitamina D estavam abaixo da RDA (67%), na faixa dos quatro aos seis anos (MACKEOWN ; CLEATON-JONES ; EDWARDS ; TURGEON-O'BRIEN , 1998).

Da mesma forma outro estudo demonstrou que a biotina consumida nos Estados Unida tem sido em torno de 28 a 42 mcg/dia e na Europa entre 50 e 100 mcg/dia . (SHILS,1994)

Percebe-se que nesse caso somente a Europa tem um consumo mais próximo do adequado ou recomendado.

Não somente a ingesta de biotina é importante, como também a quantidade de fibra na dieta. Um estudo formulou uma dieta sem biotina e celulose, e outra com biotina e ou celulose. Ratos alimentados com a dieta sem biotina e sem fibra apresentaram valores de hemoglobina e hematócrito significativamente menores que os alimentados com a outra dieta. O estudo sugeriu que as vitaminas que podem ser sintetizadas endogenamente tendem a ser influenciadas pela fibra da dieta.(RADER ; WOLNIK ; GASTON ; FRICKE ; FOX , 1986)

A ingesta de fibra da dieta dos pacientes pós gastroplastia demonstrou ser deficiente, atingindo em torno 41,5% de adequação, o que pode contribuir ainda mais na deficiência de biotina.

Outra característica que precisa ser considerada são as condições da flora intestinal, como sugerido no estudo onde se concluiu que a deficiência de biotina pode ocorrer em adultos quando não é suficiente a ingesta dessa vitamina e quando a biossíntese pela flora intestinal está comprometida (INNIS; ALLARDYCE, 1983).

Portanto, a suplementação de biotina é indicada nos casos de alopecia pós gastroplastia redutora, considerando que através da reposição houve melhora de sintomas em 100% dos pacientes. A suplementação de biotina tem resultados rápidos e efetivos, conforme estudo onde a deficiência de biotina foi associada com nutrição parenteral total. Foram tratados com sucesso pacientes que desenvolveram deficiência de biotina, cujos sintomas foram alopecia total, hipotonia e atraso no crescimento (MOCK; BASWELL; BAKER HOLMAN; SWEETMAN, 1985).

Da mesma forma outro estudo, onde paciente com Síndrome do Intestino Curto, após 6 meses de suporte com nutrição parenteral domiciliar, desenvolveu deficiência de biotina com completa queda de cabelo, dermatite eczematosa, palidez de cera, letargia e hiperestesia.Foi feita suplementação com 10 mg/dia de biotina, e após 3 semanas os níveis séricos de biotina eram de 650 pg/ml (normal 520 +/- 220 pg/ml) e o crescimento de novo cabelo já era percebido, assim como todos os outros sintomas regrediram (KHALIDI; WESLEY; THOENE; WHITEHOUSE; BAKER, 1984).

Mesmo sendo rara a deficiência de biotina, à medida que existam fatores que comprometam a oferta dessa biotina para o organismo, seja de uma forma direta (pela deficiência na ingesta), seja de forma indireta (pela deficiência na ingesta de fibras e sua síntese), a suplementação é bem indicada e pode passar a fazer parte do protocolo pós-cirúrgico de gastroplastia com bypass intestinal. A reposição de biotina, bem como de todos os outros nutrientes envolvidos, pode ser inserida como prevenção em torno do 4º mês de pós-cirúrgico, desde que, evidentemente, a análise química individual demonstre essa necessidade, assim como foi demonstrado nos resultados desse trabalho.

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