O dia vinte seis de janeiro de dois mil e treze amanheceu bonito. Era um sábado que estava destinado a se tornar inesquecível, recheado de lembranças das mais  dolorosas na história da querida cidade. Uma brisa  fresca  pairava sobre a cidade coração do Rio Grande do  Sul.O que estava reservado para acontecer naquele dia haveria de marcar,sim marcar com marcas profundas as vidas de seus habitantes e de cidades circunvizinhas. Suas ruas e seu  famoso calçadão,lugar de confraternizações e encontros  dos habitantes da próspera capital da cultura gaúcha,estavam movimentados,era como se uma grande festa de despedida de alguém muito especial estivesse sendo preparada.Centenas de jovens,oriundos das mais diversas cidades da região  passeavam de um lado para outro,as expectativas de uma confraternização a noite na danceteria Kiss era o assunto do momento.Como é comum nestas situações a algazarra inevitavelmente é grande,toda cidade participa.Os jovens representam os sonhos de muitas famílias,neles estão depositadas as esperanças de seus pais em verem-nos formados,felizes e vitoriosos pela vida afora.Porém,naquele sábado havia algo de diferente no ar,um misto de alegria e tristeza podia ser sentido em muitos lares.Ninguém havia dito nada,más podia se sentir.Era como se uma voz do além avisasse a todos que as comemorações deveriam ser feitas em casa. A noite chegou bem depressa, muitos deles começaram a chegar ao clube antes da hora.Enquanto esperavam as portas se abrirem conversavam, riam,namoravam,brincavam e discutiam suas dificuldades nos cursos que faziam.Podia se ver a alegria em cada semblante. Ali estavam jovens bonitos, sonhadores, idealistas e dedicados aos estudos ,futuros profissionais que certamente ajudariam nossa nação ir cada vez melhor. A medida que o tempo passava, aumentavam as expectativas de uma noite feliz,com muita bebida,danças e namoros.Ao abrir as portas já bem tarde da noite,a fila era imensa.Mais de mil pessoas se apressavam em ocupar o melhor espaço naquela sala mal iluminada  e dominada pelo barulho ensurdecedor da banda que estava se apresentando. Nas paredes  cartazes que demonstravam muito bem o que imperava naquele ambiente; figuras tétricas envoltas em chamas e musicas que falavam da morte de jovens...No transcorrer da festa, já com os ânimos bem acalorados os músicos  aproveitaram para  embelezar suas apresentações soltando fogos de artifício, o colorido era bonito,enfeitava o ambiente. Entretanto, alguma coisa saiu errada e uma faísca atingiu o teto onde eles estavam e um fogo desesperador tomou força espalhando-se rapidamente por todo teto do imenso salão de festas. A fiação entrou em curto, a escuridão tomou conta de tudo, e o desespero daquela turba de jovens foi inevitável, uns corriam para os banheiros tateando na escuridão, outros desesperados se dirigiam as portas da frente, até então fechadas por ordem dos seguranças, a fumaça tóxica dominando tudo, foi ai que o pior aconteceu, na ânsia de saírem para  fora  inúmeros  foram pisoteados até a morte, outros sem o ar puro da noite caíram intoxicados se debatendo até que a vida lhes desaparecesse por completo.Quando as equipes de apoio e resgate chegaram o mal maior já tinha sido acontecido.Dezenas de   voluntários não medindo esforços entravam e saiam do clube carregando em seus braços colegas desmaiados ,os quais eram colocados na rua  para serem atendidos pelos médicos que por ali estivessem  e pelos  soldados do corpo de bombeiros.  Enquanto    tudo isto acontecia ,familiares e amigos das vítimas se aglomeravam apavorados na rua.  O desespero foi inenarrável, gritos, pedidos de socorro vinham de todos os lados, o tocar das sirenes despertavam  a cidade. Aviso fatídico da dor que se abatera sobre Santa Maria. Corpos e mais corpos eram colocados lado a lado nas calçadas, cada qual com as marcas do sofrimento daqueles momentos de terror. Centenas que sobreviveram, em estado de choque, incontrolavelmente choravam ,e junto com eles toda a nação, informada rapidamente pelos meios de comunicação.Os hospitais da região ficaram superlotados de jovens desmaiados, envenenados pelo gás tóxico liberado   pela queima  de tanto material inflamável. A noite voou, ficou interminável, o pranto, a  dor da perda, da frustração e da revolta marcaram muitas vidas naquela noite. Ao amanhecer do domingo, a cidade estava  atordoada, ninguém  sorria,ninguém cantava, os comércios fecharam suas portas, não se encontrava um semblante que não estivesse marcado pelo sofrimento,tamanha era dor e o desespero,Santa Maria chorava...e chorava muito.