Nas novelas da Globo ricos e pobres frequentam os mesmos ambientes e o mesmo espaço público. As famílias de milionários convivem com famílias de pobretões sem eira nem beira. É a democracia global, afinal; mas somos todos iguais em tudo na vida e como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, “morremos de morte igual, mesma morte Severina, que é a morte de que se morre, de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia...”.  Mas em verdade os seres humanos só se igualam mesmo é na morte, pois todos apodrecem da mesma forma, devorados pelos vermes. O que muda mesmo é o velório, a qualidade do caixão e o custo do evento, depois o resto é silêncio. Mesmo assim algumas igrejas prometem, a quem pagar em vida, um bom terreno no céu, próximo de Jesus, eternizando a divisão social da sociedade.

Essa história me faz recordar de um filme do Wood Allen em que um judeu, condenado à morte por crimes hediondos se converte ao catolicismo. Ao ser questionado por um parente, ele se desculpa alegando que no cristianismo tem pelo menos a chance da vida eterna, enquanto para os judeus, essa possibilidade não existe.

 Mas durante a vida somos mesmo divididos em classes, castas e estamentos sociais, usufruindo dos recursos da natureza em função do poder político, econômico, religioso ou institucional.

Mas existem histórias pitorescas sobre as relações de classe que são até engraçadas, caso não fossem quase trágicas. Contou-me um velho amigo músico e cantor que foi convidado por nada menos do que o José Ricardo Machline, herdeiro milionário, para participar de um espetáculo por ele produzido envolvendo a cantora Claudia. Lá foi ele à residência do produtor artístico para acertar os detalhes do evento. Na saída Machline pediu a ele uma carona. Meu amigo com um carro velho e caindo aos pedaços ficou numa tremenda saia justa, mas não se fez de rogado: “Bom se você não se incomodar em viajar em carro velho, tudo bem”. Machline disse que não haveria problemas e lá foram eles para a viagem. O carro era bem pior do que deveria ter pensado o milionário. Além de sujo e amassado nos quatro lados, a porta do lado do motorista não abria e ele foi obrigado a entrar pela porta do motorista, com todas as dificuldades que sua barriguinha de chope gerava. Mas foram em frente por alguns quilômetros, quando surgiu o primeiro imprevisto: o carro morreu em plena avenida e o carona foi convidado a dar uma forcinha, empurrando o calhambeque para que pudesse dar a partida.

Superado mais esse problema, foram em frente até serem parados por uma batida policial. Mais um pequeno problema: a licença estava vencida e não houve como convencer o policial que os dois tinham um compromisso urgente e que não poderiam esperar, coisa e tal. Resultado: o Machline agradeceu a carona e pegou o primeiro taxi que encontrou, enquanto meu amigo ficou esperando o guarda preencher o auto de infração e apreensão do veículo.

Enfim, as relações entre classes sociais distante existem, mas apenas no plano profissional, com o cabelereiro, o mecânico, o garçom, a empregada doméstica etc. No mais é pura ficção.