Resenha do Texto:  Utilizando o modelo do circuito finance-investimento-poupança-funding para explicar como a preferência pela liquidez dos bancos atua como um condicionante do investimento privado, e como a inexistência de um mercado de capitais profundo, com um amplo e volumoso mercado secundário para títulos securitizados (debêntures), cria uma tendência ao aumento da fragilidade de crises financeiras que interrompam a dinâmica de expansão do capital produtivo.

Natália Carolina Tavares Ribeiro

INTRODUÇÃO

A concepção de poupança tem sido objeto de discussão entre os economistas que se guiam pela ótica da teoria dos fundos emprestáveis e aqueles defensores do circuito-finance-investimento-renda-aplicações-funding.

Na visão neoclássica, a poupança é o diferencial entre a renda e consumo (Y-C =S). Como a renda (Y=C+I) é a soma do consumo e do investimento, tem-se por aritmética que a poupança é igual ao investimento (S=I). 

Em uma visão Keynesiana, entretanto, ao contrário do que defendia os neoclássicos, a sociedade não enriqueceria caso a população passasse a poupar mais (ou a consumir menos). Na verdade, um menor consumo diminuiria utilização da capacidade produtiva, desestimulando o investimento, obtendo consequentemente uma menor renda e emprego.

 A partir desta nova concepção, a definição de poupança financeira como saldo de aplicações financeiras diferencia-se em diversos aspectos da definição convencional de poupança.

O CIRCUITO FINANCE-INVESTIMENTO-RENDA-APLICAÇÕES FUNDING

A criação de liquidez representa a primeira fase do circuito monetário, e é representada de um lado pela concessão de empréstimos às empresas para cobrirem os custos de produção e por outro pelo lançamento de títulos e/ou ativos por estas empresas, no mercado de capitais.

A segunda fase do circuito consiste na utilização dos empréstimos recebidos, ou seja, no financiamento da produção.

O financiamento inicial (finance) é um empréstimo de capital de giro fornecido pelo crédito bancário e utilizado pelas empresas para o financiamento da produção. Sua fonte não é a despesa dos consumidores.

O financiamento final (funding) corresponde aos fundos que as empresas arrecadam com a venda de títulos e/ou bens, de forma a possibilitar às empresas o reembolso de dívidas aos bancos.

Os depósitos à vista, sob a ótica de poupança financeira, não representam renda não consumida e se multiplicam a partir do finance concedido para o capital de giro inicial do investimento. O excedente em circulação financia consumo e especulação (e não só investimento), descaracterizando-o como poupança.

A terceira e última fase do circuito é a do reembolso dos empréstimos. Neste estágio, o objetivo das empresas é quitar suas dívidas com os bancos.

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