RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
Por Grigorio Duarte Neto | 13/10/2013 | EducaçãoA Psicopedagogia, enquanto área de reflexão e ação sobre o trabalho pedagógico com foco nos fatores psicológicos do desenvolvimento e da aprendizagem, sem arriscar uma conceituação, planeja contribuir para que o sujeito, a escola ou a sociedade seja afiançada dentro de seus processos de aprendizagem.
Sendo assim, busca primeiro realizar uma observação e uma análise do sintoma no âmbito mais global.
Com um enfoque mais preventivo de atuação, a Psicopedagogia Institucional trabalha no sentido de cuidar com que os problemas de aprendizagem sejam prevenidos, ou seja, antes que aconteçam, ocorra uma ação psicopedagógica, embora o ponto de partida seja a queixa.
Na UEB Girassol, como escola que atende a crianças na faixa etária dos 4 e 5 anos, pré-escolar (Educação Infantil I e II), este trabalho fez-se necessário.
2. PSICOLOGIA INSTITUCIONAL
2.1. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
A Unidade de Educação Básica Girassol funciona com três salas de aula, abrangendo o atendimento à creche e à pré-escola, contando com três profissionais para as atividades-meio e seis professoras, dentre as quais, uma única não é graduada em Pedagogia, licenciatura. Sua infraestrutura física ou infraestrutura é de pequeno porte, contando com o apoio de uma supervisora escolar que atende ao polo, composto de 5 escolas.
É situada na Avenida Principal, nº 16, Bairro Parque Nova Vida, CEP: 65130-000, município Paço do Lumiar-MA; inscrita sob o número CNPJ: 13.076.952/0001-30.
2.2. REGISTRO DA QUEIXA
A escola contou com uma sala de aula que tem como professora V., que segundo a mesma, os alunos já estavam desmotivados pelo fato de a energia elétrica da escola ter sido cortada. Assim, a queixa chegou da seguinte maneira: “A escola, desde início de agosto que está sem luz. Não sabemos nem como trabalhar com estes alunos assim, as atividades programadas ficam sem ser feitas mesmo porque eles precisam escrever, anotar e concretizar as atividades”.
2.2.1. ELABORAÇÃO DO PRIMEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES
- A professora da referida sala de aula sente-se insegura diante de atividades extraclasse que possam envolver outras tarefas que não sejam as que envolvem a rotina diária.
- A falta de um espaço onde as crianças, de pré-escola (Educação Infantil II), possam, além de brincar e trabalhar o faz de conta, a linguagem oral e escrita, prejudica o andamento das atividades.
2.3. REGISTRO DESCRITIVO DOS ENCONTROS REALIZADOS
2.3.1. Autorização e entrega da carta de aceite à gestora da escola
Esse momento (dia 08/10/2012) foi de importância, pois foi o início dos contatos com a escola através da gestora. Ela me acolheu muito bem e informou que estaria se dispondo a ajudar no que fosse necessário para que o estágio se concretizasse. A gestora apontou de início as prioridades que, dentre as demais, uma foi selecionada.
2.3.2. Conversa com a professora regente e registro da queixa ou Entrevista para exposição de motivos
Agora (dia 10/12/2012), ficamos após os horários das aulas na sala de secretaria para conversarmos sobre o que seria feito em termos de avaliação psicopedagógica e registrar a queixa preponderante sobre as causas da dificuldade de aprendizagem.
A professora regente foi atendida, logo após, em sua própria sala de aula, onde facilitou o entendimento da queixa através de suas respostas. Foi uma conversa aberta, na verdade, buscando problematizar a questão, que era também de cunho sociopolítico, pelo fato de, além de atraso de salários aos servidores contratados, a escola passava por mais esta dificuldade, a falta de iluminação e, por consequência, sem água gelada para fazer o lanche das crianças.
2.3.3. Observação e análise do sintoma
No momento (dia 11/12/2012), fiz a observação de uma aula realizada com a professora V. e os alunos. Busquei ser o mais imparcial possível, mas como sabemos, o sujeito não pode separar-se totalmente do objeto pesquisado, conforme Pierre Weil (http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-45.htm; pesquisado dia 26/12/2012) o sujeito não separa-se totalmente do objeto de pesquisa numa concepção dialética de ciência.
2.3.4. EOCMEA (Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino-Aprendizagem)
Neste momento (dia 17/12/2012), enfatizei com a professora da classe os conteúdos que necessitariam ser ensinados diferenciadamente, já que o espaço físico da sala encontrava-se sem luz.
Primeiro, levamos os alunos para um espaço disponível perto da cantina e lá aproveitamos para aplicar a EOCMEA, esclarecendo mais sobre a situação em que se encontrava o andamento do trabalho pedagógico na sala de aula, buscando saber o que os alunos já sabiam, deixando de lado o que não sabiam, por alguns desenhos e outras produções expostas na sala durante esta sessão para aplicação de uma dinâmica de grupo para a próxima.
2.3.5. Aplicação de Dinâmica de Grupo na Sala de Aula
O momento foi com descontração misturada com responsabilidade de operar sobre a aprendizagem da sala de aula como um todo (dia 18/12/2012). Inicialmente resolvemos perguntar aos alunos o que eles pensavam sobre minha presença ali na sala e logo responderam que era para eu ajudá-los nas atividades (estas, entendidas como de escrita). Propus o jogo do jornal, descrito da seguinte forma:
Primeiro pede-se para os alunos formarem grupos de 4 alunos cada. Em seguida, cada grupo pega um jornal grande. Afastam-se as carteiras para que os alunos possam ter um espaço maior. Começa-se parecendo uma corridinha, mas a cada jornal ultrapassado, retira-o e vai-se para o próximo jornal. A dinâmica tinha por principal objetivo observar os grupos e seus líderes (de mudança e resistência), os outros integrantes, bem como a possibilidade de operatividade perante as dificuldades de aprendizagem no grupo e do grupo.
2.3.6. Análise do projeto político-pedagógico da escola
Neste dia, 22/12/2012, pedi para que a gestora me apresentasse o projeto político-pedagógico para que eu efetuasse uma síntese. O PPP possui elementos que condizem com uma educação de concepção pedagógica interacionista, porém pelo observado, a prática pedagógica não era condizente com o disposto, visto que o espaço, na visão da professora, não colabora, os materiais didáticos utilizados não possibilitam a experimentação por parte das crianças, as atividades escritas e de leitura são pré-definidas e pré-determinadas pelo livro didático.
2.3.7. Elaboração dos últimos sitemas de hipóteses e do informe psicopedagógico
Como combinado (dia 24/12/2012), a gestora sentou-se ao meu lado para que discutíssemos sobre as últimas hipóteses a serem elaboradas para posterior repasse às professoras durante uma reunião pedagógica.
2.3.8. Devolutiva à escola
Descritas no item 2.7 (25/12/2012).
2.4. PARECER PSICOPEDAGÓGICO
Diante do exposto, observamos que a aprendizagem das crianças da turma da professora V. estavam tolhidas, sentindo-se como corpos-cadernos, alienados pelas cabeças-livros (segundo, Fernández, 1991; p. 63) da organização sociopolítica e pedagógica da instituição de ensino em que se encontram, quase impossibilitados de usar o corpo criativamente na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Desta feita, ficou assim, elaborada a hipótese final da avaliação psicopedagógica institucional:
- A professora, por encontrar-se imersa nas dificuldades do atraso de salário, desmotivada para o trabalho criativo junto aos alunos, além de deparar-se com a infraestrutura física da escola, com falta de energia elétrica e água, não conseguia estabelecer um distanciamento do problema principal.
2.5. INFORME PSICOPEDAGÓGICO
A UEB Girassol, por apresentar todas as salas de aula em problema infraestrutural de falta de energia elétrica e falta de água para fazer o lanche dos alunos, possibilitou-me selecionar uma para o estudo e avaliação. Para que a pesquisa fosse realizada, foram escolhidos os seguintes instrumentos:
- Observação em sala de aula.
- Aplicação de Dinâmica de grupo.
- Conversa com a professora regente.
- EOCMEA
Não deixando de ressaltar que este instrumento foi referenciado no modelo de EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) proposta por Visca e, segundo Carlberg apud Calderari Oliveira, esta entrevista:
“prevê uma aproximação ao objeto de estudo de maneira a perceber o que o grupo sabe, e não simplesmente o que o grupo não sabe. Este saber é relativo à operatividade do grupo. Objetiva, portanto, pesquisar a dinâmica (o que o corpo fala), a temática (o que é verbalizado) e o produto”. (Oliveira, 2009; p. 73).
Por meio destes instrumentos, podemos concluir que a escola por passar por estas dificuldades quanto à falta de energia elétrica, mas não só isso, o receio do novo, a proposta de trabalho no cantinho perto da cantina, fora de sala de aula.
Diante disso, elaboramos algumas indicações e orientações:
- Que a equipe gestora busque junte aos órgãos responsáveis, a SEMED (Secretaria Municipal de Educação) a ligação da energia, por intermédio da CEMAR (Companhia Energética do Maranhão).
- Maior flexibilização do currículo proposto através do uso exploratório dos espaços da escola com as crianças, já que se trata de Educação Infantil.
2.6. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Do exposto, temos que a intervenção é o momento que contextualiza o processo corretor e imprime a mudança na situação inicial. Propomos o seguinte conjunto de situações:
- Que se trabalhe mais o lúdico, focado no uso do corpo dos alunos, principalmente nas aulas de Recreação e Jogos.
- Que se explorem mais os materiais escritos para leitura, por conta da falta de espaço físico adequado, principalmente os mais ricos em ilustrações.
- Trabalhar recortes e colagens para confecção de minilivros para compor o pequeno acervo da classe (produção própria de histórias dos alunos, podendo ter a professora como escriba).
2.7. DEVOLUTIVA À ESCOLA
Após a análise dos estudos por meio dos instrumentos de diagnóstico, foi fornecida a devolutiva à diretora da escola, por escrito e verbalizada, por meio de uma conversa franca. Busquei com isso, que a gestora não se sentisse constrangida, mas em tom de reconquista de um trabalho de qualidade na escola, pudesse analisar junto ao corpo docente, tanto as práticas quanto a mudança no uso do espaço físico da escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicopedagogia é um campo de estudo e intervenção na aprendizagem do ujeito, tendo a escola e a família como referências e não deixando de estabelecer uma conexão com a ideologia na sociedade. O trabalho, espera-se, contribuirá tanto para esta visão abrangente sobre o processo de aprendizagem institucional, quanto referenciará a intervenção por parte da escola.
ANEXOS
QUESTIONÁRIO PARA A PROFESSORA DA TURMA PESQUISADA/DIAGNOSTICADA NA UNIDADE DE ENSINO.
Sou estagiário do curso de especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e conto com sua colaboração para responder a esta entrevista semiestruturada, pois suas opiniões e sugestões são de grande importância para este Estágio Institucional na Prática Psicopedagógica. Certo de sua colaboração, de já agradeço às respostas.
A estrutura física e pedagógica da escola possibilita o bom desenvolvimento do trabalho docente?
Não. A escola ainda necessita se organizar tanto em seu corpo técnico-pedagógico, em caso de atribuições bem definidas, quanto conseguir mais material permanente para uso em sala de aula e atividades extraclasse.
Existe um sistema de apoio pedagógico para o aluno com menor rendimento, mesmo em se tratando de Educação Infantil II?
Desenvolver um sistema pedagógico é resultado de trabalhos como aulas de reforço, visitas às famílias, aconselhamentos e outras tarefas que não vem sendo feitas nesta escola, justamente pela falta de mão de obra, recursos humanos.
Como você trabalha pedagogicamente com a interdisciplinaridade?
A partir da leitura de um texto gerador. Leio em voz alta para os alunos, e vou trabalhando os conteúdos das áreas correlatas e da Matemática e Ciências, por exemplo.
Enquanto professora, acredita estar contribuindo para que o aluno tenha melhores possibilidades de aprendizagem no Ensino Fundamental, mesmo sabendo que a Educação Infantil promove automaticamente?
No possível, sim. Mesmo sem recursos materiais, com o compromisso social que tenho através de meu trabalho, sem faltas, direcionando melhor as atividades de ensino, dando o meu melhor.
O que a escola tem feito no sentido de explorar melhor os espaços para que as crianças brinquem e estudem?
O recreio dirigido.
Como a escola trabalha o aspecto afetivo, envolvendo o trabalho com o lúdico?
Através da pequena brinquedoteca, com humildes instalações.
REFERÊNCIAS
FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada; tradução Iara Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1991.
http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-45.htm; (pesquisado dia 26/12/2012).
OLIVEIRA, Mari Ângela Calderari. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba: IBPEX, 2009.
Conteúdo revisado e atualizado pela última vez em 01/12/2022.