INTRODUÇÃO

As dificuldades de leitura em alunos de escolas públicas vêm sendo objeto de análise dos educadores brasileiros no intuito de identificar as causas e encontrar caminhos que venham modificar esta realidade. Alguns pesquisadores apontam as fragilidades do sistema educacional existentes no país, tais como: superficialidade, excesso de conteúdo, alunos em sala de aula, o pouco cuidado com a linguagem, práticas metodológicas e avaliativas inadequadas, pouca ou nenhuma formação do professor.

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Este é um fato grave, por isso, é necessário que os educadores estejam aptos a enfrentar a tamanha responsabilidade em que se desenvolve o processo de leitura e escrita nos alunos, para que muitos alunos não sintam tantas dificuldades em assimilar o processo da lecto-escrita, podendo ocorrer muitas vezes o não gostar de ler, devido ao mau direcionamento das atividades escolares por parte dos educadores.

O Trabalho Pedagógico que vem sendo realizado no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ? PETI tem mostrado que muitos alunos das escolas públicas são prejudicados por não saber ler e escrever fluentemente. As crianças aprendem a decodificar e a codificar as letras e os sons sem produzir sentido em determinadas atividades, com isso, não conseguem dar conta da leitura e da produção de textos socialmente legitimados.

A leitura não deve ser olhada como um ato mecânico de repetir letras, palavras e frases, em que os alunos apenas decoraram os símbolos lingüísticos sem entender os seus significados, sendo que muito dos professores não entendem que a leitura é um processo de decifração e decodificação que envolve diversos fatores. Segundo Ferreiro (1998), existe uma série de aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos que envolvem a aquisição da leitura que devem ser trabalhados fazendo com que a criança supere o processo de leitura e escrita com sucesso.

Para que o indivíduo evolua e assimile os novos conhecimentos no processo de leitura, escrita, interpretação e produção textual é preciso que a prática docente tenha significado para que facilite o desenvolvimento dos alunos que dentro desse prisma é um ser essencialmente ativo. No entanto, o que se pode notar é que esse processo vem sendo desenvolvido de forma equivocada por muitos educadores que passam por cima das dificuldades dos alunos, sem promover meios para superá-los.

Infelizmente está sendo comum, em muitas instituições públicas alunos chegarem ao final do Ensino Fundamental I sem saber ler, escrever, formar sílabas/palavras, com dificuldades em fazer interpretações de um pequeno texto lido, favorecendo o fracasso e levando muitas vezes até a evasão escolar. Muitas das dificuldades dos alunos estão relacionadas com a maneira com que os professores, vêm trabalhando em sala de aula, como a disciplina de Língua Portuguesa vem sendo desenvolvido no decorrer do ano letivo.

Esta problemática relativa ao fracasso da leitura e escrita é historicamente constituída ao longo dos séculos no Brasil. Segundo Silva (2007), de acordo com o IBGE do ano de 2003, há no Brasil 11,6% de analfabetos considerando pessoas de quinze anos de idade ou mais. Uma realidade que merece ser discutida e debatida no meio educacional.

Portanto, este Projeto será aplicado nos núcleos/ bairros do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, com atividades envolvendo os diferentes tipos de textos que estão presentes no nosso cotidiano, além de produções textuais no intuito de ajudar os assistidos a desenvolver sua capacidade de compreender o processo da lecto-escrita.

2 Base Teórica

A leitura é um processo de ligação entre o texto e o leitor. Ela deve ser compreendida como um ato social entre o leitor e o autor se envolvendo num processo interativo, relevante para um pleno conhecimento em todos os aspectos cognitivos. Assim os domínios de conhecimento (lingüístico, o pedagógico e o social) estão integrados. Segundo Kleiman (apud, SOUZA, 2004, p.61).

[...] o leitor constrói, e não apenas recebe um significado global para o texto; ele procura pistas formais, antecipa essas pistas, formula e reformula hipótese, aceita ou rejeita conclusões. Contudo, não há reciprocidade com a ação do autor, que busca essencialmente a adesão do leitor, apresentando para isso, da melhor maneira possível, os melhores argumentos, a evidência mais convincente de forma mais clara possível, organizando e deixando no texto pistas formais a fim de facilitar a consecução de seu objetivo.

A leitura não deve se fechar simplesmente ao caráter teórico, pois levará o aluno a ter uma leitura apenas mecânica, mas ela deve ser feita com um olhar crítico interrelacionando com outras leituras feitas anteriormente e com o seu cotidiano. Conforme Orlandi (1999), isso mostra como a leitura pode ser um processo bastante complexo e que envolve muito mais do que habilidades que se resolvem no imediatismo da ação de ler. Saber ler é saber que o texto diz e o que ele não diz, mas o constitui significamente.

Muitas das dificuldades na compreensão de se entender um texto não está somente ligado ao desconhecimento do significado dos códigos lingüísticos ou de algum dado do texto, mas sim ao fato de não perceber e fazer a relação existente entre diferentes partes de um mesmo texto com o todo. Por isso há uma necessidade de si trabalhar de forma significativa as diferentes características peculiares nas diferentes tipologias textuais.

Não existe uma tipologia única, sistemática e explícita, ao contrário podemos encontrar diversidades de classificações que levam em conta os diferentes critérios como a linguagem, a intencionalidade e estrutura, dentre outros. É necessário estabelecer e trabalhar as tipologias textuais de forma clara e concisa, obedecendo, fundamentalmente a intenção de facilitar a produção e a interpretação de todos os textos que circulam o ambiente social, sendo de uso freqüente do cotidiano.

Segundo Kaufman (1991) dentro da tipologia é possível destacar os Textos Literários (contos, novela, obra teatral, poema); Jornalísticos (notícia, artigo de opinião, reportagem, entrevista); Informação científica (definição, nota de enciclopédia, relato de experimento científico, monografia, biografia, relato histórico), Textos instrucionais (receita, instrutivo), Epistolares (carta, solicitação), Humorísticos (história em quadrinhos), Publicitários (aviso, folheto, cartaz).

Para essa autora, os textos enquanto unidades comunicativas manifestam diferentes intenções e significações do emissor; procura informar, convencer, seduzir, entreter, sugerir estados de ânimos, dialogar com o leitor, permitindo aperfeiçoá-lo aproveitando o máximo suas possibilidades, ou seja, uma via efetiva para melhorar a competência comunicativa das diversidades dos textos.

É importante ressaltar que a fala e a escrita não são os únicos sistemas de comunicação entre o indivíduo e o mundo, pois toda representação é uma imagem que codifica o universo real. O homem vivencia em seu cotidiano diferentes formas de linguagem. No campo simbólico essas formas de linguagem não se dão apenas por uma via ? a verbal -, mas também com a não-verbal, que é dada através de signos, como por exemplo, gravuras e ruídos, ou seja, de um olhar tátil, e a escola atualmente não tem dado muita relevância a esta forma de lingüística para trabalhar a capacidade de entendimento do indivíduo.

Conforme Ferrara (1991), o texto não-verbal é uma linguagem; a leitura não-verbal firma-se também como linguagem, na medida em que evidencia o texto através do conhecimento que a partir dele e sobre ele é capaz de produzir, ou seja, é uma linguagem de linguagem. Diante disso, o texto não-verbal apresenta diluído no cotidiano, espalhando-se em escolas macro pela cidade e incorporando as decorrências de todas as suas micro-linguagens como a paisagem, a urbanização, a arquitetura, o desenho industrial ambiental, a comunicação visual, a publicidade etc., ou seja, uma maneira peculiar de ler o mundo, uma visão-leitura, que estão incorporadas à realidade.

Para tanto, ao considerar a linguagem não somente como uma mera transmissão de informação, e sim, como mediadora entre o indivíduo e sua realidade natural e social, a leitura verbal e não-verbal deve ser considerada no aspecto mais propício, que não é o de mera decodificação, mas o da compreensão.

3 Descrição do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil- PETI

O Projeto: "Nas asas da leitura" será aplicado no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), criado pelo Governo Federal e executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, faz parte de um conjunto de políticas públicas, cujo objetivo principal é oferecer e atender crianças e adolescentes com idade entre 6 a 15 anos de idade, exceto em condições de aprendiz a partir de 14 anos. O PETI tem como proposta principal erradicar todas as formas de trabalho consideradas como precoce, ou seja, aquelas que colocam em risco a saúde e a segurança desse público.

No Município de Jequié, o Programa é composto por sete Jornadas Ampliadas (unidades/espaços onde funcionam as atividades de cunho socioeducativo para crianças e adolescentes), distribuídos em bairros, alguns destes considerados periféricos, como: Cidade Nova, Curral Novo, Jequiezinho, Joaquim Romão, Mandacaru, Pau Ferro e São Judas Tadeu. Visando incentivar e ampliar o universo de conhecimentos dos assistidos com o oferecimento de atividades de cunho sócio-educativos em todas as jornadas ampliadas, tais como, atividades esportivas, reforço escolar, atividade de lazer e recreativa, atividades culturais, atividades artísticas, atividades de construção da cidadania, etc.

O PETI é norteado por três eixos básicos segundo rege a cartilha (2004), a educação (escola), a jornada ampliada e o trabalho com as famílias. O programa deve intervir junto às famílias na permanência e no sucesso das crianças e dos adolescentes na escola, inserindo no seu dia-a-dia as questões sociais em um universo cultural amplo. A escola nesse sentido tem o papel fundamental de criar formas que permitam avaliar e ampliar o universo das crianças e dos adolescentes, especificamente no que se refere ao desenvolvimento da lecto-escrita, antes, durante e depois do ingresso no PETI.

4 Problemática

O Projeto: "Nas asas da leitura" surgiu a partir da minha experiência enquanto Coordenadora Pedagógica do PETI, nas orientações e avaliações feitas durante os planejamentos com os monitores, e principalmente da necessidade que encontra a maioria dos assistidos do Programa, que se encontra em diferentes níveis da lecto-escrita.

Segundo as monitoras, os assistidos apresentam muitas dificuldades nas atividades que envolvam a leitura, a escrita e a interpretação de pequenos textos durante as atividades que são planejadas para aulas. Dessa forma, é possível percebermos a necessidade de um trabalho pedagógico voltado para leitura.

Acreditamos que a leitura tem um papel importante na nossa vida, que é através dela que organizamos nossas idéias e nos fazemos criar, recriar visões de mundo, assim à contribuição central do nosso projeto é que os alunos percebam essa importância de forma prazerosa e interativa.

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