Não tem imitação brasileira dos norte-americanos pior do que essa tal de primeira dama. Aqui no Brasil virou um cargo, um título quase de nobreza.  O pior é que fomos mais longe inventamos a primeira dama nos estados e municípios. Não se diz a mulher do presidente ou a mulher do governador ou prefeito. E depois do mandato, vira a ex-primeira dama. Quando será que os jornalistas vão aprender que não existe a chapa: presidente e primeira dama. Quando a Dilma foi eleita e sendo divorciada chegaram a criar a figura da primeira (e única) filha. Se ela tivesse mais filhos, lá viriam: primeiro, segundo ou terceiro filho. Quanta bobagem. Pasmem que cheguei a ouvir pelo radio uma discussão se uma presidente casada teria o primeiro marido ou primeiro “damo”. Nos tempos de faculdade, tendo sido eleito presidente do diretório acadêmico, a minha musa foi chamada, maldosamente, de primeira dama estudantil. Porém, na época ninguém levava a sério essas coisas e, felizmente, não pegou.

Mas a Dilma foi mais longe, impondo o termo presidenta e como tudo que é impositivo acaba sendo boicotado e  virou chacota. O termo em si, segundo gramáticos conceituados, não é de todo errado, pois existe essa flexão na língua. Os dicionários Houaiss e Aurélio o contemplam.  Mas a imprensa de um modo geral não gostou e não adotou, ficando o termo restrito aos partidários da primeira mulher presidente.

A antropóloga e professora Ruth Cardoso foi a primeira mulher de presidente que demonstrou ojeriza pelo termo e procurou se afastar dos holofotes, refugiando-se no  trabalho de incentivadora das organizações não governamentais (ONGs). As demais, talvez por falta de uma vida independente, assumiram esse papel, fazendo as campanhas para o Natal das crianças pobres, como se crianças pobres só precisam de Natal e o resto do ano que se danem.

Nos EUA, berço dessa coisa estranha, chamada primeira dama ou first lady, estavam todos ansiosos para saber como se chamaria o marido da presidente. Alguns arriscavam como o primeiro cavalheiro, mas dizer que o Clinton seria um cavalheiro depois de ter seduzido a estagiária, não iria pegar. Talvez o primeiro macho ficasse melhor, mesmo soando um tanto grotesco e machista. Essa alternativa também não faria sentido, pois todos sabem que o casal não compartilha mais os mesmos lençóis depois do episódio Monica, mantendo o casamento formal em razão dos interesses políticos e financeiros da família. Como os americanos não quiseram imitar os países subdesenvolvidos que elegeram mulheres presidentes, optaram pelo machista e cafajeste Trump, renegando um passado de lutas feministas. A grande verdade é que a Hilary, ao perdoar publicamente o marido prevaricador, perdeu pontos entre suas compatriotas.

Com a subida do vice ao poder, graças ao imponderável da política, temos agora uma “primeira dama”, recatada e do lar, conforme grafou ridiculamente um jornalista. Mas a moça, poderia se chamar também da primeira cuidadora, pois a diferença de idade entre os dois é cavalar e caso o casamento seja duradouro, possivelmente trocará as fraldas geriátricas do marido.

Para resolver esse problema, incluindo a questão do nepotismo, sugiro aos legisladores que obriguem o presidente ou a presidente, a se licenciarem do casamento durante o mandato. Penso que seria mais produtivo para ambos, pois evitaria a chatice de acompanhar o cônjuge nas viagens protocolares e eventos oficiais