PENSANDO A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Por Lúcia de Jesus David Dias Corrêa | 20/11/2012 | Educação

PENSANDO A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Dado as ocorrências de violência presenciadas nos dias atuais em toda e qualquer sociedade leva-nos a refletir como está o trabalho pedagógico em escolas quanto a este tema. Para iniciarmos a reflexão tomemos como base o texto “Raízes orgânicas e sociais da violência urbana” de Draúzio Varella. O referido autor faz uma breve retrospectiva histórica sobre o desenvolvimento do conceito sobre a violência, bem como, a maneira como os estudiosos a definiram desde a sua origem até os dias atuais.

Segundo Varella (2011) a violência urbana é

Uma enfermidade contagia. Embora acometa indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade, e de um país para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente, a mudança de fatores ambientais pode interferi em sua escalada (Varella, 2011, p. 1).

Varella (2011) comenta que o meio ambiente em que o ser humano vive é fundamental na determinação de atitudes positivas ou negativas, observando que as ações podem ser modeladas a partir de acontecimentos ocorridos na infância. Ressaltando que os fatores genéticos não condionam o comportamento futuro. Portanto, cabe aos responsáveis pela criança adotar medidas cautelosas sobre uma educação que possa levar a criança a desenvolver atitudes positivas, e consequentemente, tornar um cidadão crítico e idôneo perante a sociedade em que vive.

Varella (2011) comenta que a violência evoluiu muito pouco no decorrer do século XX. E que a explicação para o atraso no desenvolvimento de técnicas para tratar a violência está nos erros do passado. No século XVIII, a teoria ‘frenologia’ foi definida por Franz Gall, o qual afirmava que “a maioria das características humanas, inclusive o comportamento antissocial, seria regulada por regiões específicas do cérebro. Cada comportamento estaria sob o comando de um centro cerebral específico” (Varella, 2011, p. 2). Ou seja, Gall acreditava que os indivíduos com tendências criminosas seriam detectadas através de exames, pois estas pessoas deveriam apresentar depressões ósseas no crânio.

Com o passar dos anos, a frenologia ficou desacreditada, mas a observação de criminosos através da expressão física permaneceu, porque Cesare Lombroso determinou uma nova teoria estabelecendo relações entre as características físicas como o suposto caráter criminoso. O referido autor afirmava que “os tipos humanos com testa achada e assimetria ossos da face seriam criminosos potenciais” (Varella, 2011, p. 2)

Na década de 1949, Egas Muniz ganhou o Prêmio Nobel de Medicina pelo reconhecimento de introduzir lobotomia na prática médica. Na lobotomia “são seccionados os feixes nervosos que chegam e os que saem do lobo frontal localizado na parte anterior do cérebro, estrutura responsável ela tomada de decisões a partir das informações captadas pelos sentidos”. (Varella, 2011, p. 2). No entanto, com o passar do tempo a sociedade percebeu que a teoria lobotomia não tinha eficácia.

 A repercussão de mudança sobre a análise para saber se um indivíduo é criminoso através da fisionomia começa a mudar a patir da década de 1970. Quando os americanos investem em pesquisas com o intuito de conhecer o lado biológico da violência, uma vez que apesar da punição ser rigorosa mesmo assim a violência aumentava no país americano. Sendo assim, a partir de estudos científicos ficou comprovado que “o comportamento humano não se acha condicionado às características que herdamos de nossos pais. Ele é resultado de interações sutis entre genes, condições ambientais e experiências de vida” (Varella, 2011, p. 3).

Varella (2011) comenta que a tendência da criança reagir de forma violenta diante de situação adversa varia de uma criança para outra, observando as raízes pré-natais. Crianças cronicamente violentas frequentemente apresentam comportamento hiperativo, dificuldade de concentração na escoa, ansiedade, confusão mental, impulsividade, ideação fantasiosa e tendências autodestrutivas. Esses distúrbios emocionais se agravam quando essas crianças se agrupam com outras, portadoras de comportamentos semelhantes. De acordo com o autor, estima-se que 2% dos meninos e menos de 1% das meninas apresentam tais características.

Nessa perspectiva observa-se que Sposito (2001) estabelece relações entre violência e escola no Brasil, após as pesquisas realizadas na década de 80. Tal estudo traça um quadro importante do fenômeno no Brasil, mostrando as principais modalidades, as quais são: ações contra o patrimônio, depredações, pichações, formas de agressão interpessoal e entre os próprios alunos. Com efeito, os trabalhos analisados representam o fenômeno e oferecem informações importantes, capazes de caracterizar a violência escolar no Brasil.

Torna-se importante mencionar que Sposito pesquisou a dinâmica de funcionamento de escolas situadas em áreas sob a influência do tráfico de drogas ou do crime organizado e um pequeno conjunto, buscando atender o comportamento dos alunos como uma forma de sociabilidade marcada pelas agressões e pequenos delitos, que se origina na crise do processo civilizatório da sociedade contemporânea.

As unidades escolares precisaram ser protegidas, no seu cotidiano de elementos estranhos, os moradores dos bairros, atribuindo a eles a condição de marginais ou delinquentes. Nesse sentido, o poder público tentou responder ao clima de insegurança com algumas medidas, pois, o tema da segurança passa a predominar no debate público. Os eixos fortes que articulavam a discussão da escola pública em torno de uma desejada abertura democrática resultaram em algumas respostas referentes às seguintes medidas: policiamento nas áreas externas, zeladorias, muros, iluminação nas áreas externas e pátios escolares, grades em janelas, portões altos, etc.

Na década de 80 uma concepção de violência expressa nas ações de depredação do patrimônio público, e, a invasão dos prédios por adolescentes ou jovens moradores, aparentemente sem vínculo com a unidade escolar. Os problemas da violência nas escolas persistiram sob a forma de depredações contra os prédios, as invasões e ameaças a alunos e professores. Por conseguinte, nota-se que nos anos90, aviolência escolar passa a ser observada nas interações dos grupos de alunos, caracterizando um tipo de

sociabilidade entre os jovens com o mundo adulto, ampliando e tornando mais complexa a própria análise do fenômeno.

Algumas pesquisas sobre a violência escolar são produzidas por algumas organizações não-governamentais e entidades de profissionais da educação. Dentre esses se destaca a Unesco, que empreende, em parceria com várias instituições, pesquisa nacional sobre jovens no Brasil. A primeira pesquisa realizada pela Unesco com jovens de Brasília apontava que esses segmentos em situações de agressões físicas, discussões e ameaças ou intimidações no interior da escola. Desses três tipos de conduta, as mais frequentes incidiam sobre as discussões - quase 55% do total de entrevistados se envolviam com esse tipo de prática. As ameaças e intimidações envolviam 28% dos meninos e apenas 10% das meninas. As agressões físicas ocorriam em menor número, pois há porcentagens bastante elevadas de jovens que nunca se envolveram (72% dos jovens). (Waiselfisz, 1999, p. 62 apud Martins, 2009).

O único levantamento nacional que abordou o tema da violência escolar, publicado em 1998, foi decorrente da investigação realizada apenas com professores. Três tipos de situações foram identificados como os mais freqüentes: depredações, furtos ou roubos que atingem o patrimônio, as agressões físicas ente os alunos e as agressões de alunos contra os professores. Os índices dos estados quanto ao vandalismo, furtos e roubos, oscilam uma escala de 68% no Pará, na região norte, a 33% em Alagoas, na região nordeste. Aparentemente, não há correlação entre nível de desenvolvimento socioeconômico e determinado estado e os índices de depredação, mas a pesquisa verificou que os estabelecimentos de maior tamanho com mais de 2.200 alunos são os mais suscetíveis e essas práticas, acentuando-se aqueles que são localizados nas capitais.

As agressões a alunos dentro da escola são registradas pelos professores entrevistados, variando a intensidade por estado da federação. Os índices mais altos incidiram sobre o Distrito Federal (58,6%) e os menores sobre o estado de Goiás (8,5%). As agressões a professores no interior do estabelecimento são também registrados pelos sujeitos investigados, mas em menor númeroem Mato Grosso- é o Estado em que os professores relataram o maior número de agressões (33% de entrevistados) e o Rio de Janeiro (1,2%) apresenta os menores índices. Do mesmo modo, as práticas de agressões, tanto entre os alunos como contra os professores, são mais comuns nos estabelecimentos de grande porte e nas capitais. (Batista e El-Moor, 99, p. 151 – 153 apud Martins, 2009).

Embora os resultados sejam bastante fragmentários, é possível considerar que os anos 90 apontam mudanças no padrão da violência observada nas escolas públicas, atingindo não só os atos de vandalismo, que continuam a ocorrer, mas as práticas de agressões interpessoais, sobretudo, entre o público estudantil. Dentre estas últimas, as agressões verbais e ameaças são as mais freqüentes.

Para Sposito, a investigação desenvolvida pelo ILANUD – Instituto Latino Americano das Nações Unidas para prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente - em escolas públicas na cidade de São Paulo constitui uma das poucas iniciativas voltadas para essa questão. De modo geral, observa-se que, do total de alunos, as modalidades mais frequentes de vitimação foram o furto de objetivos de pequeno valor dento da escola (48,1% dos alunos), ameaça de agressão (36,5%), pertencentes danificados (33,1%) e agressão física por colega (4,61%).

À guisa de conclusão, observa-se que o breve panorama histórico da violência na escola apresentado nesse texto mostra-nos que a presença cotidiana de atos marcados pelas agressões verbais, embora para grande parte dos autores envolvidos, inclusive pais, o sentido da violência esteja eminentemente ligado a coação física. Cercados por um ambiente hostil, as unidades mantêm relações com os pais que tendem a se aproximar da escola e que buscam um lugar seguro para a educação de seus filhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

VARELLA, Dráuzio.

SILVA,Aida Maria Monteiro. EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA: qual o papel da escola? www.dhnet.org.br/inedex.htm, 2002

ZALUAR, Alba (org). Violência e educação. São Paulo, Cortez editora, 1992