Resumo:

O presente trabalho tem por finalidade discutir a atuação do pedagogo como educador social de rua, abordando principalmente suas práticas pedagógicas frente esta população em situação de abandono e sem expectativa de futuro. Procura definir Pedagogia Social (de Rua), a partir das práticas/ saberes do educador. Necessita-se de especialização nessa área, já que são poucos os autores que a abordam deve estar aberta a todos os que dela necessitarem, apreendida apenas como mais um instrumental, que dependerá da ética, compromisso e a favor de quem atua o sujeito que se reconhece educador de rua ou educador social (de rua e de outros espaços, públicos ou privados).

Como questão principal, analisaremos o trabalho pedagógico do educador social, considerando as dificuldades enfrentadas por se tratar de um público com peculiaridades próprias que devem ser respeitadas em todo o processo educativo.

Nesta perspectiva iremos discutir a atuação do educador na tentativa de emancipação de sujeitos em transformação social, abordando dois autores que discutem esta questão, visando uma maior compreensão para aqueles que atuam ou se interessam por esta questão pouco discutida, mas de grande relevância na formação do pedagogo. Em contra partida, refletir sobre o lado sombrio que desvaloriza e não reconhece o seu trabalho, por exercer uma pedagogia do inacabado, do educador como poeta da vida, anunciador de esperança, mediador da inclusão social destes sujeitos excluídos da sociedade.

Através deste artigo pretendemos obter como resultado a conscientização dos futuros profissionais da educação que desconhecem esta atuação do pedagogo e quando sim, desvalorizam por não possuírem embasamento teórico que a afirmem como prática pedagógica.

O artigo terá por base teórica principalmente Maria Stela S. Graciani, pois esta discute atuação do educador social, frente a esta nova concepção pedagógica, a Pedagogia Social de Rua, através de suas descobertas e anseios por uma pedagogia da emancipação do sujeito, embasada na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire.

Palavras – chaves: Inclusão; Educador Social; Pedagogia Social de Rua.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a prática pedagógica do educador social de rua e os seus enfrentamentos ao lidar com uma população fragilizada, desprovida de sonhos e por não possuírem pulsão de vida, tanto faz morrer ou viver, são sujeitos sem expectativa de futuro.

O educador tem um árduo trabalho pedagógico que é o de enfrentar os preconceitos da sociedade contra os meninos e meninas de rua. Essas crianças devem ser sentidas sempre, para não serem objetos de nossa banalização, por isso um educador social é um ser sendo profissional indignado, exigindo e fornecendo cuidados afetivos/ cognitivos.

A pedagogia social de rua como uma nova proposta pedagógica vem auxiliar e/ou demarcar a prática do educador de rua, porém não existem receitas prontas, pois a vivência será a grande aliada nesta trajetória que tem por objetivo final inserir o menor em situação de rua primeiramente a família e se não houver condições encaminhar aos serviços especializados (ONG´s, abrigos, casas de apoios e projetos que atuam nesta questão).

Visto que este tema vem sendo pouco abordado nas áreas educacionais e estes profissionais possuem poucos referencias teóricos para subsidiarem suas práticas acreditamos que este trabalho de reflexão trará ao educador social de rua significativa contribuição à sua prática nas ruas junto aos menores/ educandos.

PEDAGOGIA SOCIAL DE RUA: O EDUCADOR SOCIAL DE RUA EM QUESTÃO

  1. Pedagogia Social de rua

A Pedagogia Social de rua é um campo “saber e prático” da Educação e/ ou da Pedagogia. Trata-se de uma disciplina pedagógica, ou uma das ciências da Educação. A Educação refere-se a um plano mais geral onde se insere as pedagogias. Educar significa trazer à luz algo de dentro (que pode ter sido interiorizada) para fora, e esse algo é um saber – sentido ou não. Pedagogia se refere ao campo da intervenção do educador, a utilização de Didáticas (métodos e técnicas de ensino; conteúdos oficiais/ reais/ ocultos etc.; objetivos claramente estipulados etc.).

Conforme Graciani (2005), a Pedagogia Social de Rua apresenta características especiais, porque se destina a um público também especial e diferenciado, crianças e adolescentes que vivem em abandono e nos perigos da rua, parte deles são usuários de drogas e praticantes de atos infracionais, prostituídos, violentados moral e fisicamente, explorados, rejeitados pela família, pela sociedade, sem disciplina, sem limites e principalmente sem referencias (modelos positivos de conduta). Trata-se de uma pedagogia que busca despertar as potencialidades intrínsecas de emancipação dos menores  em situação de rua, reintegração deste através da família ou de instituições adequadas, onde possam reaprender o seu desenvolvimento como pessoa e como cidadão.

Nesse sentido, a Pedagogia Social de Rua é um trabalho, acima de tudo, de conquista e de afeto, que “permitirá a permanência dos meninos pelo ´desejo` de pertencerem, de serem considerados, de serem ouvidos de poderem expressar seus anseios e angustias” (GRACIANI, 2005 p. 195).

Os princípios pedagógicos balizadores dessa pedagogia Social de Rua segundo Graciani (2005) pressupõem coerência, pertinência e eficácia e são efetivados a partir da práxis, ou seja, acredita-se que os menores em situação de rua são sujeitos do processo educativo, favorece-lhes a construção crítica da realidade que vivenciam e dos compromissos que devem assumir consigo mesmo e com os educadores, com o objetivo de reconstruírem a sua própria trajetória de vida, de descobrirem as potencialidades de cada um com base no projeto pedagógico, de se criar um clima de confiança, dignidade e respeito.

Um dos objetivos fundamentais da pedagogia Social de Rua é exatamente o de estimular as os menores em situação de rua a discutirem, entenderem e aceitarem de forma digna, as regras e os limites necessários ao exercício da cidadania.

Para sua total efetivação a pedagogia Social de Rua, precisa de dois requisitos fundamentais: equipe interdisciplinar competente e flexibilidade pedagógica.

A pedagogia Social de Rua tem como prática pedagógica garantir principalmente o respeito à identidade cultural do menor em situação de rua, a partir da apropriação e da produção de conhecimentos relevantes e significativos para eles, de forma crítica, numa perspectiva de compreensão e transformação da realidade pessoal e social.

 

  1. Educador Social de Rua

As instituições escolares formais têm se revelado resistentes, pelo menos, para conquistar a maioria dos menores em situação de rua, pois mantém-se, muitas vezes, apenas como legitimadora da ideologia dominante, recusando inventar cotidianamente práticas educativas inclusivas. Diante do endurecimento da instituição escolar é que emerge esse tipo de Educação, que surge no social e na rua – uma sala de aula ampla e aberta a todas as angustias e alegrias de seus educando.

Assim, um educador social de rua deve compromissar-se politicamente pelos seus educando, desenvolvendo paixão/ prazer pelo ofício, com forte domínio de didáticas especiais aplicadas nessa situação de degradação social. Em um contexto do qual o pedagogo ainda não se apropriou totalmente, preferindo as salas de aulas de escolas, consideradas mais fáceis de trabalhar e controlar as indisciplinas, a Educação Social de Rua abre-se de modo frontal ao currículo real/ emergente e uma postura francamente política, e isso impõe resistências e enfrentamentos. Por isso, o autor mais resgatado para esse tipo de trabalho tem sido Paulo Freire, que (des) vela a existência mesma da relação, a esperança pedagógica e a denuncia da desumanização.

O educador de rua conforme Freire (1988) compromete-se com a população a estar com ela, retomando sua humanização, resgatando sua força organizacional enquanto categoria explorada, caminhando com a população para torná-la efetiva e transformadora e para estar inserido neste universo o educador deve abandonar os parâmetros ideológicos da classe dominante.

Como objetivo principal de sua ação é motivar os menores a abandonarem as ruas, é também realizada uma intervenção familiar, em que os educadores sociais orientam sobre os riscos que a situação de rua oferece e sobre a necessidade de manter as crianças e adolescentes em um ambiente familiar saudável. O educador social de rua deve, pois trabalhar em si a sua família e a família do outro e suportar as figuras parentais (pai/ mãe/ avô/ tio etc.) que antes de serem a representação social que diz que são, são de fato pessoas, de emoções e razões cheias de altos e baixos, alegres e tristes, inseguros, desempregados, tristes, agressivos, desesperados, alcoólatras, sem sonhos e sem expectativa de futuro de mudança. O educador social de rua deve aprender além de Psicologia do Desenvolvimento/ Aprendizagem, Relacionamentos de Ajuda, Clínica, Legislações, Ética, Estética, deve aprender a conhecer e sentir a família, resgatando dela aspectos negativos, mas principalmente os positivos, o sincero amor pelos filhos que pode aparecer nas relações trabalhada via escuta. E escutar significa calar a boca, observar o que acontece, inferir ou supor coisas que ali acontecem, capturar significados e detalhes. Ele é um profissional que trabalha frontalmente com a vida afetiva (sentimentos, emoções, desejos etc.) de si mesmo e do outro, e defende a posição de que é o afeto que conduz a vida cognitiva (pensamentos, raciocínios, modos de atentar-se e de memorizar intencionalmente, modos de solucionar problemas etc.).

No processo de construção de conhecimento que parte do educando, mas caminha na direção da superação e emancipação, o papel desempenhado pelo educador é fundamental. O educador, portanto deve valorizar o conhecimento do educando e se apropriar deste para firmar sua prática, sendo um processo de troca como afirma Freire “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, o homem se educa em comunhão” (FREIRE, 1988 p.28).

O Educador Social é um pesquisador e investigador, que tem por práxis o regate da confiança dos educando na vida em sua capacidade de aprender e se reerguer socialmente.

A pedagogia do oprimido de Freire (1987), que se mostra como educação libertadora, centra sua atenção na dimensão humana como prática de liberdade - o educador deve ser um provocador e desafiador do educando, trazendo estes para o palco central onde passa a ser o ator principal ou protagonista nos seus modos de ser sendo si mesmo no mundo. Tanto o educador quanto o educando devem envolver-se nesses e outros atos de rebeldia, oposição, inventividade etc. Os dois são sujeitos de si mesmos no mundo, e por isso impregnados da esperança que em nós residem, bem como da necessidade de se por para fora a consciência crítica, criando e recriando o conhecimento de si, do outro e do mundo.

O Educador Social de Rua é discriminado pela sociedade, pois é visto como sonhador, pratica algo que aos olhos dos que o rodeiam é impossível, inserir o menor em situação de rua na sociedade, passa por processos de resistência tanto pelos menores como pela sociedade, o primeiro por não acreditar na possibilidade de mudança e o segundo por não obter credibilidade em seu trabalho e subsídios que o sustente de forma adequada. Os Educadores trabalham na brecha de vida que escapa provocada pela possibilidade de existir para alguém que não desaparece, na proximidade e na percepção da subjetividade destes sujeitos. Não devem julgar estes sujeitos, mas sim fortalecer a possibilidade de serem sujeitos da sua história de vida.

 

Conclusões

Concluímos que a pedagogia Social de rua ainda é uma proposta muito nova na área educacional e ainda faltam fundamentações teóricas para embasá-la. Quanto ao educador social compreende uma diferente área de atuação do pedagogo, porém infelizmente não é valorizado e com isso sua prática é impedida e o desenvolvimento esperado não acontece.

Acreditamos que podemos mudar esta concepção e valorizar esta atuação do educador tão difícil quanto a prática nas salas de aulas convencionais, já que atuam com uma população fragilizada, maltratada, descriminada, que não possuem se quer um fio de esperança, com diversas barreiras a serem ultrapassadas, mas notamos que mediante a tantas dificuldades os educadores Sociais de Rua estão lutando durante tempos por um reconhecimento, por proposta pedagógica que os sustem e subsidiam sua prática mesmo que com certa timidez esta surgindo sendo nomeada como Pedagogia Social de Rua.

Esperamos que a Pedagogia Social de Rua se legitime e com isso fortaleça as práticas daqueles que lutam pela inserção/ inclusão de crianças e adolescentes em situação de Rua, possibilitando uma vida digna aqueles que são possuidores de direitos e são desprovidos dos mesmos, excluídos de uma sociedade capitalista que visa apenas o capital e não a condição do ser humano, pertencente a esta sociedade usurpadora de sonhos e esperanças.

Triste mundo que veste quem está

vestido e despe quem está nu”

(Calderón de la Barca)

Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo; Frei, Betto. Paulo Freire e os educadores de rua – Uma abordagem crítica. Projetos alternativos de atendimento a meninos de rua. Bogotá: UNICEF, 1988.

_______.Pedagogia do Oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1987.

GRACIANI, Maria Stela S. Pedagogia Social de Rua. 4° Ed.-São Paulo: Ed. Cortez: Instituto Paulo Freire,2005.