PEDAGOGIA HOSPITALAR: A AÇÃO EDUCATIVA NA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR.
Por Nathalia Areco Menon | 17/03/2011 | EducaçãoANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA DE CAMPO GRANDE
CURSO DE PEDAGOGIA
JULIA GARIB BUDIB
NATHALIA ARECO MENON
PEDAGOGIA HOSPITALAR: A AÇÃO EDUCATIVA NA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR.
CAMPO GRANDE
2010
RESUMO
BUDIB, Julia Garib; MENON, Nathalia Areco. Pedagogia Hospitalar: a ação educativa na instituição hospitalar. 2010, 34f. Trabalho de Conclusão de Curso Licenciatura em Pedagogia - Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande, Campo Grande, 2010.
Este é um trabalho de pesquisa bibliográfica que visa conhecer a ação educativa na instituição hospitalar. Acreditando que a educação é um fator fundamental para o desenvolvimento humano e direito cívico e ansiando adquirir conhecimento sobre a Pedagogia Hospitalar, bem como a atuação do pedagogo e a importância da humanização no ambiente hospitalar. Foram selecionados livros e artigos científicos relacionados ao tema e uma visita na classe hospitalar almejando ter noção do funcionamento desta área da Pedagogia.
Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar, classes hospitalares, humanização.
INTRODUÇÃO
A Pedagogia Hospitalar é uma área em ascensão quando se fala em pesquisas e estudos e, partindo do interesse em desvendar um pouco mais sobre o assunto e de conhecer o trabalho que é feito por pedagogos dentro dos hospitais, decidimos escolher este tema, destacando a importância do trabalho do educador nas classes hospitalares.
Segundo Andrade (2005): "a classe hospitalar é um lócus que objetiva dar apoio pedagógico-educacional a jovens e crianças que, devido a alguma enfermidade, ficam impossibilitadas de frequentar a escola de ensino regular" e para isso é preciso que exista profissionais realmente preocupados em promover a educação a qualquer custo e, neste caso, uma educação que precisa de uma atenção redobrada, isto porque se trata de crianças que estão sendo submetidas a algum tipo de tratamento médico, que porventura estão com o estado emocional e seu sistema imunológico abalado e, conseqüentemente sua recuperação e tempo dentro do hospital passam a ser maior.
Neste contexto iremos apontar a necessidade de um contínuo trabalho de humanização tanto no aspecto pedagógico, quanto médico e psicológico no ambiente hospitalar. Atribuindo ao pedagogo a importante tarefa de reintegrar essa criança a sociedade, dando atenção, afeto, fazendo seu trabalho com amor e ética, criando um ambiente um pouco mais descontraído e melhor, onde esta sinta conforto e prazer em permanecer.
Para tanto buscamos referências em trabalhos acadêmicos, artigos, livros, sites, entre outros, visando um embasamento teórico de qualidade.
Tal qual Piaget ressalta que "a principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores". Esperamos através desta pesquisa acrescentar e trazer a luz este trabalho tão magnífico que é feito dentro dos hospitais por profissionais que se preocupam em amenizar a dor alheia, se preocupam com o próximo e que se dispuseram a abraçar essa nova modalidade da educação, que é a Pedagogia Hospitalar, esforçando-se em fazer a diferença, fazendo além daquilo que já foi feito por outras gerações. Tornando-se criadores e descobridores de uma educação mais humana, terapêutica e capaz de trazer a cura, fazendo do ambiente hospitalar um lugar com mais calor humano, promovendo a criança enferma: consolo, alegria, força e vontade de viver.
Os objetivos gerais desta pesquisa foram: conhecer e identificar o trabalho pedagógico na instituição hospitalar. Objetivos estes que nos levaram aos objetivos específicos da mesma que são: conceituar a Pedagogia Hospitalar; descrever o perfil do profissional da área, bem como, o seu ambiente de trabalho e, por fim, apontar a importância da humanização na escolarização hospitalar.
Objetivamos também identificar os maiores problemas enfrentados por essas crianças, juntamente com o nosso crescimento pessoal e profissional. É de suma importância consignar que o maior enfoque deste trabalho é o seu caráter humanitário: pessoas ajudando pessoas.
Quanto à metodologia, o presente trabalho constará documentos bibliográficos na área de pedagogia hospitalar e estará vinculada a pesquisa de campo, que será feita em forma de visitas a classe hospitalar, do Hospital Universitário de Campo Grande, visando avaliar a importância do trabalho do educador dentro do ambiente hospitalar, bem como o desenvolvimento do trabalho com crianças enfermas. Salientando que esta pesquisa irá apontar os benefícios do desenvolvimento do trabalho didático-pedagógico nos hospitais.
Desta forma, o primeiro capítulo abordará brevemente o conceito de Pedagogia Hospitalar e suas especificidades, mostrando que a educação é um direito universal e que a ação educativa no ambiente hospitalar é um trabalho contínuo e que valoriza a humanização.
Enfim no segundo capítulo apresentaremos o objeto de estudo desta pesquisa, que é a Classe Hospitalar do Hospital Universitário de Campo Grande, visando conhecer e analisar dados que julgamos de suma importância para a realização da escolarização dentro do hospital.
CAPÍTULO I - REVISÃO DE LITERATURA.
Este capítulo discutirá o direito à educação a que todo cidadão tem conforme a Constituição Federal Brasileira, abordará o conceito de Pedagogia Hospitalar e para que ela foi criada, verificará também o papel do educador no ambiente hospitalar e como deve ser o ambiente de trabalho nas classes hospitalares. Bem como, a importância da humanização para a realização deste trabalho.
1.1 DIREITO A EDUCAÇÃO
Conforme o Art.205 da Constituição Federal Brasileira (1988):
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).
Considerando que a educação é um bem comum e que todos podem e devem usufruir dele, independente de sua classe social, cor, raça ou credo e de suas necessidades temporárias ou não. A educação tem a obrigação de alcançar a todos os cidadãos brasileiros.
No caso de educandos hospitalizados que por diversos motivos, tipos de enfermidades, tratamentos temporários ou de longo prazo, são impossibilitados de frequentar uma escola de ensino regular, é notório que propagar a educação é um desafio, seja por falta de recursos, apoio pedagógico ou por falta de capacitação de profissionais para desenvolvê-la dentro do ambiente hospitalar.
De acordo com os dados de 2003, divulgado pelo site da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ), houve um aumento de 175% do atendimento pedagógico educacional em ambiente hospitalar. No ano de 1997, esse trabalho era apenas realizado em 30 hospitais brasileiros, e, em 2003, esse número subiu para 85 hospitais espalhados pelo Brasil.
Trata-se de um crescimento significativo, pois a Pedagogia Hospitalar é uma área que vem contribuir para a propagação da educação universal. Como ressalta Matos e Mugiatti (2009):
Trata-se, justamente, do desenvolvimento de ações educativas, em natural sintonia com as demais áreas, num trabalho integrado, de sentido complementar, coerente e cooperativo, numa fecunda aproximação em benefício do enfermo, em situação de fragilidade ocasionada pela doença,
no entanto, passível de motivação e incentivo à participação no processo de cura (MATOS E MUGIATTI, 2009, p.16).
Por conseguinte, torna-se de suma importância apresentar os direitos da criança e do adolescente hospitalizados, referendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e reconhecido pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:
1) Direito à proteção à vida e a saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação.
2) Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa.
3) Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento de sua enfermidade
4) Direito de ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas.
5) Direito de não ser separado de sua mãe ao nascer.
6) Direito de receber aleitamento materno sem restrições.
7) Direito a não sentir dor, quando existe meios para evitá-la.
8) Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer necessário.
9) Direito a desfrutar de alguma recreação, programas de educação para saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar.
10) Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente de seu diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido.
11) Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família.
12) Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal.
13) Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para sua cura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.
14) Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos.
15) Direito ao respeito a sua integridade física, psíquica e moral.
16) Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos espaços e objetos pessoais.
17) Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação, sem a expressa vontade de seus pais ou responsáveis, ou a sua própria vontade, resguardando-se à ética.
18) Direito a confidência de seus dados clínicos, bem como direito de tomar conhecimento dos mesmos, arquivados na instituição, pelo prazo estipulado por lei.
19) Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente.
20) Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis (Sociedade Brasileira de Pediatria ? Departamento de Cuidados Hospitalares apud MATOS E MUGIATTI, 2009, p.38).
Também é oportuno ressaltar, neste contexto a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, art. 2°:
Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de necessidades especiais o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, a previdência social, ao amparo a infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência ? Acessibilidade, 2005, p.12).
Portanto, a educação é um direito assegurado, de responsabilidade pública, à crianças e adolescentes que requerem hospitalização. Matos e Mugiatti (2009) caracterizam a educação veiculada pela Pedagogia Hospitalar:
A educação que se processa, por meio da Pedagogia Hospitalar, não pode ser identificada como simples instrução (transmissão de alguns conhecimentos formalizados). É muito mais que isto. É um suporte psico-sociopedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na condição pura de doente, mas, sim, o mantém integrado em suas atividades da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de doente (MATOS E MUGIATTI, 2009, p.47).
Assim esta metodologia de ensino vem oferecer apoio ao desenvolvimento emocional e cognitivo da criança e adolescente hospitalizado. Busca modificar situações e atitudes junto aos internados, envolvendo-os em ambiente de modalidades de intervenção e ação, com programas adaptados às capacidades e disponibilidades de cada interno.
Para se ensinar não precisa de muito, basta o educador e o aluno estarem dispostos a aprender e a ensinar independente do lugar onde se ensina. A Pedagogia Hospitalar vem crescendo dentro dos hospitais, e isso é um sinal de que está havendo um processo de mudança, visando à melhora do paciente e não permitindo que a criança se desligue dos estudos. Vários estudos apontam que o trabalho do pedagogo hospitalar permite um grande progresso no tratamento do paciente, pois evita que o paciente se deixe levar pelo desânimo e, além disso, faz com que o paciente/aluno não se desligue do vínculo de suas relações sociais.
Um ambiente escolar no hospital permite à criança hospitalizada a conservar os laços com sua vida anterior à internação. É um lugar neutro, resultado de um projeto de futuro, pois a criança, depois de sua hospitalização, retomará sua vida normal de criança. A classe tem crianças de várias idades diferentes: o professor desenvolve com elas uma pedagogia tendo em conta ao mesmo tempo a capacidade psíquica das crianças doentes e seus diferentes níveis de escolaridade (BARROS, 2007, p. 259).
Em uma pesquisa feita pela Revista Brasileira de Educação, onde era discutido o papel do pedagogo no ambiente hospitalar, chegaram ao seguinte resultado: que a educação possibilita à criança ressignificar sua vida e o espaço hospitalar no qual se encontra. Com base em uma escuta pedagógica atenta e sensível, pode-se colaborar para o resgate da subjetividade e da auto-estima infantis, contribuindo para o bem-estar e a saúde da criança hospitalizada. A pesquisa revelou que são grandes as possibilidades de ação do professor nesse novo espaço de atuação, no entanto, também é grande o desafio de construir uma prática educativa diferenciada da que ocorre na instituição escolar, requerendo princípios específicos e outros níveis de conhecimento que respaldem o complexo trabalho pedagógico no campo hospitalar (FONTES, 2005).
A legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao atendimento pedagógico-educacional. A esse respeito, merece destaque a formulação da Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994; 1995).
1.2 PEDAGOGIA HOSPITALAR
Segundo Caiado (2003), a educação hospitalar é um processo de humanização na área da saúde e de inclusão, na área da educação. Tendo por base este conceito e devido ao imenso vazio de suporte para o desenvolvimento de técnicas e práticas pedagógicas nos hospitais, a Pedagogia Hospitalar teve de ser formulada e realizada de modo que suprisse a necessidade de integrar a educação e a saúde num enfoque social, contribuindo para que o processo ensino-aprendizagem fora dos espaços educacionais formais viesse a ser propagado.
A classe hospitalar foi criada para assegurar as crianças e adolescentes hospitalizados, a continuidade dos conteúdos regulares, possibilitando um retorno após a alta sem prejuízos a sua formação escolar (ESTEVES, 2008). De acordo com Zatta e Galúcio (2010): Essa área da Pedagogia surge da necessidade de se preocupar não só com as crianças hospitalizadas, mas sim, com o ser integral, atendendo suas necessidades físicas, psicológicas e sociais. Gerando uma interação entre pedagogos, profissionais da saúde, família e escola, que juntos, fazem com que a criança hospitalizada, vulnerável a sentimentos de medo, insegurança e ansiedade, supere as dificuldades ocasionadas pela doença (ZATTA e GALÚCIO, 2010). Para Schilke (2000): A abordagem pedagógica é entendida como instrumento redutor do impacto causado pelo distanciamento da rotina da criança, principalmente no que se refere ao afastamento escolar. O período de internação é transformado, então, num tempo de construção de conhecimento e aquisição de novos significados, não sendo preenchido apenas pelo sofrimento e o vazio do não crescimento (SCHILKE, 2000). Nesta perspectiva, torna-se oportuno citar Costa (2008) que estabelece quatro principais objetivos da pedagogia hospitalar:
1) Promover a integração entre a criança, a família, a escola e o hospital, amenizando os traumas da internação e contribuindo para a interação social;
2) Dar oportunidade ao atendimento às crianças e adolescentes hospitalizados em busca da qualidade de vida intelectiva e sociointerativa;
3) Aproximar a vivencia da criança no hospital à sua rotina diária anterior ao internamento, utilizando o conhecimento como forma de emancipação e formação humana;
4) Fortalecer o vinculo com a criança hospitalizada, possibilitando o fazer pedagógico na pratica educacional dos ambientes hospitalares; proporcionar à criança hospitalizada a possibilidade de, mesmo estando em ambiente hospitalar, ter acesso à educação (COSTA, 2008). O profissional para trabalhar dentro do âmbito hospitalar deve estar preparado para se deparar com uma realidade diferente do que se vê dentro da escola, necessita de cursos voltados para classe hospitalar, ter conhecimentos diversificados e preparar materiais e recursos adequados para se trabalhar dentro do hospital. Precisa estar atento para observar as limitações tanto do paciente/aluno como do ambiente, auxiliar elas na adaptação hospitalar e sempre deixar a criança por dentro de tudo que está acontecendo com ela, claro o que for necessário falar. Ajudar as crianças a resgatar o amor próprio e de exercer o seu direito de cidadão.
O Pedagogo e a equipe Hospitalar precisam estar em sintonia, ou seja, devem trabalhar juntos para a melhora da criança e obterem um bom resultado. Ao planejar o conteúdo é preciso deixar o lúdico prevalecer para combater possíveis problemas de humor, estresse e desmotivação, o educador deve visar sempre a melhora da criança e auxiliar para que haja um estímulo motivacional.
1.3 O PROFISSSIONAL
O Conselho Nacional de Educação, na Resolução CNE/CP n° 1, de 15 de maio de 2006, instrui diretrizes curriculares nacionais para o curso de Graduação em Pedagogia, e no art. 5° prevê que o egresso no curso de Pedagogia deverá estar apto a:
I ? atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária;
II ? compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social;
III ? fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino Fundamental, assim como daqueles que não tiverem ma idade de escolarização;
IV ? trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;
V - reconhecer e respeitar as manifestações físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos educando nas suas relações individuais e coletivas. [...]
A formação de professores para o atendimento escolar hospitalar tem como objetivo incluir o pedagogo como agente educativo, visando à formação de um ser humano integral, fortalecendo os valores da cidadania e da inclusão social e educacional do aluno-paciente.
Os educadores têm a missão de ajudar seus alunos a definir seus pensamentos limitadores, a reconhecer e a comunicar seus medos e seus verdadeiros sentimentos e desejos, pois o educador também é um grande atuante na formação de uma personalidade (PORTO, 2008, p.63).
O professor da escola hospitalar é antes de tudo, um mediador das interações das crianças com o ambiente hospitalar. Por isso não lhe deve faltar noções etécnicas terapêuticas que fazem parte da rotina de seus alunos (DAUZACKER, 2007, p.22).
Em outras palavras, este profissional deve estar disposto a trabalhar em múltiplos campos do saber, ou seja, deve estar sempre preparado para novas situações. Situações como a capacidade do professor de se adaptar à demanda de uma classe hospitalar e justificá-la a partir da apreciação de variáveis como a diferença e idade e o período de permanência de cada criança ou adolescente.
Portanto, é preciso realmente buscar, para esse tipo de atividades, profissionais capacitados, especializados e competentes em suas práticas, com experiência no plano da psicologia do desenvolvimento e da educação.
Costa (2005) relata a importância da capacitação desses profissionais:
[...] professores preocupados em propor uma aprendizagem de qualidade e que seja realmente significativa, respeitando os seus alunos individualmente, além do esforço de propiciar uma "situação" prazerosa, o que alivia o sofrimento e ameniza a dor das crianças e oferece um suporte para que ela se desenvolva intelectualmente (COSTA, 2005, p.58).
O trabalho do pedagogo/professor deve estar voltado à aprendizagem humana e também a reaprendizagem ao paciente internado, humanizando e contribuindo para sua reabilitação. Neste contexto é oportuno citar Matos e Mugiatti (2009) que descrevem algumas habilidades que o professor de crianças ou adolescentes enfermos precisa ter ou adotar:
[...] deve o pedagogo estar atento, solícito e predisposto diante da instância de continuar preparando, desafiando, estimulando o escolar a estudar e a vencer esta etapa da hospitalização e suas conseqüências na esfera psicopedagógica, pois é se direito gozar de boa saúde e receber escolaridade independente de quaisquer condições (MATOS E MUGIATTI, 2009, p.75).
O pedagogo ao promover experiências vivenciais dentro do ambiente hospital ? brincar, pensar, criar, trocar ? estará favorecendo o desenvolvimento da criança (DAUZACKER, 2007). Fator este que, não pode ser interrompido devido sua permanência no hospital.
1.4 O AMBIENTE DE TRABALHO - CLASSES HOSPITALARES
O ambiente da classe hospitalar deve ser diferenciado, tem que ser acolhedor deve ser muito bem decorado para que chame atenção das crianças/adolescentes, devem conter também vários brinquedos, jogos, sendo assim um ambiente alegre e aconchegante (OLIVEIRA, FILHO e GONÇALVES, 2008).
Biscaro (2009) ressalta que a classe hospitalar deve, portanto, favorecer o desenvolvimento de atividades pedagógicas, ter mobiliário adequado, instalações sanitárias próprias, completas, suficientes e adaptadas, além de especo ao ar livre para atividades físicas e ludopedagógicas.
O efeito do ambiente estranho, provocado pelo hospital, pode ser atenuado adotando-se medidas simples como, por exemplo, pintar as paredes de cores variadas (tons pastéis) e usar roupas de cores diferentes, tanto as crianças como o pessoal assistente. Deste modo, pode-se transformar um estabelecimento hospitalar estéril num espaço alegre de crianças que, aliado à presença contínua da mãe (do pai e de outros membros da família), confere a esse adoentado um ambiente com caráter familiar (BIERMANN, 1980, p.62).
É através das atividades e brincadeiras que as crianças hospitalizadas encontram um ponto positivo de lidar com as enfermidades, é nesse momento que a criança se distrai e às vezes encontra até uma saída para lidar com seus problemas. O trabalho do educador dentro do hospital faz com que não haja um comprometimento mental, emocional e físico das crianças. O educador terá o papel de dar suporte e continuidade ao trabalho escolar das crianças. Assim, o planejamento de tais atividades torna-se imprescindível com o objetivo de reintegrar as crianças/adolescentes à sua escola de origem, assim que obtenham alta do hospital. Com salienta Matos e Mugiatti (2009):
A inserção da pedagogia no espaço hospitalar não pode ser dissociada de um projeto pedagógico adequado. A reação homem-realidade, homem-mundo, sempre implica em transformação. Conforme se estabeleçam estas relações, o homem pode ter ou não condições objetivas para o pleno exercício da maneira humana existir (MATOS E MUGIATTI, 2009, p. 83).
Esteves (2008) relata qual a pretensão de se implantar uma classe hospitalar:
A implantação da Classe hospitalar nos hospitais pretende integrar a criança doente no seu novo modo de vida tão rápido quanto possível dentro de um ambiente acolhedor e humanizado, mantendo contato com seu mundo exterior, privilegiando suas relações sociais e familiares. A classe hospitalar constitui uma necessidade para o hospital, para as crianças, para a família, para a equipe de profissionais ligados a educação e a saúde. Sua criação é uma questão social e deve ser vista com seriedade, responsabilidade e principalmente promover uma melhor qualidade de vida (ESTEVES, 2008).
Fonseca (2003) propôs alguns tópicos que julga essenciais para planejar, desenvolver e avaliar atividades nas classes hospitalares:
1) O tempo de aprender é o tempo do aluno;
2) A interação entre as crianças é tão importante quanto a mediação do professor nas atividades desenvolvidas;
3) A sala de aula tem o tamanho do mundo e, no caso da sala de aula da classe hospitalar, serve de mediadora à possibilidade da criança plugar-se com o mundo fora do hospital;
4) O professor não pode ser mais uma incerteza na vida da criança;
5) O professor da classe hospitalar deve treinar-se para observar (evitar colocações tendenciosas). Aquilo que o professor observa e registra durante um período de observação deve ser o mais próximo possível do que realmente esteja acontecendo no ambiente hospitalar em que a observação acontece;
6) Para um efetivo atendimento pedagógico-educacional hospitalar, é importante estar ciente e exercitar a premissa de que cada dia de trabalho na classe se constrói coma atividades que tem começo, meio e fim quando desenvolvidas. A classe hospitalar deve estar disponível à criança;
7) A avaliação do trabalho é contínua. É preciso estar atento para o fato de que a criança não trabalha de forma isolada; contrai novos conceitos, reformula-os e os aprimora diante das trocas que faz o professor e os colegas (FONSECA, 2003).
Destarte, é primordial que o profissional habilitado planeje suas atividades promovendo a humanização e visando dar continuidade aos processos de desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças ou adolescentes hospitalizados, contribuindo, assim, para uma mais rápida recuperação da saúde e do bem-estar dos mesmos.
1.5 HUMANIZAÇÃO
Dentre os vários livros e artigos pesquisados para a realização desta pesquisa, notou-se que na maioria deles os autores citam a humanização como aspecto fundamental para a ação educativa no ambiente hospitalar.
Segundo Ferreira (2000), humanizar é o mesmo que "dar condição humana; civilizar", ou seja, propiciar ao cidadão condições de usufruir os seus direitos humanos de forma respeitosa e mútua.
Para Candau e Sacavino (2000) "educar em direitos humanos supõe considerar a vida cotidiana como referência permanente da ação educacional". Portanto propor uma educação humanizadora requer diálogo, para conhecer a realidade do aluno.
Candau e Sacavino ainda apontam quatro principais pontos que regem a educação em direitos humanos:
1) Compromisso com a vigência dos direitos humanos, visando a construção da cidadania, da paz e da justiça;
2) Compromisso com a educação em direitos humanos como meio para a transformação social, a construção da cidadania e a realização integral das pessoas e dos povos;
3) Afirmação da dignidade de toda pessoa humana, grupo social e cultura;
4) Respeito à pluralidade e a diversidade (CANDAU e SACAVINO, 2000, p. 77).
Para Porto (2008):
O aprender é processo de significação subjetiva do ser, ou seja, necessita ser exercido com liberdade, e não por imposição, pela simples razão de que, em uma relação dialógica entre sujeitos, sempre ocorrerão trocas - o processo contínuo de reconhecer o outro (PORTO, 2008, p. 24).
Portanto, para dar o pontapé inicial para a humanizar o trabalho pedagógico hospitalar é imprescindível que haja diálogo. Diálogo entre o pedagogo e o aluno, entre o pedagogo e os profissionais da saúde, entre o pedagogo e os pais dos alunos internados, e assim sucessivamente.
Assim, na humanização busca-se reabilitar a independência, visando à melhora na qualidade de vida e a integração familiar e social, ou seja, ao trabalhar a pedagogia hospitalar quer-se não só resgatar o estudo e sim resgatar o direito de que todos nos temos de ter uma vida com dignidade, direito a integração social. Mas só isso não basta há também uma preocupação da parte dos educadores que trabalham nessa área de que não podemos nos preocupar somente com a inserção ou reinserção no ambiente escolar e sim com o sucesso intelectual e a sua volta a sociedade.
Castro (2009) apresenta pontos que permeiam o trabalho do professor no ambiente hospitalar sendo:
1) A construção de produção de saúde e produção de sujeitos: durante a atuação dos professores é possível trabalhar as diferentes esferas da construção do conhecimento, tendo como atores, alunos, pais/responsáveis e equipe de saúde;
2) A troca e construção de saberes, a atuação transdisciplinar e a identificação das necessidades, desejos e interesse dos sujeitos: estes aspectos ocorrem constantemente, haja vista que a intervenção do profissional de educação adentra ao um ambiente antes totalmente ocupado pela dor, tristeza e medos, trazendo uma nova perspectiva de futuro, atuando tanto na ambiência, quando traz a sala de aula para a enfermaria, quanto saúde integral do indivíduo, tratando-o pelo nome e dirigindo-lhe a atenção para outro foco que não o da doença (CASTRO, 2009, p.36).
A humanização é fundamental para o desenvolvimento de atividades pedagógicas no ambiente hospitalar, isto porque, além de proporcionar um lugar de aprendizagem, serve como injeção de ânimo para os alunos internados, trazendo alívio da dor e alegria num ambiente antes habitado por medo, sofrimento e desconforto.
Através do trabalho do educador pode haver uma contribuição no desenvolvimento e servirá também numa ajuda no quadro clínico do paciente/aluno, não podemos deixar que haja uma desvalorização e preconceito.
Massuda e Andrade (2003) explicam bem o trabalho humanizador nas classes hospitalares quando afirmam que:
O trabalho do pedagogo no hospital será a oportunidade de recuperar os laços com o aprender e mobilizar energias para o desejo de cura e retomada de projetos afetivos com o viver e com a recriação da vida e saúde, uma vez que o trabalho pedagógico instaura uma relação propriamente educativa (de desenvolvimento psíquico e cognitivo) e de autorização ao aprender- crescer- desenvolver-se (MASSUDA e ANDRADE, 2003, p. 13).
O paciente precisa estar confortável e acolhido e com isso ele terá mais ânimo para retornar a suas atividades escolares, o educador deve buscar acomodar o paciente da melhor maneira possível para facilitar o desenvolvimento das atividades promovidas, pelo fato de cada aluno vivenciar diferentes situações tanto de saúde, como diferença de idade.
Fonseca (2003) diz que:
[...] é considerada pertinente à formação do profissional de saúde pouca atenção a aspectos emocionais e o não envolvimento com o trato dos pacientes. Não se quer aqui criticar o profissional de saúde, mas sim alertar o professor que atua no ambiente hospitalar para que esteja atento a estes mesmos fatores, retirando deles lições que possam contribuir para a melhoria de seu relacionamento com as crianças e seus acompanhantes, o que terá reflexo positivo na sua prática na sala de aula no ambiente hospitalar (FONSECA, 2003, p. 24).
Então, desde já, ao que tudo indica é papel do educador além de ensinar promover situações de diálogo com os pacientes e seus familiares, estando atentos e se há uma melhora no paciente, o educador precisa ter um bom relacionamento com o paciente e seus familiares. Assim como na escola o educador deve sempre criar estratégias que favoreçam o aluno, dentro do ambiente hospitalar o educador deve também ter estratégias que auxiliam na melhora e no crescimento de cada paciente.
Como o ambiente hospitalar não é um local muito acolhedor, temos que tentar ao máximo deixar aquele local um pouco mais alegre, mais aconchegante, pois toda criança tem direito a carinho e a ser amada. Pois é isso que vai dar um novo ânimo e vontade de viver aos pacientes.
O educador tem sim que estar atento as peculiaridades de cada paciente, e sempre lutar para atender suas necessidades, sejas elas física, emocional, comportamental ou algo causo pelo quadro clinico. Enfim, é papel do educador fazer com que o aluno/paciente avance no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem e acima de tudo mostrar para seus alunos que devem sempre superar suas limitações ? temporárias ou permanentes.
Para tanto, é preciso que educação e saúde caminhem de mãos dadas, fazendo um trabalho que se importe com o outro, que se sensibilize e respeite as fragilidades e limitações do aluno/paciente.
Porto (2008), traduz a necessidade do Homem em ter alguém por perto, alguém que se importe com sua dor, quando diz que: "a escuta, o acolhimento, o olhar são imprescindíveis a qualquer pessoa, seja sadia ou doente, pois somos movidos por afetos e emoções". Assim, em poucas palavras ela caracteriza o que é humanizar.
Neste sentido torna-se oportuno citar Adams (1999):
[...] elementos como amor, humor, surpresa, curiosidade, paixão, perdão, alegria, entusiasmo, dar e partilhar estimulam o sistema imunológico. Eles ajudam nosso corpo a combater infecções e estimulam células naturais que combatem o câncer e afetam a forma com que cuidamos de nós mesmos e dos outros (ADAMS, 1999, p.13).
CAPÍTULO II - ANÁLISES E RESULTADOS
Este capítulo descreverá o local e o objeto de pesquisa deste trabalho e apresentará a análise de dados coletados na pesquisa de campo.
2.1 LOCAL DE PESQUISA
Classe hospitalar do Hospital Universitário de Campo Grande.
2.2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE PESQUISA
A modalidade de atendimento Classe Hospitalar prevista pela Deliberação 261/82 do Conselho Estadual de Educação/MS, foi implantada em 18 de abril de 1994, no Hospital Universitário de Campo Grande, através de parceria com a Secretaria Estadual de Educação, considerando-se o número significativo de crianças hospitalizadas por período prolongado.
Este Hospital Escola com enfermaria pediátrica responsabiliza-se pelo espaço físico e material permanente. A Secretaria Estadual de Educação responsabiliza-se pelos recursos humanos e materiais de consumo.
O nome escolhido pela equipe da época foi Be-a-bá do Hospital Universitário. Esta permanece vinculada à Escola Estadual Amando de Oliveira, Av. Manoel da Costa Lima, 1435, Bairro Piratininga, que é a escola referência da região. E segue o calendário da Escola Estadual Vespasiano Martins.
O atendimento pedagógico é desenvolvido em uma enfermaria da pediatria, cedido para as aulas, que funcionam das 7h às 11h, e das 13 às 17h, de segunda a sexta-feira; também junto aos leitos nas enfermarias de diversos setores do hospital, sendo eles, Oncologia, Cirúrgica I e II, Clínica Médica, PAM - Pronto Atendimento Médico, Isolamento e no CTI - Centro de Terapia Intensiva, setores estes onde as crianças estão impossibilitadas de se locomoverem.
Ao todo são cinco professoras que lecionam nesta classe hospitalar e nos demais setores atendidos, visando o suporte educacional para tais crianças. Para a realização das aulas é feito o planejamento anual, semestral e mensal, onde além de dar continuidade aos conteúdos escolares do aluno, as professoras elaboram aulas e projetos para datas comemorativas.
Diante da internação do aluno os professores da classe hospitalar preenchem uma ficha de inscrição e orientam os pais e/ou acompanhantes do que é o serviço da classe hospitalar. Em seguida entram em contato com a escola de origem do aluno, via telefone, e-mail ou visitas, para que fiquem cientes da situação do aluno e para que seja viabilizado o material do aluno/paciente, geralmente trazido pelos pais, amigos e/ou acompanhantes.
A metodologia é flexível devido à rotatividade e particularidade de cada atendimento, pois o mesmo visa dar continuidade ao ensino dos conteúdos da escola de origem, e conteúdos próprios à faixa etária e/ou série da criança hospitalizada, há utilização de livros didáticos da criança obedecendo aos parâmetros curriculares, confecção de jogos pedagógicos e alternativos como meio de terapia ocupacional às crianças e aos acompanhantes atividades culturais.
2.3 OBJETO DE ESTUDO
Professoras da Classe Hospitalar Be-a-Bá do Hospital Universitário de Campo Grande.
2.4 METODOLOGIA
Foram feitas visitas à Classe Hospitalar do Hospital Universitário, visando observar o trabalho pedagógico na instituição hospitalar e foi aplicado um questionário às professoras que lecionam na classe hospitalar, visando conhecer o perfil destas profissionais e coletar dados referentes à Pedagogia Hospitalar.
2.5 TEMPO DA PESQUISA
Esta pesquisa foi realizada no período de 25 de outubro de 2010 a 24 de novembro de 2010.
2.6 ANÁLISE DE DADOS COLETADOS.
Mediante a coleta de dados e informações sobre o objeto de estudo desta pesquisa por meio de questionário aplicado, apresentaremos a seguir os de grande relevância para este trabalho. Salientando que ao todo foram cinco professoras que responderam ao questionário, as quais identificamos com os números de 1 ao 5. Quanto à formação acadêmica: - Gráfico 1: Fonte: Questionário 2010. -Gráfico 2: Fonte: Questionário 2010. Conforme o Gráfico 1, nota-se que 80% das professoras possuem graduação em Pedagogia e 20% em outra área, neste caso a graduação era em Matemática. Já no Gráfico 2, relacionado a especialização do corpo docente, nota-se que 60% das professoras possuem especialização em Educação Especial, 20% tem outro tipo de especialização e 20% não possui nenhum tipo de especialização. Parafraseando Andrade (2004), "o pedagogo que atua com crianças enfermas deve ser comprometido, ético e principalmente possuir formação ou especialização
Formação dos professores quanto à especialização.60%20%20%Especialização emEducação EspecialOutro tipo deespecializaçãoNão possuiespecializaçãoFormação dos professores quanto à graduação.80%20%PedagogiaMatemática necessária para tal atuação". O profissional precisa estar capacitado intelectualmente para atuar nesta área, pois demanda um preparo específico para exercer a docência em um contexto diferenciado da escola. Quanto ao tempo de atuação na educação e na Pedagogia Hospitalar: -Tabela 1: Fonte: Questionário 2010. -Tabela 2:
TEMPO DE ATUAÇÃO NA PEDAGOGIA HOSPITALAR
Professora 1
10 anos
Professora 2
12 anos
Professora 3
9 anos
Professora 4
6 meses
Professora 5
10 meses Fonte: Questionário 2010. Conforme a Tabela 1, observamos que três professoras possuem entre 10 e 30 anos de atuação na educação e duas não responderam esta questão. Quanto ao tempo de atuação na Pedagogia Hospitalar, conforme a Tabela 2, duas professoras atuam a menos de um ano nesta área e três atuam entre 9 e 12 anos. Independente do tempo de atuação do educador tanto na educação, quanto na Pedagogia Hospitalar, educar fora dos muros da escola "é uma proposta diferenciada e desafiadora, onde atividades e objetivos atingirão um público específico, proporcionando às crianças hospitalizadas um novo horizonte" (MARTINS, 2007). Quando questionadas sobre a importância da Pedagogia Hospitalar a resposta unânime foi "dar continuidade no processo escolar e/ou estudos do aluno". Como afirma Fonseca (2003) quando diz que "a existência de atendimento pedagógico-educacional em hospitais assegura a continuidade dos processos de desenvolvimento e aprendizagem do aluno" (FONSECA, 2003, p.13).
TEMPO DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO
Professora 1
16 anos
Professora 2
22 anos
Professora 3
30 anos
Professora 4
Não respondeu
Professora 5
Não respondeu
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Porém a educação que se processa na instituição hospitalar não pode ser vista apenas como uma continuidade da escolarização, pois vai além desse conceito, como relatam Matos e Mugiatti (2009): É um suporte psico-sociopedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na condição pura de doente, mas, sim, o mantém integrado em suas atividades da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de doente (MATOS E MUGIATTI, 2009, p.47). Em relação ao perfil do profissional atuante na classe hospitalar, as respostas das professoras foram: "Ter compromisso, respeitar as diferenças e limites de cada aluno; saber ouvir, incentivar e ter sempre uma palavra de acolhimento" (Professora 1). "Corresponder aos requisitos exigidos pela Secretaria de Educação, ter uma especialização e ser compromissado" (Professora 2). "Ter formação didática, ser flexível, ter conhecimento dos PCN?s e LDB e utilizar recursos diferenciados, favorecendo a aprendizagem do aluno internado" (Professora 3). "Ter capacitação para trabalhar com os portadores de deficiências e com os problemas de aprendizagem; ser motivador e dedicado" (Professora 4). "Ser um professor compromissado, dedicado, paciente, motivador e acima de tudo um profissional ético e que ama o que faz" (Professora 5). O professor não pode mais uma incerteza na vida da criança internada, para isso é importante que ele esteja comprometido com a ação educativa no ambiente hospitalar e seja um agente motivador, tornando-se o elo entre a criança e o conhecimento. "Deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas abertos, móveis e mutantes, constantemente reorientados pela situação especial e individual de cada criança" (FONSECA, 2003, p. 26). Quando questionadas quanto as principais dificuldades encontradas na classe hospitalar, duas das professoras responderam que "está na perda de uma criança" e as demais ressaltaram que a maior dificuldade "está no controle das emoções, devido o estado de debilidade dos alunos". É preciso que o pedagogo hospitalar esteja preparado para vivenciar situações inesperadas, principalmente com a perda do seu paciente, pois são fatos que podem ocorrer durante sua jornada de trabalho. Conforme afirma Verdi (2009):
O pedagogo hospitalar vivencia sensações e emoções de forma intensa e lida com elas na medida em que auxilia a criança, da melhor forma possível, no convívio com a doença e o ambiente hospitalar. Aprender com essa sensações e emoções redimensiona o ensino e as ênfases cognitivas com que opera o processo ensino-aprendizagem (VERDI, 2009).
A Classe Hospitalar Be-a-Bá possui um banco de dados, que armazena o número de alunos atendidos durante o ano e as principais doenças que causam a internação dos mesmos. Através desde dados pudemos obter tais informações:
Em 2007, cerca de 1024 alunos foram atendidos pelas professoras da classe hospitalar; em 2008 cerca de 1071 alunos e em 2009, 717 alunos tiveram atendimento pedagógico durante sua internação. Sendo que as patologias que mais acarretam a uma internação foram: dengue, leishimaniose, insuficiência respiratória e renal e traumas em geral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo nesta pesquisa foi descrever como é o trabalho da Pedagogia dentro do ambiente hospitalar e as diferentes metodologias que são usadas para que ela seja desenvolvida.
Apresentamos também quais são as etapas que devem ser preenchidas para o desenvolvimento da pedagogia no âmbito hospitalar, e a metodologia de ensino que vem oferecer apoio ao desenvolvimento emocional e cognitivo da criança e adolescente hospitalizado.
Observamos também que dentro da Pedagogia Hospitalar a humanização é uns dos aspectos mais importantes e pudemos discorrer sobre essa importância e de como ela é fundamental para o tratamento dos pacientes.
Tivemos como objeto de estudo os professores da Classe Hospitalar Be-a-Bá do Hospital Universitário de Campo Grande e como o auxilio dos professores pudemos concluir que o principal papel do educador no hospital é dar continuidade no processo escolar e/ou estudos do aluno.
A Pedagogia Hospitalar vem crescendo e promovendo resultados positivos para a vida das crianças e adolescentes enfermos, trazendo um pouco mais de alegria e conforto para um ambiente habitado por tantas incertezas.
Notamos que o trabalho pedagógico no ambiente hospitalar é um trabalho contínuo e que exige muita dedicação do profissional atuante. Visto que, todos os dias, uma das professoras da Classe Hospitalar, passam de setor em setor, fazendo um levantamento dos alunos que continuam internados, que recebeu alta e os que acabaram de chegar ao hospital. Portanto, a ação educativa na instituição hospitalar, requer profissionais dispostos a enfrentar desafios diários. Desafios estes que tendem a serem superados e trabalhados integralmente e em conjunto com: a equipe de saúde, os pais e/ou acompanhantes e todos os envolvidos com a criança enferma. Unindo forças para que a reintegração deste aluno ao seu espaço social seja mais amena, sem rupturas abruptas.
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