Bons resultados são bem-vindos, principalmente quando são frutos da produtividade, da eficiência de gestão, de novas tecnologias ou de inovações. Os modelos em uso de avaliação de desempenho preconizam o crescimento continuo, com o atingimento de metas praticamente impossíveis. Preconizam também redução constante de custos, mesmo quando se sabe que tudo o que poderia ser cortado já o foi.

Crescimento das vendas tem limites. Para crescer indefinidamente seria preciso destruir toda a concorrência, vendendo produtos com preços inferiores ou empurrar goela abaixo dos consumidores coisas que eles não precisam.  Alguns dos parâmetros limitadores são o crescimento do PIB e a capacidade de absorção pelo mercado. Se não há publico consumidor não adianta entupir os canais de distribuição que não a empresa não vai vender. Ou se busca novos mercados ou se conforma com os limites existentes.

O mesmo pode-se dizer da compulsão por redução de custos. Há limites físicos para a redução de custos em qualquer negócio. Quando se pressiona muito os funcionários para atingir metas de redução, isso pode levar a falcatruas, sonegação de impostos etc. Contou-me um colega que seu diretor pediu que ele simulasse uma venda para um cliente no final do ano, garantindo que a mercadoria poderia ser devolvida no início do ano seguinte. Dessa forma o resultado ficaria de acordo com o budget e teriam o ano todo para atingir o resultado (ou fariam a mesma coisa no final do exercício). A economia de escala um dos recursos para obtenção de custo médio mais baixo tem inúmeros limites conforme atestam vários autores como: limitação física de estocagem, estresse da equipe e da gerência, dificuldade para obtenção de insumos, mercados mais distantes etc.

Mesmo assim, muitas empresas impõem metas inalcançáveis para sua equipe gerando estresse ou tentativas de fraudes como podem ter ocorrido com a indústria da carne, caso sejam verdadeiros os diálogos divulgados pela imprensa. Como carne estragada é aumento de custo, arranja-se um jeitinho de tratá-la com produtos químicos e assim empurrá-la para os consumidores desavisados.

A tragédia do Rio Doce é outro exemplo. Para que investir na segurança das barragens se dá para “quebrar o galho” ou o risco é baixo?  Assim, adia-se para sei lá quando os investimentos em processos mais seguros até que ocorra uma tragédia que poderia muito bem ter sido prevista e tomadas as medidas corretivas. É evidente que o lucro por ação seria reduzido e os executivos da empresa não atingiriam as metas estabelecidas. Também não haveria nenhum risco para os negócios, mas alguém poderia dizer que teria sido um investimento desnecessário, pois os riscos eram pequenos.

O caso da Sabesp durante a última crise hídrica pode também ser enquadrado no mesmo mecanismo. A distribuição de lucros aos acionistas é mais importante do que garantir de forma segura o abastecimento da população. Por sorte houve tempo para investir em equipamentos para utilização do chamado volume morto e fazer as interligações entre as várias represas, tornando o sistema mais sustentável, mesmo em situações climáticas mais desfavoráveis.

A busca por resultados é legítima, mas é dever de toda governança corporativa e da política de compliance estabelecer limites que não comprometam a qualidade dos produtos, o respeito à legislação governamental e a segurança operacional e dos funcionários, caso contrário o tiro pode sair pela culatra, com a empresa amargando sérios prejuízos ou perder a credibilidade duramente conquistada.