OS MÉTODOS DE ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO: UMA VISÃO CRÍTICA[1]

Liliane Moreira Alves[2]

 

O processo de alfabetização quando bem desenvolvido torna a criança capaz de ler e escrever bem, e consequentemente define se a criança terá ou não um bom desempenho nas séries mais avançadas. Com base nisso, o presente ensaio pretende discutir sobre os métodos usados no processo de alfabetização, visto que, é um assunto que tem levantado vários questionamentos. Observando o crescente índice de analfabetismo, a busca por um método de alfabetização eficaz que venha a acabar ou diminuir o número do mesmo torna-se cada vez maior.

Várias pesquisas sobre a alfabetização foram desenvolvidas e com isso a ideia de como a mesma deve ser trabalhada gera muitas dúvidas, já que existem vários métodos cada um dos métodos existentes apresentam pontos positivos e pontos negativos. Hoje o processo de alfabetização através de repetições e memorização das letras, para depois ser possível a escrita e a leitura, não reflete como a maneira melhor de se alfabetizar, a ideia mais aceita dentro do processo educativo é que o aluno conheça esses dois fatores através de suas vivências no dia a dia.

Durante a alfabetização muitos fatores influenciam no resultado da mesma. O principal fator que ajuda a criança a ter maior sucesso é que o educador seja capaz de criar uma boa relação com a criança, para que ela se sinta bem na escola, o que de certa maneira fará com que a mesma tenha uma vontade maior de frequentar as aulas. Nesse momento o educador tem que levar o aluno a perceber que aquelas palavras que estão sendo estudadas, são as mesmas que eles usam em seu cotidiano, que tratam de coisas que eles já conhecem e que precisam saber como é a escrita e a leitura delas.

Sabemos que existem vários métodos usados no processo de alfabetização e cada um deles tem suas particularidades que levam a pontos de vantagens e desvantagens no processo de ensino aprendizagem. Apontar o melhor método é uma tarefa bastante complicada.

Segundo Mortatti (2006, p.1)

Em nosso país a história da alfabetização tem sua face mais visível na história dos métodos de alfabetização em torno dos quais vem-se gerando tensas disputas relacionadas com “antigas” e “novas” explicações para um mesmo problema: a dificuldade de nossas crianças em aprender a ler e escrever.

 

Entretanto, analisaremos os quatro métodos existentes: Tradicional, sintético, analítico e construtivista. Apresentando quais os pontos positivos e negativos de cada um deles. Mesmo existindo críticas acerca desses métodos, uns são mais aceitos que outros.

O método tradicional é desenvolvido de forma mecanizada, as aulas são executadas sempre da mesma maneira, com atividades que consistem na repetição, ou seja, são propostas atividades e depois disso é feita a correção, o que vai acontecendo em toda aula, o que faz com que a criança decore as letras. A principal característica desse método é o ensino está centrado apenas no professor, onde o mesmo ordena e o aluno obedece. Um fator preocupante no método tradicional é o fato de não se incorporar muitos recursos nas aulas, já que o único recurso utilizado é a cartilha.

A criança é levada a aprender por partes, o conteúdo é posto em sequência da seguinte maneira: vogais, consoantes, sílabas, palavras e frases. E com isso só se explora frases e textos simples, o que vai gerar uma grave dificuldade de compreensão quando a criança se deparar diante de um texto com maior conteúdo. Esse método é o mais criticado por pesquisadores da área, uma vez que, ao ser submetida a várias repetições com o intuito de decorar as letras, a criança perde o prazer pelo aprendizado e a aula se torna muito cansativa.

O método sintético em contra partida é considerado um método muito rápido no processo de alfabetização, ele compreende três modalidades: o método alfabético, o método fônico e o método silábico. Esse método apresenta como maior vantagem o fato de ser aplicável a qualquer aluno, e como desvantagem o fato de ser desenvolvido por meio do isolamento das partes, ou seja, para sua execução é necessário letra por letra, sílaba por sílaba e depois palavra por palavra. De acordo com pesquisas feitas na área isso traz graves dificuldades para as crianças quando tentam compreender e produzir textos.

 A principal característica do método sintético é que ele introduz a alfabetização pelo que o aluno desconhece para depois passar para as partes já conhecidas por ele. E isso é tido como um absurdo no processo de alfabetização porque a criança não tem essa facilidade de entender o todo sem conhecer as partes, o que torna o ensino fastidioso. A criança apresenta uma grave dificuldade em entender como se formam as sílabas, já que as vogais possuem um som próprio, mas as consoantes não, elas necessitam das vogais para formar sílabas. De acordo com pesquisas quando a criança procura entender a palavra ela tem dificuldade em detalhar a sua formação, por exemplo, na palavra dado, a criança tem não entende as sílabas quando ela tenta separar as consoantes das vogais, ela não compreende que Dê + a seja Da e não Dêa, do mesmo jeito ocorre na outra sílada Dê + O seja Do e não Dêo.

Iremos analisar como funcionam os três tipos de métodos sintéticos, começando pelo método alfabético. Durante o processo de alfabetização em que é usado o método alfabético ou também conhecido como soletração aluno aprende a fixação das letras do alfabeto, as combinações silábicas e depois a formação de palavras, até alcançar a leitura de frases. A semelhança de formas com nomes de letras ajuda os alunos, através da repetição de sons ao soletrar as palavras, um exemplo disso (“ge”com “a”= ga, “tê” com “o”= to : gato) mesmo que não identifique o significado das mesmas.

Segundo Oliveira (2008, p.38)

A função de uma letra não é representar um som, mas um fonema, ou seja, unidades abstratas. Os fonemas nos permite diferenciar, mala de tala, por exemplo. Mas o fonema correspondente as consoantes não é pronunciável sozinho sem vogal e por isso não constitui um som.

Entretanto esse método se faz através de repetições cansativas e não leva em conta os conhecimentos prévios do aluno.

O método fônico ou fonético surge com o intuito de contribuir na solução do problema da diferença entre nome, som e letra existente no método alfabético, onde é ensinado os sons de cada letra construindo um conjunto de sons que facilita a leitura de palavras.

Segundo Fernando Capovila (Folha Online, 2006)

O método fônico é baseado no ensino dinâmico do código alfabético. Ele é tão eficaz em produzir compreensão e produção de textos porquê de modo sistemático e lúdico fortalece o raciocínio e a inteligência verbal.

            Nesse método o estudo começa pelas vogais, em seguida se ensinam as consoantes. Cada grafema é entendido como um fonema, e nisso fica claro para a criança que a junção com outros fonema irá formar sílabas e palavras.

Com o uso desse método há uma grande preocupação com a pronúncia correta das palavras, pois a criança não conseguiria distinguir o erro na escrita através da pronúncia. No método fônico não é possível que o professor explique certas exceções da língua portuguesa. Temos como exemplo simples as palavras “cela” e “sela” que tem a mesma pronúncia e são escritas de maneiras diferentes. Já na relação existente entre fonema e escrita a aprendizagem é satisfatória.

            Na alfabetização através do método silábico o estudo inicial é a silaba, para só depois estabelecer o que é vogal e consoante, primeiro é ensinado as sílabas mais simples para só depois se introduzir o ensino das mais complexas, uma característica desse método é uso de imagens e palavras, para que haja uma maior compreensão do aluno, o intuito disso é que a criança entenda o que é uma sílaba para depois entender as famílias silábicas.

            O método analítico ou método do olhar-e-dizer como também é conhecido se divide em três modalidades: palavração, sentenciação ou global. Ele introduz a alfabetização com o estudo da palavra, para só depois separar as unidades e estudar cada uma. O objetivo desse método é fazer com que os alunos tenham uma maior facilidade em entender e produzir textos porque ajuda os mesmos a ter ideias com maior facilidade.

Durante o processo de palavração se faz um estudo de todos os detalhes que compõem a palavra apresentada ao aluno, como o som, as letras, as sílabas. Consiste também na apresentação de ilustrações associadas aquela palavra, uma vez que, considera a leitura como algo audiovisual. Uma característica disso, é que os alunos nesse momento conhecem apenas as palavras mais simples.

            Outro processo usado no método analítico é a sentenciação, onde a unidade de esudo não é mais a palavra, mas sim uma frase, dessa maneira a frase é decomposta, estudando as palavras e só depois as sílabas e as letras. Com isso é introduzido no ensino histórias e letras de músicas, em que o aluno deve fazer a decomposição estudando cada parte. E nesse momento geralmente se usam histórias produzidas pelas crianças.

            Já o método construtivista, é tido como o mais apropriado no processo ensino aprendizagem por considerar o que está além da escola, ou seja, considera o conhecimento prévio do aluno antes de ser engajado no ambiente escolar, este método tem sido o mais aceito como eficaz no processo de alfabetização, porque ele considera a vivência dos alunos, ensinando a alfabetização a partir de assuntos que ele conhecem e já conseguem identificar em seu dia a dia.

            De acordo com Vigotski (2001, p. 388).

                                                  A aprendizagem não começa só na idade escolar, ela existe também na idade pré-escolar. Uma investigação futura provavelmente mostrará que os conceitos espontâneos são um produto da aprendizagem pré-escolar tanto quanto os conceitos científicos são um produto da aprendizagem escolar.

Esse método tem como principal objetivo a escrita acredita-se que na alfabetização o aprendizado por meio de mecanismos de repetição não é eficaz, mas que a criança pode ser alfabetizada sem o uso de cartilhas.

Um ponto muito positivo nesse método é que o professor e o aluno trabalham juntos e constroem conhecimentos em equipe, já que atualmente, após muitos estudos na área da educação foi determinado que o melhor professor não é aquele que se considera o dono de todo o saber, aquele que não aceita em nenhum momento o aluno o questione, mas sim o professor que funciona como mediador do conhecimento, ou seja, aquele que é capaz de trabalhar os conteúdos levando em conta o que o aluno já conhece, explorando e tendo como principal instrumento o conhecimento prévio de seus aluno, o que respeita o desenvolvimento educacional do aluno.

De acordo com o método construtivista para se desenvolver bem a escrita é necessário a leitura, que as duas devem caminhar juntas, ou seja, ele defende que essas duas atividades necessitam ser sempre praticadas para um maior desenvolvimento. Outro fator importante é que o significado das palavras é trabalhado em todo o processo de alfabetização.

            Apesar de ter como objetivo trabalhar o aprendizado levando em conta as vivências e o pensamento reflexivo alguns pesquisadores afirmam que o construtivismo não pode ser considerado um método, pois está quase totalmente centrado no aluno, e que o trabalho do professor pode se tornar desvalorizado, por diminuir o protagonismo do professor na sala de aula, outras críticas são fundamentadas com o argumento de que apesar de ser um método que revolucione o processo educativo ele não é incorporado em toda a política educacional e em apenas algumas escolas.

Com base nas ideias apresentadas podemos concluir que não há um método totalmente eficaz, como foi demonstrado cada um tem vantagens e desvantagens, o método construtuvista é o mais aceito atualmente por considerar a reflexão no processo educativo, todavia há atividades incorporadas aos outros métodos que também podem auxiliar num melhor desempenho do aluno.

Como foi citado anteriormente, o professor tem um grande papel nesse momento da vida escolar da criança, pois quando ele conhece as dificuldades da sua turma, ele é capaz de adequar o melhor método ou saber retirar as melhores práticas de cada um deles para trabalhar em sua sala de aula, visto que, como já sabemos o sucesso de uma turma depende muito da maneira como o educador trabalha.

Com isso percebemos que cada um dos métodos tem suas vantagens, o que seria fundamental era que fossem adequados de acordo com a realidade escolar, ou seja, retirar o que cada um tem de melhor e estabelecer e criar um novo método de alfabetização o que faz necessário muitas pesquisas sobre esse assunto.

Referências Bibliográficas

ABDALA BELOTI, S.H.; DE FARIA, Moacir. Relação professor/aluno.Revista eletrônica saberes da educação, volume 1°, n° 1, 2010. Disponível em: <http://www.facsaoroque.br/novo/publicacoes/pdfs/salua.pdf>. Acesso em: 19 Março. 2015.

MORTATTI, M.R.L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo;  2000. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf> acesso: 23 Mar.2015

FOLHA ONLINE, Disponível em :< telesyehezkel.blogspot.com.br> acesso: 21. Mar.2015

CAGLIARI,L.C, Alfabetização sem o bá- bé-bi-bo-bu. São Paulo: Scipione, 1999. Disponível em < http://www.atica.com.br/SitePages/Obra.aspx?cdObra=249> acesso: 25 Mar.2015

OLIVEIRA, J.B.A, ABC do alfabetizador. Rio de Janeiro: Instituto Alfa e Beta, 2008. 

[1] Ensaio realizado na disciplina Fonética e Fonologia.

[2] Acadêmica do curso de Letras habilitação em língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú.