O Processo de Ocupação e Formação da Vila Miguel Xavier
Por Cristiano Gomes Lopes | 05/08/2011 | HistóriaPara entender o processo de ocupação de que hoje e a Vila Miguel Xavier, deve-se também fazer referencia a ocupação do Cariri com um todo, pois foi a partir daí que a história começa a tomar rumo à formação dessa Vila.
O processo de fixação humana no Cariri inicia-se no final do século XVII com o ciclo do couro intensificada as margens do Rio São Francisco e seus afluentes que futuramente se transformaram nas sesmarias concedidas na época do segundo império, os primeiros colonizadores brancos constam como tendo sido formados por agentes da Casa da Torre (Bahia), seguidos de pernambucanos e sergipanos, ocupando terras localizadas no Riacho dos porcos (Brejo dos Santos), no extremo sul da Capitania, Muitos alcançaram esse riacho e daí se bifurcando para o Jaguaribe, ou penetrando nos terrenos férteis ao sopé do que seria a Chapada do Araripe. Alguns vieram pelos caminhos do Riacho do Pajeú (Pernambuco) ou o riacho da Brígida, afluente do São Francisco. No lado pernambucano, surgem povoações, fundadas por capuchinhos (Exú), em 1705, tendo apenas a serra do Araripe de permeio, a separá-la do lado cearense, no local onde se fundou a missão do Miranda que, depois, quando vila, recebeu o nome de Crato. Foram criadores, que atravessaram ínvios sertões em busca de pastagem para o gado, e com a ânsia de disseminar a criação, pioneiros da colonização caririense. Essa descida terá ocorrido por volta das décadas finais do Século XVII, época em que se registra a presença do colonizador branco nas terras até então ocupados somente pela raça nativa.
Na primeira década do Século XVIII ou, precisamente. Nos anos de 1702/1704, tem-se como primeiro cessionário de terras no Cariri o sesmeiro rio-grandense (Norte), Manuel Rodrigues Ayrosa. Sua posse situava-se na gleba São José, no vale denominado de Lagoa do Ayrosa, entre as cidades que posteriormente se denominariam de Crato e Juazeiro (Sítio São José)
Em períodos seguintes, porém quase simultaneamente, chegam à região outros desbravadores dos quais se destacam o Coronel Antônio Mendes Lobato e Gil de Miranda, que muito viriam contribuir em prol dos avanços da colonização. A partir de 1714, quando os investidores pernambucanos e baianos iniciam suas descidas, formando contingentes mais numerosos, o imenso Vale do Cariri passa por sucessivas divisões, em povoamento rápido e altamente produtivo.
Onde a colonização dessa religião se deu com a criação de gado e o cultivo da cana de açúcar e um principio de mineração e a exploração e dizimação dos nativos (índios Kariris) onde hoje são os municípios de missão Velha, Crato e Barbalha.
Foi justamente em busca de terras para explorar que por volta de 1830 se instalaram no sítio Salamanca (hoje Barbalha) vários portugueses e seus descendentes, entre eles Miguel Henrique Xavier de Oliveira e um irmão de nome não apurado nessa pesquisa, onde os mesmos estavam tentando adquirir sesmarias doadas pelo Império. Sem obter muito êxito na aquisição da Sesmaria desejada, o senhor Miguel Henrique Xavier de Oliveira deixou seu irmão no sítio Salamanca e veio com a esposa e alguns escravos tomar posse de uma grande propriedade de terras situada as margens do rio Jenipapeiro cerca de 50 km de sua antiga morada.
Nessa propriedade, Miguel Xavier tratou de criar gado e cultivar mandioca e cana de açúcar, prosperando e se tornando figura importante nessa época, pois, conquistou o título de Deputado Provincial sendo eleito em 1842 atuando na Vila Real do Crato.
Durante o período da Guerra do Paraguai (1964 a 1870) a província do Ceará mandou para o combate quase dez mil homens sem nenhuma experiência militar para o confronto, e para fugir do recrutamento muitos sertanejos procuravam proteção a Miguel Xavier que lhes dava comida e abrigo em troca de seus serviços, desenvolvendo uma espécie de servidão, pois esses trabalhadores não eram remunerados e desempenhavam o papel de servos construindo açudes, casas e rústicas estrada. Assim dezenas de pessoas recebiam proteção em troca de sua servidão, pois mesmo estando no período escravista, os protegidos de Miguel Xavier não eram escravos, se tratando de brancos e mestiços.
Acabada a Guerra do Paraguai, D. Pedro II cria a Guarda Nacional surgindo os Coronéis do sertão, mas um fato curioso foi o de Miguel Xavier passar a ser chamado de Major ao invés de Coronel.
Por ter conhecimento de topografia. O "Major" Miguel deu o nome de sua propriedade de Sítio Caatinga redonda, devido a sua vegetação e por existirem dois riachos (riacho da caatinga redonda e riacho do pia) que nasciam em um mesmo ponto e faziam seus trajetos até desaguarem no mesmo rio (Jenipapeiro), sendo esse trajeto arredondado.
Por volta de 1875, o Sítio Caatinga redonda contava com uma "casa grande", uma capela, um cemitério e algumas taperas de barro onde moravam os escravos e agregados do Major Miguel, pois não havia senzala.
Com o trabalho dos escravos e dos homens abrigados pelo major, a Caatinga Redonda começa a se transformar em um pequeno povoado e perdendo as características de fazenda e tomando forma de um embrião urbano, sendo que sua economia baseava-se agora no cultivo de algodão e na agricultura de subsistência existindo nesse período uma casa comercial (bodega), uma casa de farinha e um engenho localizado no que hoje é conhecido co Sítio Saco que na época era incorporado as terras do Major.
Devido os vários caminhos abertos pelos braços dos negros e agregados do Major, a Caatinga redonda era passagem e alternativa para quem vinha do Sitio da Venda (Futura Aurora) e Missão Velha e ia para São Pedro do Crato (Caririaçu) e o Crato.
Depois de se chamar a Caatinga redonda, em 1935 veio para o povoamento o vigário de São Pedro do Crato (Caririaçu) chamado Padre Chagas que, encontrou na localidade a casa grande (abandonada), a capela em total abandono junto ao cemitério que a circulava , tendo como moradores as famílias Eugênio, Batista e Gomes, uma vês que outra família como moradores morreram com a cólera, varíola e a fome e outras abandonaram o povoado para morar em Juazeiro por causa de Padre Cícero.
Com muito trabalho o padre Chagas conseguiu fazer vários melhoramentos no povoado que passou a ter como padroeiro São Vicente Ferrer modificando o nome do povoado para Valença em homenagem ao santo, sendo que essa denominação não foi legalizada.
Nesse período aconteceram às missões por frei Damião que atraia gente de todas as localidades vizinhas e aos poucos a Valença tornava-se um lugar de muita oração com a fundação da confraria de São Vicente e as irmandades de Maria Nossa Senhora do Carmo.
A partir daí o povoado volta a prosperar com a vinda de outras famílias com o intuito de fixar residência. Nesse período a capela foi derrubada e erguida uma nova igreja (Igreja de São Vicente Ferrer) construída em cima do antigo cemitério que deu espaço para a praça que leva o nome do padre Cícero e o cemitério foi erguido próximo ao vilarejo, que nesse período já existia duas ruas.
Em 1951 através da lei 243/51 o povoado de Valença passa a categoria de vila e passa a se chamar Vila Miguel Xavier sediando o distrito que também levaria o mesmo nome, fato esse que homenagearia o fundador do povoamento mas, não agradaria a toda população da nova vila , pois muita gente ainda acredita na lenda do "Cão da Valença" que supostamente seria finado o Major Miguel, fato esse que deve ser esclarecido, uma vês que o major foi uma figura marcante na história local do povoado, e o conhecimento de sua biografia podem livrá-lo desse rótulo tão pejorativo.
Pela lei estadual nª 6511, de 05 de setembro de 1963, o Distrito de Miguel Xavier é desmembrado do Município de Caririaçu, sendo elevado a categoria de Munícipio, porem a lei estadual nª 8339, de 14 de dezembro de 1965 reintegra o distrito de Miguel Xavier ao Município de Caririaçu.
Muitos outros fatos permeiam a História da Vila Miguel Xavier, Fatos esses que serão mostrados futuramente em outras postagens.