Joacir Soares d'Abadia[1]

"Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles" (Mt 7,12). Desta "máxima de comportamento" que a Igreja chama de "regra de ouro" vamos partir para falar do pecado e da restituição do roubado. Isso porque é a Liturgia deste 11º Domingo do Tempo Comum do ano "C" que nos propõe esta probabilidade de refletir sobre as nossas misérias e fragilidade, o pecado. Para tanto devemos saber o que é o pecado e como se deve restituir ou devolver o que se roubou.

O pecado é toda e qualquer transgressão da lei de Deus. Ele pode ser entendido como "o afastamento de Deus e a conversão às criaturas". É uma falta cometida a si mesmo, aos outros e a Deus.

No segundo Livro de Samuel, fica claro a relação entre pecado e restituição, pois "Davi disse a Natã: 'Pequei contra o Senhor'. Natã respondeu-lhe: 'De sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado' (2Sm 12,13), mas "o filho que te nasceu morrerá" (idem), ou seja, a restituição será feita pela morte de seu filho.

O Salmo 31 diz: "Eu confessei, afinal, meu pecado e perdoastes, Senhor, minha falta". É um pecado cometido a si mesmo: "meu pecado". E foi por sorte perdoado: "perdoastes, Senhor, minha falta". "Por sorte", porque nem sempre que se confessa se recebe a absolvição dos pecados como São João nos diz: "aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos" (Jo 20,23). Santo Agostinho, portanto, diz que "não se perdoa o pecado sem restituir o roubado".

No Evangelho de São Lucas a mulher pecadora foi perdoada: "Jesus disse à mulher: 'Teus pecados estão perdoados'" (Lc 7,48). Jesus a perdoou "porque ela mostrou muito amor" (Lc 7,47). Ela restituiu, se é que precisava, o seu pecado mostrando muito amor.

Deste modo se percebe a íntima ligação que existe entre o pecado e a obrigação de restituir quando se tem possibilidade.

A restituição ou reparação do dano é necessária porque com o pecado da injustiça o penitente só pode ser perdoado, absorvido, mediante a reparação, pois não se perdoa somente com o arrependimento. A injustiça precisa ser reparada para a igualdade possa voltar e reinar entre as relações humanas dando lugar a justiça, ou seja, dando a cada um o que lhe é devido. Assim, a restituição serve como "meio" para se obter, mediante a confissão, a absolvição. Ela atua como uma realidade inibidora do pecado contra a justiça, tendo, pois, a obrigatoriedade em restituir.

Existem vários dados Bíblicos que versam a respeito da necessidade em restituir o roubado.

No Antigo Testamento se encontram vários textos sobre o exercício da justiça do povo: Ex 19-23 e Lv 5,1-26. Estes textos nos mostram que o dado injustamente causado requer a reparação.

O Novo Testamento também é unânime a respeito do tema. Zaqueu disse: "se defraudei a alguém restituo-lhe o quádruplo" (Lc 19,1-10). Tem-se a parábola do servo Mt 18,21-24, Filemon em relação a seu servo Onêsimo (Fm 13-18), São Paulo: "Daí a cada um o que lhe é devido" (Rm 13,7-8), São Tiago fala da reparação devida (Tg 5,4) e também São Mateus na parábola dos talentos explana sobre a obrigação de restituir (Mt 25,14-30).

A Bíblia, deste modo, fala sobre a obrigação de restituir o que se adquiriu injustamente. Seguindo o mesmo pensamento Bíblico têm-se os Padres da Igreja que repetiam a obrigatoriedade em restituir.

Santo Ambrósio disse: "não dar dificilmente é lícito, não restituir é ilícito". Santo Agostinho fala da restituição em relação com a penitência: "O que podendo não restitui o roubado, sua penitência é uma simples simulação".

Por fim, Santo Tomás de Aquino nos ensina: "restituir o que injustamente se tirou de alguém é necessário para a salvação" (S Th., II-II. Q. 62, a, 2).

É preciso afastar-se sempre mais do pecado para se poder participar da mesa do Senhor: a Eucaristia. "Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa" (Lc 7,36). Esta mesa pode ser comparada com a Celebração da Santa Missa, pois Jesus se coloca todos os dias à esta mesa pelas palavras dos sacerdotes. Porém, nem todos podem participar do Santo Sacrifício que é oferecido sobre a mesa, sem antes, fazer sua confissão sacramental, e, quando possível, receber a devida absolvição para se unir ao sacrifício do Senhor a partir da sua Comunhão Eucarística.

Em síntese, é pela confissão sacramental que a pessoa pode restitui seu pecado e voltar à união com Deus, isto é, converter sua vida a Ele, possibilitando o exercício da "regra de ouro". Podendo, pois, Comungar. E, com esta união, dizer como São Paulo disse: "Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).



[1] Joacir Soares d'Abadia, diácono. Fez Filosofia no Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília (SMAB) é autor do livro: "Opúsculo do conhecer" (Agbook).