Aline Morgan de Queiroz Dias ¹

Atualmente tem-se uma variedade gigantesca de modelos para a alfabetização, e por outro lado ainda há uma demanda de alunos que não se “encaixam” em nenhum destes modelos conhecidos. Por isso, muitas vezes, o educador se depara com sentimentos de impotência, desânimo, irritação, entre outros, fazendo com que nos alunos, iniciem-se ou acentuem-se os comportamentos de apatia, agressividade, desinteresse e/ou baixa freqüência às aulas.

A prática alfabetizadora nem sempre é compatível com as necessidades existentes nesse processo, pois as atividades, muitas vezes, menosprezam o conhecimento da criança, pois existem crianças que chegam a escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas e importantes, mas se decepcionam. Todas as crianças necessitam da escola para apropriar-se da escrita, o que nem sempre acontece, pois esta acaba sendo mera reprodutora de signos estranhos.

Como Vygotsky traz,       

ensinam-se as crianças a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem escrita como tal (2007; p.125).

Nas palavras de Smolka (2000), pode-se perceber que quando a criança fala, pergunta ou escreve, é ela quem aponta para a professora o seu modo de perceber e relacionar o mundo. Nessa relação, o conhecimento se constrói. A construção do conhecimento pela alfabetização não pode fugir desta naturalidade, ler e escrever precisa ser tão natural quanto o falar e articular idéias, a escrita da criança é contextualizada antes mesmo de ser expressa e a sistematização do ensino não pode manter-se alheio a isto.

No decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem um papel fundamental para que a criança acesse o mundo simbólico também da alfabetização, período no qual as crianças, de modo geral, têm sua vida mudada, ou seja, saem da educação infantil com um ambiente mais lúdico e entram no ensino fundamental.

Para tanto, segundo Veiga e Weiduschat (2004), quando a criança chega à escola, precisa ser recebida com amor, carinho, respeito e afeto. Cabe ao educador respeitar e despertar a curiosidade dos seus educandos, dando oportunidade do aluno participar manifestando livremente suas opiniõdos seus educandos, dando oportunidade do aluno participar manifestando livremente suas opinies e até mesmo ser estimulado a fazê-lo sem medo de ser ignorado ou contrariado pelo professor. Sendo assim, o professor estará respeitando o aluno, de maneira participativa e afetiva, sem perder sua autonomia.

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno que o minimiza, que manda que ‘ele se ponha no seu lugar...’, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (FREIRE, 1996, p.66).

 

O professor precisa entender a alfabetização como um processo, e levar seus alunos a entenderem como parte do processo, os erros, mas com a medição do professor, eles perceberão como corrigi-los, e superá-los.

 

O grande trabalho educativo deve voltar às mãos do professor. Ele precisa ter liberdade de ação para que se possa exigir dele competência e desempenho profissional à altura dos ideais da verdadeira educação. Sem o professor, não há escola, e, sem escola, não há educação de massa, de que o Brasil tanto precisa. A educação vive mergulhada numa burocracia sufocante. Ninguém parece confiar mais no professor. Todo mundo quer dizer o que um professor deve ou não fazer. Em vez disso, dever-se-ia dar mais liberdade e exigir mais responsabilidade (CAGLIARI,1998,p.39).

Quanto ao seu desenvolvimento cognitivo, a ênfase não pode ser naquilo que a criança ainda não dá conta, mas sim naquilo que só ela é capaz de fazer.

Para que o indivíduo aprenda a ler o que lhe é apresentado graficamente esta mesma leitura precisa ter um significado para ele; é preciso que compreenda que existe um sentido no sistema de representação, entendendo a natureza desse sistema e as possibilidades de uso oferecidas através dele, o que viria a ser uma quebra com a limitação imposta pela constante fragmentação de palavras e textos no processo de alfabetização.

Como traz Azevedo, nas escolas em geral encontra-se um planejamento que privilegia o aspecto cognitivo em detrimento do aspecto afetivo, fruto de uma proposta educacional que prioriza a cognição como elemento principal no processo de aprendizagem.

O desenvolvimento afetivo e intelectual são aspectos diversos de uma mesma e única realidade, eles são inseparáveis, pois o desenvolvimento de um depende do desenvolvimento do outro. Afinal, é a emoção que estabelece o vínculo entre o eu e o mundo humano; é ela o instrumento, o elo que proporciona o laço que une a vida orgânica à vida psíquica (AZEVEDO, 2003, p.164).

Para o professor 8, é fundamental haver este vínculo entre afetivo e cognitivo, “pois só assim o professor vai perceber se o aluno está ou não aprendendo, e ver quais suas dificuldades”.

A sala de aula é um ambiente onde as emoções se expressam. Como em qualquer outro meio social, na escola também existem diferenças, conflitos e situações que provocam os mais variados tipos de emoção. Já que é, praticamente, impossível viver no mundo sem emoções, cabe ao professor administrá-las, utilizando-as como fonte de energia, e se possível, usar as expressões emocionais dos alunos como facilitadores do conhecimento, sabendo que o afetivo é parte do processo de conhecimento.  

O sujeito que vê a escola como um espaço pouco atrativo e diferente do que é externo a ela tem pouco desejo de permanecer lá, é preciso que faça sentido para ele, que as relações estabelecidas naquele espaço sejam significativas e capazes de transformá-lo de alguma forma. A construção do conhecimento através das relações provocadas pela alfabetização só pode ser dada em um ambiente tão permeado pela leitura e pela escrita quanto aquele ao qual a criança estava acostumada antes de ser enviada à escola.

A escola, como espaço legítimo para promover a apropriação da experiência culturalmente acumulada, deve levar em conta que os aspectos cognitivos e afetivos andam juntos, e a partir daí proporcionar o desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade. Toda aprendizagem impregnada de afetividade, em especial no processo de alfabetização, possibilita a participação do sujeito no desenvolvimento cultural da humanidade, compreendendo o real, aceitando-o, criticando-o e transformado-o, se necessário.

¹ Aline, pedagoga, psicopedagoga, atualmente leciona na prefeitura de Rondonópolis-MT.