Nosso país tem sido um casulo seguro para aqueles que cometem grandes delitos. Os pequenos delitos também acabaram sendo suportados pela sociedade e pelas autoridades. O tempo passou e essas atitudes começaram realmente a incomodar. Hoje podemos enxergar sinais de que a sociedade não mais suporta a impunidade.

Certas empresas, entretanto, caminham ainda no sentido da permissividade e da não punição. O que está acontecendo com elas? E o que mais poderá acontecer?

Há empresas, em sua grande maioria familiares, em que não há o receio da punição. Seus funcionários vivem num clima normalmente pessimista, onde impera a morosidade e o “jogo de empurra” quanto às responsabilidades individuais dos mesmos. Para alguns o ambiente torna-se enfadonho demais e, ou seu desânimo e apatia fica aparente ou eles acabam deixando a empresa na primeira oportunidade.

A perspectiva de trabalhar em um local onde nada (ou quase nada) será motivo para punição pode parecer tentadora mas, acredite-me, a coisa pode ficar muito feia.

Em primeiro lugar o profissional acaba por acomodar-se em sua posição. Não podemos esquecer que essa acomodação é positiva no sentido de que ele tenderá a permanecer muito tempo na empresa, mas empresas que permitem isso normalmente não oferecem também um plano de carreira. Isso significa que a cadeira onde o profissional se senta não deve ser alterada também, ou seja, esqueça promoções, aumentos, cursos. Se o profissional se acomoda e a empresa permite, o acordo já está feito, não há mais o que pedir um do outro.

Em segundo lugar a comodidade não será só para um profissional, será para muitos ou todos. Nesse caso ninguém se levantará no sentido de melhorar as coisas. Como não há punição e também não há crescimento, a tendência ao acomodamento geral tomará conta da empresa e esta também estagnará.

Na terceira posição temos a temida “dança das cadeiras”. Temida sim, porque os bons profissionais com certeza se afastarão do ambiente, enquanto os acomodados tomarão cada vez mais conta do meio. A “dança” se dará de forma que profissionais que buscaram o crescimento próprio e da empresa e não encontraram terreno fértil para o plantio sejam substituídos por profissionais que se adéquam melhor ao ambiente, ou seja, que se permitirão estagnar. A voz dos bons profissionais será sempre abafada pela maioria e, salvo ledo engano, a maioria se sente segura em sua “zona de conforto”.

Segue ainda que, apesar do ambiente interno desagradável, como não há movimentos de mudança também não se sentem movimentos de conflito que envolva a alta direção e, à luz dos familiares donos, tudo está na mais perfeita ordem. Eles também se acomodaram e acreditam que se tudo está fluindo então nada há a fazer. Quem os cerca também se acomodou e passa mensagens positivas sobre algo que, se não está negativo, vai ficar.

Cegos e apoiados por profissionais que querem manter seus cargos e salários sem esforço de produção perpetuam a política da “mão na cabeça”. Valorizados serão os que permanecem há mais tempo participando desse vulcão de ilusões que se tornou a empresa e, se alguém tenta falar contra isso, será então castigado. E esse castigo não virá da empresa, mas de seus pares e superiores, pois que não estão dispostos a investir tempo e esforço para não ganhar nada mais do que já possuem.

A empresa irá sofrer muito com isso no futuro, pois perderá as cabeças pensantes, perderá aqueles que tem em si a vontade, a ambição, e ficará com todos que preferem ficar encostados no canto, recebendo seu salário religiosamente em dia e oferecendo em troca apenas o que lhes garantirá a manutenção do estado vigente.

Mas o profissional que assim age verá que o castigo mora não ao lado, mas em frente. Com o tempo sua empregabilidade cairá, sua capacidade de reação será mínima e ele se encontrará acorrentado a situação. Por mais que busque, não encontrará alguém que lhe ofereça o que tem hoje em troca do que faz. Ele se tornará pouco na visão do mercado e, por fim, sucumbirá.

Muitos profissionais que estão nessa situação reclamam, mas se esquecem de que quem não está satisfeito deve se movimentar. Quem discorda que “os incomodados que se mudem”? Pois então a reclamação na verdade é em voz abafada, quase com os dedos apontados para si próprio.

Incapazes de encontrar algo melhor, incapazes de encarar o mercado e galgar uma posição digna, acomodam-se onde estão, sentam-se em suas cadeiras e ficam olhando o tempo passar. Ignoram que o tempo passará não somente para a empresa, mas para eles. Sua única preocupação é não chamar atenção sobre si e garantir o estado das coisas. Se a empresa resolver acordar do estado inercial em que se encontra, estarão perdidos, e é isso que os impulsiona, somente.

O castigo, meus amigos, virá sim. Se não da empresa, virá do mercado e prejudicará a própria empresa, mas também os atingirá.