O AVC ensina o que é dependência

Antônio Padilha de Carvalho

Engasgou com comida, arregalou os olhos, começou a babar sem parar, caiu de lado, vítima do AVC (Acidente Vascular Cerebral) mais conhecido como derrame.

  sangue é bloqueado, não chega ao cérebro, que sem oxigênio, é muito prejudicado.

 As seqüelas são visíveis: Movimentos desordenados, não fala, não sorri, falta sensibilidade em partes do corpo.

 Passados os dias, vai aprendendo vagarosamente a depender dos outros. Não possui forças, nem física nem mental. É visto como coitado.

 Boca torta, parte da língua pra fora, olhar morno e distante, muita baba, queixo mole.

 É comum nessa fase a chamada depressão debilitante.

 Lá vem o tratamento: muitos exercícios, andador, banhos vigiados, massagens, remédios, dependência pra tudo!

 Corre o risco de tornar-se totalmente passivo diante da vida e da TV, não deseja visitas, fecha-se em copas. Depressão emocional.

 Ao invés de buscar melhorar-se, não deseja nada, não empenha, entrega-se. Cadeira de rodas.

 Todos ficam cansados.

 Todos sofrem a doença do traumatizado.

 Come fazendo muito barulho, reclama de tudo!

 Outros procuram vencer a dependência, andam, sobem e descem degraus. Usam muletas, bengalas, apóiam-se em corrimão e balaustres, tentam e forçam falar, mesmo com voz rouca e sufocada, sorriem desajeitadamente, querem voltar a escrever. Cantarolam músicas fáceis. Ajudam-se, progridem...

 “Queixar é aborrecer outros com nossas dificuldades”.

 Não sou criança, mas preciso de cuidados. Sou semi-inválido, por enquanto! Desejo resgatar a minha capacidade e responsabilidade!

 Tenho as minhas vontades, não vou ficar encostado nos outros, apesar de necessitar das suas ajudas.

 Descubro novas maneiras de viver e divertir. Procuro um mundo de novos interesses. A vida continua...