Narciso, personagem grego, amava tão intensamente sua imagem, que foi tal o motivo de sua morte. O narcisismo, característica da qual o nome provém deste mito, vem sendo um desafio para o homo sapiens desde os tempos mais remotos até os dias atuais. O homem sempre teve como maior inimigo seu próprio ego; porém tal inimigo, ao longo da história, metamorfoseou-se diversas vezes, adquirindo diversas formas. O ser humano, por ser um animal racional, possui algo que os demais seres vivos não possuem: a vaidade. Ao longo da história, milhares de homens sucumbiram devido à vaidade de um só. Há mais de 2000 anos, no Antigo Egito, escravos trabalhavam de maneira sobre-humana e perdiam suas vidas para construir o túmulo de um único faraó. Na Idade Média, época tão religiosa, este pecado capital reinava ao lado da Igreja, na forma de indulgências, riquezas e hipocrisia. Já na Revolução Francesa, os burgueses ascendiam sob a ira e revolta dos camponeses, os quais batalharam por condições melhores, e por fim, tudo que ganharam foi mais miséria e a burguesia farta de poder. “Circunstâncias? O que são as circunstâncias? Eu sou as circunstâncias!”, disse Napoleão Bonaparte, um pequeno homem com um enorme complexo de superioridade. Dando um curto salto na história, chega-se ao Comunismo, ideia que primeiramente visava ao bem do povo e à igualdade, mas, devido à vaidade, tornou-se um peso repleto de matança e disputa por poder. Há também o gritante exemplo de Adolf Hitler, ditador que estabeleceu sua ambição e ufania diante da fraqueza de um país economicamente decadente e publicamente humilhado após a Primeira Guerra. Os caprichos de um homem levaram à morte cinquenta e nove milhões de pessoas. Posteriormente, há a disputa ideológica entre os Estados Unidos e a URSS, uma batalha por poder, controle e supremacia, guiada pura e simplesmente pela vaidade política e econômica de tais potências. Porém, no século XXI, a vaidade tomou ainda novas caras, expandindo-se à publicidade e estética, às redes sociais e capas de revistas, às cirurgias plásticas e aparências, resultando-se o eterno “querer ser”. Por fim, o Narciso atual vive uma grande contradição: amar-se ou odiar-se? O novo século, marcado pela gritante globalização e instantânea comunicação, carrega junto de si um fardo: a insatisfação completa. Tal insatisfação faz com que a vaidade atual seja contraditória e infinita. Contraditória pois, já que acompanhada pela insegurança e auto depreciação, transforma-se em uma vaidade inversa: gasta-se dinheiro com plásticas e melhorias estéticas, porque, na realidade, odeia-se o próprio corpo. E infinita pois, já que o arquétipo (exposto nas revistas, sites, programas de televisão) nunca será atingido, a busca pela perfeição nunca terá fim. O Narciso contemporâneo, devido ao excesso de informação, ao exagero da publicidade e à estereotipação do ideal, encontra-se estagnado em sua insaciável vaidade. “Feliz aquele que superou seu ego”, dizia o famoso Buda.