Jackson Cruz

Chorava copiosamente, o que teria acontecido? Não se sabe. Viam-se as lágrimas, ouvia-se o choro, mas o motivo não se sabia. Ninguém ousava perguntar. O pranto comovia, inquietava, angustiava.

De repente adormeceu. Suspirava forte. Contorcia-se encolhida em cima da cama sob a fraca luz do cubículo onde dormia, submersa naquele silêncio agora sepulcral.

O que sonhava? Será que sonhava?

As pessoas se entreolharam, seus olhares se interpenetravam, se invadiam, confundiam-se, consumiam-se, mas niguém ousara quebrar o silêncio, que era cortado compassadamente, vez por outra, pelos suspiros chorosos vindo daquele peito sufocado pelas lágrimas.

A noite ficou densa e negra, a lua retirou-se. Não sei se havia lua naquele dia. As estrelas fugiram. O sol surgiu rápido; refulgente.
Já não havia tanta gente na casa. Olhou-me ternamente, desenhou-se um sorriso pálido em seu rosto encharcado.

Lá fora a vida teimava em continuar; nos convidava. Os pássaros cantavam sua música preferida. Brotaram-lhe novas lágrimas, sorriu-me, lavou os olhos, secou o rosto. Sorriu-me novamente.

Percebi: tudo agora existia apenas no passado…
… era primavera, haviam flores, belas e cheirosas flores no jardim.

                                                              Porto Seguro, 21/07/09.
Jackson Cruz
Publicado no Recanto das Letras em 27/07/2009
Código do texto: T1721841