Liderança Formal X Liderança Legitimada

Os integrantes da Polícia Civil em nível nacional e estadual passam por agruras no plano institucional e isso todo mundo sabe.

Alguns mais preocupados e conscientes questionam o que se pode fazer e o que já deveria ter sido feito há muito tempo para se colocar nossa organização no "rumo certo".

A meu ver uma das questões basilares seria a discussão sobre "onde estão nossos líderes" e por quê não aparecem ou não dão o ar da sua graça.

Sem pretender fazer um tratado e apenas abordar de forma pragmática esse assunto, peço licença para fazer um breve ensaio sobre dois tipos de lideranças. Vamos lá:

1. Liderança Formal é aquela inerente ao comando de uma instituição e que se identifica com o próprio governo instalado nos diversos cargos/funções de confiança. A natureza desses encargos (incluídos os mandatos classistas) justificam os meios para se atingir determinados fins que se subsumem precipuamente em resultados de interesse partidário. Essa liderança se torna consistente na medida em que mantém a máquina administrativa em funcionamento, o que ira determinar o quantum de sobrevivência e avanços institucionais (ou retrocessos) serão autorizados pelos governos dentro da tríade: "espaço" - "tempo" - "prestígios pessoais". Essa forma de liderança defende interesses dos governos e seus representantes. Seus líderes executivos buscam desempenhar funções inerentes a seus cargos mais direcionados a produzir resultados positivos de natureza político-partidária, tudo obtemperado pela fidelidade/lealdade à classe governante. As suas ações têm como meta principal a produção de resultados formais. Os seus comandos internos são verticais, exigindo a observância de protocolos hierárquicos compartimentados e um sistema disciplinar coercitivo. Possui proeminência enquanto se mantém formalmente jungida aos governos que representa, e seus representantes exercem seus "múnus públicum" de maneira impositiva, estando a visibilidade geralmente calcada no exercício dos cargos, mandatos, atos, convocações, reuniões e assembleias.

2. Liderança Legitimada não se vincula a governos e surge das próprias bases, em razão de atributos pessoais (histórico, experiências, ideologias...) e de necessidades prospectivas (reformas, liberdades, valorização profissional, inclusão institucional...). Quanto mais invisível e mais subterrânea maior a sua eficácia na produção de resultados e na formação de um "bloco histórico" capaz de mobilizar as classes e assim se legitimar perante seus pares. Geralmente se antagoniza com a "liderança formal" na medida em que defende interesses da sociedade e da categoria que representa (também pode se completar quando exista um possível processo sinergético). Os resultados de suas ações na sua maioria carreiam propósitos direcionados a mudanças de base e reengenharia institucional a partir de novos paradigmas (ou aperfeiçoar os já existentes), tendo como fundamentos um sistema dual que envolva: estrutura e superestrutura institucional (a classe e os dirigentes posicionados em cargos de confiança) voltadas à formação de um bloco histórico único capaz de produzir mudanças na estrutura e organização. Não existe forma de comando e se manifesta no plano horizontal, como clamor da classe (e da sociedade) que precisa "respirar" e ser "ouvida". Não faz parte de governos (nem de organizações sindicais/classistas) e não busca projeção pessoal que é substituída por padrões éticos e valores existenciais onde o que menos conta é o prestígio político pessoal ou formal (dos detentores de cargos em confiança ou mandato). Utiliza-se, em especial, de recursos tecnológicos e de contatos pessoais para agir ou se manifestar.

Em determinados contextos as duas lideranças podem se aproximar (apesar das vicissitudes imanentes) e quando interativas podem surpreender de maneira a magnetizar a classe a partir do elenco de prioridades institucionais e como meio de se poder atingir objetivos comuns.