Dia 16.09.1998, às vinte horas e quinze minutos...

"(...)

 12 - Tertúlias e confrarias: 

Sim, o relógio apontava para  20:15 horas, quando estacionei meu carro em frente ao Restaurante Candeias (Bairro de Barreiros - São José - SC), orientado por uma pessoa que se prestava para esse serviço, bem à frente do estabelecimento. De imediato e para a minha surpresa avistei o Delegado Rubem Garcez conversando com o colega Cláudio Palma Moura...:  "Ué, o Cláudio veio, mas que bom...”, pensei.  Enquanto concluía a manobra eis que surgiu Jorge Xavier de terno com aquela sua silhueta  de tecnocrata  e de quem estava em estado de graça deixando transparece que fazia o que gostava, bem a moda de dirigente de uma orquestra sinfônica tupiniquim, e já saltitou o pensamento não menos brevilineo: "e tem tudo haver, pois ele na sua juventude tocou em conjunto...”, guardei o riso interior.

Ainda em pé, surgiu os primeiros contatos. Cláudio deixou escapar uma frase de boas vindas...:

  • Mas como emagrecesse. Pô, como estais magro...
  • É, é a alimentação...

Garcez – com seu olhar cintilante e sorriso aberto e sempre comedido, intercede:

  • Não precisa encolher a barriga...

Enquanto Jorge convidava os dois para sentar, por trás, cutuquei forte o ombro de Cláudio, externando meu prazer em revê-lo. Já refeito da emoção dos primeiros contatos, pensei: ‘...realmente era ele, estufado, anêmico...’. Não pude deixar de lembrar da Sandra Andreatta.. Tive que vaticinar para mim mesmo: ‘...mas que diabo esse tempo implacável em deformar a matéria...”. Realmente, havia anos que não nos víamos e já sentado ao seu lado abri o diálogo:

  • Olha pessoal, foi por meio de Cláudio que ingressei na ACAPOC em 1982. Foi ele que levou para contribuir na diretoria... o tempo passou ele saiu e eu fiquei... cheguei a presidência e, a partir daí, fundei a FECAPOC e consegui as realizações...

Jorge Xavier imediatamente intercedeu...

  • Puxa, é mesmo, isso é histórico! Você prefere que lhe chame de Cláudio, Palma ou Moura?

Depois de alguns instantes pensativos, vendo a incerteza e surpresa do companheiro, vociferei:

  • É Cláudio...

Mas para minha surpresa, em seguida ele me corrigiu:

  • Pode me chamar de ‘Palma’...

Trocar Cláudio por Palma eis a questão. Jorge solenemente diz: ".aceito", como se tivesse superado mais uma etapa importante no contexto...Pensei então: "Palma’s para ele, mas taí, no sentido dos amigos de Palma, já que o espírito era unir e fortalecer o grupo.

  • Assim está muito bom Palma.(Jorge)

Depois de me recompor daquele imbróglio lembrei que já tinha ouvido outras vezes essa frase relativa ao histórico...

Do outro lado da mesa, enquanto Jorge complementava, observei mais uma vez Garcez, com seu semblante externando um sorriso alvo e constante, combinando com seus cabelos grisalhos... O ‘espanhol’ – como costumava chamá-lo mais antigamente -  ao mesmo tempo que assumia aquela doce feição e ensaiava gestos harmoniosos quer com o corpo... estilo dançarino... aguçava seu olhar e deixava escapar frases bem articuladas..., reprisando aquele comportamento de expectação de quem confere as relações que vão se constituindo com o novo convidado... e deixa bem claro o seu desassombro quando constata a amizade já que nutria com Cláudio... um verdadeiro ‘gentleman’ ...esse comportamento social – especialmente em restaurantes – tinha o poder de deixá-lo à vontade, solto, liberto e pude mais uma vez me certificar que essa era uma das características marcantes de Garcez  e que poderia denotar um misto de carência e de analista de comportamentos. De outra parte, oportunizava um momento para a constituição de relacionamento interpessoal e que proporciona aquele sentido de importância em poder participar de algo capaz de transformar coisas... Nesse momento, fixei meu olhar mais uma vez em Jorge e aí pude ver que ambos tinham esse quê, enquanto que Cláudio se mantinha fechado como era sua característica, e eu já sabia disso.

Passados alguns instantes, olho para porta e vejo Krieger entrando com seu andar rápido, como quem não quer perder os detalhes. Pensei: “além de ser talentoso, o cara leva sério o que faz e, principalmente, o trabalho do grupo, isso é muito  bom”. Mal passou esses pensamentos, Garcez sorridente dá o tom das boas vindas:

  • Esse Krieger sempre com o seu sorriso.

Como já era esperado e nisso ele sempre foi muito bom Jorge passa a fazer um relatório sobre o tal ‘Projeto’ (Unificação dos Comandos das Polícias/SC) e como tudo começou: "‘O ‘Plano’ foi feito pelo Felipe (não me senti à vontade e se pudesse naquele momento dizer: "corta, corta, não precisa citar meu nome, mas não adiantaria,  o Jorge era assim mesmo") e eu, o Júlio e o Knaesel também assinaram o 'plano'"’. Depois de alguns minutos Jorge mencionou que convidou para nosso encontro o Delegado Osteto e como ele era aposentado não tinha certeza se viria. O Delegado Wilmar Domingues também ficou de vir mais tarde porque tinha futebol. Esclareci que se tivesse sido ontem era mais provável que ele viesse, pois não estaria suado do futebol.

Garcez tinha outra característica marcante e que eu conhecia muito bem: "‘era demasiadamente compulsivo por falar, mas também sabia escutar muito bem, acho que isso pelo seu conteúdo,  aliado também ao fato de que a instituição nunca havia proporcionado meios para que profissionais competentes pudessem dar vazão ao intelecto, e tudo acabava dando nisso, os éticos e os "espertos", fazendo com que os pensamentos me dominassem naquele instante: "Temos muitos ‘Garcezes falantes’ na Polícia Civil, mas, também, vá lá né, cada um tem as suas características próprias. e é assim que caminha a humanidade (daquele famoso filme com  James Dean...). Mas lá vem o espanhol outra vez com todos os olhares dirigidos para o Delegado ‘Palma’:

  • Olha eu conheço as propostas de Sché (Delegado de Polícia, ex-Deputado Estadual e Secretário de Segurança) participei de uma reunião com eles antes que o Felipe me convidasse para integrar o grupo, não sei se tu conheces o Nilton, ele é Escrivão e trabalha comigo na Terceira Delegacia do Estreito?
  • Conheço sim. (Palma).
  • Pois é, tem que haver renovação, o Júlio representa isso, eu tive vendo o pessoal que está com Sché e eles são os mesmos de quinze anos atrás. O projeto que o Felipe fez eu tive a oportunidade de manusear e ele não foi discutido, possui inconstitucionalidades, bom eu nem vou falar, mas para sua viabilização depende até de emenda constitucional (Garcez).

Jorge antenado,  oblitera as palavras de Garcez e disse:

  • Sobre o projeto depois o Dr. Felipe vai fazer uma síntese..

Krieger, sentado do meu lado direito me dirige a palavra e aditou:

  • O projeto é muito bom, tu não tens uma cópia dele aí para dar para ele?
  • Não, a não ser que tivesse uma impressora aqui, realmente eu tenho que andar com umas cópias.

Jorge entrou retomando o fio da meada:

  • Palma, se o Heitor Sché se eleger eu não tenho dúvidas que o nosso ‘Plano’ vai parar. Se o Júlio se eleger aí sim temos chance de implantar. O Sché tem dito por aí que vai ser o Secretário de Segurança.

Krieger complementou:

- Temos que mostrar uma postura ética...

Entrei na conversa e disse a Palma:

  • O tal ‘Plano’ possui linhas gerais e pretendeu estabelecer um juízo de admissibilidade sobre a nossa participação no futuro governo. Era preciso nós sabermos de antemão se o futuro governo Amin vai manter a nossa isonomia, as nossas conquistas sem as quais está abortada qualquer participação.
  • Realmente. (Palma).
  • Então Cláudio (Palma), o ‘Plano’ não está pronto e acabado (Felipe).
  • É, ele poderá ser ainda alterado, o fundamental é que estejamos no poder, pois isso abre uma perspectiva para que possamos contribuir efetivamente  para mudarmos uma série de coisas. O projeto do Sché é excludente.(Garcez).

Jorge volta aos tempos da Diretoria de Investigações – DI (década de setenta) - e  citou o Delegado Aldo Prates que comandava os "menudos" (policiais motoqueiros da Deic, na época chamada de "Doic") e Krieger deu gargalhadas (Lembrei em frações de segundos que Prates teria me dito em 1988 - na sede da ex-Superintendência localizada na rua João Pinto - que tinha aceito aquele comando em razão de ter sido preterido na nomeação para cargo comissionado e por isso o Chefe de Polícia "Pedrão" (Delegado Pedro Benedeck Bardio) teria prometido a sua ‘promoção por merecimento e o comando daquele ‘pelotão’ com função gratificada (na época não havia critérios para promoção por merecimento e valia o "QI". Recordei as fotos dos motociclistas com seus coletes estampando manchetes nos jornais com Prates na dianteira, os policiais civis com aqueles seus capacetes, cheguei a pesar em contar para o Krieger mas pensei: "deixa para lá, tudo isso agora é história, mas felizmente mudamos o sistema de promoções e acabou aquela festança de só se promover os amigos do rei em troca de favores...". Voltei à realidade e me dou com Jorge perguntando a Palma (Cláudio):

  • Você quer participar do nosso ‘Plano’?

Antes que o Cláudio respondesse qualquer coisa, intercedi:

  • Mas ele nem conhece o tal ‘Plano’ Jorge, como é que tu fazes essa pergunta?

Entre as gargalhadas de Krieger, Garcez e do próprio ‘Palma’, imediatamente surge o olhar desconcertante de Jorge que desconfortado com a situação, vendo que a minha colocação colocava em xeque todo o cerimonial que havia precedido a sua narrativa e o seu próprio estilo, antes que fizesse qualquer ponderação, me antecipei aproveitando  para dizer:

  • Deixa que eu já vou explicar o ‘Plano’ e depois aí sim, né Cláudio (Felipe).
  • Tá  bom, o Dr. Felipe vai fazer uma síntese do Plano...?

Assumi a palavra e passei a fazer uma síntese da primeira página...:

"Pois é Cláudio, pretendeu-se repensar primeiramente essa função de ‘polícia’ do Estado que deve ser vista a partir de uma nova perspectiva, não como uma função que pode ser delegada, terceirizada, mas sim, como a função de ‘Justiça’ é essencial ao Estado, também essa função de ‘Polícia’ deve ser tida como algo imanente e essencial a própria soberania de um Estado forte e comprometido com reformas sociais. Assim, pretende-se acabar com essa dicotomização tradicionalmente existente entre polícias civil e militar. Nós pretendemos ter apenas uma Polícia Estadual. Dentro dessa nova visão procurou-se ver a coisa de fora para dentro e não como algo hermeticamente fechado e que somente interessa aos integrantes da corporação. Que espécie de Polícia a sociedade gostaria de possuir? Obviamente que concluímos pelas pesquisas e estudos desenvolvidos principalmente em São Paulo de que ela deve ser única. No entanto, pretendemos respeitar a história, os valores e os princípios das duas polícias. Nesse sentido, pretendemos que haja uma unificação de comandos, a partir da criação dos cargos isolados de Procuradores de Polícia que seriam quinze cargos destinados para os Delegados de Quarta Entrância e o mesmo percentual seria destinado para os Coronéis que não possuem o posto de General e assim poderiam ser também promovidos. Com isso se faria tão-somente a unificação dos comandos. Outro fator de relevância é que diferentemente de uma Secretaria de Estado, cujos cargos comissionados são preenchidos por critérios políticos, com a criação da Procuradoria Geral de Polícia isso seria bastante minimizado como ocorre nas Procuradorias Gerais de Justiça e do Estado... que se constituem órgãos mais técnicos...

Depois da explanação, Palma comentou:

  • É uma mudança radical...

E novamente Garcez  entra na conversa:

  • É, eu tive vendo o ‘Plano’ e ele não foi discutido... A sua viabilização  depende até de emenda Constitucional Felipe...
  • Garcez nós temos que raciocinar que a Polícia Militar está fora do ‘Plano’, conforme já adiantou o Júlio que foi bastante categórico e sinalizou que eles não vão se incorporar. Assim, realmente eu já previa, inclusive, a necessidade de Emenda Constitucional, mas diante da posição da PM isso fica prejudicado...
  • É, mas as mudanças terão que ser efetivadas por Lei Complementar. (Garcez)
  • Ah, sim, por Lei Complementar. (Felipe)
  • A Polícia Federal conseguiu introduzir muitas disposições na Carta Federal... (Garcez)
  • Mas Garcez, o que tem haver a Polícia Federal com a Polícia Civil nesse caso? (Felipe)
  • Não, a Polícia Militar... (Garcez)
  •  Ah, então tá... (Felipe)

A seguir, olhei para minha direita e lancei uma isca no ar:

  • Krieger, tu estais dando aula para o filho do Mário (Delegado Mário Martins)?
  • Que filho do Mário? (Jorge)
  • É, o filho mais velho do Mário Martins? (Palma)
  • O filho do Mário também está fazendo a Acadepol? (Garcez)
  • O que, não vai dizer que o filho do Mário também passou? (Jorge)
  • Sim, vai dizer que vocês não sabiam (famoso concurso da Acadepol de 1998). Pô, será que é eu que tenho que trazer as novidades? (Felipe)
  • E a formatura é agora, atropelaram tudo, estão fazendo os exames odontológicos lá na própria Academia. O pessoal é chamado na sala de aula, vão fazer a solenidade de posse e a entrega das carteiras tudo num mesmo ato. (Krieger)

Seguiu-se um breve silêncio...

Garcez passa a falar sobre o curso de oficiais na Academia de Polícia... Lembra que estivemos com Backes (Walmor Backes - ex-Comandante-Geral da PM/SC) num daqueles primeiros encontros de julho no Quartel da Polícia Militar quando o Coronel relatou os convênios que estavam celebrando com a UNISUL, criando o curso em nível de mestrado para oficiais... (lembrei que nesse dia Garcez ficou afetado e enquanto deixávamos aquele Comando, bastante ofegante comentava: "...vê Felipe, o que esses caras estão fazendo, como nós estamos atrasados, nós temos que mudar aquela Academia, é uma vergonha...". Lembrei que olhei fixo para o meu companheiro e vendo que nada adiantaria eu tentar retirar o ‘encanto’, preferi passar batido e dissimulei meu desapontamento por tamanha inocência). E, agora, o espanhol Garcez estava trazendo à tona o delírio daquele oficial superior e principal referencial de Amin na Segurança (não que não fosse importante se fazer tais convênios, mas o que chamou a atenção foi a forma ‘impressionista’ com  que  foi colocada a questão, dando um sentido de grandiosidade e que com tais títulos eles passariam a se constituir a oitava maravilha do mundo antigo e, do outro lado,  pobres de nós que somos atrasados mesmo, mas não é que o efeito ‘Backes’ pegou o Garcez de vez... Não deixei de notar também aquele brilho no seu olhar, a feição à "Bismark"... ).  Krieger tratou de dar uma aula sobre os cursos que são realizados na Academia da Polícia Militar e Jorge lembrou ainda que lá eles tem até aula sobre "História da Polícia",  conhecem tudo, enquanto Krieger comentou:

  • Olha, graças ao livro aqui do companheiro é que eu lendo seus comentários aprendi que em 1808 foi criada a Intendência Geral de Polícia, cujo titular era um Desembargador que precisava de seus Delegados e depois vieram as reformas de 1827, 1842.e daí que surgiu..., não é Felipe?
  • É, mais ou menos assim.
  • Nós tínhamos que ter pelo menos uma palestra sobre história da Polícia Civil para os alunos da Acadepol. (Krieger)
  • Ah, sim, palestras que enfocassem esse assunto seriam muito importantes... (Garcez)
  • É, no meu relatório que remeti há alguns dias para a Secretária Lúcia recomendei mais uma vez que se criasse na Acadepol uma disciplina de História das Organizações Policiais e da Justiça, mas... (Felipe)
  • Ah, se criarem uma cadeira o titular vai ser tu... (Garcez)
  • Não tem problema, estou à disposição, mesmo não gostando do magistério. (Felipe)
  • A criação de uma cadeira sobre essa disciplina é importante não só para o conhecimento, mas, também para que o futuro policial tenha uma visão crítica do aparelho como um todo, de sua posição no contexto social, que estimule a se repensar o seu papel na socidade... (Felipe)
  • Tem que se ministrar aulas sobre noções do direito aéreo para os policiais civis, aquele acidente de Lages poderia ter sido evitado se o policial civil tivesse algum conhecimento sobre o assunto... (Krieger)
  • Eu conhecia o cara que morreu, naquela semana eu tinha visto no ponto de ônibus o rapaz que era piloto, ele era meu amigo.(Garcez)
  • Tem que se ensinar na Acadepol por exemplo o que é um BREVE, a maioria não sabe nada sobre isso A Alina – filha do Dr. Pedro Largura – que inclusive morou em Londres é minha orientanda no curso de pós graduação, é uma garota muito inteligente, bonitinha, precisa ver que graça de pessoa... (Krieger)
  • O Dr. Largura foi médico psiquiatra e muito conhecido, tu conheces ele Felipe? (Garcez)
  • Eu conheço sim. (Felipe)
  • Tem aquele Delegado de Chapecó especialista em adestramento de cachorros, é o Hann...
  • Ah, sim é muito interessante o trabalho dele. (Krieger)

Gizei que não valesse a pena intervir para dizer que na verdade não se tratava do Delegado de Chapecó, mas sim de Seara (e veio a lembrança da visita que fiz a esse Delegado dos cachorros no ano de 1995...), quando começo a observar novamente o Garcez extasiado com as informações que Krieger instigado, falante e absoluto passa a explanar sobre cursos de mestrado, doutorado, estavam ali duas aves raras, um mais propenso a ser impressionado e o outro impressionista, bons amigos e boas companhias!

  • Eu sou um autodidata, mas o que tem de curso de pós graduação lá na UFSC? (Garcez)
  • Filosofia do Direito e Relações Internacionais. (Krieger)
  • Mas não tem dogmática jurídica, Direito Penal? (Garcez)
  • Ah, lá vem esse negócio de títulos, esse culto aos diplomas. (Felipe)
  • Ah, Felipe, hoje eles tem um valor. (Garcez)
  • Ah é, hoje eles são muito importantes, até hoje a Lúcia não me chamou. (Krieger)
  • Pois é, na minha época eu te valorizei, apesar de não teres ganho um cargo em comissão, te escolhi para fazer curso de piloto de helicóptero. (Jorge)
  • A Polícia Civil tem que ter um helicóptero, eu estive em São Paulo, pilotei a nave deles, é uma coisa. (Krieger)
  • E deixamos tudo pronto para a aquisição do aparelho, e não compraram. (Jorge)
  • Mas tem um helicóptero lá na Delegacia-Geral (na verdade queria lembrá-lo da motocicleta...) é aquele Jorge que está lá na Galeria dos ex-Chefes de Polícia,  aquele brinquedo... (Felipe)

Fui ao banheiro e quando volto encontrei Jorge novamente falando do curso de arbitragens, aquele em que o Krieger havia defendido tese de mestrado na Inglaterra.  Lá pelas tantas, Krieger  enfatizou que a revista da ADPESC (atual Adepol) foi de uma iniciativa muito relevante, de responsabilidade do Delegado Thomé, justiça seja feita.

  • Tem um artigo meu no primeiro número. (Krieger)

Lembrei que há alguns anos atrás havia apresentado anteprojeto para criação da Revista Trimestral de Polícia Judiciária e Jorge lembrou a Lei que trata do concurso de monografias que foi proposta na nossa época (Jorge errou, o projeto foi apresentado em 1994, quando ele já não era mais Delegado Geral, mas tudo bem, naquela hora é era para faturar, já que somos todos do mesmo time). Krieger lembrou do Museu da Polícia Civil e que Lara Ribas teria levado tudo para a PM. Como tinha sido eu o autor da informação, tratei de apenas concordar que isso realmente ocorreu no passado (lembrei que nem poderia ser diferente, pois Lara Ribas valorizava a história e se tivesse deixado o acervo no DOPS – certamente – que o material já teria virado pó ou como ocorreu com vários documentos importantes, conforme já havia me relatado o Delegado Lauro Braga que trabalhou no Dops na época que era Comissário de Polícia e o Alípio Matje (Agente de Polícia aposentado) que trabalharam nessa Delegacia. Mas o fato é que não iria puxar esse assunto naquele momento).  

A conversa seguiu:

(...)

  • É, o Amorim (Delegado Francisco Amorim) está aposentado. (Jorge)
  • Qual é o grau de parentesco entre vocês? (Garcez perguntou para Jorge)
  • Ele é irmão da minha mãe?
  • O quê? (Felipe)
  • Sim, tem uma filha dele que é médica em São Paulo, e a outra trabalha no serviço social do Fórum, ele era apaixonado por uma policial...(Krieger)
  • É a Vani (Agente de Polícia aposentada) Jorge, ele participou daquela comissão que tu presidiste na época do Bado (ex-Chefe de Polícia)? (Felipe)
  • Sim, ele era louco pela Vani (Jorge)
  • É, mas a  Vani  não queria saber dele (Felipe)
  • É essa mesmo, era apaixonado por ela, ele tem uns quinhentos CDs só de música clássica, agora está residindo em Blumenau. (Krieger)

Pensei em dizer uma asneira para o momento (pois soube através do meu tio Hipólito - já falecido e que trabalhou durante anos no Tesouro do Estado) que Chico Amorim quando namorava a tia de Jorge Xavier (que também trabalhava no Tesouro do Estado, em cuja repartição Jorge Xavier também trabalhou antes de ser Delegado de Polícia), após o expediente o nosso Delegado ficava na frente do prédio esperando sua amada e futura esposa... e permaneciam em frente do prédio nos maiores beijos apaixonados e escandalosos para época, bem a vista de todos, entretanto pensei: "Mas que bobagem tudo isso, quando ouvi Krieger comentar:

(...)

  • Aquela reforma que vocês fizeram passando o pessoal de nível médio para níveis de segundo grau e superior foi muito importante (exigência de nível superior para Comissário, Escrivães e Técnico Criminalísticos e segundo grau para o pessoa de primeiro grau) , como tem melhorado o nível do pessoal na Acadepol, o pessoal bem trajado, com telefone celular, carro... Na minha época nós andávamos de ônibus e agora todo mundo de terno, te questionam, querem saber a tua formação,  que cursos você tem, ainda bem que o nível dos professores melhorou muito lá na Acadepol, todos tem no mínimo Escola Superior da Magistratura.
  • Não é bem assim, então me diz que curso tem um Ademar Rezende da vida? (Jorge)
  • Bom, o Ademar... (Krieger)
  • O Ademar é um baluarte na Polícia Civil... (Felipe)
  • Baluarte o quê? (Jorge)
  • Olha Jorge, repara bem a avaliação do Krieger sobre as reformas da Lei Complementar 55 de 1992 tão criticada, eu soube por terceiros que na época que essa Lei foi aprovada o Trilha, Lúcia e outros criticavam dizendo pelos corredores: "Onde é que já se viu exigir de um Escrivão de Polícia, um Comissário de Polícia nível superior? Diziam eles que isso era um absurdo, também, soube que o Bahia criticou a lei dizendo porque que iria se exigir nível de segundo grau de Investigador, Escrevente Policial, pois o que nós precisávamos era de mão-de-obra barata, e hoje eles próprios críticos do passado elogiam. (Felipe)
  • Mas o Artur Sell – do alto daquela sua superioridade – outro dia estava questionando essa Lei, dizendo que eles teriam que mudar tudo... (Krieger)
  • O quê? Quem é o Sell para dizer isso? Ele que teve todas as oportunidades para mudar alguma coisa e o que fez? E agora vem ele dizer uma coisa dessas, ele que continue de pijama que fica muito bem (Felipe)
  • Ah, mas eu também estou aposentado. (Jorge)
  • É diferente, porque na tua época o Secretário de Segurança era um Coronel centralizador que não possibilitou ter o respaldo necessário para implementar mais mudanças, e teve o caso da isonomia, agora o Sell foi Presidente da ADPESC e cumulou essa função com o cargo de Diretor da ACADEPOL durante a administração Heitor Sché, teve todas as oportunidades para propor mudanças e se não o fez na época, então tá,  dá licença (Felipe)
  • Realmente, tens razão, eu não tive as mesmas oportunidades que eles tiveram. (Jorge)

E, Jorge começou a dar conhecimento ao silencioso ‘Palma’ sobre a festa no ginásio da Cassol (festa para o candidato a deputado estadual Júlio Teixeira). Os cinco dividiriam as despesas e Garcez diz, referindo-se a minha pessoa:

 -  Vocês não conhecem esse italiano...

  • Italiano? Ah, sim, "Genovez". (Krieger)
  • Tal como Colombo, Genovez. (Felipe)
  • Genovese, pão duro (Garcez)
  • Não chega a dar trinta, quarenta reais para cada um, vamos lá né pessoal, o que superar essa quantia eu o Jorge e o Krieger rachamos. (Felipe)

Olhei rapidamente para Jorge e lembrei dos oito mil reais negativos na sua conta bancário, mas dava impressão que tudo estava normal...

  • Pensei que a Cassol iria financiar tudo. (Garcez)
  • Hum, aqueles italianos lá são pão duros. (disse Krieger casado com Raquel Cassol)
  • Pessoal, vamos lá, é muito pouco se dividido... (Felipe)

E Jorge reforça que em se tratando de uma festa política, que devêssemos arcar com as despesas de nossos convidados...

* Do livro "Haporema".