GRUPOS ESPECÍFICOS: A COMPREENSÃO SOBRE O USO DE OFICINAS TERAPEUTICAS EM SAÚDE MENTAL.
Por Célia Silva Campos | 07/01/2011 | PsicologiaRESUMO: Com a Reforma Psiquiátrica surgiram os CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial), que são novos modelos de assistência e tratamento aos pacientes com sofrimento mental. Esses novos modelos vêm sendo gradualmente substituídos pelo tratamento em sistema aberto ou extra-hospitalar. Visto que a pretensão desse novo modelo é desmontar a lógica da exclusão, da concentração e do enclausuramento desses pacientes, proporcionando uma mudança quanto à visão do hospital psiquiátrico. A idéia é introduzir novas modalidades de intervenção no tratamento do paciente psicótico. Juntamente com esse novo modelo de tratamento destacam?se as oficinas terapêuticas, e para esclarecer os seus objetivos, é de fundamental importância explicar que elas estão intimamente ligadas a um outro paradigma que ampara a Reforma Psiquiátrica no Brasil: a reabilitação social. O presente artigo apresenta as oficinas terapêuticas, sendo uma forma de reabilitação do individuo na sociedade, visto que são espaços e ações de reinseição social à cidadania, ressaltando o campo social e político. Vale lembrar que a realização de oficinas terapêuticas contribui também para estabilização clinicas dos usuários, proporcionando uma melhor aceitação e adaptação ao tratamento.
Palavras-chave: Reforma Psiquiátrica. Hospital/dia. Oficinas Terapêuticas. Reabilitação Social.
ABSTRACT: With the Reformation came the Psychiatric CAPS (Center for Psychosocial Care), which are new models of care and treatment to patients with mental suffering. These new models are gradually being replaced by treatment in an open system or outside the hospital. Since the intention of this new model is dismantling the logic of exclusion, concentration and enclosure of these patients, providing a change of the global perspective of the psychiatric hospital. The idea is to introduce new methods of intervention in the treatment of psychotic patient. Along with this new treatment model highlights - if the therapeutic workshops, and to clarify their goals, is of fundamental importance to explain that they are closely linked to another paradigm that supports the Psychiatric Reform in Brazil: a social rehabilitation. This article presents the therapeutic workshops, and a form of rehabilitation of the individual in society, as they are spaces and actions return social citizenship, emphasizing the social and political field. Remember that the achievement of therapeutic workshops also contributes to stabilization of the clinical users, providing a better acceptance and adaptation to treatment.
Keywords: Psychiatric reform. Hospital / day. Therapeutic. Workshops. Social Rehabilitation.
INTRODUÇÃO
O presente estudo teve como objetivo verificar a contribuição das oficinas terapêuticas no processo de reinserção do doente mental na sociedade, até porque falar sobre doença mental, problema de saúde mental, psicopatologias, é algo que comumente, e ainda nos dias atuais, gera certo preconceito e certa dificuldade no que diz respeito ao tratamento, em como cuidar, em como conviver, uma vez, que louco é considerado como anormal e não tem seu papel bem definido na sociedade.
Pinel, pai da psiquiatria, via a doença mental como um:
[...] desequilíbrio das paixões, entendendo que sua cura consistia em trazer o alienado de volta á realidade, dominar seus impulsos e afastar suas ilusões. Objetivando assim, uma reeducação da mente alienada, defendia a adoção de um tratamento moral articulado a um tratamento terapêutico (AMARANTE, 1996, apud, CEDRAZ; DIMENDTEIN, 2005, p.303).
Foucault (1975) afirmava que a "[...] loucura foi transformada em doença mental com o advento do capitalismo, visto que o louco não tinha valor no mundo do trabalho alienado, o que não se encaixa na nova ordem social passou a ser visto como patológico anormal e, portanto devia ser excluído e ou corrigido" (CEDRAZ; DIMENDTEIN, 2005, p.303).
Inicialmente esses doentes ficavam em casa, isolados da sociedade, sem nenhuma forma de tratamento ou convívio social, ficavam enclausurados, como se tivessem algo a esconder ou pudessem fazer algum dano à sociedade. Considera ? se um problema de saúde mental, algo que um indivíduo passa um problema dado, ou reconhecido por ele e pelos indivíduos que o convivem, no instante que traz a tona no contexto de uma situação emocional que passa a ser social, um exemplo de problema de saúde mental, é o alcoolismo, em que o alcoólatra é um ser alterado, porque é ele quem é o causador do que lhe acontece.
A tendência central da assistência aos loucos, no Brasil, desde seus primórdios, foi de excluí-los, num primeiro momento, junto com os desocupados, os inadaptados e perturbadores da ordem social nas santas casas, onde eles recebiam um tratamento diferente dos demais, amontoados nos porões, sem assistência medica, tendo seus sintomas reprimidos por espancamentos ou contenção em troncos, condenados a morte por maus tratos físicos, desnutrição e doenças infecciosas. Neste período, eles não se diferenciavam das outras categorias marginais pelos conceitos nosográficos ou psicopatológicos e sim, pelos critérios de razão e desrazão. Posteriormente, com o surgimento da psiquiatria, os mesmos passaram a ser colocados em hospícios e considerados doentes mentais. (REZENDE, 1987 apud RIBEIRO; OLIVEIRA, 2005).
Os primeiros hospícios vieram responder a demanda de organização das cidades, relacionada com o projeto ideal (valores morais, éticos e políticos) da sociedade moderna que estava se constituindo no país. A partir da inauguração do Hospício D. Pedro II, em 1852, houve uma constante necessidade de ampliação e solidificação desde equipamento como única forma de tratamento dos doentes mentais. (ARAUJO, 1999 apud RIBEIRO; OLIVEIRA, 2005).
Devido aos maus tratos vividos pelos doentes mentais e pela ineficácia do tratamento nas instituições manicomiais, houve a necessidade de se mudar o tratamento do doente mental, o que ocorreu com a desintituionalização dos manicômios.
Birman e Costa (1994) explicitam a importância desse movimento, no qual a "[...] loucura passa a ser tratada em termos de doença, desvelando a apropriação media da saúde mental, por meio da psiquiatria" (BIRMAN ECOSTA, apud, CEDRAZ; DIMENDTEIN, 2005, pág.303).
Não obstante, a reforma psiquiátrica pode ser definida como:
[...] um processo histórico de formulação critica e pratica que se fundamenta numa nova concepção de homem como ser biopsicossocial, que veio se firmar após a Segunda Grande Guerra, e tinha como estratégia questionamento e elaboração de propostas para a transformação do paradigma da psiquiatria clássica (AMARANTE, 1995 apud CEDRAZ; DIMENDTEIN, 2005, p. 303).
A reforma psiquiátrica que completa vinte anos, propôs a descontrução e a desinstitucionalização das práticas hospitalares, paralelamente a formulação de novos modelos de assistência ao portador de transtorno mental. O modelo asilar dos hospitais psiquiátricos veio sendo gradualmente substituído pelo tratamento em sistema aberto ou extra-hospitalar. Os NAPS, CAPS, CERSAMs, centros de convivências e hospitais-dia testemunham esse processo. Pretende-se, então, desmontar a lógica da exclusão, da concentração e do enclausuramento, mudando a visão do hospital psiquiátrico que era jungido com a introdução de novas modalidades de intervenção no tratamento do paciente psicótico (MENDONÇA, 2005).
O primeiro Centro de atendimento psicossocial (CAPS) do Brasil, denominado Professor Luis da Rocha Cerqueira, surgiu em 1986, na cidade de São Paulo, a partir da utilização do espaço da então extinta Divisão de Ambulatório (Instancia técnica e administrativa da Coordenadoria de saúde Mental, responsável pela assistência psiquiátrica extra-hospitalar) da Secretaria Estadual de Saúde. Transformou-se esse local num serviço que se propunha a evitar internações, acolher os egressos dos hospitais psiquiátricos e poder oferecer um atendimento intensivo para portadores de doença mental, dentro da nova filosofia do atendimento em saúde mental desse período (RIBEIRO, 2004)
No seio desta nova conjuntura, destacam?se as oficinas terapêuticas, e para esclarecer os seus objetivos, é de fundamental importância explicar que elas estão intimamente ligadas a um outro paradigma que ampara a Reforma Psiquiátrica no Brasil: a reabilitação social.
Pode?se definir as oficinas terapêuticas segundo a definição e objetivos do Ministério da Saúde como sendo "[...] atividades grupais de socialização, expressão e inserção social através da Portaria 189 DE 19/11/1999" (VALLADARES, LAPPAN BOTTI, MELLO, KANTORSKI, SCATENA, 2003, p.02).
Rauter (2000) apresenta esta forma, como sendo a grande empreitada da Reforma, que tem a finalidade explicita de recuperar o louco como cidadão "[...] por meio de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente no trabalho, em atividades artísticas, em dar-lhe acesso aos meios de comunicação etc" (RAUTER, 2000 apud CEDRAZ, DIMENDTEIN, 2005, p.306).
Enquanto que, a reabilitação objetiva reinserir o individuo na sociedade, a desinstitucionalização se preocupa em transformá-la, repensando o trabalho, a família, a medicina, as políticas publicas e demais instituições que atravessam as nossas vidas.
O Ministério da Saúde define que os serviços substitutivos, tipo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) devem, necessariamente, "[...] oferecer oficinas terapêuticas, de modo que elas são uma das principais formas de tratamento encontrada nesses estabelecimentos" (BRASIL, 2004 pud CEDRAZ; DIMENDTEIN, 2005, p.307).
As oficinas são espaços de reinserção social a cidadania, ressaltando o campo social e político. A reabilitação psicossocial se fundamenta na idéia de que o "[...] individuo portador de sofrimento psíquico sofreu inúmeras perdas em decorrência da falta e segue em direção ao desejo de assegurar a equidade entre iguais e diferentes" (LOSBOQUE, 2001 apud CEDRAZ, DIMENDTEIN, 2005, p.306).
Para Ribeiro (2004 apud CEDRAZ E DIMENSTEIN 2005, p.307) as oficinas se sustentam "[...] na possibilidade de representarem dispositivos, facilitando o transito social deles na família, na cultura, bem como sua inserção no trabalho produtivo". Dessa maneira, os estatutos que regulamentam as oficinas terapêuticas mostram que elas são as estratégias por meio das quais a reabilitação psicossocial deve se realizar.
Segundo Mendonça (2005) a atividade artística enfatiza o processo construtivo e a criação do novo por meio da produção de acontecimentos, experiências, ações, objetivos; "reinventa" o homem e o mundo. Sob essa perspectiva, as atividades das oficinas em saúde mental passaram a ser vistas como o instrumento de enriquecimento dos sujeitos, de valorização da expressão, onde a loucura traz a marca de uma diferença quando a forma de organização subjetiva que permita ao paciente psicótico fazer um laço simbólico com a ordem social. Mesmo inserido na cultura, na linguagem e no cotidiano, o psicótico não esta inserido na norma simbólica que permite a equivalência e a inscrição num registro sexual que estabelece o circuito de troca social.
De acordo com Bastos e Barbosa (2004) a oficina terapêutica é concebida como espaço experimental, criado a partir da produção (verbal ou material) de cada paciente. A realização de oficinas terapêuticas como proposta de reabilitação psicossocial, contribui para estabilização clinica dos usuários. A produção de objetos artesanais e artísticos, nessas oficinas, com fins comerciais ou de apropriação pessoal possibilitam que o usuário, habitualmente rotulado como improdutivo, seja revalorizado socialmente. As oficinas constroem relações significativas que promovem a solidariedade à cooperação e a autonomia do sujeito.
Para Luzio (1998) as oficinas terapêuticas servem como uma forma de incentivo, despertando interesse e algumas pessoas em voltar a estudar, interesse por leitura, filiação na biblioteca publica, interesse em valorização do desenvolvimento profissional.
Em Itumbiara o CAPS CISME Emanuel foi fundado em outubro de 2004, e desde então vêm prestando serviço a população, atendendo pessoas com distúrbios mentais. O CAPS funciona no período de 08h000min as 18h00min, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana, sendo assim é classificado como CAPS I.
1. A assistência prestada ao paciente no CAPS I inclui as seguintes atividades:
- Atendimento individual (medicamentoso, psicoterapico, de orientação, entre outros);
- Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social entre outras);
- Atendimentos em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio.
- Visitas domiciliares;
- Atendimento a família
- Atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social;
- Os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária, os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias;
2. Recursos humanos:
A equipe técnica mínima para atuação no CAPS I, para o atendimento de 20 (vinte) pacientes por turno, tendo como limite Maximo 30(trinta) pacientes/dia, em regime de atendimento intensivo, será composto por:
- 01 (um) medico com formação em saúde mental;
- 01 (um) enfermeiro;
- 03 (três) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico.
- 04 (quatro) profissionais de nível médio: técnico e/ ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
Dentre as atividades oferecidas no CAPS, destacam-se as oficinas terapêuticas, o objetivo das oficinas, é de fundamental importância explicitar que elas estão intimamente ligadas a um outro paradigma que ampara a Reforma Psiquiátrica no Brasil: a reabilitação psicossocial, sendo esta apresentada:
[...] como a grande empreitada da Reforma, que tem a finalidade explicita de recuperar o louco como cidadão por meio de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas, artesanais, ou em dar-lhe acesso aos meios de comunicação etc. (RAUR, 2000 apud CEDRAZ; DIMENSTEIN, 2005, p.306).
De acordo com a autora, a oficina terapêutica seria um dispositivo privilegiado para se atingir tal objetivo.
Sendo assim as oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania das expressões de liberdade e convivência dos diferentes, através preferencialmente inclusão pela arte. (VALLADARES, LAPPANN ? BOTTI, MELLO, KANTORSKI, SCATENA, 2003, p.6)
Essas referidas oficinas já apareciam ao longo do processo histórico da Psiquiatria, mas tinham um objetivo diferenciado do referencial da reabilitação psicossocial.
A utilização das artes dentro das oficinas terapêuticas na perspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial oferecem ao doente mental:
- Técnica com uma finalidade e um propósito definido. Ações inclusivas e proporcionam heterogeneidade e oportunidades de ações com base na desinstitucionalização.
- Centra as estratégias terapêuticas no individuo inserido no seu contexto familiar e social.
- Ênfase nos trabalho individuais e coletivos com usuários, familiares e comunidade, visando à integração e a socialização dos mesmos.
- Processo que permite a expressão de sentimentos. Emoções e vivencias singulares aos doentes mentais.
- Prioriza a autonomia, o processo criativo e o imaginário do paciente e despsiquiatrização (retirada do medico a exclusividade das decisões e atitudes terapêuticas, passando a ser compartilhada com outros profissionais).
- Dá ênfase na originalidade, na expressividade, nas possibilidades e na desmitificação.
- Utiliza ? se de múltiplos recursos expressivos, como dramatização, fotografia entre outros, alem dos já citados anteriormente.
Nesse processo:
- Todos os indivíduos podem e deve projetar seus conflitos internos sob formas plásticas, corporais, literárias, musicais, teatrais etc;
- Valorização do potencial criativo, expressivo e imaginativo do paciente;
- Fortalecimento da auto-estima e da autoconfiança;
- Visa a reinserção social os usuários;
- Intersecção entre o mundo do conhecimento psíquico e o mundo da arte, pela expressão da subjetividade.
Diante da mudança da visão do doente mental e da desintiticionalização dos manicômios e o surgimento dos CAPS como forma de tratamento e reinseção do doente mental, se faz necessário verificar como a oficina terapêutica do CAPS CISME Emanuel, de Itumbiara ? GO contribuem para a reinserção do doente mental na sociedade?
O presente trabalho justificou ? se do ponto de vista social nos aspectos da reinserção do doente mental na sociedade que vem sendo realizada através das oficinas terapêuticas nas CAPS. Assim o estudo buscou entender a contribuição de tais oficinas no trabalho realizado pelos pacientes, uma vez que, vem lidar com suas dificuldades e limitações e ao mesmo tempo descobrindo novas habilidades. No que se refere aos estudos científicos, por mais que o tema tenha sido estudado ele carece de novas investigações, visto que muitas lacunas ainda não foram preenchidas.
O estudo mostrou - se viável em função do acesso às fontes bibliográficas, baixo custo e possibilita um maior entendimento do que seja oficina terapêutica na inserção do doente mental na sociedade. Outro dado importante, que deu origem à investigação, é o fato de que o grupo realiza estagio na instituição de saúde.
O objetivo geral do estudo foi verificar a contribuição das oficinas terapêuticas no processo de reinserção do doente mental na sociedade,
O estudo objetivou ainda:
- Verificar quais oficinas terapêuticas é desenvolvido pelos pacientes do CAPS;
- Avaliar junto à equipe das oficinas terapêuticas a contribuições para a reabilitação psicossocial do paciente;
- Investigar junto às famílias e/ou cuidadores dos pacientes se as oficinas terapêuticas contribuem, ou não, para a melhora dos relacionamentos entre o paciente e a família;
- Pesquisar a compreensão de grupos específicos (cuidadores e/ou familiares e equipe das oficinas terapêuticas) sobre o uso de oficinas terapêuticas em saúde mental.
METODOLOGIA
A pesquisa realizada caracterizou?se como um estudo descritivo.A amostra constituiu-se de participantes das oficinas terapêuticas da Instituição CAPS CISME Emanuel, de Itumbiara/GO.
Foi realizada uma entrevista, semi-estruturada, composta por seis questões abertas, com a equipe que atua nas oficinas terapêuticas do CAPS que é composta por seis profissionais, sendo dois terapeutas ocupacionais, dois psicólogos, um assistente social e um monitor.
O instrumento de pesquisa foi aplicado durante o horário de funcionamento do CAPS, ou seja, das 08h às 18h, de segunda a sexta-feira. Sendo que a equipe respondeu o questionário no dia vinte e três de outubro de 2007, terça-feira das 08h30minh as 10h30minh.
Os dados coletados foram submetidos a uma análise qualitativa, por meio de análise de conteúdo e, conseqüentemente, de categorização de respostas amparadas na discussão dos dados de acordo com a teoria que fundamentou a pesquisa.
Foram tomados os cuidados éticos na Resolução 0196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), possibilitando aos sujeitos do estudo o entendimento dos objetivos do estudo e os esclarecimentos necessários a sua participação ou não na pesquisa.
RESULTADO E DISCUSSÕES
Iniciou-se a entrevista questionando o que é uma oficina terapêutica dentro de um CAPS. Segundo os profissionais é uma das principais formas de tratamento do usuário oferecido no CAPS, essas oficinas são atividades realizadas em grupo com a presença e orientação de um ou mais profissionais. As atividades podem ser definidas através do interesse dos usuários, das necessidades tendo em vista a maior integração social e familiar do mesmo. O que vai de encontro à definição do Ministério da Saúde que define Oficina terapêutica como sendo "[...] atividades grupais de socialização, expressão e inserção social [...]". (VALLADARES, LAPPANN, MELLO, KANTORSKI, SCATENA, 2003, p.2).
Questionou-se qual o objetivo das oficinas terapêuticas, e se esses objetivos têm, sido alcançados. A equipe respondeu que sim, os objetivos têm sido alcançados, e que o objetivo principal da oficina terapêutica é reintegrar o usuário no seu meio social, não permitindo um desligamento do usuário da instituição e estabelecendo com ele um vinculo, pois pode ocorrer uma recaída, sendo necessário refazer o processo terapêutico, sendo considerada a possibilidade de o usuário retornar ao tratamento, sendo que o transtorno pode reincidir. Quando o usuário tem um vínculo maior com a equipe, e por alguma razão se desliga, essa vai atrás do mesmo para verificar o porquê do desligamento e se necessário, refazer o processo terapêutico. Entretanto, se um usuário vem de um local onde há CAPS e procura ajuda, há uma transferência do mesmo, permitindo assim a permanência deste, mais perto da família, porém, há casos que a família prefere deixar o usuário interno, por não conseguir cuidar do mesmo, mandando-o para um hospital, para descansar, pois não é só o usuário que sofre, a família sofre muito, às vezes ficando tão doente quanto o usuário, precisando ser tratada. Existem usuários que ficam tão agressivos com os familiares. É difícil generalizar a doença, pois há casos que o usuário tem "benefícios" para se manter doente (maior cuidado da família, mais atenção, etc.). Assim, é obvio que cada caso é um caso, cada um tem uma história, nesse sentido, vale ressaltar que há casos que a doença é muito difícil para o usuário, ele tem várias oportunidades, mas não tem forças para reagir.
Segundo Valladares, Lappann-Botti, Melo, Kantorski, e Scatena (2003) as oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania das expressões de liberdade e convivência dos diferentes, através preferencialmente da inclusão pela arte. Entretanto o trabalho que é desenvolvido pelo CAPS estudado.
Também foram perguntados quais os tipos de oficinas terapêuticas são oferecidos ao usuário no CAPS, que são oficinas expressivas, medicamentosa, informativa, e de alfabetização, dentre essas, estão subdivididas as seguintes; horta, viveiro, jardim, caminhada, oficina do saber, expressão corporal, grupo operativo, saúde e beleza, higiene, atualidades, reunião de família, grupo medicamentoso, fabricação de sabonete, reciclagem, oficinas de jogos, relaxamento, fabricação de cestas, grupos de apoio, arte terapia, marcenaria, grupo de expressão de sentimentos.
Segundo a teoria que fundamenta a presente pesquisa, a utilização das artes dentro das oficinas terapêuticas na perspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial oferecem ao portador de transtorno mental: técnicas com uma finalidade e um propósito definido, ações inclusivas que proporcionam oportunidades de ações com base na desinstitucionalização; tem ênfase nos trabalhos individuais e coletivos com usuários, familiares e comunidade, visando à integração e a socialização dos mesmos; processo que permite a expressão de sentimentos, emoções e vivências singulares aos doentes mentais; prioriza a autonomia, o processo criativo e o imaginário do paciente; utiliza-se de múltiplos recursos expressivos, como dramatização. Nesse processo todos os indivíduos podem e devem projetar seus conflitos internos sob forma plástica, corporal, literária, musical, teatral; valorização do potencial criativo, expressivo e imaginativo do paciente; fortalecimento da auto-estima e da autoconfiança e vista a reinserção social dos usuários (VALLADARES, LAPPANN-BOTTI, MELLO, KANTORSKI, SCATENA, 2003).
Foi solicitada a equipe que pontuasse como os usuários reagem quando se inicia o trabalho nas oficinas, a equipe colocou que no inicio os usuários tem auto-estima muito baixa, chegam às oficinas com vergonha, com medo de se assumir e assumir o problema, portanto, não partilham o que esta acontecendo. Há uma grande negação da situação, uma dificuldade em assumir-se, principalmente como dependente químico. Com o tempo, se cria um vinculo com a equipe, devido a ética profissional, com o sigilo das informações, e os usuários cobram uns dos outros as falhas cometidas, proporcionando assim, o crescimento de cada um no grupo de uma forma geral.
Perguntou-se, se é observada alguma mudança no comportamento do usuário antes da realização da oficina, e se depois esse comportamento é modificado, a equipe respondeu acerca da participação e interação dos usuários nas oficinas, que busca-se atingir a mudança no comportamento dos mesmos, e quando eles conseguem se expressar, a mudança se torna perceptível. No início estes chegam sujos, desarrumados, mas com o tempo, se arrumam se olham no espelho, melhoram o físico e se expressam melhor, o dependente químico, às vezes está tão envolvido com o vicio que não tem amor próprio, não se preocupa com ele mesmo, mas com o tempo vem à percepção do "eu", começa a se preocupar com fatores como a higiene, o usuário, logo, começa a pensar no emprego, numa autonomia, em sua independência.
Segundo Mendonça (2005) a atividade artística enfatiza o processo construtivo e a criação do novo por meio da produção de acontecimentos, experiências, ações objetos; "reiventa" o homem e o mundo. Sob essa perspectiva, as atividades das oficinas em saúde mental passam a ser vistas como o instrumento de enriquecimento dos sujeitos, da valorização da expressão, em que a loucura trás a marca de uma diferença quanto à forma de organização subjetiva que permitia ao paciente psicótico, ou dependente químico, fazer um laço simbólico com a ordem social.
Por fim, foi solicitada a opinião da equipe sobre o trabalho das oficinas terapêuticas, se elas têm contribuído para a reinserção do portador de transtorno mental na sociedade, a equipe respondeu sim, que os objetivos têm sido alcançados. Na oficina de arte terapia, um paciente relatou que quando chegasse em casa ninguém iria lhe reconhecer, pois ele sentiu que mudou muito. Porém há muitos que chegam somente o corpo, a mente está lá fora, eles vem porque é vontade da família, não deles, logo não tem um bom desempenho. Com o portador de transtorno mental, a equipe entra no surto e trabalha para que ele possa sair do mesmo, e se aproximar da realidade, através da ajuda de medicamentos. Existem casos de pessoas que pensam em suicídio e após uma conversa com alguns dos profissionais da equipe, após ser ouvido, a situação pode melhorar. Esse usuário tem necessidade de ser olhado, observado, escutado, necessita de atenção. Entretanto, o dependente químico, no início se retrai, não quer falar, não se assume, não se vê como um dependente que precisa de ajuda. O portador de transtorno mental, geralmente se abre, fala mais sobre sua patologia, sobre o que incomoda, é claro que varia com o grau de comportamento da doença, cada caso é um caso. As oficinas mistas devem ser trabalhadas de maneira livre, respeitando as diferenças e limitações de cada grupo. O pessoal portador de transtorno mental não consegue ficar quieto em um grupo, há liberdade para sair, mas acabam voltando. O dependente químico dá mais trabalho, não se envolve, ele tem que querer senão não haverá boa produção. É preciso envolver todos, não permitindo o isolamento ou a saída de um usuário do local onde está sendo realizada a oficina.
Sendo assim, para Ribeiro (2004, apud, CEDRAZ E DIMENSTEIN 2005, p.307) as oficinas se sustentam "[...] na possibilidade de representarem dispositivos que sejam catalisadores da produção psíquica dos sujeitos envolvidos, facilitando o transito social deles na família, na cultura, bem como sua inserção ou reinserção no trabalho produtivo." Dessa maneira, os estatutos que regulamentam as oficinas terapêuticas mostram que elas são as estratégias por meio das quais a reabilitação psicossocial deve se realizar. Com isso as oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vida entre pessoas em sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania das expressões de liberdade e convivências dos diferentes, através preferencialmente da inclusão pela arte. (VALLADARES, LAPPANN-BOTTI, MELLO, KANTORSKI, SCATENA, 2003).
Não obstante, as dificuldades existem e não é diferente com o CAPS em questão. As técnicas e procedimentos são constantemente reavaliados pela equipe, que discute as mudanças internas a serem implantadas, haja vista que até a participação na presente pesquisa foi coletiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada demonstrou segundo relato dos profissionais lotados no CAPS, que as oficinas terapêuticas oferecidas e desenvolvidas pela instituição juntamente com os usuários do serviço, apresentou resultados satisfatórios, uma vez que, promoveu a reinserção social e familiar do individuo, oferecendo aos usuários várias oficinas como: expressiva, medicamentosa, informativa e alfabetização. Através desse trabalho transformou-se a percepção do usuário em relação ao seu problema, pois num primeiro momento ao chegarem à oficina, apresentaram certa resistência, devido a baixa auto-estima, vergonha de se assumir, medo, negação da situação, mas no decorrer do processo se criou um vinculo e confiança na equipe, proporcionando assim a realização do trabalho.
Nota-se, portanto, segundo os profissionais, uma transformação em seu comportamento, passando a se preocupar com sua higiene, vestuário, buscando sua autonomia e independência. Com isso, a equipe pontua que as oficinas contribuíram para a reinserção do portador de transtorno mental na sociedade, uma vez que esses apresentaram modificações em seus comportamentos, buscando uma forma para serem aceito socialmente.
Diante do que foi proposto para a realização do trabalho, num primeiro momento, e devido a fatores que vieram impossibilitar a pesquisa, não se pode afirmar, somente com base nos relatos dos entrevistados, que as oficinas terapêuticas vêm contribuindo para a reinserção social e familiar do usuário do CAPS.
Não obstante, o presente estudo previa a observação de dez usuários das oficinas do CAPS, portadores de transtorno mentais e dependentes químicos, e partindo desta observação investigou a participação das famílias nos cuidados dispensados aos usuários do CAPS, mas devido a contratempos institucionais e razões éticas não foi possível, o que acabou limitando os horizontes da pesquisa.
Sendo assim, sugere-se a realização de uma pesquisa que leve em consideração o trabalho do CAPS como equipamento social de uma rede mais ampla, em que a família seja necessariamente envolvida, visto que a contribuição das oficinas carece de amparo e sustentação nas praticas de instituições sociais tais como: família, organizações empresariais, trabalhistas, de credo religioso, para melhor contribuir para a reinserção social do portador de transtorno mental.
BIBLIOGRAFIA
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