PHYSIOLOGY OF STRESS: A DISEASE OF THE TWENTIETH CENTURY

Bruno Pandelo Brugger

Fabiana Ribeiro dos Santos

Fernanda Pyramides do Couto

Rafaella Gevegy Negrão

Resumo: O estresse é uma reação do organismo causado por alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação difícil. O estresse pode ser causado por agentes externos e internos, podendo ser positivo: o eustresse e, negativo: o diestresse, que é o estresse propriamente dito, causador de doenças. O estresse pode ser sensorial ou físico, psicológico ou infeccioso, compreendendo as fases de alerta, defesa ou resistência e exaustão, onde ocorre a ação de vários hormônios, podendo ocasionar várias doenças, tais como a depressão e o câncer. As exigências impostas às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade de ajustar-se a tais mudanças, acabaram por expor as pessoas a uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial e nem sempre é um fator de desgaste emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo.

Palavras – chave: Estresse; Diestresse; Eustresse; Fisiologia.

Abstract:Stress is a reaction of the organism caused by psychophysiological changes that occur when a person is faced with a difficult situation. Stress can be caused by external agents and internal, can be positive: eustress and negative: the estrus, which is the stress itself, causing disease. Stress can be sensory or physical, psychological or infection, comprising the stages of alert, defense or resistance, and exhaustion, where the industrial action of various hormones and can cause various diseases such as depression and cancer. The requirements imposed on people by the changes of modern life and, consequently, the need to adjust to such changes, eventually exposing people to a common situation of conflict, anxiety and emotional instability. The stress arises as a direct consequence of the persistent efforts of the individual adaptive to their existential situation and is not always a factor of emotional distress and physical, but it is a natural defense mechanism of the organism.

Keywords: Stress; Eustress; Distress; Physiology.



1 INTRODUÇÃO

As exigências impostas à população pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos do indivíduo à sua situação existencial. O estresse nem sempre é um fator de desgaste emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo. Recebem-se os estímulos internos e externos através do sistema nervoso e dependendo da forma com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar alterações psicológicas e biológicas negativas, podendo levar ao estresse crônico (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Em 1992, a Organização Mundial de Saúde, a OMS, chamou o Estresse de "a doença do século 20" (SOUZA et al., 2002). Atualmente, o estresse afeta mais de 90% da população mundial e é considerado uma epidemia global que não mostra sua verdadeira fisionomia. Na verdade, sequer é uma doença em si: é uma forma de adaptação e proteção do corpo contra agentes externos ou internos (BAUER, 2002).

As doenças que atingem o ser humano agora são aquelas caracterizadas pelo acúmulo lento e progressivo de danos. Recentemente, uma série de trabalhos médicos confirmaram a importância do estresse nas doenças do coração, de pele, gastrointestinais, neurológicas e de desordem emocional, e também relacionado a uma série de desordens ligadas ao sistema imunológico, de defesa do organismo, que vão desde o resfriado comum até o câncer (BAUER, 2002)

O objetivo do presente artigo é fazer uma revisão de literatura a cerca da fisiologia do estresse e seus impactos negativos no organismo.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1O QUE É ESTRESSE

O estresse sempre existiu, desde a antiguidade. As primeiras referências à palavra stress, com significado de "aflição" e "adversidade", são do século XIV e, no século XVII, o vocábulo de origem latina passou a ser utilizado em inglês para designar opressão, desconforto e adversidade (ALMEIDA; BASTOS, 2007)

Durante séculos, a maior parte da humanidade dedicou-se apenas a trabalhos braçais, que terminavam ao pôr-do-sol e depois vinha o descanso.A partir da Revolução Industrial, a carga horária de trabalho aumentou e a maioria da população abandonou o campo para viver no estresse da cidade (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Nas ultimas décadas, a grande exigência imposta as pessoas pelas mudanças da vida moderna, passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social, fazendo com que as pessoas ficassem expostas a uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos Do indivíduo à sua situação existencial (BALLONE, 2002).

De acordo com Favassa, Armiliato e Kalinine (2005), o termo estresse vem da física, tendo como sentido o grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a um esforço. Esta deformidade pode ser de menor ou maior grau, conforme a dureza deste, e o esforço a que está submetido.

Em 1936 o fisiologista canadense Hans Selye introduziu o termo "stress" no campo da saúde para designar a resposta geral e inespecífica do organismo a um estressor ou a uma situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado tanto para designar esta resposta do organismo como a situação que desencadeia os efeitos desta (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Segundo Margis et al. (2003), o termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológicos e psicológicos.

Para Souza et al. (2002), o estresse é um mecanismo bioquímico antigo de sobrevivência do homem, aperfeiçoado ao longo de sua própria evolução biofisiológica, que envolve o hipotálamo, glândulas (hipófise, tireóide e supra-renal), órgãos (coração, fígado e estômago), músculos, entre outros.

2.2TIPOS DE ESTRESSE

O ser humano, por natureza, procura manter um equilíbrio de suas forças internas com todos os órgãos, de maneira que seu organismo possa trabalhar em harmonia. Entretanto, quando este equilíbrio passa a ser alterado por algum agente estressor, ou seja, por qualquer situação que desperte uma emoção, boa ou má, isto constituirá numa fonte de estresse(RONSEIN et al., 2004). Segundo Favassa e colaboradores (2005), o estímulo estressor pode desencadear diferentes respostas e, dependendo da forma com que o indivíduo responde a esse estimulo, ele pode se transformar em um estresse positivo ou negativo.

Quando o indivíduo apresenta uma resposta positiva, o estresse é denominado de eustresse, onde, o esforço de adaptação gera sensação de realização pessoal, bem-estar e satisfação das necessidades, mesmo que decorrente de esforços inesperados, é um esforço na garantia da sobrevivência. No eustresse, predomina a emoção da alegria, há um aumento da capacidade de concentração, da agilidade mental, as emoções musculares são harmoniosas e bem coordenadas, há sentimento de vitalização de prazer e confiança (ALMEIDA; BASTOS, 2007).

Se ocorrer o contrário onde o esforço de adaptação não traz realização pessoal, bem-estar e nem satisfação ocasionando uma resposta negativa, gera-se um distresse, onde predominam as emoções de ansiedade destrutiva, do medo, da tristeza, da raiva, a capacidade de concentração é diminuída e o funcionamento mental se torna confuso, ações musculares são descoordenadas e desarmônicas, predomina o desprazer e a insegurança e aumenta a probabilidade de acidentes. O termo distresse caiu quase em desuso, sendo substituído pelo próprio termo estresse, que passou a ter o sentido (atual) negativo de desgaste físico e emocional (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Em 1992, o estresse (distresse) foi catalogado como mal do século, sendo enquadrado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como doença associada a resultados desastrosos, com várias alterações orgânicas, debilitando o binômio mente-corpo, sendo um dos principais motivos de consulta médica e queda de produtividade no trabalho (SOUZA et al., 2002).

2.3 TIPOS DE ESTRESSORES

De acordo com Ballone (2002), os agentes estressores podem ser classificados como sensoriais ou físicos, psicológicos e infecciosos.

Estressores sensoriais ou físicos envolvem um contato direto com o organismo. Os estímulos físicos vêm do ambiente e incluem: luz calor, frio, odor, fumaças, drogas em geral, lesões corporais e esforços físicos (RONSEIN et al., 2004). Estariam incluídos nesse caso subir escadas, correr uma maratona, sofrer mudanças de temperatura (calor ou frio em excesso), fazer vôo livre ou bungee jumping (BAUER, 2002).

Já o estresse psicológico acontece quando o sistema nervoso central é ativado através de mecanismos puramente cognitivos (que envolvem a mente), sem qualquer contato com o organismo (BAUER, 2002). Incluem todos eventos que podem alterar o curso de nossas vidas, como a morte de um parente próximo, a separação, o encarceramento, a aposentadoria, o casamento, os problemas no trabalho, as provas escolares ou mesmo as mudanças de hábitos em geral (RONSEIN et al., 2004). A importância de agentes estressores psicossomáticos hoje é amplamente reconhecida, sendo tão potentes quanto os microorganismos ou a insalubridade, no desencadeamento das doenças. Estima-se que esses agentes chegariam a 50% nas regiões mais desenvolvidas, afetando indiferentemente as mais variadas classes sociais (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Um terceiro tipo de estressor pode ainda ser considerado: as infecções. Vírus, bactérias, fungos ou parasitas que infectam o ser humano induzem a liberação de citocininas (proteínas com ação regulatória) pelos macrófagos, os glóbulos brancos (células sangüíneas) especializados na destruição, por fagocitose, de qualquer invasor do organismo. As citocinas, por sua vez, ativam um importante mecanismo endócrino (hormonal) de controle do sistema imunológico (BAUER, 2002). O sistema imunológico, responsável pelas reações de defesa do organismo contra infecções, é o mais afetado nas situações de estresse, principalmente quando estas forem prolongadas, pois levam como conseqüência a diminuição das células linfáticas do timo, dos gânglios linfáticos e mesmo do sangue em circulação, de maneira que o organismo fica sujeito a várias infecções (RONSEIN et al., 2004)

2.4O ESTRESSE E O CORPO

O estresse pode causar dois tipos de alterações, biológicas e psicológicas. Nas alterações biológicas ligadas ao estresse, a reação do organismo aos agentes estressores tem um propósito evolutivo. É uma resposta ao perigo, que Selye (1965) dividiu em três estágios:

No primeiro estágio, o corpo reconhece o agente estressor e ativa o sistema neuroendócrino. As glândulas adrenais, ou supra-renais, passam, então a produzir e liberar os hormônios do estresse (adrenalina, noradrenalina e cortisol), que aceleram o batimento cardíaco, dilatam as pupilas (aumentando a eficiência visual), aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão (e ainda o crescimento e o interesse pelo sexo), contraem o baço (que expulsa mais hemácias, ou glóbulos vermelhos, para a circulação sangüínea, o que amplia o fornecimento de oxigênio aos tecidos) e causa imunossupressão (ou seja, redução das defesas do organismo) (BAUER, 2002).

De acordo com França e Rodrigues (1997), o segundo estágio é a fase de resistência ou adaptação, que ocorre caso o agente estressor mantenha sua ação. Nesta fase o organismo repara os danos causados pela reação de alarme, reduzindo os níveis hormonais. É caracterizada pela reação de hiperatividade do córtex da supra-renal sob imediação diencéfalo-hipofisiária. A hipófise tem ligação direta com os sinais desta fase, pois em experimentos realizados com animais, onde a hipófise foi retirada, esta fase não ocorreu. Neste estágio o sangue encontra-se em rarefação (diluição-sedimentação) e ocorre o anabolismo. A fase de resistência é caracterizada pelo aumento do córtex da supra-renal; pela atrofia do timo, baço e todas as estruturas linfáticas, hemodiluição, aumento do número de glóbulos brancos, diminuição do número de eosinófilos; ulcerações no aparelho digestivo; aumento da secreção de cloro na corrente sangüínea; irritabilidade; insônia; mudanças de humor (como depressão); diminuição do desejo sexual (FRANÇA; RODRIGUES, 1997).

No entanto, se o estresse continua, o terceiro estágio (exaustão) começa e pode provocar o surgimento de uma doença associada à condição estressante. O estresse agudo repetido inúmeras vezes pode, por essa razão, trazer conseqüências desagradáveis, incluindo disfunção das defesas imunológicas. De modo geral, pode-se afirmar que o organismo humano está muito bem adaptado para lidar com o estresse agudo, se ele não ocorre com muita freqüência. Mas quando essa condição se torna repetitiva ou crônica, seus efeitos se multiplicam em cascata, desgastando seriamente o organismo (SAMULSKI, 1996).

Segundo Fontana (1994), os efeitos psicológicos podem ser divididos em efeitos cognitivos, ligados ao pensamento e ao conhecimento; efeitos emocionais, ligados aos sentimentos, emoções e personalidade; efeitos comportamentais gerais, relacionados igualmente a fatores cognitivos e afetivos.

Os efeitos cognitivos do excesso de estresse são o decréscimo da concentração e da extensão da atenção: a mente encontra dificuldades para permanecer concentrada, diminuem os poderes de observação; aumenta a desatenção: a linha do que está sendo ensinado ou dito é perdida com freqüência, mesmo no meio de frases; deteriora-se a memória de curto e longo prazo: reduz-se a amplitude da memória; a lembrança e o reconhecimento diminuem, mesmo a respeito de materiais familiares; a velocidade de resposta torna-se imprevisível: a velocidade real de resposta reduz-se, as tentativas de compensação podem levar a decisões apressadas; aumenta o índice de erros: como conseqüência de todos os itens anteriores, os erros aumentam em tarefas manipulativas e cognitivas, as decisões tornam-se suspeitas; deterioram-se os poderes de organização e planejamento a longo prazo: a mente não pode avaliar com exatidão as condições existentes nem prever as conseqüências futuras; aumentam as ilusões e os distúrbios de pensamento: o teste da realidade torna-se menos eficiente, a objetividade e os poderes de crítica são reduzidos, os padrões de pensamento tornam-se confusos e irracionais (FONTANA, 1994).

Os efeitos emocionais do excesso do estresse citados por Fontana (1994) são o aumento das tensões físicas e psicológicas: reduz-se a capacidade de relaxamento do tônus muscular, de se sentir bem e de se desligar das preocupações e ansiedades; aumenta a hipocondria: queixas imaginárias acrescentam-se aos males reais do estresse, desaparecem as sensações de saúde e de bem-estar; ocorrem mudanças nos traços de personalidade: pessoas asseadas e cuidadosas podem se tornar desleixadas e relaxadas, pessoas carinhosas podem ficar indiferentes, as democráticas transformam-se em autoritárias; crescem os problemas de personalidade existentes: pioram a ansiedade, a super sensibilidade, a defensiva e a hospitalidade já existentes; enfraquecem-se as restrições de ordem moral e emocional: os códigos de comportamento e de impulso sexual enfraquecem, aumentam as explosões emocionais; aparecem a depressão e a sensação de desamparo: o entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento de impotência para influenciar os fatos ou os próprios sentimentos a respeito deles; a auto estima diminui de forma aguda: desenvolvem-se sentimentos de incompetência e de inutilidade.

Os efeitos comportamentais gerais do excesso de estresse, segundo Fontana (1994), são o aumento dos problemas de articulação verbal: aumentam os problemas já existentes de gagueira e hesitação, podendo surgir em pessoas até então não afetadas; diminuem os interesses e o entusiasmo: os objetivos de vida podem ser abandonados, passatempos podem ser esquecidos, objetos de estimação vendidos; aumenta a absenteísmo: atrasos ou falta no trabalho por doenças reais ou imaginárias ou por desculpas inventadas tornam-se um problema; cresce o uso de drogas: torna-se mais evidente o abuso de álcool, cafeína, nicotina e medicamentos ou drogas; abaixam os níveis de energia: os níveis de energia caem ou podem variar de forma marcante de um dia para outro, sem razão aparente; rompem-se os padrões de sono: ocorre dificuldade para dormir ou para permanecer adormecido por mais de quatro horas; aumenta o cinismo a respeito dos clientes e colegas: desenvolve-se a tendência de jogar a culpa sobre os outros; ignoram-se novas informações: são rejeitadas até mesmo novas regulamentações ou novos acontecimentos potencialmente úteis; responsabilidades transferidas para outros: são adotadas soluções paliativas e de curto prazo, e abandonadas as tentativas de aprofundamento e de acompanhamento, em algumas áreas, ocorrem "desistências"; surgem padrões bizarros de comportamento: surgem maneirismos estranhos, imprevisibilidade e comportamentos não característicos, podem ocorrer tentativas de suicídio: surgem frases como "acabar com tudo" e "é inútil continuar". Fontana (1994) destaca que e a incidência desses efeitos negativos pode variar de um indivíduo para outro. Poucas pessoas apresentam todos eles e que o grau de severidade também varia de pessoa para pessoa.

2.5RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E DOENÇAS

O sistema gastrointestinal é especialmentesensível ao estresse geral. A perda de apetite é umdos seus primeiros sintomas, devido a paralisaçãodo trato-gastrointestinal sob ação simpática, epode ser seguido de vômitos, constipação ediarréia, no caso de bloqueios emocionais.Estudos demonstraram que indivíduos sob estresse secretamuma quantidade considerável de hormôniosdigestivos pépticos na sua urina, isso indica queos hormônios do estresse aumentam a produçãode enzimas pépticas, ou seja, a úlcera parece serproduzida com o aumento do fluxo dos sucosácidos causado pelas tensões emocionais, noestômago, que se encontra desprotegido do mucoprotetor secretado em estado de homeostase, sobação do sistema autônomo parassimpático (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

A depressão é classificada por Braga et al. (1999) como uma doença funcional, sem causas físicas palpáveis, podendo ser de origem psicológica. Isto tem sido questionado porque dentro dos limites normais reduziram-na a experiências subjetivas de desconforto, de sofrimento e de vulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de defesa se relaciona principalmente com a elevação da produção de cortisol. A depressão causada pelo estresse prolongado se dá devido à ativação constante da supra-renal, levando-a a atingir seu nível máximo de produção de noradrenalina, a partir da qual se torna incapaz de satisfazer a demanda. Ocorre a liberação de adrenalina, que lhe é precursora na síntese, e desenvolve sintomas de fuga mais do que de enfrentamento. No entanto, o indivíduo pode entrar em depressão aguda devido ao estresse de exaustão que libera logo cortisol. (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

No câncer ocorre um colapso da imunidade e resistência do organismo. O fato dos tumores crescerem ou não está relacionado com a eficiência dos processos de imunidade. Então, se o sistema imunológico encontra-se "desequilibrado", a probabilidade do desenvolvimento da doença aumenta. Como o sistema imunológico é também controlado pelo sistema límbico, pode-se acreditar que o indivíduo com câncer apresenta todo um conjunto de elementos psicossomáticos. Pesquisas realizadas constataram que o lado psicológico da doença é tão importante quanto o físico e o biológico. (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005). Segundo Cabral et al. (1997), acredita-se que pessoas que reagem a esses estresses com sentimentos de falta de esperança e/ou desepero levariam estas reações emocionais a um desequilíbrio profundo mental, hormonal, orgânico e psicológico, disparando um conjunto de reações fisiológicas que deprimem o sistema imunológico, tornando-o suscetível à produção de células anormais, e abalando as defesas contra câncer e outras enfermidades.

Braga et al. (1999) diz que em condições normais, o sistema nervoso autônomo parassimpático, participa da regulação das atividades sexuais em ambos os sexos, no homem provoca ereção e na mulher entumescimento da genitália. Mas, em situação de conflito e estresse, o sistema nervoso autônomo simpático sobrepõe-se ao sistema nervoso parassimpatico e o resultado é, dentre outros, a vasoconstrição sangüínea, o que impossibilita a atividade sexual em ambos os sexos devido à diminuição da irrigação dos órgãos genitais. Estudos com animais demonstram que as glândulas sexuais ingurgitam-se e tornam-se menos ativas em relação à dilatação e aumento das supra-renais. A pituitária produz grande quantidade do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) para manter a vida, ativando as suprarenais e, ao mesmo tempo, reduzindo a produção de outros hormônios que são menos urgentes em condições de emergência, como os gonadotróficos. Outros estudos confirmam nos seres humanos que estas reações produzem a impotência sexual (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

O estresse está associado à liberação de hormônios que, além de alterar vários aspectos da fisiologia, têm ainda um efeito modulador das defesas do organismo. Em humanos, o principal hormônio com essas funções é o cortisol (glicocorticóide). Os níveis de cortisol no sangue aumentam drasticamente após a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que ocorre durante o estresse e a depressão clínica (BAUER, 2002).

Esse hormônio então liga-se a receptores presentes no interior dos leucócitos (glóbulos brancos), ocasionando, na maioria dos casos, uma imunossupressão. Um dos efeitos bem conhecidos do cortisol, tanto durante o estresse quanto no caso do uso terapêutico dos glicocorticóides sintéticos, é a regulação da migração dos leucócitos pelos tecidos do corpo (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Após o estresse, por exemplo, ocorre um aumento expressivo do número sangüíneo de neutrófilos (leucócitos envolvidos na resposta inflamatória) e uma redução importante na contagem de linfócitos (leucócitos envolvidos na fase reguladora e disparadora da resposta imune). Entre os linfócitos, porém, verifica-se um aumento importante na contagem de células natural killer, que vigiam contra o surgimento de tumores e combatem infecções virais. Estudos demonstraram que, durante a terapia com glicocorticóides (ou no estresse crônico), os linfócitos migram para a medula óssea, talvez como uma proteção contra os efeitos nocivos dos níveis elevados de glicocorticóides circulantes (BAUER, 2002). Os hormônios do estresse também alteram várias funções dos linfócitos. Quando uma infecção se instala, essas células de defesa têm, por exemplo, a capacidade de se multiplicar, o que aumenta as chances de remover o agente infeccioso. Diversos estudos têm demonstrado que o estresse crônico diminui a proliferação linfocitária, o que também acontece na depressão clínica. A diminuição na capacidade de multiplicação, pode estar associada a uma redução na produção de interleucina-2, uma citocinina liberada por um tipo determinado de glóbulo branco (as células T) e capaz de ativar e induzir a proliferação celular (BAUER, 2002).

O estresse também altera a resposta humoral do sistema imunológico. Essa resposta é a produção de anticorpos e proteínas do complemento (grupo de proteínas da circulação que, ativadas por fatores imunológicos ou certas substâncias invasoras, tornam-se enzimas e induzem reações de defesa) (FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Além disso, o estresse psicológico e a depressão clínica reduzem a destruição de células tumorais realizada por células natural killer. Pesquisas do psiquiatra gaúcho Gabriel Gauer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, demonstraram que pacientes com maiores níveis de depressão apresentam déficit da atividade natural killer. A redução da resposta celular pode explicar a maior incidência de câncer e de doenças virais nesses pacientes. (RONSEIN et al., 2004).

2.6COMO EVITAR O ESTRESSE

Deve-se evitar sobrecarregar o corpo ou a mente com ações exaustivas repetitivas quando já se está exausto; dormir bem: sendo necessário resguardar-se do estresse à noite, reduzindo o excesso de luz, barulho, frio ou calor e até o consumo exagerado de refeições pesadas e ou bebidas; e reservar momentos para diversão e distração, onde se possa desvencilhar dos problemas estressantes (CABRAL, et al, 1997).

O estresse pode esgotar as reservas de vitamina C e complexo B, portanto, uma boa nutrição pode ajudar seu controle, devendo ter maior atenção alimentos frescos, saudáveis e de fontes variadas (carboidratos, proteínas, vegetais, frutas, cereais). E evitando gordura, ingestão de bebidas alcoólicas e diminuição no consumo de café (pseudo-estressor). No estresse crônico, a suplementação vitamínico-mineral geralmente é necessária (CRESPO, 2009).

É importante que se busque desvencilhar dos problemas e questões estressantes em atividades prazerosas, com diversão e distração (CABRAL, et al, 1997). Segundo Martins e Jesus (1999) atitudes e pensamentos positivos, conhecimento do estresse, planejamento e organização do tempo, relaxamento e senso de humor são formas de se lidar com o estresse. Segundo eles, a atividade física é extremamente importante por desencadear a liberação de serotonina, que tem efeito calmante, podendo diminuir alguns efeitos de ansiedade e depressão, além de provocar sensação de bem estar e euforia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nas reflexões apresentadas foi verificado que o estresse nem sempre é um fator de desgaste emocional e físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo. Recebem-se os estímulos internos e externos através do sistema nervoso e dependendo da forma com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar alterações psicológicas e biológicas negativas, podendo levar ao estresse crônico. Nesse caso, ocorrem alterações fisiológicas que poderão desencadear vários tipos de doenças psicossomáticas.O estresse psicológico é, de modo geral, um fator de risco importante para o desenvolvimento de inúmeras doenças. Nesse aspecto, um mistério a ser explicado é por que alguns indivíduos convivem melhor com o estresse do que outros. Talvez isso esteja relacionado com fatores genéticos ou sociais.

De qualquer forma, essas pessoas são uma dica viva para aprendermos a conviver melhor com o estresse e a sofrer menos as suas conseqüências. Identificar e conhecer as causas que levaram ao estresse é fundamental para que o indivíduo possa desenvolver estratégias de enfrentamento do problema. A ciência já reconhece que os sistemas nervoso, endócrino e imunológico estão interligados, sendo este um passo importante para os estudos na área de tratamento do estresse. No entanto, ainda estamos vendo apenas a ponta do iceberg, e precisaremos ainda de muitas pesquisas para compreender uma questão intrigante: por que adoecemos?Há que se considerar que as discussões e análises levantadas pelo presente estudo não se esgotaram, mas ao contrário, representam apenas uma abertura para que novas pesquisas tragam mais conhecimento e soluções para melhorias no processo de controle do estresse.



REFERENCIAS

ALMEIDA, A. P. G; BASTOS, A. C. M. P. fisiologia do estresse. Saúde & Ambiente em revista, duque de Caxias, v. 2,n.1, p. 127-134, 2007.

Ballone, G. J. Stress. In: Psiq Web Psiquiatria Geral, 2002. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/cursos/stress>. Acesso em: 05 de Novembro de 2009.

BAUER, M.E. Estresse – Como ele abala as defesas do organismo? Ciência Hoje. vol. 30, n 179, p. 20-25, 2002.

BRAGA, A. Met al. O estresse forte e o desgaste geral . Revista de psicologia.2002.Disponível em: <http://www.icb.ufmg.br/lpf>. Acesso em 12 de novembro de 2009.

CABRAL, A.P.T.; LUNA, J.F.; SOUZA, K. N.; MACEDO, L.M.; MENDES, M.G.A.; MEDEIROS, P.A.S.; GOMES. R.M. O Estresse e as Doenças Psicossomáticas. Revista de Psicofisiologia, v. 1, n. 1, 1997.

CRESPO ,L.Ortomolecular no estresse.2009. Disponível em: http://www.leticiacrespo.com/v1/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=35. Acesso em: 13 de novembro de 2009.

FAVASSA, C. T. A.; ARMILIATO, N.; KALININE, I. Aspectos Fisiológicos e Psicológicos do Estresse. Revista de Psicologia da UnC, v. 2, n. 2, p. 84-92, 2005.

FONTANA, D. Estresse: faça dele um aliado e exercite a autodefesa. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1994.

FRANÇA, A. C. L., RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.

MARGIS, R.; PICON, P.; COSNER, A. F.; SILVEIRA, R. O. Relação entre estressores, estresse e ansiendade. Revista de Psiquiatria, Rio Grande do Sul, n. 25, p 65-74, 2003.

MARTINS, C. O.; JESUS, J. F. Estresse, Exercício Físico, Ergonomia e Computador. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 21, n. 1, p.807-813, 1999.

RONSEIN, G. E.; DUTRA, R. L.; SILVA, E. L.; MARTINELLO, F.; HERMES, E. M.; BALEN, G.; JORGE, S.; WALTRICK, C. D. A; SILVA, C. S. M.; SANTOS, B. M.; LEAL, V.; ROLDÃO, U. Q.; CANTOS, G. A. Influência do estresse nos níveis sanguíneos de lipídios, ácido ascórbico, zinco e outros parâmetros bioquímicos. Acta Bioquímica Clínica Latinoamericana, v.38, n.1, p. 39-46, 2004.

SAMULSKY, D. M., CHAGAS, M. H., NITSCH, J. R. Stress: teorias básicas. Belo Horizonte: Costa & Cupertino,1996.

SELYE, H. Stress: a tensão da vida. 2 ed. Tradução de Frederico Branco. IBRASA: São Paulo,1965.

SOUZA, A. D.; CAMPOS, C. S.; SILVA, E. C.; SOUZA, J. O. Estresse e o trabalho. Trabalho de pós graduação (Medicina do trabalho). Sociedade Universitária Estácio de Sá Associação Médica de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2002.