ERROS DA HISTÓRIA?
Publicado em 11 de julho de 2017 por NERI P. CARNEIRO
ERROS DA HISTÓRIA?
Por que acreditamos naquilo que nos dizem? Por que acreditamos naquilo que lemos? Por que acatamos como verdade alguma coisa e refutamos, como mentira, algumas outras?
A resposta é: acreditamos ou rejeitamos com base nas provas. No senso comum se fala em confiança naquele que narra o fato. Em filosofia se fala em provas racionais. Em religião se fala em prova de fé. Em história se fala em provas documentais.
Mas o que fazer ou como proceder quando passamos a desconfiar das provas? Que fazer quando somos impelidos a desconfiar do narrador, do argumento, da crença, do documento. Essa desconfiança tem razão de ser, pois documentos podem ser forjados. A razão pode não ser suficiente. O narrador cometeu deslizes ou é reconhecidamente mentiroso... e, além disso, o fato ou a situação é tão absurda que quase nos pede para desconfiarmos dela.
Um exemplo clássico de onde se pode chegar a partir da desconfiança ou da dúvida em relação à prova é René Descartes. Desconfiou e duvidou de toda a filosofia que o precedeu e criou uma nova metodologia de estudo e de pesquisa, baseado-se naquilo que chamou de dúvida metódica. Partindo da dúvida reelaborou todo um programa de análise da realidade. Daí foi que nasceu o clássico “penso, logo existo”. Para duvidar devo pensar, portanto se estou pensando é porque existo, concluiu Descartes.
Em relação à fé pode-se mencionar Lutero. Não sei se duvidou de Deus, mas que foi uma pedra no sapato da Igreja, isso sem dúvida. Graças a isso tanto ganharam os católicos que mais tarde viram sua Igreja reformulando algumas de suas posições como ganhou a humanidade pois a partir dessa dúvida cresceu o movimento da reforma protestante; a bíblia se popularizou; a religião se abriu ao povo... e o povo pode descobrir que Deus é amigo...
Mas isso também se aplica à história?
Se o caminho para a certeza é a dúvida, sim. A história também tem alguns pontos de interrogação em aberto. Ou, melhor, para haver avanço na compreensão dos fatos históricos eles precisam ser re-examinados, re-explicados. É necessário que lancemos dúvidas sobre os documentos históricos, pois eles podem nos pregar peças ou nos induzir ao erro. Sem contar que podem ser forjados para atender a algum interesse...
Veja só: É fato que dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Mas, em quais condições isso ocorreu? Realmente desembainhou a espada e gritou “independência ou morte” ou o processo foi mais complexo? Um artista, Pedro Américo, imortalizou esse fato numa tela. Mas ele não estava presente ao fato e fez o trabalho vários anos depois. No quadro aparece pelo menos um ponto de interrogação: por que não se veem os jumentos carregando as matulas de viagem? Naquela época não se viajava do Rio de Janeiro (sede da corte) até Santos (residência da marquesa a quem d. Pedro fora visitar), sem os apetrechos de cozinha e acampamento. Era uma viagem de dias.
Em Rondônia ainda convivemos com alguns que são chamados de pioneiros. Eles nos contam fatos da colonização, mas suas narrativas se prestam a equívocos, pois cada um apresenta a sua versão nem sempre são coincidentes e se não há coincidência alguém está acrescentando ou omitindo fatos. Portanto alguma inverdade está ocorrendo. E, portanto, há algum erro na história.
Mas, então, como ficamos: houve erros da história, erros históricos ou erros na forma de contar a história? Ou não ocorreram erros, pois quem contou o que contou apresentou a sua verdade?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação; filósofo; teólogo; historiador
Rolim de Moura – RO