Não li nenhuma crítica antes de assistir o filme, mas confesso que gostei e foi difícil não se emocionar com as belíssimas interpretações da cantora e em alguns momentos do drama.  A atriz novata Andreia Horta  encarnou com competência a personagem. A semelhança com a cantora em alguns momentos chega a ser mágica. Ela dubla a voz da Ellis tão bem que dá a impressão de que está realmente cantando, mas a voz é mesmo da nossa magistral e inesquecível cantora.

A linguagem cinematográfica tem suas limitações de tempo e a vida da cantora foi tão intensa que não cabe nas duas horas de duração do longa. Talvez fosse necessário dividir a história de vida de Elis em vários episódios e todos eles tem grande intensidade.

O filme começa com as dificuldades encontradas pela jovem cantora no Rio de Janeiro. Primeiro chega com dois meses de atraso ao convite de uma gravadora. Depois foi recusada para substituir Nara Leão na peça Pobre Menina Rica por ter estilo de cantora de churrascaria. Depois o primeiro contato com os agitadores da noite, Miele e Ronaldo Boscoli, que lhe dão a primeira oportunidade de cantar na noite carioca. O bailarino e coreógrafo Lenie Dale fica encarregado de fazer com que Ellis solte o corpo no palco e se torna seu maior amigo.

O sucesso chega e com ele também os problemas. O casamento com Boscoli, inicialmente seu desafeto, não dá certo por causa da personalidade infiel do compositor. A consagração da cantora gaúcha faz emergir a sua personalidade difícil e intempestiva. Durante a sua tournée na França dá uma entrevista fazendo sérias críticas ao governo militar, fato que lhe trouxe sérios problemas.

De volta ao Brasil foi interrogada por militares que lhe fazem ameaças pessoais e ao seu filho. É um dos momentos mais dramáticos do filme, pois expõe a cantora a uma grande humilhação, obrigando-a a desmentir tudo o que havia dito. De quebra, é ainda obrigada a cantar para um evento das Forças Armadas, o que faz com que seus amigos se afastem dela com receio de que ela fosse uma agente a serviço da ditadura. O cartunista Henfil a coloca em uma charge sendo enterrada e acusada de cantar para os nazistas.

Nada mais cruel do que o patrulhamento ideológico a que foi submetida. Ninguém lhe perguntou a que custo ela foi cantar para os militares, mas a julgam da pior forma, sem direito a se defender.  Grupos de oposição ao governo a vaiam em seus shows como se fosse uma delatora de seus colegas, o que realmente nunca aconteceu.

Mas o filme talvez peque por ser um pouco condescendente no que se refere aos conflitos da artista com as pessoas à sua volta e o seu descontrole com relação às drogas o que poderia dar maior densidade à personagem e seus dramas.

Enfim, o filme termina com a tragédia conhecida. Uma alma angustiada e o medo do fracasso a conduzem ao excessivo consumo de álcool e cocaína levando-a a uma overdose fatal aos trinta e seis, deixando órfãos três filhos pequenos e uma multidão de fãs em todo o pais, que perdeu prematuramente uma cantora de excepcional talento para a música e, infelizmente, para a encrenca.