Introdução

A partir do século XVIII, o movimento iluminista que inflamava a Europa, atingiu, também Portugal, e inaugurou-se um novo período na história da educação brasileira. Com o primeiro ministro português Marquês de Pombal, percebendo o atraso cultural do país, tinha como objetivo em que os homens precisavam ser educados a serviço dos interesses da nação e trazer o ensino para os assuntos da terra.Durante o primeiro reinado falava-se muito em educação, mas tudo não ia além do papel, o governo imperial demonstrava um absoluto desinteresse pela educação do povo.

Após 1920, surgiu o movimento renovador com a difusão da rede escolar pelas cidade e pelos campos, acolhendo um crescente números de pessoas, ministrando educação às crianças de várias procedências, condições de saúde, diversidade de tendências e aspirações.

A partir da República Nova  a constituição federal de 1934 foi a primeira a destinar recursos para a educação rural, atribuindo essa responsabilidade a União pelo funcionamento do ensino nessa área, mas as políticas públicas nunca determinarão essa implementação. Na década de 60 foi implantado a Escola-Fazenda no ensino técnico agropecuário, ao mesmo tempo em que reprimiu os movimentos populares e instituiu o MOBRAL. A partir de 1961 passou a funcionar a Lei de Diretrizes e Bases-LDB, determinou os fins gerais da educação, assegurou o direito à educação e em especial promover a educação nas áreas rurais. Em 1996 a LDB em seu artigo 3º, 23;27 e 61 reconhece a diversidade sócio cultural, o direito a igualdade e a diferença, possibilitando a definição de diretrizes operacionais com a educação rural.

Em 2001 com o plano de educação estabelece suas diretrizes o tratamento diferenciado para com as escolas da zona rural recomenda-se o modelo da escola urbana, embora essas diretrizes operacionais para a educação básica das escolas do campo representam um importante marco para a educação do campo , porque contemplam e refletem um conjunto de preocupações conceituais e estruturais nas reivindicações como formação continuada dos professores organização de formas diferente da escola.

Com a criação em 2004, no âmbito do Ministério da Educação, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, à qual esta vinculada a coordenação geral de Educação do Campo, significa a inclusão da estrutura estatal federal de uma instância responsável. Nesse propósito as escolas do campo são aquelas que a sede é localizada em áreas urbanas no espaço geográfico de acordo com o IBGE e atendem a população de municípios cuja produção econômica social e cultural vinculada ao campo.

No Relatório das diretrizes e bases da educação do campo, tratada como educação rural na legislação brasileira são populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural. A política de educação do campo e o programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA de 2010, decreta:                                    

                                                  Art. 2º são princípios da educação do campo: 

                                                       I - respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais,   culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia.

                                                       V  - controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva participação da comunidade e dos movimentos sociais.  

Este artigo, ressalta que a educação do campo garanta a diversidade do campo com a participação da comunidade. Ao tratar da diversidade no sentido da desigualdade social, os Parâmetros Curriculares Nacionais  se refere a temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e a valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às  desigualdades socioeconômicas e à critica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal (PCNs,1998).

É importante  destacar o Seminário Nacional de Educação de Campo, promovido pela articulação nacional Por Uma Educação do Campo, realizado em Brasilia 2002, discutindo quais as tarefas e os desafios dos Educadores do campo da nova conjuntura que se inicia  na II Confererência Nacional “Por Uma Educação do Campo realizada em 2003 em uma grande celebração da luta pela vida digna no campo(MOLINA, 2002).   

Descreveremos adiante algumas reinvidicações mais marcante do documento da II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo que servem de base para a educação do campo propostas educacionais para o nosso pais.

 Proposta da CNEC Por Uma Educação de Campo

A abordagem da II Conferência Nacional de Educação do Campo - CNEC,    Por Uma Política Pública de Educação do Campo no sentido histórico da educação dentro das leis e normativas, diretrizes da LDB e dos decretos governamentais. Reinvindicam todos os direitos para a população do campo à educação, dignidade, projeto político pedagógico, transportes, infra-estrutura, cargos de carreira para professores e educadores, construindo-se sujeitos coletivos de direitos,  direitos estes concebidos por sua vez se relacionam com um projeto de sociedade, de país e de mundo.

A partir de proposta e proposições a CNEC para áreas de assentamentos, educação básica, educação superior, educação profissional e assistência técnica junto com as revoluções tecnológicas são elementos cruciais para a Educação do Campo numa realidade que vem acontecendo,  por exemplo, nos cursos de Técnico Agropecuária do PRONERA. Desafiando concepções de campo através da formação técnica de assentados de Reforma Agrária alavancando o desenvolvimento territorial, discutindo a realidade da agricultura familiar camponesa local e criando redes de projetos e comunicação através dos educandos em suas ações nos assentamentos.

A CNEC prioriza também a Juventude Rural  que ocupa lugar de destaque no campo e é esta juventude, que irá contribuir para as mudanças e transformação da sociedade, revertendo o quadro de desânimo e de abandono das áreas rurais e de desemprego e migração das grandes cidades.  Esta juventude segundo Freire é o individuo que começa a se desenvolver dentro de sua realidade, refletindo sobre ela na busca por uma transformação para ela.

Portanto, após todo estes acontecimentos sobre a educação do campo acima citado voltamos a cena da sala de aula da disciplina Educação do Campo no primeiro momento e no segundo momento  a excursão pedagógica ao assentamento do engenho trapiche  onze negras. 

 Educação do Campo e o texto a cultura de que precisamos 

                Na apresentação da disciplina com questionamentos e sondagem, iniciamos  atividade leitura na  análise de um trecho do texto a cultura de que precisamos adaptado de alunos da escola de Barbiana, carta a uma professora:

            “Não podemos ficar nas montanhas. Há gente demais nos campos e todas as classes tem sua cultura própria e não há uma classe que tenha mais ou menos cultura que outra.Abra um manual da escola fundamental. Só se veem plantas animais, estações. À primeira vista, parece que só poderia ter sido escrito por um camponês. Mas os autores dos manuais vieram de sua escola. Basta observar as ilustrações: camponeses canhotos, enxadas redondas, pás em forma de ancinho, ferreiros com utensílios do tempo dos romanos, cerejeiras com folhas de ameixeiras.(...)”.

                Em seguida, respondemos  questões existente no texto na seguinte ordem: as primeiras quatro questões foram respondida sobre o texto a cultura que precisamos na sala de aula, a quinta questão fizemos uma excursão pedagógica para a comunidade Onze Negras no assentamento da comunidade do engenho trapiche para fazer um levantamento envolvendo educação do campo, cultura, religião e outros. As questões do texto foram as seguintes:

  • Como a professora deve aceitar os alunos que vem do campo?
  • Há uma classe que tenha mais cultura que outra? Por quê?
  • Por que, de acordo com o texto, a professora não conhece a cultura dos alunos?
  • Fazer um levantamento na comunidade Onze Negra de aspectos culturais típicos da comunidade em que localiza a escola(tipos de moradia, canções, danças característica),os aspectos ligados ao trabalho, à religião, ao lazer ao artesanato, etc.
  • A escola e os educadores conhecem e valorizam a cultura local? Por quê?Em caso de resposta negativa, como modificar a situação?

Posicionamento dos alunos nas respostas  do texto

Dividimos o texto da seguinte forma: leitura do texto e questionamento, respondido quatro questões em sala de aula e as últimas questões a educação do campo na comunidade visitada. Vejamos o posicionamento dos alunos a leitura do texto.

  1. De acordo com a realidade do aluno tendo em vista que nenhuma turma é homogênea, a professora deve aceitar os alunos que vem do campo com sua cultura e trabalhar para introduzir os conhecimentos científicos legais do currículo escolar do qual ele fará parte, pois futuramente, mesmo esse aluno sendo do campo, poderá utilizar esse conhecimento cientifico no seu trabalho futuro ou até mesmo no campo, os professores em sala de aula trabalhando os seguintes itens:
  2. a) sem preconceito e sem discriminação respeitando seus conhecimentos prévios e sua cultura de origem e dando-lhes uma educação igual a dos outros alunos de cultura urbana
  3. b) contexto de vida
  4. c) valorizando-o como individuo
  5. d) falta de adaptação ao novo convívio
  6. e) interação professor/aluno.
  7.     Ao responderem a  segunda questão  todas alunas e alunos disseram que nenhuma classe tem mais cultura que outras e afirmam, todas as classes tem sua cultura própria, alunos de diferentes culturas adotando outras culturas.Cada cultura tem seu valor e é importante enaltecer cada uma delas e a cultura vem de dentro das pessoas.
  8.   A professora não conhece a cultura dos alunos porque só conhece a cultura que mostra os livros escritos por pessoas que passaram a vida lendo outros livros, e não conhecem de perto a cultura do camponês. Tratando-os como seres inferiores, não valorizando a cultura deles.Outros alunos disseram: falta de informação, pois o conhecimento está acima de tudo, à pesquisa é constante; não estava preparada para trabalhar com alunos do campo, talvez não imaginasse que esses alunos podessem ser tão inteligentes quantos os alunos da cidade; A professora trás consigo uma vida economista, urbana diferente dos alunos, desta forma não apresenta interesse nenhum pela cultura de campo que é a realidade dos alunos; Que eles aceitassem como são sua cultura;Só sabe aquilo que tem nos livros, nunca se interessou como era a vida dos alunos que moram no campo;a professora vinha de uma cultura diferente não conhecia a cultura de seus alunos;A professora nunca participou ou vivenciou da cultura dos mesmos, pois seu tempo esteve sempre absorvida pelos livros como consequência essa cultura ela não tem.
  9. As respostas variaram: aceitação como são com sua cultura; reconhecimento da cultura e dos alunos tem grandes vazios, talvez ainda maiores que a cultura deles e pó isso prejudiciais a um professor da escola ensino fundamental; aplicação de uma metodologia que se adeque ao conhecimento que eles trazem consigo e não um conhecimento que não vai atribuir a sua realidade;dimensões que envolvam as qualidades emocionais, políticas, éticas, reflexivas e criticas, o respeito para questionar a realidade atual buscando a cultura de cada um de seus alunos.

                 Entretanto, paramos a atividade do texto, para elaboração da excursão pedagógica com o propósito de uma pesquisa de campo sobre a educação escolar  na comunidade rural  num confronto prático  teórico para a educação refletindo: Qual a cultura de que precisamos para as comunidades que vivem no campo? Como valorizar esta educação  do campo com a cultura local sem perder sua identidade? Com estes questionamentos seguimos viagem para o município do Cabo de Santo Agostinho, munidos de pesquisa e história bibliográfica da comunidade, para fazer um levantamento de aspectos culturais típicos da comunidade em que se localiza a escola no assentamento Onze Negras que veremos breve histórico.

  História do assentamento das onze negras

                Os comunitários contam uma história que teria se passado na época em que trabalhavam no engenho de açúcar, quando um garoto viu uma burra tombando no chão por não resistir ao peso da cana-de-açúcar que carregava. Como não conseguia pronunciar corretamente a palavra “burra”, o garoto gritava “a burrama morreu”, dando assim origem ao nome da comunidade. Depois disso, a comunidade passou então a ser conhecida como “Pista Preta”, em ração do piche utilizado nas estradas e rodagens da região.        

             Nesse contexto, uma comunidade de negros remanescentes da escravidão se formou no Engenho Trapiche. Na época, a área onde viviam era de propriedade da Companhia de Revenda e Colonização, órgão do governo estadual. Quem a utilizava, no entanto, era o dono na Usina Santo Inácio, para quem os quilombolas trabalhavam. Sua nomenclatura variou, acompanhando o percurso histórico que a própria comunidade viveu. Seu primeiro nome foi “Burrama”, em alusão ao trabalho de carga realizado pelos burros.

           A formação de Onze Negras ocorreu na década de 1940, quando famílias negras que viviam no interior do estado de Pernambuco migraram para a região do Cabo de Santo Agostinho para trabalhar na plantação de cana-de-açúcar das usinas da região.

        ..Na década de 1960 a área onde se encontrava a comunidade foi requisitada pela Companhia de Revenda e Colonização para ser utilizada na abertura de rodovias federais interligando o município de Cabo de Santo Agostinho com Recife. Tal iniciativa fazia parte do processo de instalação de um complexo industrial no município. O governo ofereceu às famílias uma indenização em dinheiro como compensação pela mudança compulsória. Com essa indenização, os comunitários deram entrada na compra de lotes de terras no mesmo Engenho Trapiche porém em área mais distante dos limites da rodovia.

        Desde 1968, quando se mudaram para o local onde hoje se encontram, a comunidade das onze negras possui o título de suas terras, adquirido da Companhia de Revenda e Colonização, antiga proprietária da área.

            No início da década de 1980, um grupo de mulheres da comunidade começou a se organizar para lutar por seus direitos. Conhecidas como Grupo das Mães, reivindicavam inclusão social e oportunidades de emprego e renda.
Entre as conquistas do grupo de mulheres estão o asfaltamento da estrada de acesso da comunidade à rodovia, a instalação de um transformador de energia em cada residência comunitária e a melhora da escola comunitária.

             Até 1988, a única escola da comunidade funcionava em esquema multisseriado. Hoje essa mesma escola está melhor estruturada, oferecendo simultaneamente Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Educação para Jovens e Adultos.
                Em 1999, como continuidade do trabalho realizado pelas mulheres da comunidade no Grupo de Mães, foi fundado o grupo Onze Negras que reuniu lideranças envolvidas com as lutas e conquistas da comunidade. Onze Negras passou então a denominar a própria comunidade.
            - Foi fundada a Associação dos Moradores Pequenos Produtores Rurais e Quilombolas Onze Negras do Engenho Trapiche;

            -  Fundação da associação comunitária, o nome da comunidade foi então mudado para “Onze Negras”, uma homenagem ao time de futebol “Onze Negros”, constituído predominantemente por jogadores negros, e também às mulheres da comunidade.

            A partir de 2003, com a organização da comunidade, novas conquistas foram alcançadas, dentre elas o ingresso da comunidade nos programas de geração de renda e incentivo ao trabalho da prefeitura de Cabo de Santo Agostinho.
              Em 2007  substituição de quatro outras mulheres do mesmo núcleo familiar pelo falecimento de mulheres do grupo fundador, o trabalho coletivo do grupo continuou acontecendo. São mulheres de todas as idades e que trabalham em diferentes funções, mas que têm em comum a participação e luta comunitárias.

               Com muito trabalho  foi que os comunitários conseguiram se estruturar na nova área de mata virgem, abriram um caminho de acesso à rodovia principal. No novo local, os quilombolas passaram a viver da agricultura, da caça e da pesca, investiram também no plantio de cana-de-açúcar que revendiam a uma usina. O Quilombo Onze Negras encontra-se situado no município de Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana de Recife, a capital do estado de Pernambuco. Aproximadamente 486 famílias vivem nessa comunidade. A história da comunidade traz recordações de momentos de grandes dificuldades e muitas lutas. Neles, as mulheres sempre desempenharam papéis importantes como líderes. Foram elas que fundaram a associação comunitária e que garantiram conquistas em educação, saúde e assistência para a comunidade.

                 Tendo como base as considerações históricas acima mencionada através de uma pesquisa de alunos e alunas do curso  de pedagogia da disciplina Educação de Campo da Universidade Estadual Vale do Acaraú, para um estudo de campo de conhecimento e reconhecimento desta comunidade pela sua diversidade histórica e de lutas resolvemos fazer uma pesquisa com esta comunidade  de  mulheres batalhadoras  por preservar a sua história afrodescendente, tendo como principal objetivo mostrar o engajamento das Onze Negras na luta pela valorização do gênero dentro do contexto sócio cultural pernambucano.

               Com a pesquisa e questionário, seguimos para o município do Cabo a procura da comunidade numa estrada de barro e vegetação  por toda a região para localizar a comunidade de difícil acesso. Chegando na comunidade fomos recepcionado pela líder da comunidade que nos recebeu no centro comunitário para darmos seguimento a aula na comunidade Onze negras.

  A aula na comunidade  Onze Negras

          Na comunidade onze negras  localizada no Cabo de Santo Agostinho. Fizemos a atividade referente a quinta questão levantamento nessa comunidade em todos os aspectos.  Observamos que a comunidade preserva o meio ambiente, não corta as árvores, não promovem queimadas e participam de conferências, palestra e debates sobre a melhor maneira de preservar o patrimômio cultural da comunidade do engenho trapiche o quilombo Onze Negras. Com questões relacionadas a educação, cultura, lazer e outros a líder comunitária nos recebeu no centro social da comunidade e exibiu um filme contando a origem e fundação do assentamento. Neste propósito elaboramos cinco temas agrupadas nas respostas:

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