Educação: de quem é a responsabilidade?

Por NERI P. CARNEIRO | 26/07/2016 | Filosofia

Educação: de quem é a responsabilidade?

Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola.

Não que não seja, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.

Então comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste isso que chamamos de educação?

Os mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo. Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.

E com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.

Como estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos, valores e posturas.

E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!

Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço valorativo. O que é conduzido é aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”, mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.

Então voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação? De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu. Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.

E quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a responsabilidade pela educação?

E a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a transmissão de informações consideradas relevantes para o desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar, portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.

A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício, para a ação laboral.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO