Dupla moral

Seria dupla moral ou apenas uma ética inaceitável?

Em qual instituição depositar confiança? O legislativo legisla em causa própria e autoriza isto ou aquilo não por que acredita no bem da população, mas nos valores do “molha a mão”. O executivo coage e corrompe aliados e adversários em nome de seus interesses das “mãos molhadas”.

Nosso último baluarte era o judiciário...

Há bem pouco tempo um presidente foi afastado da presidência. O povo pensou que isso havia sido resultado da mobilização popular e de caras pintadas. Mas o que ocorrera fora conflito de interesses entre executivo e legislativo e o povo nas ruas foi só um jogo de cena.

Mas naquela época a gente ainda acreditava nas instituições.

Depois foi a vez daquela “distinta senhora”. Também ela afastada da presidência. E o povo pensando que seu afastamento se dera em decorrência de massiva participação em mobilizações populares. Engano coletivo. O povo, não decidiu nada, apenas foi mobilizado pelos interesses daqueles que movimentaram as massas e os cordões dos marionetes: quanto maior a massa menor capacidade de pensar com a própria cabeça. Aliás já afirmara o velho K Jaspers: “Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, usam apenas de uma consciência de rebanho”. E a massa foi levada à rua para atender àqueles que queriam se apropriar do poder.

Então foi golpe?

Da mesma forma que está sendo um golpe atrás do outro a retirada de direitos dos trabalhadores e ampliação dos ganhos dos grandes empresários. Da mesma forma que, segundo afirmam os noticiários, o volume de provas contra ela era reduzidíssimo e foi extirpada do poder. Da mesma forma que ele, não sabemos por qual artifício não confessáveis, conseguiu se manter no cargo – segundo os noticiários – apesar do grande volume de provas confirmado suas tramas. E a chapa foi absolvida!!!

E nosso último baluarte era o judiciário... E dizem que o judiciário fundamenta suas decisões com base nas provas.

Eu que nada sei das leis fico a me perguntar: o que leva sete cabeças a emitirem dois juízos antagônicos diante do mesmo calhamaço de provas? A subjetividade? Mas já ouvi dizer que o direito é uma ciência positiva! Sua positividade é justamente a prova!... eu que não sei nada direito, nem direito sei, fico a me perguntar... Pelo menos perguntar, acredito, que sei! Mas também pode ocorrer de nem isso eu saber e por isso continuo sem entender: Como tão poucos nos enganam a todos?

Mas nosso último baluarte era o judiciário...

Caso soubéssemos alguma coisa ou se compreendêssemos os acordos que se fazem para se tomar esta ou aquela decisão, poderíamos nos articular em defessa dos nossos interesses. Não os interesses das massas massivamente mobilizáveis, mas os do povo: eu, você, nós que efetivamente fazemos o Brasil “andar”. Poderíamos nos articular como sugere Santo Tomás de Aquino, dizendo que diante de um poder ilegítimo ou agressor – e o povo está sendo agredido – o povo não só pode como deve se rebelar.

Isso tudo é enganação ou tudo isso não passa de nefastos artifícios daquilo que os moralistas chamam de “dupla moral”? Uma a ser exibida ao público, midiaticamente. Fazendo com que o povo pense que os discursos e bravatas são para serem levados a sério, mas não passa de jogo de cena. Outra, que na realidade prevalece, são os artifícios para ocultar a outra face da moral, oculta, mas maldosamente poderosa!

E nosso último baluarte era o judiciário...

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO