DESENVOLVIMENTO DA AVENTURA FANTÁSTICA: OS PRIMEIROS RASCUNHOS

Por: Nicholas S. Bonanato



INTRODUÇÃO

É dito que “escrever é como pintar com palavras”. O quadro é a folha em branco, o pincel é o lápis (ou a caneta) e sua paleta de cores, que dá a vida ao desenho, é o desenvolvimento saudável e a construção bem elaborada da narrativa, linear ou não, bem como a de seus diálogos e demais elementos narrativos. Não se faz obrigatória a presença do crível na história – a exemplos de dragões, fadas e demais criaturas mágicas –, mas é importante que se saiba como usar tais elementos para que, ao mesmo tempo que a história faça algum sentido, não extrapole o bom senso. O objetivo desse artigo é auxiliar o escritor hobista a desenvolver suas primeiras histórias de aventura fantástica ou de qualquer outro gênero que possa ser mesclado com o tema fantástico, como o terror, ação e drama, embora mire, particularmente, na aventura fantástica. É um gênero muito difundido na sociedade contemporânea, presente não só na literatura, mas também nas artes plásticas, cênicas e musicais; com enormes possibilidades de exploração.

Palavras-chave: Aventura, escrita, desenvolvimento, rascunho, fantasia.

 

1. DO GÊNERO FANTÁSTICO

Pode-se dizer que histórias fantásticas existem desde os primórdios da humanidade, já que a mente humana sempre foi propensa a idealizar o irreal, tornando-o, de certo modo, factível para si mesmo ou para um grupo determinado de pessoas. Em outras palavras, as histórias que englobam coisas não presentes no mundo do homem já podem ser consideradas fantasia. Costuma-se, a grosso modo, separar a literatura fantástica em dois tipos:

  • Baixa Fantasia: mesmo usando de elementos majoritariamente fantásticos, aproveita do mundo real para poder servir de estrutura para o enredo das histórias, mas não privando a liberdade de criação;
  • Alta Fantasia: usa pouquíssimos ou nenhum elemento factível em seu enredo – em termos geográficos, temporais, entre outros –, tendo-se então uma liberdade maior em criar mundos, arquétipos, raças e criaturas em relação a baixa fantasia.

Pode-se mesclar outros gêneros da literatura à fantasia, assim a tornando mais flexível. O terror, principalmente; pois é um gênero que permite ao autor trabalhar com o surreal e fazer o leitor mergulhar num universo frio e sufocante, repleto de coisas que ele nunca imaginou existir.

Os autores fantásticos, em sua esmagadora maioria, utilizam-se das diversas mitologias e histórias folclóricas que foram se desenvolvendo ao longo da humanidade. O imaginário humano, seja de modo geral ou compartilhado por certa cultura ou grupo de pessoas, é explorado tanto quanto, pois a escrita dá a oportunidade de dar um pouco mais de sentido a essas coisas. Um linguajar peculiar, seja no sotaque, na pronúncia, forma de escrever ou sua contextualização, pode ser transformado nos dialetos de um novo idioma, ficcional, falado por influentes povos, obtendo origem e razões de existir totalmente diferentes.

A literatura fantástica não se limita a um romance. Pode ser um conto, um poema ou mesmo uma música. Aqui, especificamente, será abordado o desenvolvimento desse gênero em romances.

2. DA ESTRUTURA

É sabido que toda história possui começo, meio e fim. Fora isso, existem várias concepções a respeito da estrutura de uma história de ficção fantástica, que também pode valer para outros gêneros, pois, afinal, trata-se da criação de histórias. Uma estrutura comumente utilizada é essa, onde uma coisa depende de outra para acontecer:

Aqui, têm-se os seguintes pontos...

  • Enredo: a história principal. Alguns escritores costumam ter toda a história pronta antes mesmo de começar a desenvolvê-la, enquanto outros vão construindo de pouco a pouco;
  • Elementos Narrativos: envolve diálogos, descrição de cenários, construção de personagens (abordado mais à frente), tempo, etc.
  • Trama: os eventos que, de certa forma, ditarão o desenrolar da história, seja ela linear ou não;
  • Desenvolvimento da história: com a trama, a história ganha mais “argumentos” para existir;
  • Clímax: o final da história.

Perceba que, como dito acima, um depende do outro para existir, e todos esses pontos constituem a estrutura mais comum para livros de romance. O enredo se faz como a base de tudo, tendo os elementos narrativos e as tramas os pilares para o desenvolvimento da história até que se chegue em seu clímax. Há outras formas de se estruturar um romance, é claro. Por exemplo, apresentando-se a(s) trama(s) logo no começo, colocando Trama antes de Desenvolvimento da História. Isso geralmente acontece com enredos não lineares, explicado a seguir.

2.1 LINEARIDADE E NÃO LINEARIDADE

Basicamente, uma história é linear quando ela se foca em apenas um grande evento central, como, por exemplo, a jornada do personagem rumo a algum objetivo. Vê-se muitas histórias lineares por aí, onde os protagonistas se encontram em uma situação onde só eles conseguem se desenvolver e assim vai até a última página. Uma história é não linear quando ela não se foca em um, mas vários eventos centrais, com diferentes tramas, situações e fins. Geralmente, isso acontece em livros com muitos protagonistas.

2.2 ELABORAÇÃO DO ENREDO

Assim como dito acima que há escritores que possuem a ideia pronta e que a desenvolvem conforme a história prossegue. É mais comum a primeira acontecer entre os veteranos, enquanto a segunda seja mais praticada pelos iniciantes, mas não por falta de conhecimento (até porque isso não tem nada a ver), e sim porque lhes parece mais viável, já que podem acontecer coisas no meio do desenvolvimento que aflore novas ideias e tramas. Escritores que já possuem a ideia pronta, de início, raramente mexem em alguma coisa que altere o original quando vão revisar seu texto. Já sabem o que vai acontecer, onde cada coisa deve estar, o que cada protagonista deve fazer e qual será o clímax. Diferentemente dos escritores que vão elaborando conforme escrevem, que mesmo já sabendo como começar, não sabem o que vai acontecer e para onde vai cada coisa, e mesmo já tendo ideia de um clímax, esse pode não sê-lo de fato.

2.3 USO DOS ELEMENTOS NARRATIVOS

Considera-se como elementos narrativos: diálogos; descrições; uso das emoções e humanização dos personagens. Diálogos são fundamentais em uma obra de romance, pois são de grandiosa ajuda no desenvolvimento da história, podendo prenunciar uma trama ou evento menor, e também colaboram em outro ponto, que é a humanização dos protagonistas. Se seus protagonistas forem humanoides, é lógico que se precisa dar emoções a eles. Sonhos, objetivos de vida, lamentações, uma personalidade. Um protagonista não é apenas um nome mais um conjunto de características. É o que é chamado também de "personagem cinza", pois ele não é nem preto, nem branco; nem um, nem outro, ele é uma mistura. Pode-se trazer o conceito de "bem e mal" junto a isso.

Até mesmo personagens secundários possuem certa humanização, para que não apenas o protagonista possa interagir melhor com tais, como também o leitor possa, de repente, identificar-se com alguma atitude; e o escritor, explorar novas janelas que isso traz. São várias as sagas acabadas que contém histórias a parte (chamadas de spin-offs) contando sobre esses.

Uma dica importante para diálogos é usar os verbos "disse, gritou, etc" apenas quando necessário. Ou seja, num diálogo entre três pessoas que você sabe quem é quem, não é necessário ficar indicando o personagem da fala toda hora. Utilize, também, emoções, pois se a pessoa grita algo quando está surpresa, ela fica embasbacada, com as pupilas dilatadas, recua os braços. Ou, se está assustada e com firo, os maxilares tremem enquanto ela fala, encolhe-se de medo, olha para todos os cantos como se alguém estivesse atrás dela.

2.4 A IDEALIZAÇÃO DA TRAMA

Ora, para uma história fluir, é importante que haja uma trama. Pelo que os personagens vão lutar? O que eles querem buscar? O que aconteceu com o protagonista para ele tomar uma atitude que mudou sua vida? São perguntas que devem ser feitas durante a elaboração da história. Ela correrá, em maioria, em torno dos grandes eventos centrais, que são de maior relevância. Eventos menores também são tramas, que podem adicionar para o enredo.

3. DA CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS E AMBIENTAÇÕES

Tal como um pintor precisa saber do que está desenhando, um escritor precisa conhecer o que está escrevendo. Claro, isso não quer dizer que você precisa escalar as geladas montanhas da Noruega para saber que lá faz um frio terrível, tampouco pegar uma praia no Havaí pra sentir o calor queimando a pele. Você só precisa saber o que está fazendo. É lógico que, você conhecendo o lugar, vai conseguir descrever bem melhor uma sensação, mas não é regra. Ninguém precisa tomar veneno para saber que mata.

Já a construção de personagens pode ser bastante pessoal. Por exemplo, o escritor pode ter se inspirado numa pessoa que possui relação afetiva, algum parente, amigo, conhecido ou só alguém que viu na rua. Como era de se imaginar, logo que se lê a descrição do personagem, vem a mente alguma pessoa conhecida de algum lugar...

É necessário observar bem as pessoas ao redor para construir personagens sucintos que, mesmo num mundo de fantasia, são factíveis. Não é necessário algo do nível dum diploma de Psicologia, mas é necessário ter o mínimo de entendimento da personalidade humana, das várias delas, para que os personagens não pareçam robôs.

Para descrever uma cena, é preciso, primeiramente, mentalizá-la. Todos os detalhes são importantes, excetuando-se os óbvios (ninguém precisa saber que cada um dos duzentos mil tijolos de um castelo eram cinzas ou quantos passos o personagem levou para chegar do início da cidade até o fim), pois não apenas o leitor, mas o autor precisa saber onde está, sentir a essência do lugar que descreve. Só assim conseguirá passar essa sensação para outros.

4. DAS REVISÕES

Revisões são processos demonizados pelos próprios escritores, pois parecem eventos intermináveis, mas são mais do que necessários. Revisa-se uma vez, e então, revisa-se outra, e ainda se revisa outra após a revisão. E mesmo assim, é necessário dar mais uma revisada, por precaução. Quando o livro está pronto, finalmente, não pode existir um erro sequer no texto, e mesmo quando você pensa que não há, eles estão lá. Mas é necessário, de fato, tal como uma rocha bruta que, lapidada, fica muito bonita.