Uma  possível  saída  para  o  povo  africano  seria  a  democratização  do  sistema  de  governo  nos  vários  países  que  sofreram  golpes  militares  ou  outros  que  foram  governados  por  um  longo  período  de  ditadura,  onde  um  homem  só  governou  com  mão  de  ferro  e  poder  absoluto.  O  problema  da  democratização  na  África  tem  sido  influenciado  por  diversos  fatores,  incluindo  desenvolvimento,  acontecimentos  históricos  e  pela  própria  sociedade  civil.  No  caso  especifico  da  África,  não  podemos  ignorar  que  as  causas  de  democratização  são  enraizadas  na  economia  e  cultura  com  grande  impacto  no  processo,  e  os  fatores  frequentemente  mencionados  são:

Riqueza  –  Alguns  defensores  da  democracia  argumentam  que  com  o  progresso  do  desenvolvimento  econômico,  democratização  se  torna  necessária  e  inevitável.  Por  tanto,  não  podemos  concluir  que  no  continente  africano  democracia  é  uma  consequência  de  riqueza,  ou  uma  causa  de  prosperidade,  ou  ambos  os  processos  são  desvinculados. 

Educação  –  Riqueza  também  correlaciona  com  educação,  embora  seus  efeitos  sobre  a  consolidação  democrática  pareçam  ser  independentes.  Na  historia  da  humanidade,  houve  momentos,  e  África  não  seria  uma  exceção,  em  que  uma  população  de  baixo  nível  de  instrução  e  analfabeta  decididamente  elege  um  político  populista,  que  logo  abandona  a  democracia  e  se  torna  ditador  em  pleno  contexto  de  eleições  livres. 

Maldição  dos  Recursos  –  é  uma  teoria  que  sugere  que  recursos  naturais  abundantes,  tais  como  petróleo  e  gás,  como  é  o  caso  da  Nigéria,  um  país  abundantemente  rico  em  petróleo  e  gás,  frequentemente  abandona  o  curso  da  democratização  porque  a  elite  do  país  pode  muito  bem  viver  dos  recursos  naturais  em  vez  de  depender  do  apoio  popular  pelas  receitas  fiscais.  Por  outro  lado,  as  elites  que  investem  seu  dinheiro  em  capital  físico  em  vez  do  petróleo  e  gás,  temem  constantemente  que  seu  investimento  pode  ser  destruído  na  ocorrência  de  uma  revolução.  Consequentemente,  esses  fariam  concessões  para  democratizar  do  que  correr  o  risco  de  ser  envolvido  num  conflito  violento  com  a  oposição. 

Economia  de  Mercado  –  Alguns  analistas  acreditam  e  apresentam  o  argumento  de  que  a  democracia  e  economia  de  mercado  são  intrinsecamente  ligadas.  Essa  crença  se  centraliza  na  ideia  de  que  democracia  e  economia  de  mercado  são  simplesmente  dois  aspectos  diferentes  de  liberdade.  Uma  cultura  onde  a  economia  de  mercado  é  predominante,  tem  por  natureza  encorajar  normas  tais  como  individualismo,  negociações,  a  seriedade  de  compromissos,  respeito  pela  lei,  e  igualdade  diante  da  lei.  São  estes  os  aspectos  apoiadores  do  processo  de  democratização.  A  questão  é,  no  caso  da  África,  quantos  países  apresentam  uma  economia  de  mercado  estruturada  com  os  aspectos  acima  descritos  e  de  acordo  com  os  princípios  fundamentais  macroeconômicos? 

Igualdade  Social  –  Outros  argumentam  que  o  relacionamento  entre  igualdade  social  e  transição  democrática  se  torna  demasiadamente  complicado  pois  numa  sociedade  igualitária  como  no  caso  de  alguns  países  da  Ásia  e  da  África  (por  exemplo,  Cingapura  Botsuana,  respectivamente),  o  povo  não  tem  incentivo  nenhum  para  se  envolver  em  revolta,  portanto,  a  tendência  de  democratização  é  reduzida.  Numa  sociedade  africana  como  a  Nigéria,  entre  outras,  onde  a  taxa  de  desigualdade  é  altíssima,  uma  redistribuição  de  riquezas  e  poder  seria  tão  prejudicial  ao  grupo  de  elites,  que  fariam  de  tudo  para  evitar  um  processo  de  democratização.  Outros  fatores  igualmente  importantes  na  questão  da  democratização  são:  A  Classe  Média,  Sociedade  Civil,  Cultura,  Capacitação  do  Mulher  e  Emancipação  de  Valores,  População  Homogêneo,  Experiência  Previa  com  Democracia,  Intervenção  Externa,  e  Distribuição  Etária. 

Devemos  lembrar  que  os  movimentos  pró-democracia  iniciaram-se  na  África  no  fim  da  década  de  80  e  inicio  da  década  de  90,  numa  tentativa  de  varrer  os  regimes  autoritários  e  combater  o  sistema  de  partido  único  implantado  no  Continente  Africano  desde  o  tempo  da  independência.  As  mudanças  começaram,  na  maioria  dos  países  africanos  porque  tanto  os  militares  como  os  governos  civis  fracassaram  em  suas  tentativas  de  aliviar  a  pobreza,  o  desemprego,  e  opressão  e  da  incapacidade  para  prover  aos  cidadãos  com  serviços  básicos  de  saúde,  moradia  descente  e  educação.  Adicionalmente,  existência  de  grossa  ineficiência  administrativa,  corrupção  política,  gestão  econômica  desastrosa,  e  a  decadência  social,  e  tudo  isto  contribuíram  para  o  questionamento  público  da  autoridade  dos  lideres  autocráticos  e  as  instituições  nacionais.  Todas  essas  condições  desagradáveis  ao  paladar  induziu  o  povo  a  uma  imediata  demanda  pelas  reformas  sociais,  políticas  e  econômicas,  em  toda  Continente  Africano. 

Numa  analise  dos  eventos  durante  as  décadas  de  80  e  90,  podemos  afirmar  que  a  oposição  africana  foi  encorajada  por  sérios  acontecimentos  históricos  na  Europa,  a  mencionar,  a  queda  do  Muro  de  Berlim,  o  colapso  do  comunismo  no  Leste  Europeu,  e  a  extinção  da  União  Soviética.  As  necessidades  do  continente  africano  pela  liberalização  política  também  recebeu  um  estimulo  do  Oeste  e  das  instituições  financeiras  internacionais.  O  Banco  Mundial,  o  Fundo  Monetário  Internacional  (FMI),  e  outros  doadores  do  Ocidente  recusaram  ajuda  aos  governos  Africanos  que  apresentavam  economias  em  deterioração  até  que  reformas  econômicas  e  políticas  sejam  executadas  ao  nível  nacional.  Além  disso,  o  fim  da  Guerra  Fria  tirou  o  vento  das  velas  da  União  Soviética  em  relação  ao  programa  de  ajuda  externa.  E  que  Moscou  não  podia  mais  dar  assistência  econômica  às  nações  Africanas  de  governos  socialistas  ou  com  tendências  comunistas.  Desta  forma,  tanta  a  pressão  externa  e  uma  economia  africana  frágil,  abriu  caminho  a  uma  onda  de  democratização  global. 

O  surgimento  da  democracia  na  Europa  sobre  as  cinzas  do  comunismo  encorajou  a  oposição  Africana  a  apressar  suas  próprias  campanhas  contra  autoritarismo  e  reivindicar  o  estabelecimento  duma  forma  de  governo  mais  aberto  e  participativo.  Foi  nesta  época  que  houve  uma  mobilização  extensiva  da  sociedade  civil  em  muitos  países  Africanos.  Grandes  protestos  contra  os  regimes  autoritários  foram  liderados  por  estudantes,  profissionais  e  associações  civis,  sindicatos  de  trabalhadores,  lideres  da  Igreja,  grupos  femininos,  organizações  de  direitos  humanas,  e  outras.  Esses  grandes  movimentos  de  protestos  culparam  o  sistema  de  partido  único  pelas  terríveis  condições  em  suas  respectivas  sociedades  e  clamavam  por  maior  liberdade  política  e  políticas  eleitorais  abertas  em  exigindo  aumento  da  transparência  e  responsabilidade  do  governo.  No  mesmo  período,  os  protestos  populares  em  forma  de  demonstrações  e  rebeliões  forçaram  diversos  líderes  autocráticos  a  abandonarem  seus  cargos  de  liderança  ou  presidência,  por  exemplo:  Etiópia  e  Mali,  entre  outros;  e  acatar  as  reivindicações  do  povo  por  reformas  políticas  como  no  Quênia,  Malawi,  e  Benin.

A  tarefa  para  democratização  da  África  se  tornou  um  dos  projetos  prioritários  do  tempo  moderno.  Seria  impossível  para  os  filhos  de a África  esquecerem  que  frequentemente,  o  processo  de  democratização  do  Continente  tem  sido  marcado  por  sangrentas  campanhas  de  eleição,  sangrentas  coup  d’état,  abuso  de  poder  descarado  e  inimaginável  magnitude  de  maldade.  Diante  de  tais  calamidades  e  obstáculos  envolveram  o  processo  de  democracia,  o  que  poderia  esperar  do  modelo  de  democracia  Europeia  copiada  pelas  nações  africanas.  A  despeito  disso,  parece  que  o  Mundo  Ocidental  não  desiste  na  tentativa  de  implantar  o  modelo  Europeu  de  democracia  a  qualquer  custo  nas  nações  da  África. 

Porque  da  demanda  ferrenha  para  democratização  de  nações  africanas?  Tudo  não  passa  de  um  movimento  orquestrado  pelos  antigos  colonizadores  e  liderado  pela  França  e  Grã  Bretanha,  seguido  de  Portugal,  os  quais  tem  presença  garantida  no  Continente  Negro  através  da  herança  cultural  (a  língua  francesa,  inglesa  e  portuguesa)  deixada  como  laço  e  ponte  de  comunicação  entre  os  povos  africanos.  Será  que  vale  a  pena  sacrificar  tantas  vidas  do  povo  africano  para  promover  a  democratização  e  redemocratização,  um  produto  que  é  de  grande  interesse  para  Europa  Ocidental  e  USA,  e  que  até  agora  só  trouxe  derramamento  de  sangue  no  cenário  africano.  Sem  duvida,  democracia  num  sistema  multipartidário  é  o  principal  produto  de  exportação  do  Ocidente  para  os  países  em  desenvolvimento,  em  especial  os  do  Continente  Africano.  No  contexto  geral,  a  democratização  da  África  poderá  trazer  benefícios  incalculáveis,  se  temos  alguma  opção  na  situação  contemporânea  para  modelar  nossos  próprios  modelos  adaptados  a  nossa  condição  e  estrutura  social,  econômica  e  cultural,  que  pudessem  resolver  os  problemas  que  nos  afligem,  sem  que  sejam  necessariamente  os  dois  modelos  (multipartidário  e  bipartidário)  impostos  pela  mão  imperialista.

É  neste  ponto  que  temos  que  levar  em  consideração  e  dentro  da  análise  crítica  dos  compromissos  de  modelos  de  democracia  Ocidental  na  África,  em  relação  aos  possíveis  suplícios  da  democracia  Ocidental.  Os  problemas  dos  modelos  de  democracia  Ocidental  na  África  são  em  geral  ignorados  ou  não  são  levados  a  sério  quando  comparado  com  uma  ditadura  militar.  Estamos  suficientemente  cientes  de  que  os  golpes  militares  que  ocorreram  desde  a  independência  foram,  na  maioria,  instigados  e  financiados  por  forças  imperialistas  ou  comunistas,  e  sempre  que  aconteciam,  a  direita  e  esquerda  se  acusavam  mutuamente  de  um  estar  por  trás  do  golpe.  Não  sabemos  qual  é  o  pior  a  vitoria  nas  urnas  ou  a  tirania  da  bala.  Sem  dúvida,  tanto  o  processo  de  democratização  através  de  eleições  populares  para  alcançar  a  governança  quanto  a  um  golpe  militar  para  tomar  o  poder  na  África,  tem  causado  milhares  de  mortes. 

Somente  em  duas  semanas  de  conflito  mais  de  100.000  pessoas  foram  mortas  em  Ruanda  em  abril  de  1994.  Serra  Leoa,  Libéria,  África  do  Sul,  Congo,  Somália,  Egito,  Líbia,  Nigéria,  Sudão  e  outros  países  como  Angola  e  a  República  Centro  Africana,  não  são  exceções.  África  continua  a  perder  vidas  na  tentativa  de  adotar  os  modelos  de  democratização  ditados  de  Paris,  Londres  e  Washington,  e  o  tipo  europeu  de  democratização  continua  a  provocar  conflitos  entre  tribos  ou  grupos  étnicos,  e  ninguém  quer  parar  para  pensar,  do  ponto  de  vista  patriótico,  do  porque  tal  sistema  tem  sido  tão  sangrento  e  se  a  prática  é  ideal  para  nos  africanos. 

Uma  verdadeira  democracia  é  fundamentada  no  sistema  de  competitividade  entre  os  partidos,  onde  o  governo  é  formado  pelo  partido  majoritário,  e  que  por  sua  vez  respeita  os  direitos  da  minoria,  uma  oposição  estruturada  para  vencer  eleições  e  preparada  para  formar  um  governo  alternativo  (a  exemplo  dos  Democratas  e  Republicanos,  nos  Estados  Unidos  da  America).  O  grande  problema  que  há  na  cultura  africana  é  que  não  aceitamos  facilmente  a  derrota  em  circunstancias  nenhuma  e  jamais  curvamos-nos  diante  do  oponente,  é  a  cultura  do  orgulho,  do  egocentrismo,  cobiça,  valentia  e  falta  do  amor  ao  próximo  –  onde  reina  a  lei  da  selva  e  sobrevivência  do  mais  forte.  Nos  últimos  anos  a  presença  de  observadores  enviados  pela  União  Europeia  a  África  durante  as  eleições  de  países  do  Continente,  tem  sido  impressionante,  onde  o  processo  de  votação  tem  se  desenrolado  na  base  de  um  sistema  pluripartidário,  do  sufrágio  universal  e  de  princípios  democráticos.  Apesar  de  todo  empenho  interno  e  externo,  pouco  tem  sido  o  sucesso  obtido  na  área  da  democracia  partidária  e  menos  ainda  na  execução  de  um  governo  plenamente  aceitável  pelo  povo.  Então  o  que  fazer,  e  que  modelo  seguir?

NIGÉRIA:  UM  PAÍS  LONGE  DE  SER  DEMOCRATIZADO 

A  Nigéria  experimentou  desde  a  Primeira  República  diferentes  tipos  de  democracia  multipartidarista  com  modificações  ou  mudanças  sendo  feitas  ao  passar  dos  anos.  Durante  a  primeira  república  na  Nigéria,  o  governo  que  durou  da  independência  do  país  em  1960  até  o  primeiro  golpe  militar,  no  dia  15  de  Janeiro  de  1966,  partidos  políticos  foram  de  facto  formados  na  base  regional.  A  Nigéria  se  divide  em  três  principais  regiões,  no  Norte  os  grupos  étnicos  Hausa/Fulani;  no  Oeste  os  Yorubas;  e  Leste  os  Igbos,  cada  região  aglomerando  grupos  étnicos  minoritários.  Na  independência,  cada  região  e  grupo  étnico  fundou  seu  próprio  partido:  os  Hausas  /  Fulanis  fundaram  NPC  (Northern  People’s  Congress)  no  Norte;  os  Yorubas  fundaram  AC  (Action  Group)  no  Oeste;  e  os  Igbos  fundaram  NCNC  (National  Council  of  Nigerian  Citizens,  formerly  National  Council  of  Nigeria  and  the  Cameroons)  no  Leste. 

Evidentemente,  toda  agitação  pela  independência  da  Nigéria  era  centralizada  no  Oeste  e  Leste  do  país,  movimento  esse  liderado  por  pessoas  extremamente  letradas  e  inteligentes  como  Dr.  Nnamdi  Azikiwa  (Ibo)  e  Herbert  Macaulay  (Yoruba),  e  a  região  Norte  tido  como  campo  de  criação  de  carneiros  e  de  gados,  com  uma  população  de  pessoas  semianalfabetas  na  sua  maioria.  Os  hausas  e  fulanis  eram  pessoas  sem  inclinação  para  os  estudos,  e  os  que  terminavam  a  escola  primaria  eram  facilmente  recrutados  para  o  exercito  colonial,  prontos  para  receber  ordens  e  servir  de  maneira  subserviente,  recebendo  ordens  como  zumbis. 

Logo  os  Britânicos  viram  no  povo  das  tribos  do  Norte  uma  oportunidade  de  manipulação  e  através  deles  controlar  a  nova  nação  que  estava  para  receber  a  sua  independência.  O  povo  Inglês,  experiente  na  arte  de  manipulação  política,  e  astutos  quanto  como  raposa  e  traiçoeiro  como  uma  cobra,  estavam  prontos  para  lançar  uma  tribo  contra  outra,  e  assim  criar  conflitos,  desintegração  da  nação  e  manipulação  política  em  favor  da  continuação  do  domínio  pós-colonial. 

Dessa  forma  os  Britânicos  estruturaram  ainda  na  época  colonial  alguns  anos  antes  da  independência,  as  três  regiões  da  Nigéria,  de  tal  maneira  que  a  Região  Norte  uma  maioria  bastante  confortável  no  Congresso  Nacional,  que  seria  manipulada  de  modo  a  favorecer  uma  continuação  do  domínio  colonial.  Logo  após  independência  o  plano  foi  refletido  na  alocação  de  assentos  no  parlamento  nigeriano  com  uma  diferença  ampla  em  número  do  povo  nortista,  apresentando  uma  concepção  Ocidental  da  chamada  maioria  absoluta. 

A  Nigéria  adotou  e  operou  o  sistema  Federativo  de  governo  com  Presidente  (honorário)  e  Primeiro  Ministro  desde  a  independência;  e  uma  Câmara  dos  Representantes  que  contava  com  320  membros.  De  inicio  NPC  (Northern  People’s  Congress)  conquistou  174  cadeiras  contra  146  divido  entre  AC  e  NCNC  do  Oeste  e  Leste,  e  assim,  de  acordo  com  os  princípios  da  democracia  o  povo  do  Norte  assegurou  uma  vitoria  absoluta  para  nomear  um  primeiro  ministro,  formar  um  governo  e  apontar  ministros  de  sua  escolha.  Na  época,  houve  um  acordo  político  que  deu  a  presidência  a  região  Leste,  e  os  ministros  escolhidos  entre  membros  dos  outros  partidos. 

A  maior  ameaça  para  estabilidade  e  sobrevivência  da  Federação  Nigeriana  na  época  era  simplesmente  a  preponderância  da  Região  Norte,  tanto  em  tamanho  e  população,  o  que  de  facto  existe  até  os  dias  atuais. 

Essa  forma  de  democracia  Ocidental  imposta  sobre  os  países  recém-independentes  e  que  foi  adotado  por  manipulação  Britânica,  entrou  em  colapso  na  Nigéria,  culminando  com  o  primeiro  coup  d’état  militar,  de  que  os  conspiradores  alegaram  ser  para  restaurar  sanidade  ao  país  e  a  nação  nigeriana. 

Ordem  cronológica  dos  acontecimentos  na  Nigéria:

-  1  de  Outubro  1960,  a  Nigéria  ganha  sua  independência  da  Grã  Bretanha,  Tafawa  Balewa  se  torna  Primeiro-Ministro  e  Nnamdi  Azikiwe  se  torna  Presidente  por  um  entendimento  político. 

-  1  de  Outubro  de  1963  -  A  Nigéria  separa  seus  laços  políticos  da  Grã  Bretanha,  e  nasce  a  Primeira  República  Nigeriana.

-  15  de  Janeiro  de  1966  –  O  primeiro  golpe  militar  depõe  a  Primeira  República  da  Nigéria;  Primeiro  Ministro  Tafawa  Balewa,  é  assassinado  juntamente  com  o  premiê  do  Norte  da  Nigéria,  Ahmadu  Bello,  e  o  Ministro  das  Finanças,  Festus  Okotie-Eboh 

-  16  de  Janeiro,  1966  –  O  Governo  Federal  Militar  é  formado,  com  General  Johnson  Aguiyi-Ironsi  como  o  chefe  de  Estado  e  Comandante  Supremo  da  República  Federal.

-  29  de  Julho,  1966  –  Um  contra  golpe  por  oficiais  militares  da  extração  do  norte,  depõem  o  Governo  e  assassina  o  General  Johnson  Aguiyi-Ironsi  juntamente  com  a  Adekunle  Fajuyi,  Governador  Militar  da  Região  Oeste.  General  Yakubu  Gowon  torna-se  Chefe  de  Estado.

-  1967  –  Começa  a  violência  Étnica  Religiosa  contra  os  Cristãos  da  tribo  dos  Igbos  que  vivem  no  Norte,  e  em  retaliação  começa  a  violência  contra  os  Hausas  /  Fulanis  na  maioria  mulçumanos,  que  vivem  do  comércio  na  Região  Leste  da  Nigéria.  Esta  hostilidade  provoca  a  migração  mássica  dos  Igbos  de  volta  ao  Leste  a  sua  região;  e  a  volta  dos  Hausas  /  Fulanis  para  o  Norte.

-  30  de  Maio,  1967  –  General  Emeka  Ojukwu,  Governador  Militar  do  Leste,  declara  a  sua  província  uma  república  independente,  o  que  chamou  de  Biafra,  e  começou  a  Guerra  Nigéria-Biafra.

-  8  de  Janeiro,  1970  –  General  Emeka  Ojukwu  foge  em  exílio,  o  seu  adjunto  Philip  Effiong  assume  Presidência  interino  da  Biafra.

-  15  de  Janeiro,  1970  –  O  Presidente  interino  da  Biafra,  Philip  Effiong,  se  rende  às  forças  nigerianas  sob  o  comando  do  Tenente  General  Olusegun  Obasanjo  (que  viria  a  ser  chefe  de  estado  militar  e  Presidente  civil  da  Nigéria),  e  então  Biafra  é  reintegrada  a  Nigéria. 

-  29  de  Julho,  1975  –  General  Yakubu  Gowon  é  derrubado  num  golpe  sem  sangue;  General  Murtala  Mohammed  torna-se  chefe  de  Estado.

-  13  de  Fevereiro,  1976  –  General  Murtala  Mohammed  é  assassinado  em  seu  caminho  para  o  trabalho;  seu  suplente  Tenente-General  Olusegun  Obasanjo  torna-se  Chefe  de  Estado,  e  fixa  uma  data  para  encerrar  o  regime  militar.

1979  –  Shehu  Shagari  vence  as  eleições  como  o  primeiro  Presidente  Executivo  da  Nigéria  no  estilo  americano  na  Segunda  República;  Shehu  Shagari  é  reeleito  Presidente  da  Nigéria  para  um  segundo  termo,  mas  foi  derrubado  por  um  golpe  de  estado  em  31  de  dezembro  de  1983,  por  General  Muhammadu  Buhari,  que  se  tornou  chefe  de  estado,  e  presidente  do  Conselho  Supremo  Militar  da  Nigéria.

-  Agosto  de  1985  –  General  Muhammadu  Buhari  é  derrubado  em  um  golpe  palaciano;  General  Babangida  torna-se  Chefe  de  Estado  e  o  Presidente  do  Conselho  Regente  das  Forças  Armadas  da  Nigéria. 

-  Abril  de  1990  –  Oficiais  Cristãos  da  região  Médio  Oriente  da  Nigéria,  chefiados  pelo  Major  Gideon  Okar,  tentam  derrubar  o  Chefe  de  Estado,  General  Ibrahim  Babangida,  num  golpe  de  estado  mal  sucedido,  e  são  sumariamente  executados. 

1992  –  General  Ibrahim  Babangida,  num  plano  sorrateiro  permite  uma  abertura  política  no  país,  e  dois  partidos  são  formados  –  Partido  Social  Democrata  (SDP)  e  Convenção  Nacional  Republicana  (NRC)  são  estabelecidos  para  o  retorno  ao  regime  civil,  mas  ele  próprio  anula  as  eleições  primarias. 

  

  General  Ibrahim  Babangida - Chefe  de  Estado  Militar  da  Nigéria 

-  12  de  Junho,  1993  –  MKO  Abiola  (o  magnata  e  empresário)  vence  massiçamente  as  eleições  presidenciais,  e  o  General  Ibrahim  Babangida  declara  anulada  as  eleições,  considerada  como  a  mais  concorrida  e  justa  jamais  tida  na  Nigéria  desde  independência  pelos  os  observadores  internacionais,  inclusive  da  ONU.

-  26  de  Agosto,  1993  –  devido  as  pressões  internas  e  externas,  e  sobre  tudo,  pressionado  pelo  Conselho  Deliberativo  das  Forças  Armadas,  Ernest  Shonekan,  um  alto  funcionário  público,  assume  as  rédeas  do  poder  como  chefe  de  Estado  interino,  ignorando  os  princípios  democráticos  de  sucessão  de  acordo  com  a  Constituição  Nacional,  onde  o  Presidente  do  Congresso  Nacional  ou  Presidente  da  Suprema  Corte  da  Nação,  assumiria  a  Presidência,  salve  em  regimes  ditatoriais  ou  militarismo.

-  17  de  Novembro,  1993  –  Ernest  Shonekan  é  obrigado  a  renunciar  ao  mandato.  O  Ministro  da  Defesa,  General  Sani  Abacha  torna-se  chefe  de  Estado,  e  cria  de  imediato,  o  Conselho  de  Governo  Provisório  da  Nigéria.

13  de  Março,  1995  –  A  administração  de  Abacha  detém  o  antigo  Chefe  de  Estado,  Olusegun  Obasanjo  por  apoiar  alegadamente  uma  conspiração  de  golpe  secreto  para  derrubá-lo  do  poder. 

  

  General  Sani  Abacha  –  Chefe  de  Estado  Militar  da  Nigéria

-  10  de  Novembro,  1995  –  Ativistas  dos  direitos  humanos  e  de  Meio  Ambiente,  Ken  Saro  Wiwa  e  outros  8  foram  executados  por  enforcamento  pela  administração  Sani  Abacha,  a  despeito  dos  apelos  de  perdão  vindo  do  mundo  inteiro.

-  8  de  Junho,  1998  –  Chefe  de  Estado,  Sani  Abacha  morre  de  um  ataque  cardíaco  (supostamente  envolvido,  como  sempre,  em  orgias  sexuais  noturnas,  no  meio  de  lindas  mulheres  indianas,  árabes,  chinesas  e  francesas,  conforme  os  rumores  da  época);  e  o  General  Abdusalami  Abubakar  se  torna  chefe  de  Estado,  e  Presidente  do  Conselho  do  Governo  Provisório  da  Nigéria.  A  administração  Abubakar  suspendeu  a  proibição  de  atividades  políticas,  e  inicia  um  ano  de  transição  para  o  regresso  ao  regime  civil.

–  15  de  Junho,  1998  –  Ex-chefe  de  Estado,  Olusegun  Obasanjo  é  libertado  da  prisão.

-  10  de  Fevereiro,  1999  –  Uma  nova  abertura  política  para  a  Quarta  República  da  Nigéria.  Olusegun  Obasanjo  vence  a  eleição  presidencial. 

–  29  de  Maio,  1999  –  A  Quarta  República  da  Nigéria  é  inaugurada,  e  Obasanjo  é  empossado  como  o  segundo  Presidente  Executivo  da  Nigéria. 

–  19  de  Dezembro,  1999  –  Presidente  Obasanjo  ordenou  tropas  federais  para  invadir  a  cidade  de  Odi  (Nigéria)  na  região  de  Delta  do  Rio  Niger.  De  acordo  com  Nnimmo  Bassey,  Diretor  Executivo  da  Ação  dos  Direitos  Humanos,  mais  de  2500  civis  foram  assassinados  para  vingar  os  8  soldados  mortos  numa  possível  emboscada  pelos  nativos.  Episodio  conhecido  como  o  Massacre  de  Odi  (Human  Rights  Watch). 

-  Abril,  2003  –  Presidente  Olusegun  Obasanjo  ganha  a  reeleição  como  presidente  da  Nigéria. 

  

(General  Olusegun  Obasanjo  (Três  vezes  Chefe  de  Estado  Nigeriano) 

  –---  29  de  Maio,  2003  –  Presidente  Olusegun  Obasanjo  é  empossado  para  um  segundo  mandato  como  presidente  da  Nigéria. 

-  16  de  Maio,  2006  –  Assembleia  Nacional  da  Nigéria  votou  contra  uma  emenda  constitucional  para  remover  o  prazo-limite;  Presidente  Obasanjo  está  impedido  de  contestar  um  terceiro  mandato  no  cargo,  que  ocupou  duas  vezes  como  Presidente  Civil  e  uma  vez  como  Chefe  de  Estado  no  Regime  Militar). 

–  21  de  Abril,  2007  –  Umaru  Yar’Adua,  Governador  do  estado  de  Katsina,  é  eleito  como  Presidente  da  Nigéria.  Yar’  Adua  morreu  antes  de  completar  o  seu  termo  como  Presidente,  e  o  seu  Vice,  Goodluck  Ebele  Jonathan,  foi  empossado  após  muita  briga  entre  os  políticos  do  Norte  e  Sul,  pois  o  Norte  queria  que  outro  nortista  fosse  ocupar  a  presidência,  deixado  de  lado  o  Vice-Presidente  eleito,  por  ser  da  Região  Sul  do  país,  o  que  alguns  analistas  consideraram  de  ignorância  e  tentativa  de  impugnação  da  Constituição  da  Nação  Nigeriana.

DO  PARLAMENTARISMO  AO  PRESIDENCIALISMO

Ambos  os  modelos  de  administração  governamental,  tanto  o  parlamentarismo  como  o  presidencialismo  são  exógenos  a  nossa  cultura,  no  entanto  são  fenômenos  estranhos  ou  impostos  sobre  o  povo  africano.  No  caso  da  Nigéria,  a  mudança  do  sistema  Britânico  de  democracia  para  o  sistema  presidencial  Americano  trouxe  algumas  modificações  para  a  estrutura  africana,  mas  a  despeito  disso,  ainda  existe  uma  grande  incompatibilidade  estrutural.  Evidentemente,  os  mesmos  problemas  da  Primeira  República  se  repetiram  na  Segunda  República.  Nas  primeiras  eleições  realizadas  no  país  muitas  falhas  puderam  ser  verificadas  e  toleradas,  e  nas  segundas  eleições  grandes  danos  já  teriam  sido  feitos,  e  assim  a  segunda  democracia  multipartidária  Nigeriana  desapareceu  num  outro  golpe  e  regime  militar.  Isto  veio  a  demonstrar  claramente  que  o  sistema  democrático  multipartidário  na  Nigéria  e  na  África  não  conseguiu  alcançar  pleno  funcionamento  num  Continente  dividido  em  grupos  étnicos  cada  uma  com  cultura  diversificada  e  complexa. 

O  governo  militar  de  Babangida,  numa  tentativa  de  acalmar  as  agitações  e  para  poder  continuar  no  poder,  o  ditador  fez  mais  ajustes  estruturais,  aumentando  o  numero  de  estados  de  12  para  30  (hoje  a  Nigéria  conta  com  36  estados,  mais  Abuja,  o  território  capital),  para  favorecer  a  sua  ambição  em  detrimento  de  muitos  grupos  étnicos.  O  ditador  também  introduziu  uma  nova  forma  de  democracia,  em  vez  da  opção  multipartidária,  a  forma  bipartidária  de  democracia  Ocidental  foi  imposta  sobre  a  Nigéria,  o  que  seria  uma  Terceira  República  que  também  veio  a  fracassar  antes  mesmo  de  ser  plenamente  estabelecida,  quando  o  ditador  anulou  as  eleições  ganha  por  M.  K.  Abiola  em  1993,  abrindo  porta  para  um  novo  regime  Militar. 

As  experiências  nigerianas  com  o  modelo  de  democracia  Ocidental  foram  uma  aventura  caracterizada  como  círculo  vicioso  e  um  colapso  democrático.  A  mesma  coisa  aconteceu  com  a  democracia  multipartidária  na  Etiópia,  que  também  terminou  em  fiasco.  Em  essência,  ambas  as  situações  são  significantemente  comparável,  exceto  que  no  caso  da  Etiópia  foram  explicitamente  dirigidas  a  partidos  políticos  com  bases  étnicos,  ao  passo  que  a  Nigéria  não  tinha  essa  intenção.  Obviamente,  democracia  multipartidária  Ocidental  opera  de  tal  maneira  que  a  multiplicidade  dos  partidos  envolve  mais  problemas  para  o  sistema  no  contexto  africano.  Tanto  o  sistema  de  democracia  multipartidária  Europeu  ou  o  sistema  presidencialista  Americano,  ambos  como  sistema  de  governo  prosperaram  até  hoje  na  Europa  e  nos  Estados  Unidos  da  América,  mas  a  operação  do  mesmo  na  Nigéria  e  na  África  em  geral,  foi  recebido  com  ceticismo  e  questionados  nos  meios  étnicos. 

CONCLUSÃO  SOBRE  DEMOCRATIZAÇÃO  DA  ÁFRICA

A  democracia  tem  um  papel  importante  a  desempenhar  na  África  moderna.  Isto  porque  o  crescimento  econômico  requer  uma  condição  favorável  e  apropriada.  Os  países  africanos  desde  independência  vivem  numa  situação  de  instabilidade  política  e  grave  falta  de  responsabilidade  e  prestação  de  contas,  duas  coisas  que  são  desfavoráveis  para  o  crescimento  e  progresso  econômico  do  Continente.  Consequentemente,  se  a  crise  econômica  deve  ser  detida  antes  que  a  democracia  seja  estabelecida,  então  como  encontrar  a  solução  para  o  enorme  encargo  financeiro  vigente  nos  países  africanos.  Sabemos  que  as  crises  econômicas  requerem  estabelecimento  de  uma  tradição  democrática  apropriada  para  garantir  estabilidade  política  necessária  para  um  crescimento  ou  uma  recuperação  econômica.  Numa  perspectiva  liberal  e  moderna,  vamos  considerar  a  consciência  étnica  como  um  anacronismo,  costumes  antiquados  ou  até  mesmo  uma  espécie  de  ressaca  obstrucionista  aos  ideais  do  Estado  Moderno.  Se  na  sociedade  moderna,  a  afiliação  étnica  se  tornou  obstáculo  aos  esforços  do  processo  democrático  e  no  desenvolvimento  econômico,  poderia  etnia  ser  substituída  por  formas  modernas  de  relações  sociais  baseadas  em  vínculos  políticos  ou  econômicos?  Provavelmente  isto  seria  impossível  desde  que  os  laços  étnicos  são  laços  culturais  num  conjunto  de  sociedade,  e  é  como  se  quisesse  destruir  os  laços  familiares. 

A  realidade  dos  grupos  étnicos  é  inegável  na  participação  dos  processos  de  tomada  de  decisão  ao  nível  nacional,  especialmente  em  países  em  desenvolvimento,  e  que  as  estruturas  de  opressão,  liderança  e  dominação  política  ainda  continuam  intactos  como  antigamente,  nada  mudou  num  sistema  democrático,  e  baseado  nas  formas  partidárias  do  voto  majoritário.  Finalmente,  podemos  concluir  que  a  dificuldade  encontrada  na  implantação  de  democracia  na  África  contemporânea  veio  a  servir  de  base  para  uma  reavaliação  critica  dos  modelos  democráticos  que  tem  dominado  até  agora  o  processo  de  democratização  no  Continente.  Nenhum  modelo  tem  servido  com  eficiência  plena.  Pelo  contrario,  o  que  temos  tido  de  toda  situação  critica  é  a  necessidade  para  tomar  passos  decisivos  para  salvar  a  presente  situação  ameaçadora.  É  preciso  assegurar  que  todos  os  grupos  étnicos  sejam  adequadamente  representados  num  processo  de  decisão  que  veio  a  afetar  toda  nação,  o  que  evitaria  o  levante  da  parte  de  um  grupo  em  relação  ao  processo  de  existência  separada  ou  de  autonomia.  Talvez  haja  a  necessidade  de  reconciliação  através  de  dialogo  entre  as  tradições  Africanas  e  Ocidentais.  Do  ponto  de  vista  analítico,  pelas  Tradições  Africanas  se  pode  enfatizar  o  tipo  de  representação  igual  dos  grupos  de  componentes  na  política,  ao  passo  que  pelas  Tradições  Ocidentais  os  benefícios  de  uma  sociedade  moderna  seriam  aplicados.  Assim,  a  opção  para  os  países  Africanos  contemporâneos  não  seria  baseado  nem  no  modelo  Ocidental  nem  no  Tradicional  Africano,  mas  duma  entidade  que  sairia  beneficiada  dos  dois  modelos.