CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAITUBA – CESUPI FACULDADE DE ITAITUBA - FAI Curso: Especialização Lato Sensu: Docência para o Magistério Superior Adriana de Souza Coimbra Santos MEMORIAL DESCRITIVO Título: Contando Minha História ITAITUBA-PA 2014 MEMORIAL DESCRITIVO Curso: Docência par ao Magistério Superior Disciplina: Política da Educação Superior Docente: Adriana de Souza Coimbra Santos Discente: Drª. Djalmira de Sá Almeida Barros Contando Minha História Eu, Adriana de Souza Coimbra Santos, nascida aos 03 de Junho de 1986, às 22:00 horas, na Cidade de Itaituba-PA. Vou relatar a minha história, contando que o meu primeiro dia na escola foi aos quatro anos de idade, e que esse dia não se diferencia com o de muitas crianças quando vão se separar da mãe e ficar na escolinha com a primeira professora. Chorei bastante, até que a “tia” conseguiu me acalentar, mesmo porque dos oito meses de idade até os quatro anos, eu sofri de crise renal e por um erro médico se agravou o quadro dessa doença. Minha alimentação era arroz e macarrão cozidos com água sem sal e sem óleo. Eu não podia ingerir nenhum tipo de alimento que não fosse isso. Precisava de cuidados especiais. A escola ficava na mesma rua em que eu morava, recordo-me bem, daquele dia; fomos eu e meu irmão à escola, pela primeira vez. O sistema de ensino da época era diferenciado do de hoje em dia; já entrávamos diretamente no pré-escolar; não tínhamos uma metodologia como instrumento de ensino. Recordo-me que, um dia, meu irmão fez tantos aviões de papel, que consumiu todas as folhas do seu caderno. E, quando chegamos em casa, minha mãe percebeu que ele estava com as mãozinhas para trás, tentando esconder o que tinha aprontado. E eu, na mesma hora fofoquei e disse a ela o que ele havia feito durante toda a aula. Quando ela pediu para ver o caderno, deparou- se com as duas capas, foi um momento muito engraçado, todos caíram na risada. Aos quatro anos de idade eu aprendi a ler; minha mãe me ensinava em casa a escrever meu nome; aprendi rapidamente e logo depois estava escrevendo os nomes de todos os integrantes da minha família que moravam conosco. Quando fui para a escola, minha professora ficou muito impressionada com a facilidade que eu tinha de aprender tudo que ela me ensinava. Nesse mesmo ano, minha mãe viajou para o garimpo para trabalhar e sustentar a mim e ao meu irmão, pois ela se separou do meu pai quando eu tinha um ano de idade; e ficamos morando com nossos avós. Foi uma das fases mais difíceis da minha vida; eu era muito apegada com minha mãe, e de repente ela foi embora e eu, com a pouca idade que tinha, não conseguia entender o que estava acontecendo. Ela viajou para o estado do Amapá, e ficou quatro anos sem vir nos ver; nesse período meu pai entra em cena e nos leva para morar com ele na cidade de Santarém-PA. Foi uma mudança repentina devido a uma crise familiar, e lá vou eu para uma escola particular muito exigente. Fui matriculada na primeira série; aos sete anos teria que me adaptar a uma fase totalmente nova; meu pai também era garimpeiro, e só ficamos com ele durante a viagem e o dia seguinte da nossa chegada. Ele nos deixou com uma doméstica e viajou, e tive que estudar a alfabetização de novo, pois para os docentes, eu não tinha capacidade para cursar a primeira série. A fase nessa escola foi complicada devido à falta de acompanhamento de meu pai; nós íamos sujos para a escola e éramos barrados no portão. Eles verificavam até mesmo a meia que calçávamos para saber se estava de acordo com o padrão da escola; tinha que ficar na altura da canela; a farda tinha que ser totalmente padronizada; e diversas vezes nós voltamos do portão porque éramos impedidos de entrar. Eu me lembro de que o meu sapato furou e eu não queria ir mais à escola porque tinha vergonha de voltar do portão, devido o buraco no sapato, meu pai tinha condições financeiras, mas ele não tinha era tempo de verificar certos detalhes e com isso prejudicou minha vida. Meus pais disputavam pela nossa guarda na justiça. Eu não sabia, mas a minha mãe estava em uma guerra travada para nos levar para onde ela estava morando, pois se casou novamente e já tinha estabilidade. Ao findar o ano de 1994, fomos morar na capital Macapaense; lá fomos matriculados em uma escola pública, e tudo correu muito bem. Quando terminou o ano letivo, viemos embora para Itaituba novamente, onde ao chegar aqui, fomos estudar na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Antônio Gonzaga Barros, no horário intermediário. Nessa época, existia essa modalidade de ensino; recordo-me que só entrávamos para a sala de aula, após cantarmos o Hino Nacional, em posição de sentido, em reverência a Bandeira Nacional sendo hasteada; nessa escola estudei a segunda e a terceira série do primário. A quarta série do primário, eu fui estudar em uma escola bem diferente do que eu estava acostumada a frequentar. Minha mãe foi trabalhar em uma fazenda, a uns quarenta quilômetros da cidade, e ela nos matriculou na escola da comunidade rural, Escola Pública União I, era apenas uma sala de aula, e a professora ministrava aula em apenas um horário para todos os alunos matriculados do primeiro ao quarto ano do primário. E o detalhe é que a formação da professora era a oitava série do Ensino Fundamental. Andávamos seis quilômetros por dia para ter acesso a essa escola. Mas deu tudo certo, ao findar o ano estava com o meu primário completo. Por não ter mais estudos para mim nessa escola, tive que vir morar novamente na cidade para dar continuidade nos meus estudos. Então, fui morar na casa de um irmão de minha mãe; ele era o dono da fazenda que ela trabalhava, ou seja, era meu tio e patrão da minha mãe. Meu irmão foi para a casa dos meus avós, porém, estudávamos juntos; mais uma vez ficaria longe de minha mãe, mas não tão longe assim. Os finais de semana, passávamos na fazenda; por morar na casa desse tio, eu tinha essa facilidade de ter sempre acesso onde minha mãe estava. Mas, nem tudo que reluz é ouro, nessa casa eu fui com a condição de trabalhar como babá, com a responsabilidade de cuidar de uma criança, um bebê de oito meses. Então, eu trabalhava em troca de ter um lugar para ficar. Assim, fui para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Engenheiro Fernando Guilhon, foi onde eu conheci o garoto que 14 anos depois seria meu esposo. Nessa escola, cursei a quinta e sexta série, tudo era novo; já não era mais um professor para todas as matérias, como nas demais, agora quarenta e cinco ou às vezes 90 minutos nos separavam de professores e matérias diferentes; coisas novas, trabalhos de exposição com cartolinas; a matéria de Educação Física era mais intensa, jogos internos eram o auge do momento. Lembro-me muito bem de como eu gostava de jogar bola, principalmente vôlei. Nessa escola eu cheguei a derrubar uma lâmpada fluorescente enorme e consegui apara-la antes mesmo dela tocar o chão, todos os outros alunos correram com medo da diretora, como eu brinquei nessa escola, não que eu não brincasse nas outras mais lá era com mais intensidade, apesar das dificuldades que eu enfrentava, consegui curtir o que a escola e o sistema me proporcionava. Porém, foi lá que eu enfrentei pela primeira vez a rejeição do meio social, muitas garotas da minha idade não gostavam de mim, eram minhas melhores amigas, e depois se tornaram minhas rivais, e até hoje não sei por quê. Quantas vezes saí escondida para não “ser pega lá fora”, nesse tempo, não se ouvia falar de bulling, eu era muito magra e por isso gerava apelidos constantes e picuinhas sem contagem, sofri com isso, porém não me impediu de estudar e aproveitar minha vida escolar. Na sétima série fui novamente matriculada em uma escola particular por nome Instituto de Educação de Itaituba, essa escola era uma das poucas da cidade que proporcionavam o Ensino Fundamental pela parte da manhã, e por esse motivo fui estudar lá, a diferença que encontrei foi a questão novamente da farda escolar, enquanto que no Fernando Guinhon eles exigiam mais a parte da camisa, no Instituto não, a farda tinha que ser totalmente padrão. Eu gostava muito de estudar, dificilmente faltava nas aulas, ao terminar o ano letivo, matriculei-me novamente, agora na oitava série; já era uma mocinha, com quatorze anos de idade tive meu primeiro namoradinho, porém meus tios não aceitavam, e começou o processo da adolescência; então ficou mais complicada minha estadia e fui mandada embora. Voltei a morar com meus avós, pedi transferência para a Escola Antônio Gonzaga Barros, onde terminei a oitava série com muita dificuldade. Deixei de lado os estudos, cheguei a matricular-me no primeiro ano do Ensino Médio, mas não terminei, desisti antes do meio do ano; fui morar junto com um rapaz. No ano seguinte, mudei de escola. Iniciei o ano novamente, mas também não levei adiante, o relacionamento não deu certo. Entrei em uma fase obscura, o resultado é que passei sete anos sem estudar; durante esse período, aconteceram muitas coisas na minha vida, fiquei dependente de bebida alcoólica e dei muita preocupação para minha família. Recordo-me que quando tinha 12 anos, fazia planos, falava para minha mãe que eu gostaria de ingressar na Aeronáutica ou fazer uma faculdade, eu só não tinha convicção do que área seguir, mas tinha um sonho de ingressar no Ensino Superior. Meu tio comentava que isso seria impossível, pois filhos de gente pobre não tinha vez, nem mesmo faculdade particular existia na cidade de Itaituba no ano de 1997. Minha mãe não tinha condições financeiras de pagar uma faculdade para mim, não sei, mas acho que essas palavras chegaram a me abater. Minha mãe não desistia, falava que um dia a cidade ia começar a desenvolver e iria chegar o progresso, e com ele as oportunidades de faculdades públicas. Certa vez , ela viajou para se tratar na cidade de Teresina no Piauí, e lá ela pegou um panfleto com informações sobre inscrição na Aeronáutica e trouxe pra mim, mas tinha tantas exigências que, bastou ler e tirei de vez do meu coração essa possibilidade. Deixei de vez os estudos, nem passava pela minha cabeça voltar à escola, cheguei até mesmo a comentar que não tinha nascido para estudar, meus pais não estudaram e vivia, eu também conseguiria; porém eu estava enganada, a vida não foi muito generosa comigo, minha desobediência gerou muitas consequências ruins, fiquei desprestigiada, à margem da sociedade. Mais tive um encontro muito especial, alguém iria mudar minha história, eu nem imaginava que existia no mundo um amor assim, mas ele já me conhecia desde o ventre de minha mãe, quando meus ossos estavam sendo formados, ele assistia e escrevia em um livro a minha história, a rejeição, a falta dos pais, tudo isso se tornou em nada diante da presença de Jesus na minha vida, há quem não acredite; há quem diga que ele nunca existiu que foi só um mito, que somos obras do acaso, evolução pré-histórica e etc... Mas independente disso, não preciso saber a origem das coisas ou do universo, o que eu preciso saber é que tenho em minha vida alguém muito especial, que me entendeu e perdoou todos os meus erros e resgatou os meus sonhos; não posso vê-lo, mas posso senti-lo. Ele é como um açúcar colocado na dose cert,a em um determinado suco de frutas, não o vejo, mas sei que ele está lá, doce ao meu paladar, que entranha juntas e medulas, refrigera minha alma, e nem mesmo todas as palavras do mundo poderiam expressar meu amor por ele, minha gratidão; foi através desse amor que consegui levar minha vida adiante, claro que algumas dificuldades tenho, porém não tenho medo de nenhuma delas, as palavras negativas, não fazem mas efeito na minha mente, porque Deus está comigo, ele é algo inexplicável, ele é meu verdadeiro Pai. Voltei a estudar no ano de 2009, em uma Escola Estadual, Maria das Graças Escocio Serqueira, no Ensino de Jovens e Adultos-EJA; foi maravilhoso, encontrei-me novamente, tirei as melhores notas da minha vida, nada podia me parar, o conhecimento que eu adquiria era impressionante, antes de terminar o último período, fiz vestibular para o curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas no Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Estado do Pará, Campus Itaituba e fui aprovada, indo de encontro com tudo que um dia disseram que não alcançaria. Agradeço a meu Deus, pois ele abriu as portas dessa instituição para mim. Começa agora em minha vida uma nova etapa, estava no banco de uma Faculdade, tendo a oportunidade de ser alguém na vida, de ter uma graduação e superar as estatísticas e a mim mesmo. Foi no ano de 2011, iniciei na faculdade, casei-me com o garoto que conheci lá na quinta série, tive um filho durante o decorrer do curso, passei muitas dificuldades, porque o curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas é bem diferente daquilo que imaginamos; foge um pouco do que aprendemos durante o ginásio, deve ser esse o motivo de tanta evasão do curso, muitos alunos não conseguiram se encontrar nas disciplinas de Algoritmos de linguagem, Calculo I e II e etc... O curso é dividido em seis períodos e seis meses de Estágio Supervisionado. Foi alto o número de pessoas que desistiram, iniciamos com 120 alunos divididos em três turmas e não passamos dos 40 finalistas; era para estar entre os quase 70% de desistentes, devido às dificuldades, à distância, porém o Governo Federal disponibiliza nas faculdades públicas bolsa de auxílio alimentação e transporte; trabalhei também como monitora nos laboratórios e projetos de extensão, todos com remuneração. Foi o que me deu um grande apoio, de um lado Deus me ajudando, do outro o Sistema; antes de terminar o curso, em 2013, a Prefeitura Municipal de Itaituba lançou edital para Concurso Público, apenas uma vaga na minha área, Analista e Programador de Sistemas. Essa era a oportunidade que eu tanto aguardava, fui aprovada, porém fiquei em segundo lugar na primeira prova, já nas provas de títulos, caí para terceiro lugar por ainda estar no 6º período; mas minha esperança não acaba aqui, estou aguardando ser chamada, tenho 60% de chance de ser Analista da Prefeitura Municipal de Itaituba. Hoje estou fazendo Pós-Graduação na FAI – Faculdade de Itaituba, Docência para o Ensino Superior, pretendo ser professora da instituição. Sinto-me realizada e muito grata a meu Deus por tudo o que ele tem feito na mia vida, vou ser professora de Ensino Superior e estou me preparando para fazer Mestrado, termino aqui, deixando como exemplo, a você leitor, que, por mais que o vento sopre ao contrário, creia que um dia Deus vai realizar todos os seus sonhos, e que nem tudo está perdido. Jesus ama você, e quer o melhor para sua vida.