Sumário: 1. Vitalidade da Hermenêutica na Compreensão; 2. O Círculo Hermenêutico; 3. O Jogo Dialético; 4. Síntese; 5. Bibliografia; 6. Glossário.

1. Vitalidade da Hermenêutica na Compreensão

A Hermenêutica aparece, historicamente, ligada à exegese dos textos e à compreensão dos mesmos. Surgiu o problema porque sempre existiu a possibilidade de mal entendimento (interpretação). A compreensão tornou-se um processo de análise e explicitação do texto. Nascida como exegese, a Hermenêutica apresenta-se, hoje, como exigência de interpretação universal.

HEIDEGGER (Martin Heidegger (1889-1976) filósofo alemão. É seguramente um dos pensadores fundamentais do século XX - quer pela recolocação do problema do “ser” e pela refundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural) assume este processo na circularidade da compreensão, isto é, a explicitação do que diz o texto, concretiza-se numa estrutura circular que implica, simultaneamente, a pré-compreensão (experiência acumulada, pré-conceitos) e o horizonte (texto/objecto), e é desencadeada pela interrogação (dialéctica, pergunta/resposta).

Existe compreensão quando há um entender-se com…, quando se dá uma fusão de horizontes entre Hermenêutica e o que o texto revela, segundo a posição de GADAMER. (Hans-Georg GADAMER, 1900-2002, foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores expoentes da Hermenêutica filosófica. Sua obra de maior impacto é “Verdade e Método”, 1960)

A compreensão encontra-se objectivada nos três valores que caracterizam e definem o círculo hermenêutico: o passado (pré-compreensão, tradição); o presente (compreensão actual, horizonte do interpretante) e o futuro (horizonte antecipado). O objectivo histórico (texto) é inteligível porque se põe em relação com o intérprete, e através dum fundo temporal e linguístico que permite a comunicabilidade.

Assim sendo, a tradição é a transmissão efectiva, na qual os objectos históricos têm uma influência na nossa consciência presente e na nossa antecipação do futuro (possível), isto é, a Hermenêutica tem que partir do facto de que toda a compreensão está vinculada a uma tradição.

A tradição é uma das condições para compreender e «a distância temporal não se há-de eliminar, mas sim afirmar-se como meio no qual se revela o verdadeiro sentido de uma coisa em sua plenitude, isto é, no fundo não se dá o facto consumado mas um processo infinito» (MATEO, 1980:68)

É nesta perspectiva do processo de compreensão, influenciado pela historicidade e existencialidade da experiência humana no seu mundo (relação de pertença), embora a compreensão não se reduza, unicamente, a esta perspectiva que se pretende explanar neste trabalho.

A compreensão, além de ser uma apropriação do sentido de um texto é, também, compreensão realizada por alguém, inserido no seu próprio contexto histórico e cultural, que lê e interpreta com os seus pré-conceitos. É neste aspecto que a actividade de interpretar envolve algo de ontológico.

Não pode entender-se como um método, como um processo subjectivo e psicológico do homem, face a um objecto (Wilhelm DILTHEY, 1833-1911), mas sim como o modo de ser do próprio homem, como um processo ontológico do homem.

Não pode negar-se a importância da formulação dos princípios interpretativos correctos, mas a questão fundamental é, segundo GADAMER, saber como é possível a compreensão, não só nas humildades mas em toda a experiência humana no mundo (modo de ser do Dasein). A compreensão consiste, antes de mais, no entendimento do que o homem encontra no mundo.

HEIDEGGER, efectuou uma inversão na relação epistemologia/ontologia, isto é, a compreensão passa da psicologia à ontologia (ao mundo), pretende explicitar a estrutura ontológica, na qual se apoiam tanto as ciências da natureza como as ciências humanas. Assiste-se à passagem duma compreensão parcial, (ciências humanas) duma compreensão histórica, separada duma compreensão científica, para uma compreensão ontológica.

A compreensão sem pressupostos parece tornar-se impossível; não pode haver captação sem pressupostos, sem algo previamente dado, porque a ausência de preconceitos e pressupostos, parece tornar-se incomportável com o modo como a compreensão opera.

Mesmo a própria auto-evidência (interpretação objectiva) assenta num corpo de pressupostos, que podem passar despercebidos, mas que estão presentes em toda a interpretação aparentemente desprovida deles. Isto significa que o intérprete de um texto tem já posições prévias.

2. O Círculo Hermenêutico

 

Quando se aborda este ou aquele texto, incluiu-se num determinado tipo de teor e, assim, coloca-se, logo à partida, numa posição mais adequada a esse tipo de texto. O seu encontro com a obra não se dá num contexto exterior ao tempo, e ao espaço exterior ao seu próprio horizonte de experiência e de interesses; dá-se sim num tempo e num lugar determinados.

O círculo hermenêutico implicado na compreensão, funda-se na experiência ontológica que o homem tem do seu mundo: «A situação fundamental do homem no mundo pode descrever-se em termos de implicação e explicação, e o chamado círculo hermenêutico quer designar esta situação fundamental do homem.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:75)

A estrutura dialéctica não é a do sujeito/objecto, mas a de mundo e homem, porque a peculiaridade do homem não se coloca na mera inteligência, mas no seu entendimento (compreensão), isto quer dizer que a postura do homem no seu mundo não é de inexperiência (tábua rasa, ponto zero), mas de portador de uma pré-compreensão da realidade, o homem compreende: «A partir da própria experiência auto-interpretativa humana» (Ibid:76).

O mesmo círculo mostra que a antecipação de um horizonte depende, efectivamente, do passado. O compreender será actual, formulando o horizonte do presente, em comunicação efectiva com a tradição. Isto significa que não há compreensão sem pressupostos (ligação matriarcal que existe por trás de tudo).

Compreende-se através duma constante referência à experiência vivida (ontológica), visto que se entende sempre a partir de um horizonte próprio; a compreensão pressupõe, sempre, um movimento às coisas, ao mundo, às origens: «Uma teoria da compreensão torna-se extremamente significativa quando considera a experiência vivida – o evento da compreensão – como seu ponto de partida.» (PALMER, 1969:76-77), e o pensamento torna-se uma fenomenologia deste evento.

A compreensão envolve, constantemente, a linguagem, a confrontação com um outro horizonte humano, um acto de penetração histórica, por isso, a Hermenêutica abarca uma teoria da compreensão linguística e histórica, tal como funciona na interpretação do texto.

Compreender é uma operação essencialmente referencial; compreende-se algo quando se compara com algo que já se conhece. O homem não realiza o seu conhecimento a partir do zero mas por meio de uma reestruturação, correcção e integração dos seus próprios ‘a prioris’ e ‘a posterioris’, por isso a interpretação é um conhecimento simultaneamente: reconstrutivo e integrativo. (cf. ORTIZ-OSÉS, op. cit.)

Do que foi escrito, facilmente se dá conta que a compreensão possui uma estrutura intrinsecamente histórica e que: «Não precisamos cair numa atitude psicologizante para defender que a compreensão não pode ser concebida independentemente das relações significativas que tem com a nossa experiência anterior.» (PALMER, 1969:102), pois esta, como acto histórico, está sempre relacionada com o presente. Seria ingénuo falar-se de interpretações objectivamente válidas, porque isto implicaria ser possível uma compreensão que partisse de um ponto de vista exterior à história.

Na realidade, no seu situar-se mundano (responsável pelo mundo), o homem responde desde o seu posicionamento actual quer a um passado a interrogar e a integrar; quer a um futuro a predizer (possibilidade), isto é, antes de tomar uma decisão fundamental, emprega a sua experiência, interpreta e está interpretado na sua própria circunstância: «A sua atitude fundamental não aparece nem como progressiva nem como regressiva, mas como ingressiva, integradora.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:48)

Compreendemos um texto não com a consciência vazia, mas porque mantemos um modo de ver já estabelecido e algumas concepções prévias ideacionais, (pré-estrutura da compreensão): «O passado não se nos pode opor como objecto de interesse arqueológico. A auto-interpretação do indivíduo é apenas uma luz trémula na corrente fechada da vida histórica. Por essa razão, os juízos prévios do indivíduo são mais que meros juízos; são a realidade histórica do ser.» (PALMER, 1969:185).

Os juízos prévios traduzem a capacidade que toda a pessoa tem para compreender a história: dentro ou fora das ciências não pode haver compreensão sem pressupostos, resultantes da tradição em que cada indivíduo se insere (horizonte no interior do qual pensamos).

Uma dupla operacionalidade se apresenta: uma operacionalidade do presente no passado – não há uma visão pura da história, sem referência ao presente, e uma operacionalidade do passado no presente (consciência historicamente operativa) – o presente só é visto e compreendido através das intenções, modos de ver e pré-conceitos que o passado transmite: «Não podemos inventar nem recusar o horizonte que faz alteridade à nossa consciência.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:12).

O passado não é um amontoado de factos, é antes um fluxo em que nos movemos e participamos: «A tradição não se coloca pois contra nós, ela é algo em que nos situamos e pela qual existimos.» (PALMER, 1969:180). Dá-se no acto de compreensão uma simbiose do estranho e do familiar (simultaneidade).

A tensão, presente-passado, é em si mesma essencial e frutífera em Hermenêutica; a distância temporal tem, simultaneamente, uma função negativa e positiva, tanto faz com que se eliminem certos juízos prévios como provoca o aparecimento daqueles que nos levam a uma compreensão verdadeira. (cf. GADAMER, op. cit.).

Os nossos pressupostos não podem ser tomados como absolutos, mas sim como algo sujeito a mudança. São positivos, quando conduzem à compreensão; e negativos, quando conduzem ao mal entendimento. Esta distinção faz-se no interior da própria experiência hermenêutica.

3. O Jogo Dialético

Toda a tentativa de compreender implica, necessariamente, a dialéctica pergunta/resposta, e entender significa ajustar constantemente a pergunta, isto é, pôr em jogo os pressupostos próprios, para melhor formular a pergunta; provoca este jogo dialéctico entre leitor e texto, que faz parte da experiência mais originária do homem, cujo modo de ser é compreender.

Ora, ao interpretar o objecto (texto) o interpretante parte da sua experiência que se põe em jogo, por isso, os objectos históricos e os seus efeitos participam e influenciam o presente, quer dizer, a compreensão não é uma actividade subjectiva (romantismo), mas uma inserção no processo de transmissão; a experiência hermenêutica envolve, antes de mais, a participação e a pertença a uma tradição cultural, e emerge da relação entre o familiar (pré-compreensão) e o estranho (texto).

O meio permite a tensão presente/passado, a dialéctica pergunta/resposta, na fusão de horizontes (GADAMER). A revelação ontológica (HEIDEGGER) é, precisamente, a linguagem. Esta fornece o suporte no qual e sobre o qual os horizontes se podem encontrar.

A linguagem é o meio em que a tradição se esconde e é transmitida. Toda a experiência ocorre na e pela linguagem. O homem tem um mundo e vive no seu mundo por causa da linguagem. Há, por assim dizer, um acordo ou apalavramento originário na constituição linguística do mundo, e é neste apalavramento linguístico (colectividade cultural) que se encontra a condição “sine qua non” para toda a comunicação e compreensão: «Uma antropologia que reconhecer que a condição humana repousa neste acordo profundo pode, então, interpretar em função dele a variedade de discursos sobre o homem, aliás, engendrados e geridos pela natureza dialógica deste acordo.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:13).

Assim, a pertença e a participação na linguagem, como meio da experiência humana no mundo, é a verdadeira base da experiência hermenêutica. Como ouvir é um poder muito maior do que ver (GADAMER), e como a linguagem é o repositório do passado, e o meio que existe para o conhecer, é na audição da linguagem que a experiência hermenêutica encontra a sua total realização: «A linguagem é finita e histórica, é um repositório e um condutor da experiência do ser que se tornou linguagem no passado. A linguagem tem que nos levar a compreender o texto, a tarefa hermenêutica é tomar a sério a linguisticidade da linguagem e da experiência e desenvolver uma Hermenêutica verdadeiramente histórica.» (PALMER, 1969:215).

O homem, como ser no mundo, tem, forçosamente, um comportamento perante esse mundo, conduta que implica diálogo. É este diálogo que faz, para além do ambiente, o mundo do homem. A linguagem representa o ponto de partida, comum da experiência do mundo e da experiência hermenêutica.

Consequentemente, o homem encontra-se numa relação de pertença para com a sua experiência originária do mundo (ligado ao matriarcal), não é sem o que já foi, sem o que já viveu e experimentou, não é sem a experiência acumulada por si e seus antepassados.

A sua experiência hermenêutica realiza-se dentro da linguagem e dentro duma tradição, numa atitude de escuta e interpretação; a estrutura desta experiência assenta no acontecer da linguagem, inserta numa tradição cultural. A história é que primeiramente interpreta: «Esta história, sujeito da nossa própria interpretação, acaba por ser linguagem, texto a comprovar, jogo a conjugar, diálogo a realizar» (PALMER, 1969:56)

A transferência da questão hermenêutica de uma Gnoseologia a uma Ontologia da linguagem (GADAMER) não é o suficiente, no entender de ORTIZ-OSÉS, pois esta mesma fica prejudicada ao ser entendida em “perigosa” circularidade. A linguagem não é uma mera dialéctica histórica, uma vez que para além da sua função “imediadora”, o objectivo e subjectivo se “disputam”.

Como interpretação primeira da realidade e do homem, a linguagem ultrapassa uma mera razão histórica (fundista de horizontes), e torna-se numa razão hermenêutica (razão crítica), auscultadora da verdade da linguagem, como apalavramento da realidade. Perante a tendência esteticista de GADAMER, segundo a qual há que trazer tudo à linguagem, para proceder à sua revelação, há que opor uma tendência complementar, segundo a qual há que desenvolver criticamente a linguagem ao todo da realidade, porque: «Se o que somos é um diálogo, a verdade do diálogo não radica num falar para não estar calado – onde tudo é simultaneamente verdade e mentira -, mas falar para calar, onde algo é mais ou menos verdadeiro e falso.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:59).

Importa trazer à linguagem os princípios determinantes da vivência cultural do homem. A filosofia grega apresenta-se como a trave mestra, como a origem matriarcal do mundo ocidental. Ora, como dependentes e participantes, encontramo-nos imersos nesta tradição, vivendo efectivamente as consequências (negativas e positivas), da experiência e do pensamento grego.

Mas mais importante que a pura contemplação do mundo, da recepção da cultura tradicional e da dialéctica integradora desta mesma tradição é a conversão e transformação do mundo. Por isso, ORTIZ-OSÉS propõe-se, através da mediação hermenêutica, atribuída à linguagem (proto-interpretação), transformar a tensão matriarcal/patriarcal em fatriarcado (diálogo crítico).

Através da linguagem o mundo humano é interpretado entre o mito e o logos (CASSIRER). É nesta tensão mito/lógica que se encontra na linguagem a dialéctica pertença/conquista. A Hermenêutica Filosófica aparece, assim, como uma interlinguagem crítica e mediadora (razão Hermenêutica), entre o senso comum (mito) e o pensamento lógico (logos). A Hermenêutica mediatiza dialecticamente o pólo ontológico da experiência do mundo e o pólo lógico-racional da ciência.

A metafísica clássica está intimamente ligada e condicionada pelo sistema sociopolítico em que se insere (matriarcalismo e patriarcalismo), e a metafísica Hermenêutica está ligada a uma estrutura fatriarcalista, isto porque a Metafísica Hermenêutica não se pode reduzir a um corpo teorético, a uma simples e passada interpretação da realidade, mas sim a uma actividade prática de transformação da realidade humana. A nova Metafísica Hermenêutica será, então, um novel tipo de linguagem, que leva a cabo uma articulação totalizadora do universo do discurso humano.

O homem vive numa permanente dependência duma interpretação do passado, e assim se ousa designar o homem de “animal hermenêutico”, que se compreende a si mesmo, em termos de interpretação de uma herança que está constantemente presente, activante em todas as suas ações e decisões.

Interpreta e está sempre interpretado em relação ao mundo que constrói e em que vive, por isso, a sua existência como interpretante imerge no pré-conceito (experiência), porque o homem esteve, está e estará sempre carregado desta experiência tradicional, que pavimenta e sustenta a sua possibilidade de compreender.

Há que entender que os pré-conceitos são sempre o ponto de partida, e que a linguagem é o reservatório e o meio de comunicação da tradição; a linguagem e a história não estão, somente, relacionadas mas também misturadas: «Não é o tempo quem dirá as coisas – o tempo diz apenas o que a linguagem sabe» (ORTIZ-OSÉS, 1983:26).

O homem vive numa relação de pertença com a tradição, a partir da qual elabora, segundo as normas transmitidas, um discurso que retoma e altera através da dialéctica passado/presente, pergunta/resposta, e pondo em jogo os pré-conceitos do interpretante.

A compreensão, o novo sentido, a nova visão (pensar) corresponderá a um processo de integração gradativa, que se vai tornando inteligível no contexto do discurso pré-elaborado.

Mas esta linguagem implicada no acto de compreender não deve tornar-se, apenas, num meio transmissivo, deve ser uma linguagem crítica (razão crítica) e transformadora da realidade, isto é, a conjugação entre reconstrução e integração implicada (círculo hermenêutico), tem que ser pensada, criticamente, através da linguagem.

Falar da tradição cultural como condição “sine qua non” no acto de compreender é perguntar pelos últimos pressupostos (paradigmas e pré-paradigmas, segundo KHUN), que tornam possível o entender e a verdade como tal, circunstância fundamental para uma teoria da ciência.

4. Síntese

 

A Hermenêutica aparece, historicamente, ligada à exegese dos textos e à compreensão dos mesmos. Surgiu o problema porque sempre existiu a possibilidade de mal entendimento (interpretação). A compreensão tornou-se um processo de análise e explicitação do texto. Nascida como exegese, a Hermenêutica apresenta-se, hoje, como exigência de interpretação universal.

A compreensão, além de ser uma apropriação do sentido de um texto é, também, compreensão realizada por alguém, inserido no seu próprio contexto histórico e cultural, que lê e interpreta com os seus pré-conceitos. É neste aspecto que a actividade de interpretar envolve algo de ontológico.

A compreensão envolve, constantemente, a linguagem, a confrontação com um outro horizonte humano, um acto de penetração histórica, por isso, a Hermenêutica abarca uma teoria da compreensão linguística e histórica, tal como funciona na interpretação do texto. Compreender é uma operação essencialmente referencial; compreende-se algo quando se compara com algo que já se conhece.

Toda a tentativa de compreender implica, necessariamente, a dialéctica pergunta/resposta, e entender significa ajustar constantemente a pergunta, isto é, pôr em jogo os pressupostos próprios, para melhor formular a pergunta; provoca este jogo dialéctico entre leitor e texto, que faz parte da experiência mais originária do homem, cujo modo de ser é compreender.

A linguagem é o meio em que a tradição se esconde e é transmitida. Toda a experiência ocorre na e pela linguagem. O homem tem um mundo e vive no seu mundo por causa da linguagem. Há, por assim dizer, um acordo ou apalavramento originário na constituição linguística do mundo, e é neste apalavramento linguístico (colectividade cultural) que se encontra a condição “sine qua non” para toda a comunicação e compreensão.

Como interpretação primeira da realidade e do homem, a linguagem ultrapassa uma mera razão histórica (fundista de horizontes), e torna-se numa razão hermenêutica (razão crítica), auscultadora da verdade da linguagem, como apalavramento da realidade. Perante a tendência esteticista de GADAMER, segundo a qual há que trazer tudo à linguagem, para proceder à sua revelação, há que opor uma tendência complementar, segundo a qual há que desenvolver criticamente a linguagem ao todo da realidade.

O homem vive numa permanente dependência duma interpretação do passado, e assim se ousa designar o homem de “animal hermenêutico”, que se compreende a si mesmo, em termos de interpretação de uma herança que está constantemente presente, activante em todas as suas ações e decisões.

Interpreta e está sempre interpretado em relação ao mundo que constrói e em que vive, por isso, a sua existência como interpretante imerge no pré-conceito (experiência), porque o homem esteve, está e estará sempre carregado desta experiência tradicional, que pavimenta e sustenta a sua possibilidade de compreender.

 

5. Bibliografia

 

ORTIZ-OSÉS, Andrés, (1983). Antropologia Hermenêutica. Trad. L. Ferreira dos Santos. Braga: Eros.

MATEO, R. Garcia, (1980). Hans Georg Gadamer, Filósofo de la Hermeneutica, in Revista “Arbor”, tomo 106, Nº 414.

PALMER, Richard E., (1969). Hermenêutica. Trad. Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70

6. Glossário

 

DASEIN: «Ser-aí é o homem na medida em que existe na existência cotidiana, do dia-a-dia, junto com os outros homens e em seus afazeres e preocupações. Para investigar o ser-aí enquanto possui sempre uma compreensão de ser impõe-se uma analítica existencial, que tem como tarefa explorar a conexão das estruturas existenciais que definem a existência do ser-aí.» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dasein)

IDEACIONAL: «A linguagem tem como finalidade a manifestação de conteúdos que estejam ligados à experiência que o falante possui do mundo concreto, real ou de seu universo subjectivo, interior; b) interpessoal – a linguagem é mantenedora das relações sociais, com a finalidade de expressar papéis sociais na qual haja contato entre dois ou mais indivíduos» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica_funcional)

GNOSEOLOGIA: «É o ramo da filosofia que se preocupa com a validade do conhecimento em função do sujeito cognoscente, ou seja, daquele que conhece o objeto» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnosiologia)

ONTOLOGIA: «É a parte da filosofia que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres». (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologia)

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

E-mail: [email protected]

Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com

Portugal: www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

Brasil:  http://www.webartigos.com/autores/bartoloprofunivmailpt/