O sistema escolar/educacional de nosso país é um comédia de mau gosto, na qual ri o palhaço e chora a plateia.

Costuma-se dizer que o sentido da existência da escola é o estudante – vulgo aluno – pois sem ele não existe escola. O princípio é válido, mas a realidade é trágica. Aliás, cômica. Mas cômica pela inversão de valores. Pois o vulgo é detentor de todo direito e o lente é dele destituído.

Em todo caso, podemos insistir no costume que condiz com a realidade: a instituição escolar tem sentido de existir e, mais ainda, é uma realidade necessária, apesar de ser execrada. O sentido de sua existência deve ser atualizado: não mais como mecanismo de transmissão de informações, mas como estímulo à busco do saber. Não como dispensadora e única depositária do conhecimento, mas como ponto de partida para o crescimento. A instituição escolar, portanto, tem sentido de ser como uma instituição embebida num licor filosófico com sentido propedêutico.

Houve tempos em que o aluno ia para a escola para estudar e o professor antes de ser um diretor de estudos era mentor da caminhada. O aluno era, efetivamente o centro, pois toda ação do professor concorria para que o aprendizado se efetivasse. Dessa forma, todos se alegravam no momento final do espetáculo, pois o aluno concluía seu período escolar depois de ter crescido e o professor se sentia gratificado por ter ensinado como deveria ser trilhado o processo de crescimento. E nesse processo a escola havia sido o ambiente em que o estudante, feito semente germinante, vivera esse desenvolvimento.

É verdade que, nesse contexto, analisam alguns, o professor determinava o ritmo dos estudos e quem não estudasse ou, pela indisciplina, impedisse o processo, era severamente repreendido pelo professor e/ou pela instituição escolar. Inclusive havia o risco de se reprovar ou não ser promovido, caso o aprendizado não se efetivasse. Mas as partes se respeitavam e o aprendizado fluía. Todos sabiam que a escola era a catedral do saber.

Os tempos mudaram. Mudou o foco. Redirecionaram-se os objetivos. O estudante continua mantendo-se na centralidade do processo. E isso é bom. Mas neste ponto reside a tragicidade da comédia. O centro da ação da escola ao redor do estudante foi reforçado. Mas o reforço do estudante se converteu em desmerecimento do professor. Por esse motivo estamos com um centro oco: não um espaço pleno de possibilidade, mas um vazio de expectativas. Permanece com o professor a incumbência de direcionar os estudos, entretanto não se transferiu para o estudante a responsabilidade de se dedicar ao estudo. E toda cobrança, feita pelo professor, passa a ser vista como um incomodo ou, pior, anacrônico.

De onde vem tudo isso? De leis que facilitam a vida do estudante sem lhe cobrar responsabilidades. De nomas que sobrecarregam o professor, sem que, na mesma proporção, o ambiente escolar cobre do estudante respostas e responsabilidades às exigências dirigidas ao professor. Assim sendo, o estudante que deveria entrar na escola para estudar acaba permanecendo num circo em que o palhaço sabe que não está promovendo o aprendizado; sabe que está perpetuando um sistema de mediocridade e irresponsabilidade.

O sistema, diretor da comédia, exige que o professor que dê conta de ensinar ou promover o aprendizado de um grupo de desinteressados, desmotivados, sem desrespeito e sem responsabilidade. Grupo esse que está na escola não porque deseja melhorar e crescer, mas porque há uma lei que o obriga a fazer algo para o que não está motivado. Grupo esse que se origina de uma família que abriu mão de sua responsabilidade na condução das crianças.

E assim o reflexo da sociedade manifesta-se na escola onde se reproduz a sociedade permissiva numa comédia de mau gosto.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura- RO